VIABILIDADE ECONÔMICO-FINANCEIRA DA PRODUÇÃO E INDUSTRIALIZAÇÃO DO PINHÃO MANSO
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- Edson Caiado Bicalho
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1 VIABILIDADE ECONÔMICO-FINANCEIRA DA PRODUÇÃO E INDUSTRIALIZAÇÃO DO PINHÃO MANSO Aziz Galvão da Silva Júnior 1 Ronaldo Perez 2 Raphael Augusto Motta 3 Joélcio Cosme Carvalho Ervilha 4 Marco Antônio Viana Leite 5 1. INTRODUÇÃO O Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB) criou as condições básicas para a consolidação da cadeia de produção deste biocombustível. A implementação do marco legal com a lei de 13 de janeiro de 2005, definiu o teor de biodiesel adicionado ao diesel, as formas de comercialização e a criação de estruturas de apoio e pesquisa. A criação de um arcabouço institucional e legal é imprescindível, entretanto não é suficiente para garantir a sustentabilidade das produções agrícola e industrial. A decisão de investimento agroindustrial em uma cadeia de produção ainda não consolidada, como o biodiesel, é caracterizada por um alto grau de incerteza nas decisões dos agentes econômicos envolvidos. Diferentemente da cadeia de produção de etanol biocombustível, que tem como base a cana de açúcar, o biodiesel pode ser produzido a partir de diversas matérias primas, sejam elas de origem vegetal ou animal. Esta flexibilidade é, ao mesmo tempo, um fator positivo e também negativo para o programa. A diversidade de oleaginosas poderá permitir a exploração em diferentes regiões e a inserção de agricultores com diversas condições estruturais, gerenciais e financeiras. Por outro lado, há dispersão dos esforços de pesquisa e menor impacto do desenvolvimento e difusão de tecnologias, quando comparado ao plantio de uma única espécie vegetal. Outro fator que deve ser considerado, quando se analisa comparativamente as duas cadeias no Brasil, é a tradição de séculos de plantio de cana de açúcar. 1 Eng. Agrº, PhD., Professor Associado, Universidade Federal de Viçosa, Depto Economia Rural, Viçosa MG. aziz@ufv.br 2 Eng. Químico, DSc., Professor Adjunto, Universidade Federal de Viçosa, Depto. Tecnologia de Alimentos, Viçosa MG, rperez@ufv.br 3 Acadêmico de Eng. de Alimentos, Vila Giannetti, casa 25 - Projeto Biodiesel, Viçosa MG, mottaeal@yahoo.com.br 4 Acadêmico de Eng. de Alimentos, Vila Giannetti, casa 25 - Projeto Biodiesel, Viçosa MG, joelcio.ervilha@ufv.br 5 Gestor do Agronegócio, Funcionário da Epamig, Coordenador Nacional de Biocombustíveis MDA. marcoagronegocio@epamig.br
2 Dentre as principais oleaginosas disponíveis, a cadeia de produção da soja está consolidada na região sul e cerrado brasileiro. Esta cultura, considerando exclusivamente a produção de óleo, é ineficiente, pois o conteúdo de óleo situa-se entre 18% a 20%. Outro aspecto a considerar em relação a esta cultura é o alto nível de investimento necessário para a produção competitiva. Após 4 anos de implantação do programa de biodiesel, esta oleaginosa tem sido a mais utilizada, em detrimento de outras alternativas mais adequadas do ponto de vista técnico. A supremacia da soja pode ser explicada, principalmente, pelo grau de organização da cadeia de produção (BRASIL, 2007). No início do programa do biodiesel este aspecto foi negligenciado. Maior produtividade agrícola em relação à produção de óleo vegetal, rentabilidade e características favoráveis quanto à composição química do óleo não foram suficientes para que outras culturas tivessem papel relevante nas etapas iniciais do programa. Outro aspecto altamente prejudicial foi o erro de buscar a solução do programa em uma única cultura agrícola e divulgação, algumas vezes irresponsável, somente dos aspectos positivos. Neste cenário, a cultura do pinhão manso passou de solução infalível para alternativa descartada, tão logo as primeiras frustrações de plantio, realizadas de maneira precipitada e com expectativas irreais de rendimento e facilidade de condução, foram noticiadas. Finalmente, em janeiro de 2008, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento reconheceu a espécie e criou normas para a produção legal de mudas e sementes (Instrução Normativa 4/2008). A normatização da produção da semente vai permitir que outros aspectos da implantação da cultura possam ser