Capítulo XV Custos e Rentabilidade
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- Pietra Valgueiro Schmidt
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1 Capítulo XV Custos e Rentabilidade Marcelo do Amaral Santana Clóvis Oliveira de Almeida José da Silva Souza As estimativas de custos de produção e de rentabilidade para uma cultura podem proporcionar informações importantes para auxiliar o produtor na tomada de decisão do que plantar, como também na otimização do sistema de produção adotado. O desempenho econômico da bananicultura depende de uma série de fatores, dentre os quais citam-se: a variedade adotada, a densidade de plantio, as condições edafoclimáticas, os tratos culturais e fitossanitários, o grau de incidência de pragas e doenças, o custo de aquisição dos fatores de produção, os custos de comercialização e os preços pagos aos produtores. Neste capítulo, apresentam-se, a título de exemplo, as estimativas de custos de produção e de rentabilidade por hectare para o cultivo da banana Prata Anã, em regime de sequeiro, para a Região do Recôncavo Baiano, e irrigado, para a Região de Bom Jesus da Lapa - BA. Deve-se ressaltar que os coeficientes técnicos e demais valores apresentados são estimativas levantadas especificamente para as duas regiões mencionadas e que diferenças nos preços dos fatores, nos preços dos produtos, bem como no nível de tecnologia adotado, podem alterar a composição dos custos, das receitas e, conseqüentemente, a rentabilidade do bananal. Outra consideração importante é que, em função da sazonalidade da oferta da banana, verifica-se uma grande variação nos preços 256
2 pagos aos produtores nas diversas regiões, o que também pode alterar a rentabilidade. A análise conjunta desses fatores é extremamente importante para o planejamento, implantação e manutenção do pomar. A metodologia de análise de investimento aplicada aos dois sistemas de produção utiliza a taxa interna de retorno (TIR), o valor presente líquido (VPL) e a relação benefício custo (B/C). Nos cálculos, considerou-se um custo de oportunidade, ou taxa mínima atrativa de retorno (TMAR), de 6% ao ano, que é a taxa real paga pela caderneta de poupança, investimento que oferece risco praticamente nulo e também de maior acesso aos pequenos produtores rurais, onde se enquadram, majoritariamente, os produtores de banana da Região Nordeste. O valor presente líquido (VPL) é o método que transfere para o instante atual a diferença entre as receitas e gastos esperados, descontados a uma determinada taxa de juros de referência (taxa de desconto, no caso 6% a.a.). São considerados viáveis os investimentos cujo VPL seja maior ou igual a zero. Se o VPL for igual a zero, o investimento consegue remunerar o capital próprio e o capital de terceiros. Se o VPL for maior que zero, além de remunerar o capital próprio e o de terceiros, o investimento ainda permite o crescimento da empresa rural. Caso o VPL seja menor que zero, o investimento é considerado inviável. A TIR é a taxa de juros que torna equivalente uma série de receitas e gastos na data presente, representando a taxa que torna o valor presente líquido (VPL) igual a zero, ou a rentabilidade anual média do empreendimento. Se a TIR for maior que a taxa de referência, definida previamente, o investimento é viável; caso contrário, é considerado inviável. A relação B/C é o quociente entre o valor presente das receitas e o valor presente dos custos, considerando uma determinada taxa de desconto. Desde que utilizada a taxa 257
