indicando como autoridade coatora o Juízo de Direito da 3ª Vara Criminal de Macapá

Transcrição

1 Nº do processo: Tipo de ato: Decisão L I M I N A R Vistos etc. 1. TAINÁ DOS SANTOS PAIVA, advogada, impetrou ordem de habeas corpus preventivo em favor de HUELTON CORREA MEDEIROS, indicando como autoridade coatora o Juízo de Direito da 3ª Vara Criminal de Macapá e Auditoria Militar do Estado do Amapá que, acolhendo representação do Ministério Público, decretou sua prisão preventiva por conveniência da instrução criminal e para garantia da ordem pública. 2. Colhe-se dos autos que o paciente figura como réu na Ação Penal nº , acusado pelo MP de ter cometido o crime de peculato, tipo no art. 303, do Código Penal Militar, vez que teria desviado uma arma de fogo da PM que estava em sua posse, em proveito de Edvaldo de Oliveira Souza, acusado de envolvimento no tráfico de drogas. 3. Segundo o decisão atacada, a segregação cautelar do paciente tornou-se necessária em razão de mensagens trocadas no dia 19/06/2016 entre este e o CEL PM ACLEMILDO BARBOSA DOS SANTOS, por meio do aplicativo WhatsApp, através das quais o paciente teria intimidado e ameaçado gravemente o citado Coronel, que é Juiz Militar designado para atuar no órgão julgador - Auditoria Este documento foi assinado eletronicamente por Desembargador RAIMUNDO VALES em 19/07/ :48. O original deste documen to pode ser consultado no site do TJAP. Hash: AM 1

2 Militar do Estado - perante o qual tramita a Ação Penal em que o impetrante figura como réu. 4. Sustenta a impetrante que o paciente estaria sofrendo constrangimento ilegal ao argumento de que a sua prisão cautelar seria desnecessária, além de carecer de fundamentação, já que a autoridade impetrada não teria demonstrado de que forma o paciente solto representaria perigo concreto para a sociedade ou para o CEL PM ACLEMILDO BARBOSA DOS SANTOS. 5. Argumenta que as conversas travadas pelo aplicativo WhatsApp não guardam qualquer relação com os fatos apurados na Ação Penal nº , além do seu conteúdo não revelar carga de ameaça ao CEL ACLEMILDO capaz de causar prejuízo à instrução processual, vez que as mensagens dizem respeito a fatos da vida pessoal dos interlocutores. 6. Ressalta que foi arguída a suspeição do CEL ACLEMILDO no processo criminal, por ser filiado ao Partido Socialista Brasileiro, tendo ocupado o cargo de Comandante Geral da Polícia Militar no Governo anterior e ser opositor político do atual Governo do Estado, no qual o paciente ocupa o cargo de Secretário Chefe do Gabinete da Segurança Institucional. 7. Pede, com esses fundamentos, a concessão liminar da ordem para a revogação da prisão preventiva do paciente, impondo-lhe medida cautelar consistente na proibição de manter contato com o CEL ACLEMILDO BARBOSA. 8. A petição inicial veio instruída com cópias da decisão que 2

3 decretou a prisão preventiva do paciente, mensagens publicadas em redes sociais, reportagens sobre a pré-candidatura do CEL ACLEMILDO BARBOSA [PSB] para a Prefeitura do Município de Santana, mensagens trocadas pelo aplicativo WhatsApp, denúncia ofertada pelo Ministério Público, bem como de legislação estadual [fls. 09/86]. 9. Pelo Movimento de Ordem nº 50, do Processo nº , foi juntado documento em que o Cel. Barbosa pediu afastamento do Conselho Julgador de referida Ação Penal, que tramita perante a 3ª Vara Criminal e de Auditoria Militar do Estado do Amapá. 10. É o breve relatório. Analiso e decido o pedido liminar formulado pelo impetrante. 11. Adianto logo não ver configurado o periculum libertatis, vez que não restou suficientemente comprovada a necessidade da medida cautelar extrema da prisão preventiva aplicada ao paciente. 12. Como sabido, as prisões cautelares são exceção às regras constitucionais, devendo obediência ao princípio constitucional da presunção de nãoculpabilidade. Por isso mesmo, para incidirem em cada caso concreto é imperiosa a existência de elementos que demonstrem sua efetiva imprescindibilidade. 13. In casu, o fundamento da decisão que decretou a preventiva do paciente se pautou na necessidade da medida extrema de prisão para garantia da 3