solucionados. Ainda não há variedades registradas, mas o trabalho de melhoramento pode ser continuado agora a partir de uma base adequada. Pesquisas de melhoramento, manejo, colheita e processamento pós-colheita tiveram início na década de 80, com trabalhos importantes realizados por pesquisadores da Epamig no Norte de Minas (SATURNINO et al., 2005). Estes trabalhos, depois de descontinuados, foram reiniciados e já resultaram em coeficientes técnicos básicos para a elaboração de projetos agrícolas, pelo menos para os primeiros anos da implantação da cultura. Em relação ao aspecto industrial, o processamento do pinhão manso tem muitas características semelhantes ao processamento da mamona. Não há gargalos tecnológicos e máquinas e equipamentos são encontrados no mercado. As bases para a análise de viabilidade técnica, econômica e financeira da produção e industrialização do pinhão manso já estão disponíveis, apesar de muitos coeficientes agrícolas serem baseados em estimativas. É importante destacar que, mesmo em culturas consolidadas,
3 características peculiares da produção agrícola como dependência de fatores climáticos, processos biológicos e sazonalidade da produção, aumentam o grau de incerteza na análise dos indicadores econômico-financeiros. Portanto, a análise de viabilidade técnica, econômica e financeira de projetos agroindustriais é imprescindível. Para que este instrumento seja útil, é necessário que análises sejam realizadas considerando obrigatoriamente as características locais. O presente trabalho não pretende e não deve ser tomado como base para decisões de investimento. Nosso objetivo é apresentar uma metodologia, e através de resultados de um estudo exemplo, servir de referência para análises específicas que considerem, obrigatoriamente, características locais relacionadas á produção agrícola e processamento industrial. 2. PREMISSAS DO ESTUDO DE VIABILIDADE A análise de viabilidade econômico-financeira apresentada neste capítulo foi realizada utilizando o software Biosoft, desenvolvido pela Universidade Federal de Viçosa em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Agrário (BORGES, 2008). Este software consiste em um sistema de apoio à decisão para a implantação de unidades de extração de óleo e produção de biodiesel, com participação da agricultura familiar. Fornece indicadores sociais (geração de empregos e renda, necessidades de subsídios agrícolas) e financeiros (custo de produção da oleaginosa, do óleo/biodiesel, indicadores financeiros T.I.R., T.R.C., V.P.L.) dos elos agrícola e industrial da cadeia produtiva de biodiesel. Maiores informações sobre procedimentos para cálculo de indicadores econômicos financeiros podem ser obtidos em WOILER e MATHIAS (1986). A instalação de uma unidade fabril, como a prevista pelo sistema em questão, é consideravelmente complexa, pois requer uma gama diversificada de dados e informações, tornando a utilização de ferramentas computacionais, como o sistema Biosoft ou planilhas eletrônicas estruturadas adequadamente, altamente oportunas. O sistema Biosoft destina-se ao corpo de técnicos do MDA e organizações ligadas à agricultura familiar envolvidos nas atividades relacionadas ao Biodiesel. Nesse sentido, o sistema foi desenvolvido de acordo com o perfil desses usuários. Os técnicos possuem, em sua maioria formação técnica e/ou superior (técnicos agrícolas, técnicos em informática, agrônomos, engenheiros, administradores, etc.), domínio da microinformática e conhecimento técnico especializado em relação à problemática da cadeia produtiva do biodiesel. Na ferramenta desenvolvida todos os componentes do modelo, previamente descritos, estão associados entre si, formando a estrutura do sistema propriamente dita. Numa visão
4 global (Figura 1), o SAD tem sua estrutura formada pelos dois elos do modelo, o agrícola e industrial. Apesar das diversas interligações entre os componentes do modelo, a principal associação da estrutura do sistema ocorre a partir da capacidade produtiva da unidade industrial de biodiesel (do elo industrial para o agrícola) e do preço de venda da(s) oleaginosa(s). Figura 1 Estrutura geral do Sistema Biosoft Analisando a estrutura do sistema com maior detalhamento (Figura 2) pode-se visualizar seus componentes principais.
