A Cooperação Técnica entre Países em Desenvolvimento. (CTPD) da Agência Brasileira de Cooperação (ABC-MRE): o Brasil como doador

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1 Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas UNESP, UNICAMP, PUC-SP A Cooperação Técnica entre Países em Desenvolvimento (CTPD) da Agência Brasileira de Cooperação (ABC-MRE): o Brasil como doador Luara Landulpho Alves Lopes Dissertação apresentada à Banca Examinadora como exigência parcial para obtenção do título de Mestre em Relações Internacionais, sob a orientação do Prof. Dr. Henrique Altemani de Oliveira. São Paulo, Agosto de 2008.

2 Banca Examinadora 2

3 Um mundo de uma imprecisão abominável com o qual devo viver ao qual eu devo, incessante, o meu olhar. Jacques Roubaud Que faire d un monde? 3

4 Índice 1. Introdução... p A ajuda no sistema internacional: teoria e história... p Conceitos e atores; 2.2 A Ajuda ao Desenvolvimento: do Ponto IV aos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio; 2.3 Ajuda como auto-interesse iluminado : por que ajudar? 3. A Cooperação Técnica entre Países em Desenvolvimento (CTPD): complementar ou alternativa?... p A emergência da Cooperação Técnica entre Países em Desenvolvimento CTPD: o Plano de Ação de Buenos Aires; 3.2 A CTPD e os doadores não-dac : definição por exclusão. 4. A dupla personalidade do Brasil no Sistema Internacional de Cooperação para o Desenvolvimento: recebedor e doador p O Brasil recebedor de Cooperação Técnica Internacional: da CNAT à ABC; 4.2 Perfil misto a partir dos anos 1970: o Brasil recebedor e doador 4

5 5. A atividade de CTPD da Agência Brasileira de Cooperação da autonomia por diversificação ( ): exemplos ilustrativos... p Política Externa do Primeiro Governo Lula e o relacionamento com o Sul: linhas gerais; 5.2 A CTPD como instrumento da autonomia por diversificação O caso do Haiti; Triangulação: o exemplo da cooperação ABC - JICA (Japan Brazil Partnership Programme JBPP) 6. Considerações Finais... p Referências Bibliográficas 8. Lista de Anexos 5

6 1. Introdução A Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (CID) pode ser considerada uma das mais relevantes dinâmicas nas relações internacionais da Guerra Fria. De fato, a competição ideológica entre as superpotências conferia aos programas de ajuda internacional 1 significativo caráter estratégico. Mas o que se entendia por desenvolvimento durante as primeiras décadas da Guerra Fria? No pólo ocidental, onde concentramos nossa análise, a superpotência americana estabeleceu estreita relação entre desenvolvimento e reconstrução, especialmente durante as décadas de 1940 e O Plano Marshall cumpriu a dupla função de vultuoso plano de ajuda econômica (atrelada ao consumo de bens e serviços americanos) e ao mesmo tempo de contenção da ideologia rival. Assim, com o formidável volume de investimentos do Plano Marshall, o maior programa de ajuda internacional até então, a economia européia não só foi recuperada como iniciou um ambicioso processo de integração que culminaria décadas mais tarde. O modelo de ajuda internacional dos Estados Unidos parecia ter comprovado sua eficiência como promotor de desenvolvimento. Entretanto, a partir dos anos 1960 e 1970, alguns fatores contribuíram para que o Sistema Internacional de Cooperação ao Desenvolvimento (SICD) fosse 1 No primeiro capítulo discutiremos a diferença entre os conceitos de ajuda internacional, cooperação Internacional para o desenvolvimento, assistência internacional e Ajuda Oficial para o Desenvolvimento (AOD). Neste avant propos utilizamos ajuda internacional e CID como sinônimos. 6

7 rediscutido: a descolonização dos Estados afro-asiáticos, a emergência do debate Norte-Sul, a publicação das teses cepalinas sobre subdesenvolvimento e a ascensão do Terceiro Mundo como ator organizado do sistema internacional questionavam o SICD tradicional e sugeriam novas formas de cooperação, assim como novas concepções de desenvolvimento. Ainda, evidências mostravam que a bem-sucedida experiência de desenvolvimento econômico na Europa não era facilmente replicável nos países do Sul econômico, pois, como sugere Morgenthau, (...) em contraste com as nações subdesenvolvidas da Ásia, África e América, os beneficiários da ajuda de Marshall estavam entre as nações mais industrializadas do mundo, cujos sistemas econômicos estavam apenas temporariamente desorganizados. 2 Nos anos 1960, o desenvolvimento ainda estava bastante concentrado no Estado, e era mensurado pela variação do PIB. Entretanto, o tema do desenvolvimento começou a ser reconhecido como campo distinto de estudo e pesquisa nas universidades britânicas, especialmente no Instituto de Estudos de Desenvolvimento (Institute of Development Studies) da Universidade de Sussex (criado em 1966) e da Escola de Estudos de Desenvolvimento (School of Development Studies), da Universidade de East Anglia, e novas concepções de desenvolvimento surgiram nesse recém-criado meio acadêmico. 2 No original: (...) in contrast to the underdeveloped nations of Asia, Africa and Latin America, the recipients of Marshall aid were among the leading industrial nations of the world, whose economic systems were but temporarily in disarray. Morgenthau, Hans. A Political Theory of Foreign Aid. p.304. Tradução livre. 7

8 De fato, já no final da década de 1960, a pobreza começava a freqüentar o discurso do desenvolvimento. A maneira como Robert MacNamara, à frente do Banco Mundial de 1968 a 1981, incorporou essa nova encarnação do desenvolvimento focada no alívio da pobreza contribuiu significativamente para reorientar o sistema de cooperação internacional para o desenvolvimento. Nesse contexto de redefinição do SICD, houve espaço para a emergência dos chamados novos doadores. Países do Sul econômico, de maior desenvolvimento relativo, que tinham sido beneficiários da ajuda internacional desde o final dos anos 1940 e ensaiavam, a partir de 1970, seus primeiros passos como doadores de CID: tinha início a chamada cooperação horizontal, ou Cooperação Técnica entre Países em Desenvolvimento (CTPD). Já no final da década de 1970, a Primeira Conferência das Nações Unidas sobre CTPD realizada em Buenos Aires conferiu visibilidade ao debate sobre os novos arranjos de cooperação. Quais as peculiaridades da CTPD? Ela repete a experiência da cooperação recebida ou propõe alternativas? O encontro em Buenos Aires serviu para sistematizar, ainda que de forma limitada, o discurso sobre CTPD, e contribuiu também para sugerir uma concepção diferente de cooperação internacional. Apesar de o vocabulário internacional ter sido oficialmente alterado desde 1959 com a resolução 1383 da Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas que substituía o termo assistência por cooperação 3 a mentalidade predominante no 3 Vide resolução anexa. 8

9 sistema internacional de cooperação ainda estava apegada aos conceitos tradicionais de ajuda para o desenvolvimento. Assim, a monografia tem como objetivo levantar os termos do debate contemporâneo sobre Cooperação Técnica entre Países em Desenvolvimento (CTPD) e localizar o Brasil mais especificamente, a Agência Brasileira de Cooperação nesse debate. Para tanto, optamos pela seguinte estrutura narrativa: em primeiro lugar, organizamos uma espécie de glossário com definições gerais sobre os principais termos que serão utilizados na monografia, além de uma reflexão acerca da origem multilateral da cooperação técnica para o desenvolvimento e sobre suas motivações. Em seguida, avançamos para o tema da motivação da ajuda: apresentamos diversos argumentos de autores que discutem os benefícios ou prejuízos da ajuda internacional, seus fundamentos históricos e teóricos. Apresentamos, então, o tema mais específico da CTPD: sua origem enquanto tema da agenda internacional e o levantamento dos termos que, acreditamos, orientam o debate contemporâneo sobre CTPD. No mesmo capítulo, introduzimos aquela que parece ser uma das questões mais importantes no que se refere à CTPD, qual seja, a relação dos chamados novos doadores com os doadores tradicionais, agrupados no Development Assistance Committee (DAC) da OCDE. A dispersão dos doadores não-dac tem sido motivo de preocupação dos representantes dos doadores tradicionais, visto que eles não estão, ainda, agrupados em nenhuma 9

10 instituição internacional dedicada ao tema e nem estão obrigados pelos acordos internacionais sobre a eficiência da ajuda. Uma vez introduzido o tema da Cooperação Internacional para o Desenvolvimento e da CTPD, investigamos a história do Brasil no sistema de cooperação internacional para o desenvolvimento: desde a institucionalização da CNAT, dedicada quase que exclusivamente ao recebimento de CID, até a formação da ABC, que contempla as duas personalidades da cooperação técnica brasileira, de recebedor e de doador. Após esse esforço de levantamento dos termos do debate internacional sobre CTPD, achamos conveniente contextualizá-lo na política externa contemporânea, com relação, especialmente, às diretrizes definidas no primeiro mandato do governo Lula para os países do chamado Sul Global. O objetivo aqui se resume ao apontamento de exemplos ilustrativos da atividade de CTPD da ABC/MRE, para orientar a elaboração de novos estudos na área. Assim, identificamos dois exemplos merecedores de atenção entre os projetos de CTPD da ABC: aqueles executados no Haiti, pois acreditamos que os projetos neste país incluem elementos representativos da atividade de CTPD da ABC/MRE, e aqueles realizados por meio da triangulação com a Agência Japonesa de Cooperação Internacional, a JICA, por acreditarmos que se trata de um arranjo inovador e representativo da posição intermediária de que goza o país no sistema internacional de cooperação para o desenvolvimento. As hipóteses que pretendemos defender neste trabalho podem ser sistematizadas da maneira que segue: 10

