Redação. Estudo do texto: teoria e pr ática
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- Otávio Penha Coelho
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1 Redação Estudo do texto: teoria e pr ática
2 Caderno 2 Fevereiro / 2014 Unidade 3 Redação do Enem Tipologia textual e competências exigidas pelo ENEM A prova de redação do Enem exige a produção de um texto dissertativoargumentativo. O termo dissertativo faz referência ao ato de explicar, interpretar, analisar, avaliar os fatos que são geralmente noticiados pela mídia. Quando se pensa na palavra argumentar, é preciso levar em conta a finalidade de convencer o interlocutor a aceitar a ideia que está sendo enunciada na redação. Portanto, o texto dissertativo-argumentativo associa essas duas definições, porque a sua construção requer a organização das ideias acerca de um tema e, além disso, não se pode esquecer de apresentar a defesa de um ponto de vista. Trata-se, então, de uma tipologia textual. Para que haja sucesso na elaboração de um texto dissertativo-argumentativo, em primeiro lugar, é necessário analisar a proposta de redação e, em seguida, definir um ponto de vista a ser defendido sobre o tema. O vestibulando deve exercer, de fato, a sua posição de autor. Mas, o que é ser autor? Uma definição bem simples: ser autor é dar conta de costurar os diferentes discursos para que o texto fique coerente e faça sentido. Por essa razão, é importante fazer o planejamento do texto: escolher argumentos que sejam compatíveis com a realidade e que sejam adequados e organizados em sequência. As ideias podem ser organizadas por progressão temática; por organização temporal/espacial; por enumeração; por refutação e/ou defesa de opinião. Alguns tipos de argumentos também podem ser explicitados: provas concretas - dados estatísticos, fatos, experimentos; credenciamento do autor; citações de autoridades no assunto; deduções silogísticas; generalizações; exemplificações; analogias pertinentes; crenças e valores legitimados socialmente; definições. Marcadores de coesão sequencial Profª. Drª. Márcia Maria Magalhães Borges - Colégio dinâmico 1. Entre orações de um argumento (conectivos/conjunções): a) temporais: quando, assim que, depois que, antes que, enquanto, logo que, desde que, até que; b) causais e consecutivos: porque, pois, como, já que, uma vez que, visto que, por isso, então: c) condicionais: se, caso; d) proporcionais: à proporção que, à medida que; e) conformativos: conforme, segundo, como; f) finais: a fim de que, para que, para. Obs.: As conjunções integrantes, basicamente que e se, fazem articulação sintática, não semântica, entre as orações conectadas; o sentido é dado pelo conjunto do enunciado. Os pronomes relativos funcionam como elementos de coesão referencial por retomada (anáfora), pois substituem elementos anteriormente citados. 2
3 2. Entre argumentos (articuladores discursivo-argumentativos): a) de inclusão/exclusão: até, até mesmo, inclusive; b) de adição: até, até mesmo, além de, não só... mas também, além disso; c) de conclusão: logo, portanto, por isso, por conseguinte, então, assim, pois; d) de comparação: de igualdade (como, do mesmo modo que, tanto como, assim como, tanto quanto, tal qual, tal como, tão... como, tão... quanto, que nem (coloquial), não só... como também, assim também; de superioridade: mais... que, mais... do que; de inferioridade: menos... que, menos... do que); e) de explicação/justificativa: isto é, quer dizer, pois, pois que, ou seja; f) de contraposição/contraste: conjunções adversativas (mas, porém, todavia, contudo, no entanto, entretanto; advérbios: diversamente, inversamente; locuções prepositivas: diversamente de, inversamente a, ao contrário de; conjunções e locuções concessivas: embora, ainda que, mesmo que, apesar de que, conquanto, se bem que, por muito que, nem que; preposições e locuções prepositivas: apesar de, nâo obstante; outras partículas ou expressões: ainda assim, malgrado, [para] uns, [para] outros, por outro lado); g) de especificação/exemplificação: por exemplo, como; h) outros tipos não estudados: de alternância (ou... ou, seja... seja, quer... quer), de