5 Figura 2 Estrutura do Sistema Biosoft O estudo exemplo consiste na análise de viabilidade econômico-financeira para a implantação de uma unidade de extração de óleo de pinhão manso na região Norte de Minas Gerais, considerando a inserção da agricultura familiar na cadeia produtiva de biodiesel. A capacidade de esmagamento proposta para esta unidade é de 40 t/dia, em 300 dias de funcionamento por ano. Portanto, são produzidos t de óleo e t de torta de pinhão manso anualmente. Para a seleção desta escala de produção, levou-se em consideração a disponibilidade de equipamentos no mercado e resultados de outros estudos desenvolvidos pela equipe de agronegócio e agroindústria da Universidade Federal de Viçosa. A tecnologia de extração será mecânica, devido à baixa capacidade de esmagamento da unidade. O teor de óleo de pinhão manso considerado é 38 % e a eficiência de extração é de 84 %, resultando na extração de 32 % do óleo contido na semente, sendo o restante (68%) atribuído a torta. Os dados industriais (coeficientes técnicos, tecnologia de produção, equipamentos necessários e orçamentos) foram fornecidos pela empresa Urso Branco, e os dados agrícolas (custo de produção do pinhão manso, preço de venda da oleaginosa e produtividade) foram
6 fornecidos pela Epamig Norte de Minas, que conforme citado anteriormente retomou pesquisas sobre esta oleaginosa na região contemplada no estudo. Para a avaliação econômico-financeira foi definido um horizonte de planejamento de 10 anos, desse modo, a avaliação agrícola do estudo partirá do pressuposto que os dados a partir do 4º ano mantêm os mesmos padrões, sendo uma aproximação aceitável, conforme pesquisas na área. Esta aproximação é necessária em virtude ao pinhão manso ser uma planta perene e ainda com poucos dados agronômicos consolidados, principalmente, após o 4º ano de vida. É importante relembrar que a retomada dos estudos nos principais centros de pesquisa ocorreu após a implementação do Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB) em VIABILIDADE AGRÍCOLA Conforme discutido anteriormente, a elaboração de projetos agrícolas deve, obrigatoriamente, considerar condições locais. Os indicadores técnicos apresentados abaixo referêm-se a resultados de pesquisa e discussões com pesquisadores da Epamig no Norte de Minas e extensionistas. Foram levantados os consumos da implantação da cultura do pinhão manso e custeio da cultura ao longo dos anos. Estes dados foram fornecidos pela EPAMIG e representam gastos para uma área de 1 ha. Na parte A da Tabela 1, são apresentados os dados quanto ao consumo de Insumos agrícolas: semente, adubos, inseticidas, fungicidas, formicidas. Na parte B, estão os gastos com Serviços (manuais e mecânicos): analise do solo, coveamento, roçada, capinas, adubação, combate a pragas, colheita, transporte, encargos sociais. DIAS et AL. (2007) e FNP (2009) também apresentam custos de produção de pinhão manso. Os gastos são muito elevados para a implantação da cultura, R$ 1.958,33, e se mantêm altos ao longo do seu cultivo, influenciado pelos gastos com operações manuais e mecânicas. Na parte D, temos a produtividade por ha/ano, custo por tonelada e receita por ha. A produção inicia ao final do 1 ano, em 100 kg por hectare, e se estabiliza em 4 toneladas por hectare a partir do 3º para o 4º ano. Isso faz com que os custos por tonelada no início sejam elevados, se estabilizando em R$ 340 a partir do 4º ano.