3 adequada, se a relação B/C for maior que 1, o investimento é viável. Se for menor que 1, o investimento é inviável. Adicionalmente, o indicador de ponto de nivelamento mostra qual a quantidade mínima de produção para que seja pago o custo operacional efetivo. A margem de segurança é uma medida de sensibilidade que indica até que ponto os preços pagos ao produtor ou as quantidades produzidas podem cair sem que os custos ultrapassem as receitas Custos de Instalação e de Manutenção Na Tabela 15.1 são apresentados os custos de instalação, no primeiro ano, e de manutenção, a partir do segundo ano, de um hectare de banana Prata Anã, em regime de sequeiro na Região do Recôncavo Baiano, considerando o espaçamento de 4,00 x 2,00 x 2,00 m, com uma densidade de plantas por hectare. No primeiro ano, os gastos na compra de insumos são os que mais pesam sobre os custos, representando 78,40% do custo efetivo, sendo seguidos dos gastos com tratos culturais e fitassanitários e de preparo do solo e plantio, com participações de 13,86% e 7,73%, respectivamente. Como não há produção no primeiro ciclo, não há, portanto, custos de colheita. No segundo ano, a participação percentual nos custos de produção têm a seguinte distribuição: insumos (65,05%); tratos culturais (27,64%); colheita (6,68%) e preparo do solo e plantio (0,63%). Do terceiro ao sexto ano, o bananal apresenta uma produtividade estável de 20 toneladas por hectare e as participações percentuais nos custos de produção pouco se modificam em relação ao segundo ano, mantendo a mesma importância relativa: insumos (69,22%); tratos culturais (23,01%); colheita (7,10%) e preparo do solo e plantio (0,67%). 258
4 Tabela Custo de instalação e manutençâo, em reais, de um hectare de banana 'Prata Anã' para o Recôncavo da Bahia, com espaçamento em fileira dupla de 4,00m x 2,00m x 2,00m, plantas por hectare, abril de PREÇO Ano 1 Ano 2 Ano 3 ESPECIFICAÇÃO UNIDADE POR UNIDADE Quant. Valor Quant. Valor Quant. Valor 1. INSUMOS Mudas Uma 1, ,00 0 0,00 0 0,00 Esterco de curral m³ 21, ,40 0 0,00 0 0,00 Calcário ¹ t 103, ,00 0 0,00 0 0,00 Uréia ¹ kg 0, , , ,64 Superfosfato simples ¹ kg 0, , , ,70 Cloreto de potássio ¹ kg 0, , , ,00 Inseticida ² kg 9, , , ,00 Óleo mineral l 7, , , ,00 Fungicida l 150,00 2,5 375,00 2,5 375,00 2,5 375,00 Detergente concentrado neutro l 1,50 0 0,00 3 4,50 3 4,50 Subtotal , , ,83 Participação percentual 78,40 65,05 69,21 2. PREPARO DO SOLO E PLANTIO Análise de solo Uma 19, , , ,00 Aração h/tr 40, ,00 0 0,00 0 0,00 Calagem D/H 10, ,00 0 0,00 0 0,00 Gradagem (02) h/tr 40, ,00 0 0,00 0 0,00 Sulcamento h/tr 40, ,00 0 0,00 0 0,00 Marcação e abertura das covas D/H 10, ,00 0 0,00 0 0,00 Adubação da cova D/H 10, ,00 0 0,00 0 0,00 Seleção e tratamento de mudas D/H 10, ,00 0 0,00 0 0,00 Plantio D/H 10, ,00 0 0,00 0 0,00 Subtotal , , ,00 Participação percentual 7,73 0,63 0,67 3. TRATOS CULTURAIS E FITOSSANITÁRIOS Capinas D/H 10, , , ,00 Análise foliar Uma 48,00 0 0, , ,00 Adubação D/H 10, , , ,00 Desbaste D/H 10, , , ,00 Desfolha D/H 10, , , ,00 Tratamento fitossanitário D/H 10, , , ,00 Subtotal , , ,00 Participação percentual 13,86 27,64 23,01 4. COLHEITA Colheita D/H 10,00 0 0, , ,00 Subtotal , , ,00 Participação percentual 0,00 6,68 7,10 CUSTO OPERACIONAL EFETIVO 7.357, , ,83 PERCENTUAL TOTAL 100,00 100,00 100,00 ENCARGOS FINANCEIROS 441,46 179,75 168,95 CUSTO OPERACIONAL TOTAL 7.799, , ,78 1 Refere-se à recomendação máxima, podendo ser reduzida conforme os resultados da análise do solo. 2 Só deverá ser aplicado com a ocorrência da broca. Na Tabela 15.2 são apresentados os custos de instalação, no primeiro ano, e de manutenção, a partir do segundo ano, de um hectare de banana Prata Anã, em regime de irrigação por microaspersão na Região de Bom Jesus da Lapa, BA, considerando o espaçamento de 4,00 x 2,00 x 2,00 m, com uma densidade de plantas por hectare. 259