retificação (isto é, ou melhor), de generalização/amplificação (aliás, também, realmente). Organizadores textuais a) de abertura: primeiro, para começar, o primeiro, um fator, por um lado; b) de intermediação: em segundo lugar, em terceiro lugar, uma outra questão, de maneira secundária, outro fator, depois, em seguida, por outro lado; c) de fechamento: finalizando, por fim, finalmente, para encerrar, por último, enfim. Marcadores da posição do autor (modalizadores) a) possibilidade de existência: é possível, é provável; b) grau de certeza: evidentemente, não há como negar, é certo, obviamente, talvez, parece razoável; emprego do futuro do pretérito; c) grau de imperatividade: é indispensável, opcionalmente, é preciso, é obrigatório; d) avaliação: curiosamente, inexplicavelmente, brilhantemente; e) afetividade: lamentavelmente, infelizmente; f) atenuação: talvez fosse melhor, ao que parece, creio, no meu modo de ver. Para estudar o texto dissertativo-argumentativo e pensar acerca das questões 1, 2, 3, 4, 5 e 6, a partir das competências exigidas pelo ENEM, considere a proposta de redação solicitada em Proposta de Redação - Enem 2011 Com base na leitura dos textos motivadores seguintes e nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo em norma-padrão da língua portuguesa sobre o tema Viver em rede no século XXI: os limites entre o público e o privado, apresentando proposta de consdentização social que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, deforma 3
4 coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista. Liberdade sem fio A ONU acaba de declarar o acesso à rede um direito fundamental do ser humano - assim como saúde, moradia e educação. No mundo todo, pessoas começam a abrir seus sinais privados de wi-fi, organizações e governos se mobilizam para expandir a rede para espaços públicos e regiões aonde ela ainda não chega, com acesso livre e gratuito. ROSA, G.; SANTOS, P. Galileu, n. 240, jul (fragmento). A internet tem ouvidos e memória Uma pesquisa da consultoria Forrester Research revela que, nos Estados Unidos, a população já passou mais tempo conectada à internet do que em frente à televisão. Os hábitos estão mudando. No Brasil, as pessoas já gastam cerca de 20% de seu tempo on-line em redes sociais. A grande maioria dos internautas (72%, de acordo com o Ibope Mídia) pretende criar, acessar e manter um perfil em rede. Faz parte da própria socialização do indivíduo do século XXI estar numa rede social. Não estar equivale a não ter uma identidade ou um número de telefone no passado, acredita Alessandro Barbosa Lima, CEO da e.life, empresa de monitoração e análise de mídias. As redes sociais são ótimas para disseminar ideias, tornar alguém popular e também arruinar reputações. Um dos maiores desafios dos usuários de internet é saber ponderar o que se publica nela. Especialistas recomendam que não se deve publicar o que não se fala em público, pois a internet é um ambiente social e, ao contrário do que se pensa, a rede não acoberta anonimato, uma vez que mesmo quem se esconde atrás de um pseudônimo pode ser rastreado e identificado. Aqueles que, por impulso, se exaltam e cometem gafes podem pagar caro. Disponível em: < Acesso em: 30 jun (adaptado). Instruções: O rascunho da redação deve ser feito no espaço apropriado. O texto definitivo deve ser escrito à tinta, na folha própria, em até 30 linhas A redação com até 7 (sete) linhas será considerada insuficiente e receberá nota zero. A redação que fugir ao tema ou que não atender ao tipo dissertativo-argumentativo receberá nota zero. A redação que apresentar cópia dos textos da Proposta de Redação ou do Caderno de 4