7 Tabela1 Consumos e custos agrícolas da cultura do pinhão manso-- Descrição Especificação Valor Unit. 1º Ano 2º Ano 3º Ano 4º-10º Ano Quant. Valor Quant Valor Quant Valor Quant Valor A Operações Mecanizadas Hora/Máquina R$ Preparo do Solo 45,00 4,00 180,00 Roçada 45,00 1,50 67,50 1,50 67,50 1,50 67,50 1,50 67,50 Subtotal A R$/ha 247,50 67,50 67,50 67,50 B Operações Manuais Homen/Dia R$ Coveamento/Adubação/Plantio 20,00 3,00 60,00 Capinas 20,00 5,00 100,00 4,00 80,00 4,00 80,00 3,00 60,00 Adubação Cobertura 20,00 0,50 10,00 1,00 20,00 1,00 20,00 1,00 20,00 Combate a pragas/doenças 25,00 1,50 37,50 1,50 37,50 1,50 37,50 1,50 37,50 Colheita 20,00 2,00 40,00 4,00 80,00 6,00 120,00 15,00 300,00 C Insumos (und) Subtotal B R$/ha 247,50 217,50 257,50 417,50 R$/und Sementes (kg) 30,00 1,00 30,00 Adubo de plantio (kg) 2,10 300,00 630,00 Adubo cobertura (kg) 1,80 250,00 450,00 230,00 414,00 230,00 414,00 230,00 414,00 Inseticida (L) 45,00 1,00 45,00 1,00 45,00 1,00 45,00 1,00 45,00 Fungicida (kg) 105,00 0,50 52,50 1,00 105,00 1,00 105,00 1,00 105,00 Formicida (kg) 10,00 1,00 10,00 Sacaria (und) 0,30 3,00 0,90 15,00 4,50 70,00 21,00 130,00 39,00 D Administrativo Subtotal C R$/ha 1.218,40 568,50 585,00 603,00 R$/und Análise de Solo (und) 12,00 1,00 12,00 Custo de Oport. Terra 200,00 1,00 200,00 1,00 200,00 1,00 200,00 1,00 200,00 Transporte (km) 0,01 300,00 3, ,00 12, ,00 25, ,00 40,00 Encargos Sociais (%) 6,00 498,83 29,93 301,50 18,09 371,00 22,26 564,00 33,84 Subtotal D R$/ha 244,93 230,09 247,26 273,84 Custo Total (A+B+C+D) R$/ha 1.958, , , ,84 Produtividade t/ha 0,10 0,50 2,00 4,00 Custo Total (A+B+C+D) R$/t , ,18 578,63 340,46 Receita R$/ha 58,00 290, , ,00 Resultado (lucro) R$/ha/ano ,33-793,59 2,74 958,16 Como culturas perenes são necessárias alguns anos para que o produtor tenha retorno dos investimentos realizados para implantação da cultura do pinhão manso. Este fato exige a disponibilidade de linhas de credito que possa facilitar o plantio da cultura, sendo este um dos gargalos da ampliação desta cultura. Como a cultura é recente, ainda não há linhas específicas para pinhão manso. Para produtores de sementes, os custos elevados têm sido compensados pelo altíssimo preço da semente, o qual atingiu valores absurdos de até R$ 40,00 por kg. Em 2009 o preço médio, ainda alto, é de R$ 13,00. A questão do fornecimento regular e a preços razoáveis de semente é um grande problema da cultura atualmente, pois em algumas regiões, como Barbacena e Viçosa, o preço da oleaginosa varia entre R$ 0,40 a R$ 0,60, tornando os projetos inviáveis economicamente.
