Tribunal de Contas do Estado do Paraná Gabinete do Conselheiro Artagão de Mattos Leão

Transcrição

1 PROCESSO Nº: /18 ENTIDADE: Art. 33 da lei complementar nº 113/05 INTERESSADO: Art. 33 da lei complementar nº 113/05 PROCURADORES: ASSUNTO: DENÚNCIA DESPACHO: 1787/18 I - Trata-se de Representação formulada por FERNANDO BOTTEGA HALLBERG, vereador do MUNICÍPIO DE CASCAVEL, noticiando supostas irregularidades na cobrança da taxa de coleta de lixo domiciliar, que vem sendo utilizada para custear todo o serviço de limpeza pública da cidade. O Representante alega que: a) No Município de Cascavel, a taxa de coleta de lixo, criada para remunerar apenas os serviços referentes à coleta e demais serviços consectários (transporte, destinação, etc.), vem sendo utilizada ilegalmente para custear todo o serviço de limpeza pública da cidade, como por exemplo, serviços de varrição manual de vias e logradouros públicos, transgredindo, dentre outras normas, o que dispõe a Constituição Federal e o Código Tributário Nacional; b) Até o exercício de 2017, constava na Execução Orçamentária a cobrança de taxa de limpeza urbana, a qual, embora prevista no Código Tributário Municipal vigente, foi declarada inconstitucional pelo Tribunal de Justiça do Estado do Paraná. Já em 2018, ao averiguar a Execução Orçamentária do 1º Quadrimestre, percebe-se imediatamente o desaparecimento da taxa de limpeza pública e sua substituição pela chamada TAXA DE COLETA DE LIXO. Claramente, houve apenas a substituição da taxa de limpeza pública pela taxa de coleta de lixo, numa tentativa de maquiar a ilegalidade da cobrança, sendo que ambas, na prática, foram e são utilizadas para custear todo o serviço de limpeza pública municipal;

2 c) O desvio de finalidade da taxa, com o respectivo emprego irregular da verba para o custeio de serviços de limpeza pública (indivisíveis e não específicos), configura ato de improbidade administrativa, nos termos do art. 10, incisos XI e X, da Lei nº 8.429/1992; d) Por ser a coleta de lixo apenas uma parcela dos serviços contratados pelo Município, deve haver a cobrança de taxa somente com relação a este serviço, de modo que os demais serviços de limpeza pública, por vedação legal, devem ser custeados por outras receitas, que não através de taxa. O Prefeito utiliza o custo total do contrato com a empresa OT AMBIENTAL CONSTRUÇÕES E SERVIÇOS LTDA como premissa para propor o aumento do valor da taxa de coleta de lixo, tendo como objetivo o pagamento do valor anual do contrato, qual seja R$ ,00 (trinta e quatro milhões e quinhentos mil reais), apenas com o valor proveniente da taxa de coleta de lixo, como se todos os serviços constantes no contrato fossem divisíveis e específicos. Por fim, requer, liminarmente, a suspensão temporária da cobrança da taxa de coleta, até que sejam corrigidas as irregularidades expostas nessa representação. É o breve relato. II - Compulsando os autos, observa-se que estão presentes os requisitos de admissibilidade dos artigos 30 e 32 da Lei nº 113/2005, bem como dos artigos 275 e 277 do Regimento Interno, merecendo ser RECEBIDA a Representação, pois se verificam indícios das inconformidades narradas, tendo sido acostada documentação comprobatória. As taxas consistem em tributo cujo fato gerador é o exercício regular do poder de polícia ou de serviço público prestado ou posto à disposição do contribuinte, nos termos do Código Tributário Nacional. São, portanto, tributos vinculados.

3 O Supremo Tribunal Federal (súmula vinculante nº 19) entende como específicos e divisíveis os serviços públicos de coleta, remoção e tratamento ou destinação de lixo ou resíduos provenientes de imóveis, desde que essas atividades sejam completamente dissociadas de outros serviços públicos de limpeza realizados em benefício da população em geral (uti universi) e de forma indivisível, tais como os de conservação e limpeza de logradouros e bens públicos (praças, calçadas, vias, ruas, bueiros). Frise-se que a taxa é um tributo vinculado e por isso sua cobrança só pode se dar mediante prestação de serviço público específico e divisível, sendo indevida sua exigência quando o serviço prestado é geral e indivisível. Assim, a Administração deve utilizar outra fonte de receita para subsidiar os serviços uti universi, não podendo fazê-lo através da instituição de taxa. No que tange ao pleito cautelar formulado, não é legítima a suspensão da cobrança do tributo, mesmo que de forma provisória, já que sua previsão possui respaldo constitucional. O Supremo Tribunal Federal firmou entendimento no sentido de que é cabível a instituição de taxa de coleta de lixo proveniente de imóveis, entendendo como específico e divisível o serviço público de coleta e tratamento de lixo domiciliar prestado ao contribuinte ou posto à sua disposição. No entanto, o que se mostra incontroverso nos autos é que a taxa instituída, embora legal, vem sendo aplicada de forma inadequada, em finalidade diversa daquela para qual foi constituída, e, mesmo não sendo esse o objeto do pedido liminar, tal constatação demandará melhor apuração quando do julgamento do mérito. Destarte, não se defere a cautelar pleiteada, considerando-se que a cobrança da taxa de coleta de lixo domiciliar tem previsão legal e constitucional e que a cobrança do tributo não configura dano irreparável. Contudo, tal fato não afasta o eventual desvio de finalidade na aplicação do produto da arrecadação como forma de mascarar a cobrança de taxa de

4 limpeza pública e possível reconhecimento do caráter confiscatório da exação. III - Diante do exposto, RECEBO a presente Representação e INDEFIRO o pedido liminar, ante a ausência dos requisitos legais. Salientase que a conclusão quanto à efetiva irregularidade será constatada somente após a fase instrutória. IV Encaminhe-se à Diretoria de Protocolo, para que adote as seguintes medidas: a) Por se observar que se trata de Representação formulada por integrante do Poder Legislativo e não de denúncia, proceda-se à correção da autuação; b) Inclusão na autuação como interessado do Sr. Leonaldo Paranhos da Silva, Prefeito Municipal de Cascavel; c) Expedição, por via postal, mediante ofício registrado com aviso de recebimento, nos termos dos artigos 278, II e 380-A, I, ambos do Regimento Interno, das CITAÇÕES do MUNICÍPIO DE CASCAVEL, por meio de seu representante legal, e a de LEONALDO PARANHOS DA SILVA, Prefeito Municipal de Cascavel, para que apresentem, no prazo de 15 (quinze) dias, conforme artigo 35, II, alínea a, da Lei Orgânica deste Tribunal, esclarecimentos quanto aos fatos narrados pela Representante. Alerto que a procedência da Representação poderá ensejar a aplicação das sanções previstas na Lei Orgânica desta Casa. V - Transcorrido o prazo para apresentação de defesa, encaminhe-se o presente à Coordenadoria de Gestão Municipal e ao Ministério Público junto ao Tribunal de Contas, para suas respectivas manifestações.

5 VI Após, voltem-me conclusos. Curitiba, 12 de dezembro de ARTAGÃO DE MATTOS LEÃO Conselheiro Relator ACP