11 Defendemos a idéia segundo a qual o Brasil tem contribuído, através da sua atividade de CTPD, com a horizontalização do discurso sobre cooperação. Ou seja, acreditamos que a atuação da ABC em projetos e fóruns internacionais sobre CTPD tenha ajudado a difundir uma concepção mais simétrica de cooperação internacional, contrastando com a concepção predominante nos arranjos tradicionais, Norte x Sul, de ajuda internacional. Conforme atesta Amado Cervo, (...) percebe-se um evolução conceitual no pensamento brasileiro, segundo a qual a CTI transitou de sua acepção primitiva, a assistência técnica, para a de cooperação para o desenvolvimento 4. Argumentamos também neste trabalho que os chamados doadores não-dac carecem de uma maior articulação que pode vir a estimular a cooperação horizontal, ao menos no que se refere à formulação de novos arranjos de cooperação mais equilibrados e com maior atenção ao recebedor (recipient-oriented); Procuraremos argumentar também em favor do potencial que a CTPD brasileira tem para continuar a transformar o discurso internacional 4 CERVO, Amado Luiz. Socializando o Desenvolvimento; uma história da cooperação técnica internacional do Brasil. Revista Brasileira de Política Internacional 37 (1): p.38. Brasília, p.42 11

12 sobre CTPD, principalmente no contexto contemporâneo de redefinição da arquitetura da ajuda internacional. Assim, o presente trabalho tem como objetivo geral contribuir com o debate sobre CTPD, ainda incipiente no Brasil, a partir das reflexões elencadas acima. O tema é ainda muito pouco tratado nos cursos de graduação e mesmo de pós-graduação em relações internacionais e carece de estímulo para que a atividade de CTPD seja acompanhada por reflexões acadêmicas sobre o assunto, que não se restringe, de maneira nenhuma, ao domínio estritamente técnico. Como bem lembra Morgenthau, é um tema que deve ser conduzido pela intuição do estadista, mais do que pelo conhecimento do especialista 5. Trata-se, portanto, do domínio da política, e não da técnica. 5 MORGENTHAU, Hans. A Political Theory of Foreign Aid. The American Political Science Review, Vol. 56, No. 2. (Jun., 1962), p

13 2. A ajuda no sistema internacional: teoria e história 2.1 Conceitos e atores A Cooperação Técnica Internacional (CTI) é parte da Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (CID), que é, por sua vez, o termo que escolhemos neste trabalho para fazer referência a um tipo específico de relacionamento entre diversos atores do sistema internacional. Seu uso não é consensual: alguns autores dedicados ao assunto, assim como atores desse sistema (especialmente aqueles baseados nos Estados Unidos, como veremos) preferem a expressão ajuda, ou seu equivalente em inglês, aid. Há ainda os que preferem o termo assistência internacional para o desenvolvimento, e também aqueles que fazem referência à Ajuda Oficial para o Desenvolvimento, ou simplesmente AOD. Apesar de, muitas vezes, estes termos parecerem intercambiáveis, existem diferenças importantes entre eles, algumas explícitas outras sutis. Esta primeira parte do trabalho, portanto, procura esclarecer tais distinções com vistas a melhor delinear o próprio objeto da monografia. Mais adiante procuraremos expor a relação existente entre o uso dos termos assistência e ajuda e um determinado mind-set que prevalece nos arranjos tradicionais de CTI, ou seja, aqueles que fluem do Norte para o Sul e que supõem não só assimetria entre doador e recebedor, mas também, e mais importante, implicam que o processo seja orientado a partir dos interesses e das prerrogativas do doador (donor-oriented). Em contraste, a disseminação do termo Cooperação Técnica Internacional (CTI), sugere maior simetria e diálogo 13

14 entre doador e recebedor, atribuindo aos projetos de cooperação um caráter de parceria, que seria orientada pelas necessidades do recebedor (recipientoriented) (BREUNING 2002). É nosso objetivo verificar em que medida a Cooperação Técnica entre Países em Desenvolvimento (CTPD) empreendida pelo Brasil incorporou esses novos paradigmas de cooperação. Portanto, iniciamos nossa investigação com a definição dos termos que serão mais utilizados ao longo do trabalho, sem ainda avançar na problematização dos mesmos. Como deve ser sustentado ao longo do trabalho, a CID vertical, ou Norte- Sul, consiste em sistema muito mais estruturado e codificado do que a sua semelhante de origem mais recente, a cooperação horizontal, que, por sua vez, carece de dados confiáveis, centralizados e uniformes. A formação da Unidade Especial do PNUD (Programa para a Cooperação Sul-Sul 6 (Special Unit for South-South Cooperation,), em 1978, representa um esforço de institucionalização da cooperação entre países do Sul, bem-sucedido quanto à divulgação de políticas e de best practices, mas que ainda carece de dados significativos sobre a atividade de CTPD em nível mundial. A fragmentação e heterogeneidade do chamado Sul econômico dificulta a reunião de dados regulares e confiáveis, apesar do esforço recente de codificação da CTPD mas trataremos deste assunto em um próximo Capítulo. 6 Originalmente, o mandato da organização resumia-se à CTPD (em inglês, TCDC Technical Cooperation among Developing Countries). Em 2004, a partir da inclusão de temas de cooperação econômica, CTPD foi substituído por Cooperação Sul-Sul (High-level Committee - 13 o sessão; decisão 13/2 de maio de 2003 e resolução AG-NU , fevereiro de 2004). 14

15 Nesse sentido, parece lícito supor que a Organização para Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) pode ser considerada protagonista do sistema internacional de cooperação para o desenvolvimento por sua atividade como fórum de concertação entre doadores bilaterais do Norte econômico responsável pela construção e disseminação de conceitos, idéias e diretrizes que informam e influenciam, de forma preponderante, o Sistema Internacional de Cooperação ao Desenvolvimento. Assim, para os fins a que este trabalho se propõe, utilizaremos os documentos e estatísticas disponibilizadas pela OCDE para ilustrar a Cooperação Internacional para o Desenvolvimento em sua forma tradicional, qual seja, a ajuda originada nos países do Norte econômico e destinada aos países do Sul econômico. Utilizaremos os critérios criados pela OCDE com vistas a comparar a CTI em sua forma vertical tradicional com aquela que vem sendo empreendida pelos países do Sul para outros países do Sul, a chamada Cooperação Técnica entre Países em Desenvolvimento (CTPD). Conceitos Ajuda Oficial para o Desenvolvimento (AOD) Trata-se da concessão (grant 7 ) destinada aos países e territórios da Parte 1 da Lista do CAD de Recebedores de Ajuda 8 (países em desenvolvimento) que obedecem aos seguintes critérios: 7 O New American Webster Dictionary traz diversas traduções para a palavra grant, como concessão, subvenção ou garantia. No Sistema Internacional de Cooperação para o Desenvolvimento o termo é utilizado para fazer referência ao financiamento de projetos de 15

16 a) são concedidas pelo setor público; b) têm como objetivo principal a promoção do desenvolvimento econômico e social nos países recebedores; c) quando na forma de empréstimos financeiros, é preciso manter um elemento de concessionalidade (Grant Element) de ao menos 25%. Além dos fluxos financeiros, a Cooperação Técnica também pode ser considerada AOD. Concessões, empréstimos ou créditos destinados a fins militares estão excluídos. Recursos de origem privada tampouco fazem parte da AOD. cooperação internacional, em oposição aos loans, ou seja, aos empréstimos concedidos por bancos ou outras instituições internacionais em condições mais favoráveis do que aquelas encontradas no mercado. Neste trabalho traduzimos grant como concessão. 8 A Lista do CAD de Recebedores de Ajuda (DAC List of Aid Recipients) é revista a cada três anos, de acordo com dados do Banco Mundial acerca dos índices de Produto Nacional Bruto per capita. A parte I da lista costumava ser composta por Estados passíveis de receber AOD, e a parte II formada por potenciais doadores. A partir de 2005, porém, o CAD decidiu abolir a Parte II da lista, que conta agora apenas com potenciais Estados recebedores, divididos em quatro categorias: Países menos desenvolvidos (Least Developed Countries); Outros países de renda baixa (Other Low Income Countries); Países e Territórios de renda média-baixa (Lower Middle Income Countries and Territories); Países e Territórios de renda média-alta (Upper Middle Income Countries and Territories). Na última edição da lista, o Brasil estava classificado como país de renda média-baixa, com PNB per capita entre USD 826 e USD 3255, aferido pelo Banco Mundial em (último acesso em março de 2008) 16

17 Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (CID) A definição da AOD é a que mais se aproxima daquilo que pretendemos ter como objeto desta monografia. No entanto, julgamos que a terminologia ajuda, conforme argumentaremos adiante, não corresponde mais aos princípios contemporâneos que orientam a atividade de cooperação internacional para o desenvolvimento. Assim, preferimos o termo CID (Cooperação Internacional para o Desenvolvimento) para designar o fluxo de recursos públicos (financeiros ou técnicos) oriundos de Estados ou Organizações Internacionais e que têm como objetivo declarado o desenvolvimento econômico e social dos países recebedores (PINO, 2006). Assim como a AOD, a CID exclui a ajuda humanitária (empregada em situações emergenciais e de forma relativamente pontual) e a ajuda militar. Sistema Internacional de Cooperação ao Desenvolvimento (SICD) Rede de instituições públicas e da sociedade civil que promovem ações de Cooperação Internacional ao desenvolvimento. O SICD está formado por muitas organizações de diferentes naturezas, orientações e funções, dentre as quais estão organismos internacionais, governos e instituições públicas dos países doadores e receptores de ajuda, organizações não-governamentais, empresas e outras entidades da sociedade civil. Estas organizações compõem uma rede que de forma mais ou menos articulada configura o SICD (PINO, 2006). Ajuda Financeira x Ajuda Monetária 17