8 A compra de insumos para uma propriedade isolada não pode ser comparado ao fornecimento de insumos para área de hectares, que corresponde à necessidade de uma unidade de tamanho reduzido de produção de biodiesel. Com centenas de propriedades rurais distribuídas, há necessidade de otimização dos custos logísticos, sejam para fornecimento de insumos como também para a obtenção de matéria prima. Este planejamento das atividades agrícolas pode ser facilitado quando se conhece as necessidades de insumos no futuro, pois isso permite levantamentos, negociação e a compra no momento certo, permitindo o desenvolvimento pleno das atividades. O sistema Biosoft, gera o fluxo de volumes permitindo um melhor planejamento da compra de insumos. Tabela 2 - Fluxo de volume de insumos por ano de cultivo de pinhão manso 1º Ano 2º Ano 3º Ano 4º-10º Ano Sementes (kg) 3.004,80 Adubo Plantio (kg) ,00 Adubo Cobertura (kg) , , , ,00 Inseticida (L) 3.004, , , ,80 Fungicida (kg) 1.502, , , ,80 Formicida (kg) 3.004,80 Análise de Solo (und) 3.004,80 Transporte (1.000km) 901, , , ,20 Conforme apresentado na figura 3, os custos dos insumos são bastante significativos (66,97%). O principal item de custo são gastos com adubos, os quais variam conforme o grau de fertilidade do solo em cada propriedade rural e em alguns casos em diferentes glebas de uma mesma propriedade. Os custos com mão de obra têm também impacto significativo, correspondendo a 26,91% do custo de produção, os quais são influenciados principalmente pela colheita, que é manual. Os custos fixos dependem da estrutura disponível na propriedade rural, compondo-se dos custos de depreciação e custo de oportunidade. Para seu cálculo é necessário a realização de um inventário na propriedade rural.
9 Figura 3 - Composição de custos médios de produção pinhão manso Uma unidade que processa 40 t/dia de matéria prima, operando ao longo de 300 dias, gera uma demanda de compra de t de pinhão manso ano. Considerando a produtividade média da cultura de 4 ton/ano por ha, será necessário o plantio de hectares de pinhão manso. Caso essa cultura seja implantada em pequenas propriedades com média de 10 hectares por propriedade, esta unidade pode potencializar a geração de renda para 300 famílias rurais. Conforme a tabela 3, a implantação da unidade industrial permitirá a transferência de aproximadamente 7 milhões de reais por ano aos agricultores, quando a cultura do pinhão manso estiver em plena produção. Tabela 3 - Fluxo de Caixa do projeto agrícola de plantio de pinhão manso (3000 ha) 1º Ano 2º Ano 3º Ano 4º-10º Ano Investimento Inicial 0,00 0,00 0,00 0,00 Receita Bruta , , , ,00 Imposto Rural 3.485, , , ,72 Receita Líquida , , , ,28 Custo de Produção , , , ,83 Lucro Operacional , , , ,45 Juros sobre Financiamento 0, , , ,40 Fluxo de Caixa Bruto , , , ,05 Depreciação 0,00 0,00 0,00 0,00 Fluxo de Caixa Líquido , , , ,05 - Fluxo de Caixa Acumulado , , , ,18 - A partir do cálculo do fluxo de caixa acumulado, tabela 3, é possível verificar que o retorno dos investimos acontecem após o 3º ano, exatamente no 5º ano, TRC pela tabela 4.
10 Tabela 4- Indicadores do Módulo Agrícola INDICADOR Unidade Pinhão Manso 40 t/d AGRICULTURA Número de famílias atendidas Und 300 Renda média mensal da família (Lucro + MDO) R$ 654,18 Empregos gerados (MDO Agricultura Familiar) Und 901 Custo de Produção Pinhão Manso R$/kg 0,44 Lucro por ha R$ 399,34 T.I.R. % 17,96 T.R.C. Anos 5,09 V.P.L. R$ ,35 4. VIABILIDADE INDUSTRIAL Para viabilizar o projeto agrícola de hectares de pinhão manso, como citado anteriormente, é necessário a construção de planta de esmagamento de 40 toneladas de matéria prima por dia. Esta planta exige um investimento de R$ 4,744 milhões. Por ser uma unidade pequena, não há ganhos de escala. O custo de investimento por tonelada de óleo é de R$ 1.237, valor bastante elevado, quando comparado com unidades de esmagamento disponíveis no mercado. Outro fator importante a ser considerado é a importância da matéria prima na composição dos custos industriais. A compra de oleaginosas representa 77,17% dos custos industriais. O custo de esmagamento é de aproximadamente R$ por tonelada. Este custo, aliado ao baixo valor de venda da torta pinhão manso produzida, tornam a produção do óleo de pinhão manso pouco competitiva em relação ao custo final. O valor calculado é de R$ 1,71 por litro, sendo que R$ 1,52 refere-se ao custo da matéria prima para cada litro de óleo.
