ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Habeas Corpus nº , em que é Impetrante o Dr.

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1 Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro Terceira Câmara Criminal Habeas Corpus nº Impetrante: Dr. Rodrigo da Silva Sant Anna de Menezes OAB/RJ Paciente: MARCONI EDSON PEREIRA BARBALHO Autoridade Coatora: Juízo da 1ª Vara Criminal da Comarca de Petrópolis Relator: Desembargador Paulo Rangel HABEAS CORPUS. ARTIGO 304 DO CÓDIGO PENAL E ARTIGO 56 DA LEI 9.605/98. PRISÃO EM FLAGRANTE. AUSÊNCIA DE MOTIVO PARA MANUTENÇÃO DA CUSTÓDIA CAUTELAR. INEXISTÊNCIA DE FATOS CONCRETOS QUE PUDESSEM DEMONSTRAR O RISCO QUE A LIBERDADE DO PACIENTE ACARRETARIA AO DESLINDE DA AÇÃO. DEFERIMENTO DE LIBERDADE PROVISÓRIA. A manutenção da clausura do Paciente, ao menos por ora, se mostra desnecessária, tendo em vista que a decisão do juízo de piso que indeferiu o pedido de liberdade provisória não se apoiou em dados concretos. Ademais, o Paciente possui bons antecedentes, residência fixa e os delitos que lhe são imputados foram cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa. Impõe-se, assim, a revogação da prisão impingida, vez que a prisão cautelar é sempre medida de exceção, que somente deve ser decretada ou mantida quando evidente a sua necessidade, nada havendo em concreto para justificar a manutenção da custódia antecipada do Paciente. Manutenção da prisão cautelar que desnecessária. Pedido que se julga procedente. ORDEM CONCEDIDA para julgar PROCEDENTE o pedido RATIFICANDO a liminar para conceder liberdade provisória cumulada com proibição de ausentar-se da Comarca, sem autorização do juiz de piso. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Habeas Corpus nº , em que é Impetrante o Dr. HC (A) 1

2 Rodrigo da Silva Sant Anna de Menezes e Paciente MARCONI EDSON PEREIRA BARBALHO. ACORDAM, por unanimidade, os Desembargadores que compõem a Terceira Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, em sessão realizada nesta data, em julgar procedente o pedido e CONCEDER A ORDEM para colocar o paciente em liberdade, nos termos do voto deste relator. RELATÓRIO Cuida-se de pedido de revogação de prisão preventiva decretada pelo juízo de plantão, em 26/04/2017, decorrente de comunicação de flagrante por suposto crime de falso e art. 56 da Lei 9.605/98, em documento MOPP Movimentação Operacional de Produto Perigoso utilizado para transportar 1020 litros de hipoclorito de sódio (identificação de produto perigoso-onu 1791). Sustenta a Defesa a prisão preventiva ilegal, considerando a ausência de razões para se manter o paciente encarcerado provisoriamente. Ainda, que o paciente é primário, com bons antecedentes, possui residência fixa, emprego lícito e se trata de pessoa idosa, que faz uso de medicamentos contínuos. O pedido, pois, consiste em que o paciente possa se ver processar em liberdade, com a revogação da prisão preventiva. Judiciário. (fls. 36/37). A liminar restou indeferida em sede de Plantão A Impetração requer a reconsideração da decisão que indeferiu o pedido liminar, esclarecendo que já se extrapolara o prazo de cinco dias para oferecimento da denúncia. HC (A) 2

3 Decisão desta Relatoria às fls. 46 deferindo o pedido liminar, aplicando-se a medida cautelar prevista no art. 319, IV, do CPP. A Procuradoria Justiça apresentou parecer às fls. 60/64 no sentido da concessão da ordem para desconstituir o decreto de prisão preventiva do paciente, impondo-se, todavia, as medidas cautelares alternativas dos incisos I e IV, do artigo 319 do CPP. VOTO A ordem deve ser concedida. Como se verifica da decisão impugnada, a prisão cautelar do paciente foi mantida pelo Juízo a quo, sob o fundamento de que a mesma seria imprescindível para garantia da ordem pública, conveniência da instrução criminal e eventual aplicação da lei penal. De fato, apesar de a decisão guerreada conter certa fundamentação, a mesma não indicou fatos concretos em virtude dos quais seja possível estabelecer o risco que a liberdade do paciente supostamente acarretaria para o processo. Por outro lado, pela análise dos documentos juntados aos autos, é possível constatar que o paciente possui bons antecedentes, residência e trabalho fixos e os delitos que lhe são atribuídos foram cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa. Com efeito, em um Estado Democrático de Direito e em face do princípio constitucional da presunção de inocência, que permeia toda a dogmática penal e processual penal, a custódia cautelar, espécie do gênero tutela de urgência penal, é uma medida excepcional e somente se justifica quando presentes os requisitos do fumus commissi delicti e periculum libertatis. HC (A) 3