18 A ajuda financeira pode ser considerada parte da CID na medida em que fornece recursos financeiros com condições favoráveis (elemento de concessionalidade mínimo de 25%, taxas de juros abaixo do mercado, prazo de pagamento mais longo) destinados à construção de infra-estrutura necessária para o desenvolvimento econômico e social de um Estado menos desenvolvido, ou em vias de desenvolvimento. Também está incluído o perdão das dívidas externas dos países altamente endividados (highly indebted countries). Os bancos regionais, como o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), cumprem o papel de doadores de ajuda financeira. Em contraste, a ajuda monetária outorga recursos para equilibrar a balança de pagamentos dos países pobres, tendo em vista o equilíbrio do sistema financeiro internacional. A distinção entre uma e outra forma de ajuda não é sempre clara, mas, de forma geral, podemos considerar que o Banco Mundial e o BID ocupam-se da ajuda financeira, enquanto o FMI (Fundo Monetário Internacional) realiza a ajuda monetária. (BERRO, BARREIRO e CRUZ 1997) Cooperação Técnica Internacional (CTI) A Cooperação Técnica Internacional está contida na CID. Ou seja, são agentes públicos (Estados ou Organizações Internacionais) que empreendem atividade de cooperação com o objetivo declarado de promover o desenvolvimento econômico e social do recebedor. Entretanto, a CTI exclui a ajuda financeira e diz respeito apenas às atividades de capacitação técnica, ou seja, de transferência de conhecimentos de um Estado a outro, com vistas a superar determinados desafios ao desenvolvimento local. A CTI ficou 18

19 conhecida primeiramente como Assistência Técnica Internacional, conforme a Resolução da Assembléia Geral da ONU de número 200 9, publicada em dezembro de 1948, que trata da Assistência Técnica para o Desenvolvimento Econômico, e considera a falta de especialistas e de organização técnica como empecilho ao desenvolvimento. A Resolução prevê ações de formação de especialistas nos países em desenvolvimento por meio da concessão de bolsas de estudo e da realização de seminários. Onze anos depois, antecipando as inovações que se desenvolveriam na área a partir da década de 1970, a ONU toma a iniciativa de substituir formalmente o termo assistência por cooperação. 10 Assim, conforme afirma Fernando Vieira Machado em sua dissertação: A CTI, originalmente, possui como característica fundamental a transferência de técnicas e conhecimentos de forma não-comercial para reduzir a diferença de nível de desenvolvimento alcançado entre doador e prestador através de execução conjunta de projetos envolvendo especialistas, treinamento e capacitação de pessoal, elaboração de material bibliográfico, aquisição de equipamentos, realização de estudos e pesquisas. (MACHADO, 2004) 9 Resolução da Assembléia Geral da Organização das Nações unidas em sua terceira sessão ordinária, de 4 de dezembro de 1948 (vide anexo). 10 Resolução da Assembléia Geral da ONU em sua 14º sessão ordinária, de

20 Por sua vez, Amado Luiz Cervo publicou, em 1994, inestimável artigo no qual apresentava o resultado de uma pesquisa realizada nos arquivos da Agência Brasileira de Cooperação para avaliar o impacto histórico da experiência brasileira de CTI sobre o desenvolvimento do país 11. Nele, Cervo identifica a origem da CTI com a própria formação da ordem bipolar: A inserção da CTI no sistema internacional ocorreu com as modificações introduzidas no imediato pós-guera, entre 1945 e Falava-se então em ajuda para a reconstrução da Europa e para o desenvolvimento, porém as duas superpotências, Estados Unidos e União Soviética, tinham em vista, antes de tudo, a montagem de seus sistemas de aliança (Organização do Tratado do Atlântico Norte OTAN e Pacto de Varsóvia), bem como a preservação das zonas de influência com que haviam organizado o espaço terrestre. A CTI nasceu, portanto, em contexto estratégico, não tendo como único escopo o que lhe era próprio, mas algo mais e distinto. Essa ambivalência entre fins próprios e a função derivada manter-se-á pelas décadas seguintes. 12 No âmbito multilateral, a OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), em meados da década de 1970 define cooperação técnica como uma forma de colaboração internacional cujo 11 CERVO, Amado Luiz. Socializando o Desenvolvimento; uma história da cooperação técnica internacional do Brasil. Revista Brasileira de Política Internacional 37 (1): p.38, IBIDEM, p.89 20

21 propósito é assegurar a transferência de habilidades por intermédio do envio de peritos em áreas especializadas dos países nos quais eles estão disponíveis em grande quantidade para países nos quais eles são menos numerosos ou inexistem 13. Já a legislação brasileira sobre CTI, por meio da Portaria número 12, de outubro de 2001, regula a gestão de projetos de CTI e, para esse fim, define Cooperação Técnica Internacional da forma que segue: (...) transferência de tecnologia, conhecimentos e experiências de aplicação prática no processo de desenvolvimento sócio-econômico a um país, ou o apoio à sua geração local, a partir da implementação de um conjunto de ações integradas, executadas em parceria direta entre as partes envolvidas. 14 O gráfico abaixo ilustra a quantidade de recursos destinados à CTI pelos países do DAC-OCDE 15 desde o início dos anos 1960, em contraste com o total da ajuda concedida pelo mesmo grupo de doadores. Vemos que o aumento no volume de recursos dedicados à Ajuda Oficial ao Desenvolvimento 13 (último acesso em março de 2008) 14 Gabinete do Ministro de Estado das Relações Exteriores. Portaria número 12, de 8 de outubro de São eles: Austrália, Alemanha, Bélgica, Canadá, Dinamarca, Finlândia, França, Grécia, Irlanda, Itália, Japão, Luxemburgo, Países Baixos, Nova Zelândia, Noruega, Portugal, Espanha, Suécia, Suíça, Reino Unido e Estados Unidos. 21

22 não foi acompanhado pela concessão de Cooperação Técnica, que se manteve relativamente estável ao longo das décadas. Quadro 1 - AOD e CTI concedida pelos países da DAC-OCDE (milhões USD - desembolsos líquidos) AOD Fonte: DAC-OCDE ( Cooperação Técnica Cooperação Técnica entre Países em Desenvolvimento (CTPD) Equivale à sigla em inglês TCDC Technical Cooperation among Developing Countries. 22

23 A origem da Cooperação Técnica entre Países em Desenvolvimento (CTPD) pode ser atribuída à resolução da Assembléia Geral das Nações Unidas que estabeleceu, em 1972, a formação, no âmbito do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), de uma unidade especial para servir de grupo de trabalho para o tema da CTPD. Em 1978, a Unidade Especial do PNUD realizou a conferência na capital argentina da qual resultou o Plano de Ação de Buenos Aires, considerado o marco inicial de promoção e difusão do conceito de CTPD. Segundo a definição da Unidade Especial do PNUD, para ser considerada CTPD a atividade deve implicar o compartilhamento de expertise, tecnologia, recursos e capacidades advindas dos países em desenvolvimento envolvidos na cooperação. Não pode ser considerada CTPD se estiver fundamentada em recursos ou tecnologias provenientes de países industrializados, que devem ter papel apenas complementar. A atividade de CTPD deve ser também gerida pelos países em desenvolvimento, ainda que uma agência da ONU sirva como coordenadora do esforço de cooperação 17. Ainda, a CTPD inclui a alternativa conhecida como cooperação triangular ou simplesmente triangulação que consiste na coordenação entre dois doadores que prestam cooperação para um terceiro Estado recebedor. No caso da CTPD brasileira, esse arranjo pode incluir um país desenvolvido ou uma Organização Internacional. O Japão é, atualmente, o maior parceiro nos arranjos de triangulação com o Brasil, e o Fundo de População das Nações 17 (último acesso em março de 2008) 23

24 Unidas (FNUAP) também possui um relevante programa de CTPD com a ABC 18. De acordo com o Plano de Ação de Buenos Aires, a CTPD não tem como objetivo substituir a cooperação recebida dos países desenvolvidos. Seu objetivo deve ser disseminar entre os países em desenvolvimento as experiências bem-sucedidas que permitam um melhor aproveitamento da cooperação recebida do Norte. Assim, a CTPD tem uma função complementar à cooperação vertical (Norte x Sul) 19. Avançaremos nossa investigação acerca da CTPD mais adiante, quando tratamos das conferências internacionais sobre o tema. Após esse esforço de definição terminológica, podemos nos aproximar um pouco mais do objeto desta pesquisa. A Cooperação Técnica Internacional trata, portanto, de projetos internacionais postos em execução por um ou mais Estados, com ou sem a participação de Organizações Internacionais, que têm como objetivo contribuir para o desenvolvimento dos países recebedores a partir do financiamento de atividades de capacitação técnica, que podem ser realizadas no país recebedor ou em forma de bolsas de estudo e treinamento no país doador. A Cooperação Técnica entre Países em Desenvolvimento, por sua vez, implica que os projetos tenham como doador e recebedor países em desenvolvimento. Infelizmente, as estatísticas sobre cooperação internacional nem sempre distinguem a CTI das demais formas de cooperação, o que 18 (ultimo acesso em março de 2008) 19 Buenos Aires Plan of Action, artigo VIII. 24

25 dificulta sua aferição. Ainda, a CTPD também carece de dados e estudos estatísticos, por isso recorremos aos projetos executados pela ABC nos últimos anos para ilustrar a CTPD praticada pelo Brasil, sem a pretensão de extrair agregados estatísticos. Atores De forma geral, os atores envolvidos no SICD podem ser divididos em três categorias: doadores, executores e beneficiários. Em primeiro lugar, os atores protagonistas da CID, no sentido que estabelecemos na parte anterior, são os Estados. É deles a iniciativa de celebrar um acordo de cooperação internacional que dá ensejo, por exemplo, a um projeto de CTI. São eles, também, que interagem como doadores e recebedores, seja por meio de agências estatais especializadas (no caso do Brasil, algumas têm papel relevante na execução de projetos de CTPD, como a Embrapa, a Fio Cruz e o SEBRAE) seja como atividade ordinária do seu corpo diplomático (no Brasil, as atividades de cooperação estão concentradas na Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores). Em seguida, podemos citar as organizações internacionais como atores relevantes do sistema de CTI: de fato, a partir do pós-ii Guerra Mundial a conformação do sistema das Nações Unidas consagrou a cooperação e o desenvolvimento como elementos essenciais da nova ordem que se configurava. O próprio sistema de segurança coletiva formalizado a partir de 1945 associou a estabilidade do sistema internacional às necessidades de desenvolvimento dos países pobres, como atesta, em especial, o Capítulo IX 25