11 Tabela 5 - Detalhamento do projeto INDÚSTRIA Pinhão Manso t/ano INDICADOR Unidade Valor Produção Anual de Óleo mil t/ano 3,83 Investimento Total (Fixo + Capital Giro) R$/t pinhão manso 0,40 Investimento Fixo Industrial R$/t pinhão manso 0,27 Investimento Capital de Giro R$/t pinhão manso 0,12 Investimento por Tonelada Óleo R$/t de óleo 1.237,46 Custo Variável Total R$/t pinhão manso 0,71 Compra Matéria prima R$/t pinhão manso 0,58 Compra Insumos R$/t pinhão manso 0,01 Mão de Obra R$/t pinhão manso 0,04 Outros Custos R$/t pinhão manso 0,08 Custo por Tonelada Esmagada R$/t 2.220,37 Custo Fixo Total R$/t pinhão manso 0,04 Mão de Obra R$/t pinhão manso 0,02 Depreciação R$/t pinhão manso 0,02 Receita Total milhões R$ 10,40 Receita Óleo milhões R$ 7,95 Receita Torta milhões R$ 2,45 Custo Produção de Óleo R$/L 1,71 Produção Total Óleo milhões L/ano 3,84 Produção Total Torta mil t 8,17 Número Empregos Diretos Gerados Indústria unidade 37 Figura 4 - Composição dos Custos Elo Industrial
12 A partir desta configuração e base de informações montou-se o fluxo de caixa, considerando como receita a venda de ainda toneladas de torta de pinhão manso. Nas tabelas 6 e 7 é apresentado o fluxo de caixa. Tabela 6 fluxo de caixa Ano 0 Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 Fluxo de Caixa Investimento Inicial , , , , Receita Operacional , , , , ,00 Custo de Produção , , , , ,20 Lucro Operacional , , , , ,80 Juros sobre Financiamento , , , , ,29 Lucro Tributável , , , , ,51 Imposto de Renda , , , ,94 Fluxo de Caixa Bruto , , , , ,57 Depreciação , , , , ,96 Fluxo de Caixa Líquido , , , , , ,52 Fluxo de Caixa Acumulado , , , , , ,92 Tabela 7 Fluxo de caixa Ano 6 Ano 7 Ano 8 Ano 9 Ano 10 Fluxo de Caixa Investimento Inicial ,56 Receita Operacional , , , , ,00 Custo de Produção , , , , ,20 Lucro Operacional , , , , ,80 Juros sobre Financiamento , , , Lucro Tributável , , , , ,80 Imposto de Renda , , , , ,54 Fluxo de Caixa Bruto , , , , ,27 Depreciação , , , , ,96 Fluxo de Caixa Líquido , , , , ,78 Fluxo de Caixa Acumulado , , , , ,32 A partir do cálculo do fluxo de caixa acumulado, tabela 3, é possível verificar que o retorno dos investimentos ocorre próximo ao 6º ano (T.R.C de 5,92 anos). Outros indicadores financeiros são calculados a partir do fluxo de caixa líquido, como Taxa Interna de Retorno (T.I.R.), que para este projeto é de 20,38 %. Esta taxa é satisfatória, por ser maior que a Taxa Mínima de Atratividade (T.M.A.) de 12%. Os demais indicadores se apresentaram satisfatórios, como o Valor Presente Líquido (V.P.L.) de R$ ,09. Entretanto, é importante salientar que na situação de preços elevados de óleo vegetal este projeto tem alto risco, por apresentar um elevado tempo de retorno de capital. Nas condições atuais, com baixos preços dos óleos vegetais, principalmente do óleo de soja, este
13 projeto industrial é totalmente inviável, pois não se conseguira vender óleo de pinhão manso hoje no mercado acima de R$1.300,00 a tonelada. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS O plantio de pinhão manso, esmagamento da oleaginosa para produção de óleo vegetal e biodiesel, devem ser incentivadas de forma responsável e com cautela, conforme salientado no texto. Diversos fatores de ordem técnica e econômica aumentam o grau de incerteza da implantação desta cultura. Há grande oscilação dos custos de produção, sejam eles decorrentes de condições naturais das propriedades rurais como fertilidade do solo, ou condições de mercado e logística. Como os dados de pesquisa são recentes, não há ainda um conjunto de recomendações técnicas testado, o que certamente levará a grandes diferenças de produtividades. Finalmente, a inexistência de um mercado consolidado para a oleaginosa dificulta