APONTAMENTOS SOBRE AS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA FORMAÇÃO DE PROFESSORES NA MODALIDADE A DISTÂNCIA
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1 APONTAMENTOS SOBRE AS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA FORMAÇÃO DE PROFESSORES NA MODALIDADE A DISTÂNCIA Ana Claudia da Silva Rodrigues; Lílian Maria Paes de Carvalho Ramos (Orientadora) Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro ana_rodrigues26@hotmail.com; Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro lilianmpcramos@yahoo.com.br INTRODUÇÃO A educação superior no Brasil é marcada por uma diferenciação cada vez mais intensa, à qual estão submetidos os seus cursos no que tange a infraestrutura, qualidade e perfil de seus estudantes (NASCIMENTO, 2012). Desde o ano 2005 foi introduzida como política oficial de governo a Universidade Aberta do Brasil (UAB), em reconhecimento da necessidade de expandir cada vez mais o acesso ao ensino superior no país e à impossibilidade de fazê-lo exclusivamente por via presencial. Segundo os resultados divulgados do Censo da Educação Superior 2013 promovido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) 18,8% do número de ingressantes no ensino superior fez suas matrículas na modalidade a distância, o que representa pouco mais universitários ingressando na EAD, somente naquele ano. Deste modo, o foco deste trabalho volta-se para a educação superior, na modalidade a distância que, devido ao acelerado crescimento de suas matrículas, tem se tornado uma importante área de pesquisa. Tendo em vista a amplitude alcançada atualmente pela educação a distância (EAD), faz-se necessário situar os marcos regulatórios desta modalidade. Segundo Giolo (2008), a LDB de 1996 foi uma das primeiras legislações acerca dos cursos regulares na modalidade a distância, na qual está citado em seu artigo 80: será oferecida por instituições especificamente credenciadas pela União e complementa sobre a regulamentação dos cursos dessa modalidade ao explicitar no 2º os requisitos para a realização de exames e registro de diplomas relativos a cursos de Educação a distância. Contudo, apenas a partir de 2005, quando as regulamentações mais extensivas voltadas para a EAD foram aprovadas houve uma mudança de foco da modalidade, que passou a oferecer em larga escala o ensino superior. Segundo Giolo (2008), essa grande demanda estaria voltada para a formação de professores para a educação básica incentivada, em parte, por conta da necessidade do
2 cumprimento do artigo 87, 4º da LDB, que determina: Até o fim da Década da Educação somente serão admitidos professores habilitados em nível superior ou formados por treinamento em serviço (BRASIL, Lei n , 1996) 1. A regulamentação da modalidade, somada à demanda já explicitada, tornou a EAD, segundo Alonso (2010), uma modalidade de ensino a serviço da aceleração da expansão de vagas no ensino superior. De acordo com a autora, esse processo é justificado pelo discurso oficial, através de duas premissas: a democratização do acesso ao ensino superior e a necessidade da formação dos profissionais da educação (...) (ALONSO, 2010, p. 1319). Dentro do Programa de Pesquisa e Pós Graduação em Educação, Contextos Contemporâneos e Demandas Populares (PPGEduc) iniciamos uma pesquisa voltada para a temática apresentada, cujo o objetivo de sua primeira etapa é traçar um panorama das políticas públicas de ensino superior na modalidade a distância, através de uma análise de como se dá a inserção dessas macro políticas na formação de professores. Os resultados preliminares dessa parte da pesquisa que está em andamento serão apresentados neste trabalho. METODOLOGIA, RESULTADOS E DISCUSSÃO Para dar conta dos objetivos expostos, faz-se necessário um respaldo teórico em torno das temáticas apresentadas, iniciando com uma análise prévia sobre as políticas de expansão do ensino superior. A análise pretendida se respalda numa metodologia proposta através de uma abordagem qualitativa, e toma por base a obra Análise de Conteúdo, de Bardin (2011), segundo a qual todo objeto de estudo é composto de mensagens, portador de uma comunicação. Contudo, segundo a autora, para que esse trabalho seja efetivamente realizado, é necessário pôr em evidência a intencionalidade com a qual o material estudado foi produzido, visto que, de acordo com a mesma: a intenção da análise de conteúdo é a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção (ou, eventualmente, de recepção) [...] (BARDIN, 2011, p. 44). 1 Ainda é possível que os professores com formação de nível médio, que possuem o magistério, atuem no primeiro segmento da Educação Básica. Porém, é notória uma busca cada vez maior pela qualificação a nível superior desta categoria.