5 No primeiro ano, os gastos na compra de insumos também são os que mais pesam sobre os custos, representando 83,32% do custo efetivo, sendo seguidos dos gastos com tratos culturais e fitassanitários (5,65%), irrigação (5,10%), preparo do solo e plantio (4,48%), e colheita (1,45%). Tabela Custo de instalação e manutenção, em reais, de um hectare irrigado de banana 'Prata Anã' para a região de Bom Jesus da Lapa - BA, com espaçamento em fileira dupla de 4,00m x 2,00m x 2,00m, plantas por hectare, abril de PREÇO Ano 1 Ano 2 Ano 3 ESPECIFICAÇÃO UNIDADE POR UNIDADE Quant. Valor Quant. Valor Quant. Valor 1. INSUMOS Mudas + 5% Uma 1, ,00 0 0,00 0 0,00 Esterco de curral m3 21,42 13,30 284,89 19,95 427,33 26,66 571,06 Calcário ¹ t 70,00 3,0 210,00 0 0,00 0 0,00 Uréia ¹ kg 0, ,72 431,89 427,57 607,84 601,76 Superfosfato simples ¹ kg 0, ,12 533,2 341,25 533,2 341,25 Cloreto de potássio ¹ kg 0, ,80 703,82 577,13 847,79 695,19 Sufato de zinco ¹ kg 1, ,81 13,33 23,59 26,66 47,19 Óleo mineral l 3,10 37,80 117,18 50,4 156,24 50,4 156,24 Fungicida l 150,00 1,0 150,00 1,5 225,00 1,5 225,00 Inseticida ² kg 9,00 0,20 1,80 0,40 3,60 0,40 3,60 3 CODEVASF-K1 ha/ano 58,15 1,0 58, , ,15 CODEVASF-K2 fixo ha/mês 11,92 12,0 143, , ,04 CODEVASF-K2 volumétrico 1000m³ 102,49 15, ,35 23, ,27 23, ,27 Subtotal , , ,74 Participação percentual 83,31 56,92 56,06 2. PREPARO DO SOLO E PLANTIO Análise de solo Uma 19, , , ,00 Aração h/tr 40, ,00 1,5 60,00 0 0,00 Calagem h/tr 40, ,00 0 0,00 0 0,00 Gradagem h/tr 19, ,00 0 0,00 0 0,00 Sulcamento h/tr 40, ,00 0 0,00 0 0,00 Demarcação de covas D/H 10, ,00 0 0,00 0 0,00 Coveamento D/H 10, ,00 0 0,00 0 0,00 Distribuição de mudas D/H 10,00 1,5 15,00 0 0,00 0 0,00 Plantio e replantio D/H 10,00 4,5 45,00 0 0,00 0 0,00 Adubação de fundação D/H 10,00 0,8 8,00 0 0,00 0 0,00 Subtotal , , ,00 Participação percentual 4,48 0,94 0,20 3. TRATOS CULTURAIS E FITOSSANITÁRIOS Capinas D/H 10, ,00 0 0,00 0 0,00 Análise foliar Uma 48,00 0 0, , ,00 Adubação D/H 10, , , ,00 Desbrota/Desfolha D/H 10, , , ,00 Pulverizações D/H 10, , , ,00 Tratamento fitossanitário D/H 10, , , ,00 Irrigante D/H 10,00 18,75 8,00 18,75 187,50 18,75 187,5 Subtotal , , ,50 Participação percentual 5,65 5,54 4,98 4. IRRIGAÇÃO 4 Irrigação - microaspersão ano 404,42 1,0 404, , ,42 Subtotal , , ,42 Participação percentual 5,10 4,81 4,33 5. COLHEITA Colheita D/H 10, , , ,00 Transporte interno D/H 10, , , ,00 Embalador caixa 0, , , ,20 Embalagem (caixa de madeira) caixa 1, , , ,40 Subtotal , , ,60 Participação percentual 1,45 31,78 34,43 CUSTO OPERACIONAL EFETIVO 7.925, , ,26 PERCENTUAL TOTAL 100,00 100,00 100,00 ENCARGOS FINANCEIROS 475,52 503,96 560,90 CUSTO OPERACIONAL TOTAL 8.400, , ,15 ¹Refere-se à recomendação máxima, podendo ser reduzida conforme os resultados da análise do solo; ² Só deverá ser aplicado com a ocorrência da broca. 3 Sistema de irrigação Codevasf - Perímetro Irrigado; 4 Custo de capital anualizado. 260