5 Questões terá o número de linhas copiadas desconsiderado para efeito de correção. 01. Identifique as estratégias argumentativas empregadas nos dois primeiros textos da coletânea. Cite um exemplo de cada um. 02. O terceiro texto é uma tira do cartunista carioca André Dahmer. Por meio do humor, ele constrói uma crítica relacionada aos avanços tecnológicos. Explique em que consiste tal crítica. 03. Relacione os três textos da coletânea ao tema oferecido viver em rede no século XXI: os limites entre o público e o privado. 04. A seguir, leia a redação de Isabela Carvalho Leme Vieira da Cruz, do Rio de Janeiro, participante do Enem 2011 que tirou 1000 pontos, nota máxima, e teve sua redação publicada no Guia do participante. Analise a redação da candidata e identifique a estrutura composicional do texto e as estratégias argumentativas utilizadas. O fim do Grande Irmão Câmeras que gravam qualquer movimento, telas transmitindo noticias a todo minuto, o Estado e a mídia controlando os cidadãos. O mundo idealizado por George Orwell em seu romance 1984, onde aparelhos denominados teletelas controlam os habitantes de Oceania vem se tornando realidade. Com a televisão e, principalmente, a internet, somos influenciados - para não dizer manipulados - todos os dias. Tal influência ocorre, majoritariamente, através da mídia e da propaganda. Com elas, padrões de vida são disseminados a uma velocidade assombrosa, fazendo a sociedade, muitas vezes privada de consciência crítica, absorvê-los e incorporá-los como ideais próprios. Desse modo, deixamos de ter opinião particular para seguir os modelos ditados pelo computador, acreditando no que foi publicado, sem o devido questionamento da veracidade dos fatos apresentados. Com isso, as novas redes sociais, surgidas nesse início do século XXI, se tornam os principais vetores da alienação cultural e social da população, uma vez que todos possuem um perfil virtual com acesso imensurável a todo o tipo de informações. Por isso, diversas empresas e personalidades se valem da criação de perfis próprios, atraindo diversos seguidores, aos quais impõe sua maneira de agir e pensar. Esses usuários, então, se tornam mais vulneráveis e suscetíveis à manipulação virtual. Outro ponto negativo dessas redes, como o Facebook e o Twitter, é o fato de todo o conteúdo publicado ficar armazenado na internet, permitindo a determinação do perfil dos usuários e a escolha da melhor maneira midiática de agir para conquistálos. Além disso, o uso indiscriminado de tais perfis possibilita a veiculação de imagens ou arquivos difamadores, servindo como ferramenta política e social para aumentar a credibilidade de determinadas personalidades, como ocorre com Hugo Chaves em sua ditadura na Venezuela e comprometendo outras, com falsas denúncias, por exemplo. Diante disso, é necessária a aplicação de medidas visando a um maior controle da internet. A implantação, na grade escolar brasileira, do estudo dessas novas tecnologias de informação, incluindo as redes sociais, e a, consequente, formação crítica dos brasileiros, seria um bom começo. Só assim, poderemos negar as previsões feitas por George Orwell e ter um futuro livre do controle e da alienação. A REDAÇÃO do Enem 2012: guia do participante. Brasília: Inep/MEC, p. 32. Disponível em: < 2012/ guia_participante_redacao_enem2012.pdf>. Acesso em: 27 jul
6 05. Relacione a redação da candidata às competências exigidas pela prova. a) Explicite dois ou três mecanismos de coesão sequencial e referencial utilizados. b) Avalie o uso do vocabulário e a adequação à norma-padrão. A seguir, observe o resumo da sequência argumentativa da candidata. Tese Argumentos Proposta Internet é uma forma de manipulação. 1. O computador dissemina padrões de comportamento e influencia pessoas suscetíveis à manipulação. 2. As redes sociais contribuem para a alienação cultural, impondo maneiras de agir e pensar. 3. A publicação de perfis em redes sociais contribui para criar estratégias de manipulação e promover ou comprometer pessoas. Formação crítica dos cidadãos na escola, com foco no uso consciente das novas tecnologias. 