a previsão do valor de venda. A inexistência de uma cadeia de produção consolidada exigirá a realização de contratos de compra e venda da matéria prima e estruturação de serviço de assistência técnica aos produtores rurais. No mercado tradicional de oleaginosas comerciais, como a soja, os preços da oleaginosa depende da oferta e da procura do grão, mas também das oscilações dos preços dos produtos gerados a partir da transformação desta oleaginosa, como o óleo, torta e do biodiesel. Em função dos riscos inerentes a produção de óleo vegetal a partir do pinhão manso, torna-se muito importante que sejam realizadas avaliações dos riscos, nas quais seja incorporadas explicitamente as variáveis preço da oleaginosa e oscilação da produção agrícola. A partir de análise de sensibilidade, conforme apresentado no gráfico da figura 5, elevação de 10% no preço do pinhão manso elevaria a renda mensal dos agricultores de R$ 654,18 para R$ 803,17. Entretanto, nesta mesma situação de aumento do preço do pinhão manso, a T.I.R. da indústria cairia de 20,4% para 6,5%, inviabilizando o empreendimento. Já uma diminuição de 10% no preço do pinhão manso diminuiria de R$ 654,18 para R$ 505,20 a renda mensal dos agricultores, contudo, a T.I.R. industrial subiria de 20,4% para 33,5%. Este tipo de análise tem como objetivo alcançar a relação ótima entre o preço de venda da oleaginosa pelos agricultores com a T.I.R. da indústria, para a estruturação e fortalecimento do elo agrícola e industrial.
14 Figura 5 Análise de sensibilidade da T.I.R. industrial e da renda mensal dos agricultores Através da análise da figura 6, nota-se que a variação do preço do óleo afeta mais a T.I.R. da indústria do que variações no preço de venda da torta de Pinhão Manso. Isso se deve principalmente ao baixo valor da torta de pinhão manso, que é tóxica, não podendo ser destinada para alimentação animal. Entretanto, essa análise não é comum para unidades de esmagamento de soja, na qual, o preço de venda do farelo de soja influencia efetivamente na T.I.R. industrial, por causa do grande volume gerado e pelo alto valor agregado.
15 Figura 6 Análise de sensibilidade da T.I.R. industrial em função do preço do óleo de pinhão manso e do preço da torta de pinhão manso O PNPB criou condições para a consolidação de uma nova cadeia de produção, com mercado cativo e de alta liquidez. Estes aspectos são altamente relevantes para a produção agrícola, principalmente produtores rurais familiares. O pinhão manso é uma alternativa que deve ser avaliada. Finalmente, é importante ressaltar novamente que, como em qualquer atividade produtiva profissional, todos os aspectos relevantes, discutidos neste capítulo, devem ser levados em consideração. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BORGES,M.C. Desenvolvimento de um Protótipo de um Sistema de Apoio à Decisão sobre Investimentos Industriais e Agrícolas na Cadeia Produtiva de Biodiesel. Universidade Federal de Viçosa Viçosa, 2008 BRASIL. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. Cadeia Produtiva da Soja. Brasília : IICA : MAPA/SPA, CONAB Companhia Nacional do Abastecimento. Disponível em: Acesso 06 de Fevereiro de DIAS, L.A.S, et al. Cultivo de pinhão Manso ( Jatropha curcas L.): para produção de óleo combustível. Viçosa, MG, 2007
16 FNP: Agrianual 2009: anuário da agricultura brasileira. São Paulo : FNP, Livro sobre pinhão manso da fusermann SATURNINO, H. M., PACHECO, D. D., KAKIDA, J., TOMINAGA, N., GONÇALVES, N. P. Cultura do pinhão manso (Jatropha curcas L.). Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v. 26, n.229, p WOILER, S; MATHIAS, W.F. Projetos: planejamento, elaboração e análise. São Paulo: Atlas
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