6 No segundo ano, a participação percentual nos custos de produção obedece a seguinte ordem: insumos (56,93%); colheita (31,78%); tratos culturais (5,54%); irrigação (4,81%) e preparo do solo e plantio (0,94%). Do terceiro ao sexto ano, o bananal apresenta uma produtividade estável de 40 toneladas por hectare, também mantendo em relação ao segundo ano a importância relativa das atividades na composição dos custos: insumos (56,06%); colheita (34,43%); tratos culturais (4,98%); irrigação (4,33%) e preparo do solo e plantio (0,20%) Rentabilidade Esperada Na produção em regime de sequeiro, conforme Tabela 15.3, a análise de rentabilidade é realizada tomando-se uma vida útil produtiva do pomar de seis anos. A partir de informações levantadas junto aos produtores da região, o preço nominal médio recebido pelo produtor, no período de janeiro a abril de 2004, foi estimado em R$ 270,00 por tonelada da fruta. Em função da sazonalidade da oferta, o preço pode oscilar para valores acima (na entressafra) ou para valores abaixo (na safra). Tabela Indicadores de rentabilidade de um hectare de banana 'Prata Anã' para o Recôncavo da Bahia. BANANA/ PRODUTIVIDADE PREÇO VALOR DA CUSTO OP. MARGEM RELAÇÃO PONTO DE MARGEM DE PERÍODO (toneladas) (PY) PRODUÇÃO EFETIVO BRUTA B/C NIVELAMENTO SEGURANÇA (B) (C) (B - C) (toneladas) (%) 1º ANO - - 0, , , º ANO , , , ,17 1,35 11,10-26,03 3º ANO , , , ,17 1,92 10,43-47,85 4º ANO , , , ,17 1,92 10,43-47,85 5º ANO , , , ,17 1,92 10,43-47,85 6º ANO , , , ,17 1,92 10,43-47,85 TAXA INTERNA DE RETORNO (TIR) = 14,87% VALOR PRESENTE LÍQUIDO (VPL) = R$2.084,33 RELAÇÃO B/C = 1,11 Obs.: O Valor Presente Líquido e a Relação B/C foram calculados usando-se uma Taxa de Desconto de 6% a.a. 261
7 A taxa interna de retorno (TIR) indica uma rentabilidade anual do pomar de 14,87%. O valor presente líquido (VPL) indica que o investimento paga o capital próprio e o de terceiros, e ainda permite uma acumulação de R$ 2.084,33 por hectare, considerando a vida útil produtiva do pomar. Os dois indicadores evidenciam a viabilidade financeira do investimento, sendo reforçada também pela relação (B/C), que foi de 1,11. Esse último indicador sugere que, de cada R$ 1,00 investido, tem-se o retorno bruto de R$ 1,11, ou R$ 0,11 líquido. Na produção em regime de irrigação, conforme Tabela 15.4, a análise de rentabilidade também considera uma vida útil produtiva do pomar de seis anos. A partir de informações levantas junto a centrais de comercialização e produtores da região, o preço nominal médio recebido pelo produtor, no período de janeiro a abril de 2004, foi estimado em R$ 300,00 por tonelada da fruta, também sujeito a oscilações em função da sazonalidade da oferta. Tabela Indicadores de rentabilidade de um hectare irrigado de banana 'Prata Anã' para a região de Bom Jesus da Lapa - BA. BANANA PRODUTIVIDADE PREÇO VALOR DA CUSTO OP. MARGEM RELAÇÃO PONTO DE MARGEM DE PERÍODO (toneladas) (PY) PRODUÇÃO EFETIVO BRUTA B/C NIVELAMENTO SEGURANÇA (B) (C) (B - C) (toneladas) (%) 1º ANO 5 300, , , ,27 0,19 26,42-2º ANO , , ,29 600,71 1,07 28,00-6,67 3º ANO , , , ,74 1,28 31,16-22,10 4º ANO , , , ,74 1,28 31,16-22,10 5º ANO , , , ,74 1,28 31,16-22,10 6º ANO , , , ,74 1,28 31,16-22,10 TAXA INTERNA DE RETORNO (TIR) = 18,76% VALOR PRESENTE LÍQUIDO (VPL) = R$2.809,89 RELAÇÃO B/C = 1,06 Obs.: O Valor Presente Líquido e a Relação B/C foram calculados usando-se uma Taxa de Desconto de 6% a.a. A taxa interna de retorno (TIR), de 18,76%, e o valor presente líquido (VPL), de R$ 2.809,89, indicam que o investimento é viável financeiramente. A relação benefício custo (B/C), de 1,06, também demonstra a viabilidade. 262
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