4 Convém observar que o decreto atacado não menciona qualquer comportamento que se possa imputar ao paciente e em razão do qual seja razoável admitir que a sua liberdade coloque em risco a instrução probatória e inviabilize a aplicação da lei penal ou que possa atentar contra a ordem pública. Não há um tópico sequer com o apontamento de causas concretas para se negar ao paciente o direito à liberdade, que é regra geral, à luz da Constituição. A responsabilidade penal do paciente há de ser verificada no processo. Isso é matéria para a sentença, após as partes desenvolverem regularmente sua atividade probatória. A questão está em saber se a manutenção da prisão foi justificada como determina o artigo 93, inciso IX, da Constituição da República, pois de outro modo tal decisão é nula. Além disso, como cediço, a medida cautelar a ser adotada deve ser proporcional a eventual resultado favorável ao pedido do autor, não sendo admissível que a restrição à liberdade, durante o curso do processo, seja mais severa que a sanção que será aplicada, em tese, caso a acusação seja julgada procedente (sem esquecer que o réu também pode ser absolvido). A homogeneidade da medida cautelar é exatamente a proporcionalidade que deve existir entre o que está sendo dado e o que será concedido. No caso dos autos, não há homogeneidade entre a prisão cautelar mantida e eventual condenação a ser proferida. O mal causado durante o curso do processo corre sério risco de ser bem maior do que aquele que, possivelmente, poderá ser infligido ao paciente quando de seu término. HC (A) 4

5 Entendo, em uma visão sistemática do processo penal, que, por exemplo, nos crimes de médio potencial ofensivo, ou seja, aqueles que admitem a suspensão condicional do processo (cf. artigo 89 da Lei 9099/95), não mais se admite prisão cautelar, seja a manutenção da prisão em flagrante ou a decretação da prisão preventiva. Não se pode confundir a prisão em flagrante no crime de furto, por exemplo, com sua manutenção até o final do processo. Preso em flagrante delito, deverá ser concedida a liberdade provisória por falta de homogeneidade. Paralelamente, o mesmo deve ocorrer nos crimes que, em tese, admitem a substituição da pena privativa de liberdade por pena restritiva de direitos. Assim, se estará operando com uma visão sistemática das medidas cautelares 1. Por fim, os operadores do Direito não podem esquecer que tanto o fumus boni iuris como o periculum in mora são requisitos que devem ser analisados sempre com muita cautela, tendo em vista que se trata de restrição máxima da liberdade individual de pessoas que ainda não foram condenadas e que, até mesmo, podem vir a ser absolvidas. Manter um homem na prisão requer mais que simples pronunciamento jurisdicional. A restrição da liberdade requer decisum com fundamentação apoiada em fatos concretos e não em suposições, uma vez que em termos de liberdade individual não há a possibilidade de legitimar o arbítrio judicial. Incabível, pois, a subsistência da prisão cautelar do paciente, restando caracterizado o constrangimento ilegal. 1 SENDRA, Vicente Gimeno; CATENA, Victor Moreno; DOMÍNGUEZ, Valentin Cortés, Derecho Procesal Penal, 3 ed., Madri: Colex, 1999, p HC (A) 5

6 Por tais motivos e por não vislumbrar necessidade, adequação e proporcionalidade na prisão cautelar do paciente, DEFERI a LIMINAR para conceder liberdade provisória cumulada com proibição de ausentar-se da Comarca, sem autorização do juiz de piso. Liminar que se ratifica. Por tais razões, meu voto é no sentido de julgar procedente o pedido deduzido no presente habeas corpus, confirmando os efeitos da liminar concedida. É como voto, senhor Presidente. Rio de Janeiro, 30 de maio de PAULO RANGEL DESEMBARGADOR RELATOR HC (A) 6