26 da Carta das Nações Unidas (que versa sobre Cooperação Internacional Econômica e Social). As Organizações Internacionais podem agir como doadoras ou executoras de CID. Os agentes não-estatais também fazem parte do SICD, ainda que de forma indireta. Por exemplo, as ONGs podem ser doadoras e/ou executoras de determinado projeto de CTI, desde que assim determinado pelos Estados ou Organizações Internacionais cooperantes. Os indivíduos também podem assumir o papel de doadores de CTI, na medida em que contribuem com fundos multilaterais destinados a esse fim (como, por exemplo, o Fundo IBAS 20 ). Ainda, em última instância, os indivíduos devem ser os beneficiários finais de toda atividade de CTI, consoante os princípios contemporâneos que a orientam (ver, por exemplo, a Declaração de Paris sobre Efetividade da Ajuda, acordada em ). Entretanto, quando falamos nos beneficiários da ajuda, esbarramos na questão dos interesses, fundamental para o estudo das 20 O Fundo IBAS será tratado no capítulo sobre a CTPD prestada pelo Brasil. No momento, é suficiente notar que o Fundo aceita contribuições individuais para o financiamento de seus objetivos declarados (combate à fome e à pobreza). O próprio Presidente Lula da Silva doou o valor recebido por ele do Prêmio Príncipe de Astúrias, em 2003, para o Fundo. 21 A Declaração de Paris sobre a Efetividade da Ajuda é um acordo internacional assinado em março de 2005 por mais de uma centena de Ministros de Estado e chefes das Agências especializadas em desenvolvimento internacional. O encontro foi organizado pela OCDE com apoio do governo da França e estabeleceu uma série de diretrizes a serem observadas nos projetos de cooperação internacional, tais como propriedade (ownership); alinhamento; harmonização; gerenciamento voltado a resultados (managing for results) e mútua responsabilidade (mutual accountability). O próximo fórum de Alto Nível sobre a efetividade da ajuda será realizado em setembro de 2008 em Acra, capital do Gana. (último acesso em junho de 2008) 26

27 Relações Internacionais: a quem interessa a ajuda? Quem dela se beneficia? Por que, afinal, os Estados prestam ajuda? Estas questões serão tratadas mais adiante, quando discutimos a motivação da ajuda e o conceito de desenvolvimento. Veremos, oportunamente, que o conceito de desenvolvimento possui uma importante dimensão normativa que se combina, curiosamente, com um intenso esforço prático, quando mobiliza instituições e profissionais ao redor do mundo. Por enquanto, ficamos com a suposição normativa de que os beneficiários de toda atividade de CTI devem ser os indivíduos dos países recebedores. Em seguida, quando exploramos um pouco da história da ajuda internacional, investigamos também sua motivação. 2.2 Ajuda ao Desenvolvimento: do Ponto IV aos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio O conceito de desenvolvimento assumiu diversas formas desde que começou a ser utilizado na agenda internacional, no fim dos anos Quando começou a fazer parte do vocabulário internacional, o desenvolvimento estava associado principalmente ao crescimento econômico aferido a partir do crescimento do Produto Interno Bruto e à industrialização. Atualmente, o termo incorpora os mais diversos temas, como a pobreza, a sustentabilidade ambiental e a igualdade entre gêneros, presentes no compromisso internacional com as Metas de Desenvolvimento do Milênio (Millenium 27

28 Development Goals) 22, e até indicadores ainda mais abstratos, como a liberdade 23 e a felicidade 24. Mas, apesar das mudanças aparentes, há elementos significativos de continuidade na concepção contemporânea de desenvolvimento que remontam à exploração colonial empreendida pelos Estados europeus há centenas de anos. 22 As Metas de Desenvolvimento do Milênio consistem em oito objetivos de desenvolvimento (erradicar a pobreza extrema e a fome; atingir o ensino básico universal; promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres; reduzir a mortalidade infantil; melhorar a saúde materna; combater o HIV/AIDS, a malária e outras doenças; garantir a sustentabilidade ambiental; estabelecer uma parceria mundial para o desenvolvimento) que formam, por sua vez, um ambicioso plano de ação (blueprint) acordado internacionalmente por todos os países do mundo e também pelas principais instituições internacionais. Cada objetivo está acompanhado por indicadores regularmente avaliados. A Declaração do Milênio, de onde constam os MDG, foi adotada pelos Estados membros da ONU em fevereiro de 2000, e o prazo de cumprimento das metas é ( último acesso em 30 de dezembro de 2007). 23 Ver, por exemplo, livro de Amartya Sen, Development as Freedom, Em 1972, Jigme Sigye Wangchuck, rei do Butão, criou o índice de Felicidade Nacional Bruta (Gross National Happiness), com vistas a incluir nos programas nacionais de desenvolvimento os valores espirituais do budismo, religião predominante nesse reino asiático. O índice nacional suscitou a criação do índice de Felicidade Internacional Bruta (Gross International Happiness), que foi assunto de algumas conferências internacionais organizadas por instituições e especialistas de diversos países. (ver último acesso em 2 de janeiro de 2007) 28

29 Neste capítulo, portanto, procuraremos sistematizar a história do discurso contemporâneo de desenvolvimento internacional, desde o Ponto IV de Truman até o estabelecimento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODMs) Nos textos e estudos dedicados ao assunto, o Ponto IV do discurso inaugural do presidente norte-americano Harry Truman é referência obrigatória, e aparece freqüentemente como marco inaugural da era do desenvolvimento. Os três primeiros pontos do discurso de Truman referiam-se às demais diretrizes de política externa que orientariam a ação política dos Estados Unidos no pós-ii Guerra, a saber: apoio decidido à Organização das Nações Unidas; continuidade dos programas de recuperação da economia mundial e, em terceiro lugar, a formação de mecanismos de defesa das nações amantes da paz (peace-loving nations) contra ameaça de agressão estrangeira. Em quarto lugar, devemos nos engajar em um novo e corajoso programa para tornar os benefícios advindos de nossos avanços industriais e científicos disponíveis para a melhoria e o crescimento de áreas subdesenvolvidas No original: Fourth, we must embark on a bold new program for making the benefits of our scientific advances and industrial progress available for the improvement and growth of underdeveloped areas. (tradução nossa) (último acesso em março, 2008) 29

30 A nosso ver, dois elementos presentes no sistema internacional da época tiveram decisiva influência na concepção de desenvolvimento pretendida por Truman: a lógica americana de contenção do comunismo e o surgimento de novos Estados a partir do processo de descolonização afro-asiática 26. Assim, a partir de 1947 o conceito de desenvolvimento passou a figurar com destaque no vocabulário internacional, quando o então presidente dos Estados Unidos Harry S. Truman anuncia o programa novo e ousado segundo o qual os EUA deveriam disponibilizar às regiões subdesenvolvidas amantes da paz os benefícios advindos de seus avanços científicos e industriais. Pode-se dizer que o discurso de Truman fora instrumentalizado pelo secretário de Estado George Marshall, que elaborou um vultuoso plano de reconstrução da Europa a ser conduzido pelos EUA, no que terminou se confirmando como uma bem-sucedida operação econômico-ideológica: O Plano Marshall, apresentado na aula inaugural da Universidade de Harvard em 5 de junho de 1947, foi peça chave na estratégia norteamericana da Guerra Fria. O Congresso reagiu cautelosamente ao projeto de ajuda às instituições livres, como definira Marshall em Harvard mas terminou pro aprová-lo por absoluta maioria. A Europa Ocidental, entre 26 A onda de descolonização teve início em 1946, com a independência da Índia e Paquistão e atingiu o continente africano somente a partir de meados da década de

31 1947 e 1951, solicitou recursos da ordem de US$17 bilhões para a reconstrução econômica e social. 27 Apesar de ter sido concebido como um programa de reconstrução da Europa destruída pela Guerra, o Plano Marshall é considerado por alguns autores o protótipo de toda a ajuda para o desenvolvimento futura 28 : O Plano Marshall (o Programa de Reconstrução Européia) deve ser visto como um golpe de mestre político cujos idealizadores conseguiram apresentar à população americana e aos países recebedores como uma generosa oferta de ajuda. (...) A política mundial nunca tinha sido tão 27 SARAIVA, José Flávio Sombra. Relações Internacionais Dois Séculos de História: Entre a Ordem Bipolar e o Policentrismo (de 1947 a nossos dias). IBRI/FUNAG. Brasília, p No original: Turning to the Marshall Plan (the European Recovery Programme), it must be regarded as a political master stroke that its designers succeeded in presenting it to the American population and to the recipient countries as a generous offer to help. ( ) World politics had never before been so elegant. The boundaries between giving and taking were blurred to the point of unrecognizability. There were two benefits stemming from this help : economic-material and political-legitimazing. On the one hand, the aid helped the stagnating American economy which was reorienting itself to peacetime production. Only a recovered industrial Europe could create sufficient demand for goods made in the USA. On the other hand, the aid programme confirmed America in the role of the leading nation of the Free World. GRONEMEYER, Marianne. Helping. In. SACHS, Wolfgang. The Development Dictionary: a Guide to Knowledge as Power. Editora Zed Books. Nova York,

