PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO DESPACHO

Transcrição

1 DESPACHO HABEAS CORPUS Nº COMARCA: Carapicuíba VARA DE ORIGEM: 1ª Vara Criminal IMPETRANTES: Francisco Tolentino Neto, Humberto Barrionuevo Fabretti e Bruno Barrionuevo Fabretti PACIENTE: Elias Fernando Cassundé Vistos. Trata-se de habeas corpus, com pedido de liminar, impetrado pelos advogados Francisco Tolentino Neto, Humberto Barrionuevo Fabretti e Bruno Barrionuevo Fabretti em favor de Elias Fernando Cassundé, com o objetivo de obter a revogação da prisão preventiva decretada, ou, subsidiariamente, a aplicação de medidas cautelares diversas da prisão. fls. 92

2 Alegam, em breve síntese, a inidoneidade do decreto de prisão preventiva e a ausência dos requisitos autorizadores da prisão cautelar. Relatei. A antecipação do juízo de mérito, na esfera do habeas corpus, requer demonstração inequívoca da ilegalidade do ato impugnado, o que não se verifica no caso. Como se vê, o paciente foi preso preventivamente em processo no qual foi denunciado por infração ao artigo 2º, 4º, inciso II, da Lei /13, ao artigo 319, por 9 vezes, c.c. o artigo 29, caput, e ao artigo 299, parágrafo único, por 71 vezes, na forma do artigo 69, todos do Código Penal. É dos autos que o paciente, vereador do município de Carapicuíba, integrava organização criminosa, estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, que tinha por objetivo obter, direta ou indiretamente, vantagem de natureza eleitoral, através da prática de crimes de prevaricação e falsidade ideológica, relacionados a fraudes em processos seletivos para a contratação de pessoal pela Prefeitura de Carapicuíba. Insta consignar, desde já, que não se constata, nesta análise perfunctória, com o que há nos autos, a ocorrência de constrangimento ilegal apto a ensejar o deferimento da liminar. O que se vê, em verdade, é que a douta juíza a quo explanou, de maneira fundamentada, as razões de seu convencimento, no sentido da necessidade da prisão preventiva do paciente como garantia da ordem pública, por conveniência da instrução criminal e, ainda, para assegurar fls. 93

3 a aplicação da lei penal. Na decisão que decretou a prisão preventiva do paciente há menção a fatos graves que envolvem a destruição de provas no âmbito da Câmara Municipal de Carapicuíba. Asseverou a douta juíza que, durante o cumprimento de mandados de Busca e Apreensão nos gabinetes dos vereados denunciados, verificou-se que os computadores foram formatados, sendo que segundo relato de uma testemunha protegida a formatação não foi determinada pelo setor técnico especializado da Câmara, o que estaria a revelar possível tentativa de destruição de provas. Há menção, ainda, no decreto de prisão preventiva, de que uma testemunha protegida afirmou que funcionários da Câmara trituraram documentos por cerca de 2 horas, o que gerou dois sacos de lixo de aproximadamente 100 litros. Constata-se, portanto, prima facie, que, ao que parece, há fundados elementos, nos autos, a indicar tentativa de embaraçar a instrução criminal, através da destruição de provas no âmbito da Câmara Municipal; ambiente no qual o paciente, seguramente, possui grande influência, na medida em que, de acordo com a impetração, está em seu terceiro ou quarto mandato como vereador (a petição de impetração ora faz menção ao terceiro mandato, ora ao quarto mandato), tendo exercido, inclusive, ainda segundo a impetração, o cargo de Vice-Presidente da referida casa legislativa. No que se refere à possibilidade de aplicação das medidas cautelares diversas da prisão, asseverou a douta juíza que são fls. 94

4 inadequadas e insuficientes para o caso concreto, eis que presentes os requisitos autorizadores da prisão preventiva. Frise-se não ser o caso, também, nesta análise preliminar, de aplicação de medidas cautelares diversas da prisão, dentre elas o afastamento do paciente do mandato de vereador e a proibição de frequentar determinados lugares, como mencionaram os impetrantes. É que, por ser o paciente, ao que consta, indivíduo influente na Comarca dos fatos, eis que, como dito, encontra-se em seu terceiro ou quarto mandato como vereador, tendo exercido, ainda, segundo a impetração, diversos cargos na administração pública como Secretário de Comunicação, da Cultura, de Serviços Municipais e de obras, bem como de Vice-Presidente da Câmara Municipal, a aplicação das supramencionadas medidas cautelares poderia revelar-se insuficiente, na medida em que não elidiria, de maneira plena, o poder de influência do paciente na Comarca, inclusive sobre integrantes da funcionalidade pública municipal. Nessa esteira, seria prematuro reconhecer o direito invocado pelos impetrantes antes do processamento regular do writ, quando, então, será possível a ampla compreensão da questão submetida ao Tribunal. Indefere-se a liminar. Requisitem-se informações à douta autoridade judiciária indicada como coatora, a respeito, com as cópias pertinentes. Justiça. Após, remetam-se os autos à Procuradoria Geral de fls. 95

5 Intime-se e cumpra-se. São Paulo, 26 de agosto de Mauricio Henrique Guimarães Pereira Filho Relator fls. 96