06. Retome o tema da proposta e especifique: a) O que é viver em rede no século XXI para a candidata? b) Que relações entre o público e o privado são estabelecidas pela estudante? c) A participante demonstra ter uma visão positiva ou negativa do tema? Explique Leia o texto abaixo, extraído da seção Tendências e Debates da Folha de S. Paulo, publicado no dia 29 de janeiro de 2014, para avaliar: Marcadores de tempo e do eixo da verdade Marcadores de avaliação O recurso da ironia Pessoas gramaticais e papéis sociais Pierpaolo Cruz Bottini e Igor Tamasauskas: Impressões sobre a Lei Anticorrupção Entra em vigor hoje a Lei de Combate à Corrupção (nº /13), uma das iniciativas mais importantes do Legislativo nos últimos tempos. Os menos avisados podem se perguntar sobre o que há de novo, uma vez que a corrupção já era proibida em nosso ordenamento. Mas há uma diferença: em geral, as normas anteriores puniam apenas as pessoas físicas que cometiam a corrupção, deixando de lado a empresa, em regra a mais favorecida com o ato. Agora, as empresas também serão responsabilizadas por atos de corrupção e outros similares praticados em seu benefício. A lei prevê penas duras, como multas de 0,1% a 20% do faturamento bruto, vedação de contratar com o poder público e até a dissolução compulsória, uma pena de morte empresarial. Talvez a inovação mais significativa e polêmica seja a previsão da responsabilidade objetiva da empresa. Com isso, a corporação será punida mesmo que seus dirigentes não tenham autorizado o ato ilícito. Basta que um funcionário parceiro, contratado ou consorciado tenha oferecido ou pago vantagem indevida a 6
7 funcionário público, e as penas serão aplicadas. Desde que a empresa seja beneficiada pelo ato, claro. Assim, se uma corporação contrata um serviço de terceiro para obter licença ambiental, e este pague propina, ambos serão punidos. A ideia do legislador é que a empresa cuide não apenas de sua probidade, mas também se assegure do comportamento ético daqueles com os quais trabalha. Claro que isso tem o limite do bom senso, dada a impossibilidade de se conhecer integralmente o caráter de seus parceiros ou empregados. Mas a ideia é incentivar a corporação a desenvolver sistemas de controle internos que façam checagens periódicas sobre seus colaboradores, assegurando-se de que todos mantêm uma postura correta em relação ao poder público. Nessa linha, a lei prevê a redução da sanção para a empresa que mantiver mecanismos internos de prevenção a atos ilícitos, códigos de ética, auditorias regulares e canais para denúncias. Busca-se, com isso, estimular o compromisso empresarial com uma cultura ética. Os impactos da lei já foram sentidos. É notável como boa parte das corporações revisaram ou criaram regras de boas condutas, estabeleceram padrões rígidos de comportamento e passaram a colaborar com investigações em suas dependências. Ao contrário de tantas leis que não pegam, essa surtiu efeitos mesmo antes de entrar em vigor. É claro que existem problemas. A falta de critérios claros para a fixação das penas e a possibilidade de que a União, Estados e municípios apurem os fatos e apliquem sanções autonomamente podem gerar excessos e conflitos. Mas esperase que os entes federados estabeleçam diretrizes para uma atuação harmônica. Do contrário, o Judiciário será acionado para garantir a razoabilidade na incidência da lei. Críticas à parte, a lei é boa. Vale sempre lembrar que não se trata de norma penal. Não tem a contundência inútil da ameaça de prisão, mas a racionalidade de identificar os reais beneficiários do ato de corrupção e puni-los, afetando seu setor mais sensível: o faturamento. Ademais, ao prever a colaboração das empresas na identificação ou repressão aos ilícitos que possam ser praticados em seu benefício, o poder público faz uma espécie de prevenção geral positiva, forçando a incorporação de novos valores na organização corporativa. Se tal estratégia é adequada, o tempo dirá. Mas criar dispositivos que incentivem a cooperação dos agentes privados parece mais eficiente do que a velha e fracassada política de aumentar penas ou transformar tudo o que incomoda em crime hediondo, como se isso, num passe de mágica, reduzisse o crime organizado a pó. PIERPAOLO CRUZ BOTTINI, 37, advogado, é professor doutor de direito penal da Faculdade de Direito da USP. Foi secretário da Reforma do Judiciário do Ministério da Justiça (governo Lula) IGOR TAMASAUSKAS, 37, é advogado. Foi subchefe adjunto da Casa Civil da Presidência da República para Assuntos Jurídicos (governo Lula) 7
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