32 elegante. As fronteiras entre doar e tomar foram confundidas ao ponto de não serem mais reconhecíveis. Dois benefícios advinham desta ajuda : econômico-material e político-legitimador. De um lado, a ajuda contribuía com a economia americana estagnada, que estava se reorientando para a produção em tempos de paz. Apenas uma Europa industrial recuperada poderia criar demanda suficiente para os produtos feitos nos EUA. Por outro lado, o programa de ajuda confirmou o papel dos EUA como nação líder do Mundo Livre. Truman também anuncia, por ocasião de seu discurso, aquela que será possivelmente a característica mais marcante da ajuda internacional norteamericana durante a Guerra Fria: a associação entre subdesenvolvimento econômico e vulnerabilidade político-ideológica. Segundo ele, as regiões subdesenvolvidas do planeta estariam mais sujeitas à propaganda da falsa filosofia comunista, o que, consoante as práticas vigentes no sistema bipolar em formação, representaria uma ameaça à superpotência americana. A mensagem do presidente norte-americano ao Congresso, em 1949, sublinhava como motivação explícita do plano de ajuda aos países pobres a meta de evitar que o estado de desespero deles derivasse para a adoção de comportamentos políticos inconvenientes, perigosos, isto é, 32

33 para a adoção de regimes comunistas ou criptocomunistas. (MORAES 2006; 38) Entretanto, o tema do desenvolvimento entendido como crescimento econômico já havia sido explorado por estudiosos de diversas áreas séculos antes do discurso de Truman. Nesse sentido, os textos clássicos de economia política, como a obra-prima de Adam Smith escrita no século XVIII, já tratavam do desenvolvimento quando investigavam o motivo da riqueza das nações. O que há então de diferente nessa nova encarnação 29 do desenvolvimento inaugurada em 1949? Em primeiro lugar, o segundo pós-guerra possibilitou a ascensão dos Estados Unidos como superpotência global: após o conflito mundial, a política 29 Sobre o tema, Reginaldo Moraes considera o desenvolvimento uma reencarnação ou uma ressignificação de temas e problemas que eram ainda mais antigos na história da economia política. Progresso material e, mais emblematicamente, claro, riqueza das nações já eram os objetos, por excelência, da economia política clássica. Mas a reencarnação toma nova forma, em contexto tão rico, com a ascensão de um hegemon e a invasão da cena internacional por algumas dezenas de jovens países constituídos pela descolonização do pós-guerra. (MORAES 2006, 38). Martha Finnemore também usa o termo encarnação (incarnation) quando compara os significados do desenvolvimento no contexto internacional: a autora argumenta, como veremos, que entre o final dos anos 1940 e meados de 1960 desenvolvimento significava crescimento do PIB. Após a gestão de McNamara à frente do Banco Mundial, a nova encarnação do desenvolvimento passou a implicar, necessariamente, o alívio da pobreza. (FINNEMORE 1996, 220) 33

34 externa norte-americana assumiu um caráter visivelmente mais ativo e assertivo na arena internacional, que se globalizara Até então, os Estados vizinhos do continente americano eram dos poucos que conheciam a face mais interventora do seu destino manifesto. Mesmo tendo alcançado o título de primeira economia do mundo a partir da I Guerra Mundial e com o declínio do poder político inglês, o crescente poderio econômico dos Estados Unidos não se traduz numa presença política marcante no cenário mundial (...); sua política externa tem como alvo prioritário o continente americano (AYERBE 2002, 63). Assim, é apenas a partir da II Guerra Mundial que os Estados Unidos assumem globalmente sua política externa de crusader 30, mais interventora e propositiva. 30 Henry Kissinger, logo no primeiro capítulo do seu Diplomacy, descreve aquela que parece ser a principal característica da política externa dos EUA: a oscilação entre o isolacionismo e o intervencionismo, ou, conforme a metáfora utilizada por Kissinger, entre a América como farol (beacon) e a América como cruzado/combatente (crusader). A pimeira concepção - América como farol - advoga o recolhimento político da república norteamericana e seu relativo afastamento do sistema internacional. A idéia de farol sugere que a influência americana seria mais efetiva se exercida por meio do exemplo: ao aperfeiçoar seu modo democrático de governo no âmbito doméstico, as outras nações voluntariamente seguiriam o modelo americano. A segunda concepção, por sua vez, da América como cruzado, defende o caráter missionário da política externa dos EUA, quando esta assume para si a obrigação de difundir ativamente os valores americanos pelo mundo, ainda que pelo uso da força. O intervencionismo político e militar são expressões desse modo de interpretar a política externa norte-americana. 34

35 Em segundo lugar, o sistema bipolar resultante do conflito mundial terminado em 1945 trouxe novos elementos à arena internacional. Com o advento das armas atômicas, a possibilidade de conflito militar entre as superpotências ficou mais remota, tendo em vista o perigo da mútua destruição, e a dimensão econômica e ideológica da política internacional se fortaleceram. Assim, programas de cooperação internacional para o desenvolvimento ganharam maior relevância política durante a ordem bipolar. Em terceiro lugar, o processo de descolonização dos estados afroasiáticos não poderia ser ignorado em um contexto de competição entre as superpotências, que disputavam pela cooptação desses Estados recémnascidos. Logo, o discurso sobre desenvolvimento no pós-ii Guerra pretendia disponibilizar aos Estados subdesenvolvidos um modelo de desenvolvimento à imagem e semelhança da superpotência ocidental, ao alcance daqueles que se alinhassem ao chamado mundo livre. Conforme argumenta Reginaldo Moraes, As emerging nations de Milikan-Rostow constituem sombra promissora ou temerária na maior parte do estudos sobre o cenário do pós-guerra. A sua presença é constante do famoso relatório da ONU sobre as measures para a superação do subdesenvolvimento, que mais adiante comentaremos em detalhe, passando pelos estudos imantados pelos programas do Ponto IV ou da Aliança para o Progresso 35

36 Finalmente, e talvez mais importante, a nova encarnação do desenvolvimento propagada pelos Estados Unidos considerava possível induzir o desenvolvimento econômico, provocá-lo, estimulá-lo. Como argumenta Gilbert Rist, a diferença entre o uso ordinário do termo desenvolvimento nas demais áreas do conhecimento (como a biologia) e aquele inaugurado por Truman é que este último incorporou um importante sentido transitivo (RIST 1996, 73). Assim, enquanto as organizações internacionais de vocação universal do pós-guerra atribuíam a todos os Estados uma igualdade de jure 31, o discurso norte-americano sobre desenvolvimento da segunda metade do século XX sinalizava a possibilidade de uma igualdade de facto, conquistada por meio da adesão à estratégia norte-americana de crescimento econômico. O subdesenvolvimento, por outro lado, seria uma condição natural, sem causa aparente: um ponto de partida para a corrida do desenvolvimento (RIST 1996; 74). Colocando-se como fim do processo de desenvolvimento (o que Reginaldo Moraes chama de imagem-destino 32 ), os Estados Unidos 31 O Capítulo IX da Carta da Organização das Nações Unidas promete promover níveis mais altos de vida, pleno emprego e condições para o desenvolvimento e progresso econômico e social. Ver: (último acesso em abril de 2008) 32 MORAES, Reginaldo. Estado, desenvolvimento e globalização. p

37 prometiam compartilhar com os Estados subdesenvolvidos a fórmula que permitiu à ex-colônia britânica tornar-se uma superpotência mundial. Assim, com vistas a atrair os Estados da periferia do sistema para a órbita de influência norte-americana, os Estados Unidos construíram um bem estruturado discurso, respaldado pela criação de novas disciplinas de teoria econômica e por estudos internacionais empreendidos pela ONU. O primeiro deles foi publicado em 1951 e intitulava-se Measures for the economic development of under-developed countries. Foi realizado por um grupo de especialistas indicados pelo Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas, por meio da Resolução 290 (XI) do Conselho Econômico e Social dessa organização e representou o primeiro passo concreto com vistas a transformar os objetivos expressos na Carta da Organização em recomendações de políticas de Estado. Os especialistas convocados pela ONU utilizaram o critério de renda nacional per capita, entre outros, para distinguir entre Estados desenvolvidos e subdesenvolvidos. Quase todos os Estados não-ocidentais foram classificados como subdesenvolvidos pelo estudo. O estudo afirmava que, para induzir o desenvolvimento, seria necessário empreender mudanças de ordem institucional, social e psicossocial. Portanto, o trabalho dos reformadores envolveria implantar uma visão de vida e uma educação em que a perspectiva experimental desestimulasse as atitudes favoráveis ao ócio (MORAES 2006, 70). 37

38 Ou seja, o processo de desenvolvimento, conforme entendido pelos especialistas da ONU, teria profundas implicações culturais, pois condenava as idéias nacionais consideradas incompatíveis com o modelo americano de desenvolvimento e as práticas tradicionais que não valorizassem o progresso material. Influenciado ainda pelas idéias da economia keynesiana, o documento insiste também na necessidade de um Estado nacional mais forte, capaz de empreender as reformas prescritas. Rist argumenta que estudos como o Measures for Economic Development e declarações como o próprio Ponto IV formavam um discurso impregnado pela disputa ideológica da Guerra Fria, ainda que sob uma aparência neutra e técnica. A idéia de desenvolvimento presente no discurso norte-americano não incluía, ao menos não explicitamente, discussões políticas a respeito de formas de organização do Estado ou reflexões sobre a história da exploração internacional do trabalho: a chave para a prosperidade e felicidade era o aumento da produção, não debates infinitos sobre a organização da sociedade, sobre a posse dos meios de produção ou sobre o papel do Estado (RIST 1996, 76) 33. O critério a partir do qual o desenvolvimento deveria ser medido colocava os Estados Unidos no topo da escala que eles mesmos criaram: o Produto Interno Bruto. 33 No original: The key to prosperity and happiness was increased production, not endless debate about the organization of society, ownership of the means of production or the role of the State. (tradução livre) 38