3 Destarte, a análise sobre o objeto de estudo deve ser em direção à identificação do que está além do texto, levando em consideração não só o contexto da mensagem, mas também o contexto exterior a este (IDEM, p. 145). Desta forma, os esforços de pesquisa incidem sobre a análise dos documentos que demarcam as políticas aqui investigadas. Dentre os principais documentos que comporão essa análise, foram selecionados: LDB de 1996; Decreto do Grupo de Trabalho Interministerial sobre a reforma da universidade brasileira; Lei de criação da UAB, que são de grande importância para a compreensão do contexto do programa de expansão do ensino superior no Brasil. No que tange, de maneira geral, à expansão do sistema de educação superior brasileiro, é importante salientar que isso vem ocorrendo no sentido da iniciativa privada, o que de acordo com Mancebo (2009, p.3) significa dizer que os produtos oferecidos dão-se, em sua maioria, num cenário em que predominam as atividades relacionadas ao ensino de graduação (sem atividades de pesquisa e extensão). Tal premissa corrobora com Catani e Oliveira (2000, p. 65), quando afirmam que os esforços para que haja uma expansão do ensino superior no Brasil, que já vem ocorrendo desde a década de 1990, se dão no crescente domínio das instituições particulares (...) porque o ensino superior já é considerado um dos negócios mais lucrativos do país. O que, segundo Mancebo (2009, p. 7), vem sendo complementado por outra estratégia de expansão, marcadamente de cunho privatista, que ocorre através da educação a distância. Porém, de maneira geral existe uma tendência na expansão do ensino superior brasileiro claramente privatista, pautada na quantidade e concentração de determinadas áreas do conhecimento. A EAD não estaria, obviamente, alheia a esse fenômeno. (...) É possível evidenciar certa aceleração dessa expansão no caso da EAD, considerando as variáveis tempo e número de alunos (ALONSO, 2010, p. 1325). Para uma análise preliminar dos marcos regulatórios que inserem a EAD no programa de expansão do ensino superior, trechos de dois decretos ainda precisam ser salientados. O primeiro é o Grupo de Trabalho Interministerial, instituído pelo Decreto Presidencial de 20/10/2003, encarregado de analisar a situação das universidades e apresentar plano de reforma. Segundo BARRETO (2010), entre as principais propostas para o redesenho das universidades, o documento prioriza a modalidade a distância como forma de atender às diferentes dimensões do modelo neoliberal, que segundo ela, é defendido no decreto.
4 Esse decreto foi selecionado para essa exposição inicial, pois, segundo Otranto (2006, p.1) este documento serviu de base para os demais que orientam a Reforma da Educação Superior brasileira e direcionou medidas legais, já implantadas oficialmente. Ainda segundo a autora, esse documento apresenta a EAD como uma das soluções viáveis para expansão do ensino, pois, de acordo com o decreto, os limites impostos pela educação presencial, mesmo com a ampliação de recursos, não teria condições de aumentar as vagas de forma maciça em curto e médio prazos. Por este motivo, apresenta a educação a distância como um caminho viável e necessário (OTRANTO, 2006, p. 2). O plano de reforma concebido por esse decreto corrobora todo o contexto do papel da EAD, para as políticas de ensino superior, já exposto anteriormente. O outro documento a ser previamente analisado, é o decreto de lei nº 5.800, de 8 de junho de 2006, que consolida a proposta da Universidade Aberta do Brasil (UAB)/Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Segundo Barreto (2010), nele se estabelece um programa que prioriza as parcerias estabelecidas para as questões operacionais envolvidas na modalidade de ensino, que se dão principalmente, através do modelo de Polo de Apoio Presencial. A UAB é assim apresentada: O Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB) é um sistema integrado por universidades públicas que oferece cursos de nível superior, e tem como prioridade a formação de professores para a Educação Básica. Para atingir este objetivo central a UAB realiza ampla articulação entre instituições públicas de ensino superior, estados e municípios brasileiros, para promover, através da metodologia da educação a distância, acesso ao ensino superior para camadas da população que estão excluídas do processo educacional. 2 Com relação ao trecho destacado, é perceptível a ênfase dada na política nacional de formação de professores. Mas esta pode representar impulso no sentido do preenchimento de lacunas. Por outro lado, as simplificações constitutivas dos marcos regulatórios aqui referidos também podem significar nivelamento por baixo, em aligeiramento favorecedor de uma semiformação (BARRETO, 2010, p. 1311). 2 Este texto está Disponível em: < Acesso em 27/05/2013.