4 ordem pública e conveniência da instrução processual. 14. Segundo o decreto prisional, prisão do paciente seria necessária por conveniência da instrução porque o paciente teria perpetrado, através de mensagens enviadas através do aplicativo WhatsApp, ameaças ao CEL ACLEMILDO BARBOSA, que participará do julgamento da Ação Penal nº , na qual o paciente figura como réu. 15. Já a ordem pública estaria ameaçada sob o fundamento de que o paciente teria uma gama de policiais militares que atuam na área de inteligência, em razão do cargo que ocupa no Governo do Estado. 16. Contudo, o teor das mensagens trocadas entre o paciente e o CEL ACLEMILDO BARBOSA não revela qualquer tom de ameaça à integridade física deste último, mas apenas insinuações feitas pelo paciente em relação à sua vida amorosa e financeira, além de demonstrar o antagonismo político que existe entre os interlocutores. 17. Além disso, não há em nenhum trecho da conversa mensagens relacionadas aos fatos imputados ao paciente nos autos da Ação Penal nº , de sorte que não se pode presumir que o motivo do diálogo iniciado pelo paciente tenha qualquer ligação com o aquele processo. 18. Não fecho os olhos para o reprovável comportamento do paciente que, invadindo a intimidade do CEL ACLEMILDO BARBOSA, fez uma série de insinuações a respeito da sua vida amorosa e financeira, na tentativa talvez de lhe 4

5 causar algum tipo de constrangimento. 19. Não obstante, apesar desse comportamento, aparentemente incompatível com a postura esperada de um Oficial da Polícia Militar de elevada patente e que ocupa cargo de relevada importância junto ao Governo do Estado, não vejo razões bastantes para a decretação da sua prisão cautelar. 20. Veja-se que referido decreto tem base apenas nos diálogos que embasaram o pedido, estes que - reitere-se - estão completamente dissociados dos fatos apurados no processo criminal de origem e sem qualquer conteúdo ameaçador, capaz de comprometer a sua regular condução, ainda mais quando a própria autoridade autora da representação que levou ao decreto prisional deliberou por se afastar do processo-crime a que o paciente responde perante a Auditoria Militar em que atuava como julgador. 21. Por certo que o paciente deve rever sua postura, vez que nenhum cidadão, civil ou militar, está acima da lei. Era de ver que vivemos tempos transformadores, com crescente repúdio social às condutas do tipo. O Judiciário, que não pode ignorar esse sentimento popular, tem respondido, e deve continuar respondendo, à altura. 22. Por outro lado, caso o CEL ACLEMILDO BARBOSA tenha se sentido ofendido em sua intimidade com o tipo de diálogo documentado que está na base da decisão judicial que se está a rever, que busque as reparações cabíveis através dos meios jurídicos disponíveis. 5

6 23. Assim, embora não veja configurada a necessidade da custódia processual preventiva, entendo que lhe devem ser aplicadas medidas cautelares diversas da prisão - essa que é medida de extrema exceção - previstas na vigente legislação processual penal. 24. Pelo exposto, defiro o pedido liminar para revogar a prisão preventiva do paciente, impondo-lhe as seguintes medidas cautelares, sob pena de revogação deste benefício e re-estabelecimento do decreto objeto deste HC, a critério do Juízo da 3ª Vara Criminal e de Auditoria Militar do Estado do Amapá: a) proibição de manter qualquer tipo de contato com o CEL PM ACLEMILDO BARBOSA DOS SANTOS, seja pessoalmente ou por meio virtual [redes sociais, , aplicativos] ou por telefone, salvo para a realização de atos processuais em juízo ou para tratar de assuntos relacionados à Polícia Militar; b) proibição de deixar a Comarca de Macapá, salvo em serviço ou mediante prévia autorização do Juízo do processo; c) Juízo comparecer a todos os atos processuais a que for intimado. salvo conduto. 25. Recolha-se o mandado de prisão, valendo esta decisão como ciência desta decisão. 26. Requisitem-se informações da autoridade impetrada, dando-lhe 27. Ao Ministério Público, para suas manifestações no prazo legal. 28. Intimem-se. 6

7 MACAPÁ, 19/07/2016 Desembargador RAIMUNDO VALES Relator 7