39 Conforme vimos na primeira parte do trabalho, a Cooperação Internacional para o Desenvolvimento exclui a ajuda militar. Na prática, porém, a distinção entre uma e outra nem sempre é clara. O princípio de contenção do comunismo incorporado pelos Estados Unidos no pós-ii Guerra abriu espaço para atividades questionáveis no âmbito da cooperação hemisférica: a Escola das Américas talvez seja o exemplo mais pungente da estratégia americana de contenção do comunismo no continente travestida de cooperação técnica. Ela foi criada em território panamenho, em 1946, como centro de treinamento das forças militares da América Latina e Caribe. Nos anos 1960, além do treinamento sobre mecânica e utilização de armamentos, a Escola das Américas começou a treinar pessoal militar dos Estados americanos em técnicas de contra-insurgência. Assim, sob o pretexto de capacitação das forças militares do hemisfério, a Escola das Américas elaborou manuais de tortura a serem usados contra insurgentes internos (nas guerras de revolução e guerrilhas), numa época em que muitos Estados da América Latina estavam sob ditaduras militares que não hesitavam em utilizar tais técnicas de intimidação e tortura contra alvos civis (HOLDEN e ZOLOV 2000). Não pretendemos aqui estudar a fundo a Escola das Américas, pois não a consideramos parte da CID, mas chamamos a atenção para o fato de que a aparência técnica da ajuda internacional pode muitas vezes esconder objetivos políticos dos mais questionáveis 34. Com 34 A partir dos anos 2000, a Escola das Américas mudou seu nome para Instituto do Hemisfério Ocidental para a Cooperação em Segurança (Western Hemisphere Institute for Security 39

40 efeito, uma das críticas presentes nos artigos contemporâneos sobre a ajuda internacional chama atenção para os riscos de se adotar uma perspectiva demasiado tecnocrática no discurso sobre ajuda internacional. Fritz e Menocal, por exemplo, em artigo de 2007 publicado pela Development Policy Review, afirmam que os doadores devem tornar-se mais explicitamente políticos em suas atividades 35. Ainda no ensejo do Ponto IV de Truman e com vistas a efetivar os compromissos assumidos internacionalmente pela Carta das Nações Unidas (especialmente no Capítulo IX da Carta, sobre Cooperação Internacional Econômica e Social), a Assembléia Geral da ONU aprovou, em novembro de 1949, a criação do Programa Expandido de Assistência Técnica (Expanded Programme of Technical Assistance - EPTA). Sua principal função era financiar o envio de peritos técnicos a países do Terceiro Mundo, conceder bolsas de estudo para estudantes desses países e realizar o treinamento de pessoal administrativo. Tratava-se, portanto, do primeiro programa multilateral de cooperação técnica no âmbito das Nações Unidas, que ampliava os esforços Cooperation - WHISC) localizado no Estado americano da Geórgia que pertence ao Departamento de Defesa dos estados Unidos. Desde 1990, a organização não-governamental Schoolof Americas Watch (SOAW) monitora as atividades do WHISC com vistas a evitar que novos abusos sejam cometidos. 35 FRITZ, Verena e MENOCAL, Alina Rocha. Developmental States in the New Millennium: Concepts and Challenges for a New Aid Agenda. Development Policy Review 25 (5), , p

41 bilaterais dos EUA no ambiente multilateral de vocação universal da Organização das Nações Unidas. Os pedidos de assistência deveriam ser feitos pelos governos e aprovados pelo conselho do Programa. Havia, ainda, um comitê formado por membros do Conselho Econômico e Social da Organização das Nações Unidas (ECOSOC), o TAC - Technical Assistance Committee, responsável por verificar a distribuição dos fundos disponíveis. Com o Conselho de Segurança paralisado pelo veto, incapaz de prevenir os inúmeros conflitos indiretos entre as superpotências, a Organização das Nações Unidas dedicava sua agenda a três assuntos intimamente relacionados: direitos humanos, descolonização e desenvolvimento. (RIST 1996, 89). Assim, o apelo de Truman ao desenvolvimento internacional começava a ganhar efetividade. Além da criação do EPTA, que institucionalizava a prática de assistência técnica internacional, referente a atividades de capacitação e treinamento técnico, era necessário complementar o esforço de desenvolvimento com o fornecimento de capital com taxas e prazos acessíveis. Nesse sentido, foi fundamental a criação, no âmbito do Banco Mundial, da International Finance Corporation (IFC) e da International Development Association (IDA) 36, respectivamente em 1956 e Dessa forma e a partir de meados dos anos 1950, o Banco Mundial ampliou seus objetivos de financiamento da reconstrução européia para incluir ajuda financeira aos países recém-descolonizados. De fato, Martha Finnemore lembra que, 36 Vide anexa resolução da Assembléia Geral da ONU sobre a criação da IDA (AG/NU Res.1420, 1959: International Development Association). 41

42 originalmente, o Banco Mundial Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento chamava-se apenas Banco Internacional para a Reconstrução. Foi Edward Bernstein, membro eminente da delegação dos Estados Unidos na Conferência de Bretton Woods, quem propôs que o banco tivesse uma função permanente, que ultrapassasse os objetivos imediatos de reconstrução e sugeriu que tal função fosse o desenvolvimento (FINNEMORE 1996, 221). À invenção do desenvolvimento seguiu-se também a invenção do subdesenvolvimento: a qualificação de áreas subdesenvolvidas aparece já no primeiro parágrafo do Ponto IV quando, pela primeira vez, o termo foi utilizado no sentido de atraso econômico (MORAES 2006; RIST 1996). No âmbito multilateral, a recém-criada Organização das Nações Unidas, além de ocupar-se da recuperação das regiões devastadas pela guerra, também se preocupava com o subdesenvolvimento. Em 1947, o Conselho Econômico e Social daquela organização nomeou um comitê ad hoc para estudar a conveniência de criação da Cepal, chegando às seguintes conclusões (MORAES 1995, 19): a) As economias latino-americanas necessitavam de ajuda para a reconstrução, uma vez que haviam sido fustigadas por um desgaste anormal durante a guerra; b) Observava-se uma tendência à deterioração dos termos de troca, prejudicial à América Latina; 42

43 c) As economias dessa região tendiam a um crescimento excessivamente lento. Assim, em fevereiro de 1948 foi criada a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, inicialmente prevista para um período experimental de três anos, mas que se consolidou em 1951, tornando-se entidade permanente da ONU. A concepção de subdesenvolvimento dos teóricos da Cepal era estrutural, ou seja, contrariava o espírito evolucionista e apolítico muitas vezes associado às políticas de desenvolvimento internacional. Para os cepalinos, a economia mundial deveria ser entendida como uma estrutura centro-periferia que se auto-reproduz, eternizando (e não moderando) ritmos diferentes na absorção dos frutos do progresso técnico. Relativiza-se, nessa imagem, a noção de subdesenvolvimento como estado de atraso numa seqüência linear e homogênea de transformações quantitativas (renda per capita, sobretudo) 37 Raúl Prebisch, Ragnar Nurske e Celso Furtado foram alguns dos nomes mais influentes do pensamento cepalino. Prebisch, por exemplo, apostava na necessidade da industrialização como forma de reter na periferia os frutos do progresso técnico, rompendo com os chamados efeitos perversos da divisão 37 MORAES, Reginaldo. O subdesenvolvimento e as idéias da CEPAL. Editora Ática, 1995, p

44 internacional do trabalho 38. A solução para o subdesenvolvimento, segundo os cepalinos, não era técnica ou natural, ao contrário: dependia de uma política econômica que contemplasse a intervenção, o planejamento e o protecionismo. 39 Já em meados da década de 1950, o Terceiro Mundo 40 começava a procurar espaço no sistema bipolar para discutir questões de justiça social e crescimento econômico. A Conferência de Bandung, de 1955, simbolizou o início de uma articulação internacional entre ex-colônias que procurava incluir os temas de desenvolvimento nas Organizações Internacionais: Pode-se certamente dizer que na base da idéia de Terceiro Mundo está a da transformação do sistema internacional, objetivo que ao longo 38 IBIDEM, p IBIDEM,p O termo Terceiro Mundo foi utilizado pela primeira vez como conseqüência da comparação da situação dos países pobres e despossuídos do mundo com a das classes que na França, antes da Revolução de 1789, constituíram o Terceiro Estado. Esta utilização foi feita por Alfred Sauvy e Georges Balandier, franceses, em 1956, generalizando-se a partir de então. VIGEVANI, Tullo. Terceiro Mundo: Conceito e História. Editora Ática. São Paulo, faz referência ao Antigo Regime francês, durante o qual a sociedade era dividida em três Estados. Abbé Sieyès, em livreto de 1789 intitulado O que é o terceiro Estado (Qu est-ce que Le Tiers Monde?) inspirou o economista e demógrafo francês Alfred Sauvy a escrever artigo que, segundo alguns autores, inaugura o uso do termo durante a Guerra Fria. Publicado no periódico francês L Observateur em 1952, o artigo compara a situação das colônias e excolônias ao Terceiro Estado da França pré-revolucionária. 44