5 A partir desta afirmação torna-se relevante levantar o questionamento ao tipo de formação que está sendo ofertada aos futuros professores pela maior parte das instituições que oferecem EAD, tendo estas uma organização própria da modalidade, que inclui (a) diminuir significativamente o número de professores e duplicar o número de alunos; (b) baratear drasticamente os custos das universidades; e (c) deslocar o foco da formação para o seu produto, desde que sejam utilizados testes adequados para aferir as competências-alvo, traduzidas nos materiais educacionais que garantam larga utilização, disponíveis em polos descentralizados (BARRETO, 2010, p. 1308). Portanto, de maneira geral, o contexto no qual se expande a EAD pode ser caracterizado a partir da Privatização, desmonte da esfera pública, diferenciação e diversificação da oferta da educação superior (NASCIMENTO, 2012, p. 50). Tais aspectos provenientes das políticas aqui apresentadas podem influenciar significativamente na formação de uma parte dos professores que atuam na educação básica. CONCLUSÕES Essa breve amostra sobre alguns aspectos da estrutura política e organizacional da EAD, quando focada na formação dos professores, traz à tona lacunas presentes numa política social que foi concebida, em seu discurso oficial, para democratizar o acesso ao ensino superior, bem como para ampliar o número de professores para atuarem na educação básica. Contudo, ao conceituarmos essas políticas sociais como ações de caráter coletivo que visam o desenvolvimento do indivíduo, torna-se notório que o significado de desenvolvimento varia de acordo com quem produz a política. Desta forma, é pertinente afirmar que, no modelo de sociedade em que estamos inseridos toda política social é concebida em prol do interesse da manutenção da ordem capitalista. E para dar conta desta necessidade é que políticas como as analisadas nesse trabalho são criadas, sob um discurso oficial que as apresenta como medidas populares e democráticas. Porém, também é relevante enxergarmos estes marcos regulatórios de promoção da educação superior principalmente na EAD como uma alternativa de acesso da classe popular a conteúdos e reflexões que antes lhes eram totalmente negados.
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. ALONSO, Kátia Morosov. A expansão do ensino superior no Brasil e a EaD: dinâmicas e lugares. Educação & Sociedade, Campinas, v. 31, n. 113, p , out.-dez Disponível em < Acesso em 27/05/2013. BARDIN, Lawrence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, BARRETO, Raquel Goulart. A formação de professores a distância como estratégia de expansão do ensino superior. Educ. Soc., Campinas, v. 31, n. 113, p , out.-dez Disponível em < Acesso em 27/05/2013. BRASIL. Lei n , de 20 de dezembro de Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 23 dez CATANI, Afrânio Mendes; OLIVEIRA, João Ferreira de. As políticas de diversificação e diferenciação da educação superior no Brasil: alterações no sistema e nas universidades públicas. In: SGUISSARDI, Valdemar (org.). Educação superior: velhos e novos desafios. São Paulo: Xamã, 2000, p GIOLO, Jaime. A educação a distância e a formação de professores. Educ. Soc., Campinas, vol. 29, n. 105, set./dez. 2008, p Disponível em < Acesso em 24/07/2013. MANCEBO, Deise. Trabalho docente: novos processos de trabalho e resistência coletiva. Associativismo e sindicalismo docente no Brasil. Seminário para discussão de pesquisas e constituição de rede de pesquisadores. Rio de Janeiro, 17 e 18 de abril de Disponível em: < Acesso em: 28/08/2013. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO; INSTITUO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS EDUCACIONAIS ANÍSIO TEIXEIRA. Apresentação coletiva: censo da Educação Superior Brasília DF, Disponível em: < _superior_2013.pdf > Acesso em 23/04/2015. NASCIMENTO, Andréa Silva do. Além da Linha Vermelha Um estudo sobre formação de professores em Física, Química e Matemática na interface das políticas públicas e do mundo do trabalho. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas e Formação Humana da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, OTRANTO, Célia. A Reforma da Educação Superior do governo Lula da Silva: da inspiração à implantação. Trabalho apresentado na 29ª ANPEd (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação), Caxambu/MG, out/2006. Disponível em: < Acesso em: 05/09/2013.
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