45 do tempo deu passos importantes, mas está certamente longe de ser alcançado, se entendido em seu sentido de cooperação, igualdade, democracia e segurança. 41 Na década de 1960, a descolonização de diversos Estados africanos se acelerava 42, e o presidente John F. Kennedy assinou o Decreto de Assistência Externa (Foreign Assistance Act), que unificou diversos instrumentos de assistência dos Estados Unidos com a formação da Agência Americana para o Desenvolvimento Internacional, a USAID. Ainda em 1961, em discurso na Assembléia Geral das Nações Unidas, Kennedy inaugura a Primeira Década do Desenvolvimento. Em continuidade ao ensejo americano, a ONU publica, em 1962, um documento com propostas para orientar as atividades de desenvolvimento (UN Development Decade: Proposals for Action). Apesar de manter o foco no crescimento econômico, o prefácio do então Secretário-Geral da ONU, U Thant, anuncia a necessidade de uma nova concepção de 41 VIGEVANI, Tullo. Terceiro Mundo: Conceito e História. Editora Ática. São Paulo, p A descolonização do continente africano pode ser dividida, de forma geral, da maneira que segue. Ainda na década de 1950 deu-se a independência do Sudão, Marrocos, Tunísia, Gana e Guiné. Em 1960 diversas ex-colônias francesas na África conquistaram independência. Em meados da década as colônias do Reino Unido também se emanciparam e nos anos 1970 foi a vez da dissolução do império colonial português. 45

46 desenvolvimento quando afirma que desenvolvimento não é apenas crescimento econômico: é crescimento com transformação 43. Em 1964, a criação da UNCTAD (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) faz parte da história do desenvolvimento quando chama atenção para os desequilíbrios no comércio internacional, que prejudicam os países produtores de matérias-primas. Entretanto, não pretendemos aqui avançar nas questões relacionadas ao comércio, visto que o objeto da dissertação é justamente a ajuda concedida em termos não comerciais. Cabe notar apenas que a discussão sobre comércio internacional e desenvolvimento também se deu no âmbito do GATT (Acordo Geral de Tarifas e Comércio) e, posteriormente, da Organização Mundial do Comércio. Mais adiante, quando estivermos tratando da atividade recente de CTPD da Agência Brasileira de Cooperação, mencionaremos, ligeiramente, a relevância da coordenação entre o chamado Sul global nas negociações comerciais multilaterais. Em 1965, o Programa Expandido de Assistência Técnica (EPTA) e o Fundo Especial das Nações Unidas para o Desenvolvimento Econômico (SUNFED) uniram-se para criar o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) 44. A partir de então, o PNUD passou a concentrar os 43 No original: Development is not just economic growth, it is growth plus change. (tradução nossa) (último aceso em abril de 2008) 44 MURPHY, Craig N. The United Nations Development Programme: a Better Way? Cambridge University Press,

47 temas de desenvolvimento dentro da ONU, e contribuiu definitivamente para transformar o significado do termo ao longo dos anos. Assim, se na década de 1950 o significado do desenvolvimento era a reconstrução dos países destruídos pela II Guerra, durante a maior parte da década de 1960 o desenvolvimento foi entendido como crescimento econômico, cujos projetos estavam voltados para a construção de grandes empreendimentos infra-estruturais como represas, usinas e rodovias. Não é simplificar demais dizer que a teoria do desenvolvimento foi originalmente apenas teoria sobre a melhor maneira das colônias, e depois ex-colônias, acelerarem seu crescimento econômico nacional nesse ambiente internacional. O objetivo do desenvolvimento era o crescimento; o agente do desenvolvimento era o Estado e os meios do desenvolvimento eram tais instrumentos de política macroeconômica. (LEYS 2004, ) O objetivo do desenvolvimento era o aumento do Produto Interno Bruto: a forma como ele era dividido nacionalmente era assunto interno dos Estados 45 LEYS, Colin. The Rise and Fall of Development Theory. No original: It is not a great oversimplification to say that development theory was originally just theory about the best way for colonial, and then ex-colonial, states to accelerate national economic growth in this international environment. The goal of development was growth; the agent of development was the state and the means of development were these macroeconomic policy instruments. (tradução livre) 47

48 recebedores um problema político que escapava às pretensões meramente técnicas e econômicas dos Estados doadores (FINNEMORE 1996, 209). Essa concepção começou a mudar no final da década de Martha Finnemore defende, em artigo publicado em 1996 em uma coletânea sobre desenvolvimento internacional e as ciências sociais 46, que mudanças no modo como o Banco Mundial entendia o desenvolvimento contribuíram para transformar a concepção de desenvolvimento internacional vigente até então. Finnemore argumenta que a longa gestão de Robert McNamara 47 como presidente do Banco Mundial entre 1968 e 1981 alterou a quantidade e a qualidade da ajuda prestada pelo Banco. De fato, uma das primeiras medidas tomadas por McNamara foi convidar o ex-primeiro ministro canadense Lester B. Pearson para formar uma comissão responsável por realizar uma avaliação dos vinte últimos anos de assistência para o desenvolvimento. Em 1969 foi publicado o Relatório Pearson, intitulado 46 FINNEMORE, Martha. Redefinig Development at the World Bank. In. COOPER, Frederick e PACKARD, Randall. International Development and the Social Sciences: essays on the History and Politics of Knowledge. University of California Press, p.203 p Robert Strange McNamara pode ser considerado um dos personagens políticos mais representativos do século XX. Fez parte da Força Aérea dos Estados Unidos e, de volta à vida civil, tornou-se um eminente executivo da Ford Motors até J. F. Kennedy convidá-lo para o cargo de Secretário de Defesa, no qual continuou mesmo após o assassinato do presidente. Depois de deixar o Pentágono, McNamara presidiu o Banco Mundial por treze anos. Em 2003, o documentarista Errol Morris realizou um premiado longa-metragem a partir de entrevistas com McNamara, intitulado Sob a névoa da guerra (o título original em inglês é: The Fog of War: Eleven Lessons from the Life of Robert S. McNamara). 48

49 Parceiros no Desenvolvimento (Partners in Development), que continha recomendações para o futuro da ajuda internacional ao desenvolvimento. O relatório enfatizava a ajuda financeira internacional como uma questão chave para a redução da defasagem entre os países desenvolvidos e os em desenvolvimento. Sato aponta que o relatório indagava: Por que a ajuda?... Esta é a questão que devemos examinar específica e diretamente porque ela vai às raízes do enfraquecimento de nossa vontade para continuar, somente a cooperação no desenvolvimento pode fortalecê-la. (...) (O Relatório) em seguida chama a atenção para os resultados alcançados ao longo das duas décadas e delineia uma estratégia para reforçar e consolidar esses resultados. Essa estratégia era composta por dez itens dentre os quais nada menos do que sete eram recomendações sobre como aumentar e como fazer melhor uso da ajuda financeira e dos investimentos internacionais destinados aos países em desenvolvimento. 48 Uma das recomendações argumentava que o volume da ajuda fornecida pelos Estados industrializados fosse aumentando gradualmente para atingir o equivalente a 0,7% do PIB, até A meta de destinar 0,7% do PIB à ajuda para o desenvolvimento foi reiterada pela Resolução da Assembléia Geral da 48 SATO, Eiiti. O Papel dos Países Periféricos na Ordem Econômica Internacional: Percepções em Mudança. Dissertação de Mestrado, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, Pp.:

50 ONU de 1970 e por diversos outros documentos e acordos internacionais, mas não foi, até hoje, atingida plenamente. Dados de 2006 disponibilizados pela OCDE mostram que apenas cinco países atingiram e/ou ultrapassaram a meta definida no fim dos anos 1960: Suécia; Noruega; Luxemburgo; Países Baixos e Dinamarca 49. Ademais de convocar a Comissão Pearson, McNamara tomou medidas ainda mais significativas que alteraram a ajuda do Banco Mundial. A primeira delas foi a decisão de dobrar o volume de recursos do banco para a ajuda em cinco anos. Dados do Comitê de Assistência ao Desenvolvimento da OCDE (DAC Development Assistance Committee) mostravam que a ajuda oferecida pelos países membros da OCDE deixara de crescer depois de meados da década de 1960, ameaçando o sucesso da Primeira Década do Desenvolvimento. Em segundo lugar, McNamara decidiu investigar o que os Estados recebedores efetivamente realizavam com a ajuda concedida. Em seus discursos no Banco, ele falava não apenas sobre aumentar PIB ou PIB per capita, mas sim sobre melhorar as condições de vida dos indivíduos 49 A meta dos países da OCDE de dedicar 0,7% do PIB aos programas de ajuda internacional já virou uma causa folclórica dos entusiastas da ajuda. Ao mesmo tempo, alguns estudiosos e profissionais do desenvolvimento questionam a necessidade de mais ajuda, preocupados com a capacidade de absorção que os Estados recebedores têm ou deixam de ter. Argumentam, por exemplo, que muitos Estados recebedores de ajuda não possuem recursos locais que garantam monitoramento e sustentabilidade dos projetos, e mesmo programas de capacitação de pessoal local acabam alimentando a fuga de cérebros, empobrecendo ainda mais a mão de obra local. Dados disponíveis em 50

51 empobrecidos dentro do Estado recebedor. Assim, McNamara aumentou os recursos destinados à IDA, cuja responsabilidade era prestar serviços aos países mais pobres (FINNEMORE 1996, 213). A autora avalia que McNamara estava alinhado às novas idéias sobre desenvolvimento que estavam sendo discutidas nos cursos de estudos de desenvolvimento (development studies) inaugurados em meados dos anos De fato, o tema começou a ser reconhecido como campo distinto de estudo e pesquisa nas universidades britânicas nos anos 1960 e 1970 (BERNSTEIN 2005), especialmente no Instituto de Estudos de Desenvolvimento (Institute of Development Studies - IDS) da Universidade de Sussex (criado em 1966) e da Escola de Estudos de Desenvolvimento (School of Development Studies), da Universidade de East Anglia (HARRISS 2005; 17). Ainda, a publicação do livro do economista sueco Gunnar Myrdal, Asian Drama: an Inquiry into the Poverty of Nations 50, em 1968, sensibilizou a opinião pública internacional para a miséria que assolava países asiáticos, e influenciou a mudança na concepção de desenvolvimento. Finnemore expõe uma série de medidas tomadas por McNamara para substituir o foco da ajuda do Banco Mundial do crescimento econômico para o alívio da pobreza, como a concessão de créditos para pequenos produtores rurais e para projetos de educação e alfabetização. A autora argumenta que, a partir das iniciativas de McNamara no Banco Mundial, o alívio da pobreza passou a ser considerado ao mesmo tempo objetivo e indicador do 50 MYRDAL, Gunnar. Asian Drama: an Inquiry into the Poverty of Nations. Pantheon Publishing,

52 desenvolvimento pelos demais atores do sistema internacional de ajuda para o desenvolvimento: Ao final dos anos 1970, todo mundo envolvido com o desenvolvimento estava falando, escrevendo, e estruturando políticas sobre temas relativos à pobreza. Tratados acadêmicos eram publicados, conferências internacionais organizadas, planos de desenvolvimento nacionais reorientados e os esforços de ajuda internacional voltaram-se para outros objetivos (FINNEMORE 1996, 208) 51 Apesar da mudança na concepção de desenvolvimento que ocorreu desde o final da década de 1960 e ao longo dos anos 1970, a década de 1980 não continuou o ensejo de renovação e, de fato, representou um período de estagnação nas políticas de ajuda internacional ao desenvolvimento. A onda neoliberal que tomou conta da vida política nos países centrais especialmente durante os anos Reagan, nos Estados Unidos e Thatcher no Reino Unido diminuiu consideravelmente o apelo pelo aumento da ajuda internacional. Com a crise da dívida pela qual passam os países do Sul, ganham força as políticas de ajuste estrutural implementadas pelos organismos financeiros multilaterais. A ênfase está nas medidas de reformas econômicas, 51 No original: By the late 1970s, everyone involved in development was talking, writing, and structuring policies around poverty issues. Academic treatises were being published, international conferences were being organized, national development plans were reoriented, international aid efforts were retargeted. (tradução livre) 52

53 de reajuste fiscal e de liberalização dos intercâmbios comerciais que incentivavam o livre jogo das forças do mercado. Era a época do trade, not aid, quando predomina a cooperação reembolsável e a macro-economia como principal disciplina a orientar os arranjos de cooperação (PINO 2006). O Relatório Brandt, publicado em 1980 por uma comissão independente criada pelo chefe de Estado da Alemanha Ocidental, Willy Brandt, chamava atenção para o cisma Norte x Sul em oposição ao conflito Leste x Oeste. Brandt inspirou, inclusive, a criação de uma linha imaginária que separava o Norte e o Sul econômicos, a chamada linha Brandt. No entanto, o relatório também foi recebido com ceticismo, entre outros motivos por causa da chamada 2º guerra fria : eventos como a invasão soviética do Afeganistão pareciam minar a tese de arrefecimento do conflito Leste x Oeste. Com o fim da Guerra Fria, a cooperação internacional para o desenvolvimento da década de 1990 passou por sérias transformações: sem a competição ideológica de outrora, teve início o que os estudiosos chamam de aid fatigue. A opinião pública nos países doadores começou a demonstrar impaciência com o volume da ajuda dedicada ao exterior: uma pesquisa de opinião realizada nos Estados Unidos em 1993, por exemplo, mostrava que a maior parte da população acreditava que o volume da ajuda cedida pelos EUA ultrapassava os 20% do PIB sendo que na verdade mal chegava ao 1% (DENGBOL-MARTINUSSEN 2003, 182). Entretanto, apesar do ceticismo com relação à ajuda, o pós-guerra Fria abriu espaço na agenda internacional para temas além da segurança, onipresente nos anos de Guerra Fria: por exemplo, a Conferência das Nações 53

54 Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada em 1992 no Rio de Janeiro consagrou o tema do desenvolvimento sustentável. A noção de desenvolvimento sustentável, não-destrutivo do ponto de vista humano nem do ponto de vista da Natureza, é a principal inovação conceitual oriunda do Relatório Brundtland internacionalmente oferecida pela Rio-92 para o tratamento do tema global do meio ambiente. Sua definição é simples, embora a implementação requeira modificações profundas nos sistemas vigentes de produção e na forma moderna de organização socioeconômica capitalista. Ela se extrai da conjugação de dois princípios singelos e complementares da Declaração: o princípio 3, que se refere textualmente ao desenvolvimento como um direito, e o princípio 4, que integra necessariamente a proteção ambiental ao direito ao desenvolvimento (ALVES 2001, 68). Conforme explica Lindgren Alves, além da consagração do conceito de desenvolvimento sustentável, a Rio-92 também inovou quando ampliou o escopo dos agentes responsáveis pelo desenvolvimento, incluindo, além dos Estados, os indivíduos. Além disso, ao considerar o desenvolvimento sustentável como um direito, os Estados que assinaram as declarações 54

55 resultantes da Conferência 52 reconheceram o direito das gerações futuras de gozar os benefícios do desenvolvimento em um meio ambiente equilibrado. Ou seja, os beneficiários do desenvolvimento não eram mais apenas os Estados, como na década de 1950 e 1960; também não eram apenas as pessoas pobres residentes nos Estados recebedores, como se concebera a partir dos anos 1970: o desenvolvimento sustentável deveria contemplar ainda nossos descendentes futuros. Reflexo dessa novidade, a preocupação com o aquecimento global marcou a Eco-92, e originou a primeira convenção internacional sobre o clima. Com relação aos indicadores da ajuda, os anos 1990 também trouxeram uma inovação significativa: o ganhador do prêmio Nobel de Economia,o indiano Amartya Sen, junto de outros colaboradores, elaborou o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) como um conjunto de indicadores capazes de ilustrar o desenvolvimento dos Estados de forma mais abrangente do que a simples aferição da produção ou produção per capita. O Índice de Desenvolvimento Humano conjuga indicadores de expectativa de vida e de educação com o PIB per capita, para avaliar se os esforços de 52 A Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento inaugurou o ciclo principal das conferências dos anos 90, com agenda ampla e atores diversificados. Dela emergiram vários documentos internacionais, os mais importantes até hoje existentes sobre a matéria, a saber: dois tratados jurídicos assinados na ocasião (a Convenção sobre o Clima e a Convenção sobre a Biodiversidade); um documento normativo referencial (a Declaração de Princípios sobre Florestas); um plano de ação analítico e pormenorizado, com quase 500 páginas (a Agenda 21); uma declaração política de compromissos e conceitos (a Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento). (ALVES 2001, 65) 55

56 desenvolvimento por parte dos estados têm se traduzido em políticas com impacto positivo para a população 53. Ainda, em 1990 o PNUD publicou o primeiro Relatório de Desenvolvimento Humano, com vistas a colocar o ser humano no centro do debate sobre desenvolvimento 54. Os Relatórios são publicados anualmente e possuem, além de uma versão global, também existem em escopo regional e nacional. No ano 2000, a sessão do Conselho Econômico e Social comemorou os 50 anos de cooperação para o desenvolvimento do sistema das Nações Unidas. Além dos avanços verificados durante a década das conferências 55, o sistema internacional de cooperação para o desenvolvimento incorporou novos temas de cooperação. A revolução das tecnologias de informação passou a ser considerada necessária para a inserção e desenvolvimento econômico, e as agências multilaterais de cooperação passaram a se preocupar com o chamado fosso digital. De fato, a primeira sessão de alto nível do Conselho Econômico e Social das Nações Unidas (ECOSOC) realizada em 2000, em Nova York, tratava sobre o papel da tecnologia da informação para a CID do século XXI. Ainda mais significativo para a cooperação internacional ao desenvolvimento foi a realização da Cúpula do Milênio em setembro de (último acesso em abril de 2008) 54 (último acesso em abril de 2008) 55 Subtítulo do livro de Lindgren Alves sobre as conferências de temas sociais na década de

57 na sede da ONU em Nova York. Com o fim da Guerra Fria, a globalização emergiu como dinâmica orientadora das relações internacionais. Ainda que o termo seja elástico e sujeito a diversas interpretações, a ONU tomou para si a tarefa de redefinir seu papel no século XXI, e chamou os Estados a firmarem um compromisso para a melhor distribuição dos benefícios dessa nova ordem global. A reunião resultou na Declaração do Milênio aprovada pela Assembléia Geral da ONU, que distinguia oito temas prioritários para ação dos estados signatários durante o século XXI. Até o ano de 2015, os Estados membros das Nações Unidas se comprometeram a: 1. Erradicar a extrema pobreza e a fome; 2. Atingir o ensino básico universal; 3. Promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres; 4. Reduzir a mortalidade infantil; 5. Melhorar a saúde materna; 6. Combater o HIV/Aids, a malária e outras doenças; 7. Garantir a sustentabilidade ambiental; 8. Estabelecer uma Parceria Mundial para o Desenvolvimento. Junto dos objetivos foram criados indicadores para medir o avanço das metas. No Brasil, o último relatório de acompanhamento foi publicado pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) em setembro de 2007, e está disponível no website do instituto ( 57

58 O quadro anexo serve como pronta referência para localizar as diferentes encarnações do desenvolvimento desde a década de 1940 e A tabela foi feita para servir como ilustração das décadas do desenvolvimento, por isso as datas são muitas vezes aproximadas e arredondadas, pois antecipam transformações da década seguinte. Por exemplo, alguns eventos ocorreram antes da década de 1970, mas anunciavam, a nosso ver, mudanças que foram realmente institucionalizadas na década de A gestão de McNamara como presidente do Banco Mundial teve início em 1968 e estendeu-se até 1981, mas a mudança na concepção de desenvolvimento do Banco teve efeito nos anos Da mesma forma, o livro de Gunnar Myrdal sobre a pobreza na Índia e no Paquistão, Asian Drama: an Inquiry into the Poverty of Nations, foi publicado pela primeira vez em 1968, mas está alinhado às transformações ocorridas na década de (ver quadro anexo) 2.3 Ajuda como auto-interesse iluminado : por que ajudar? No início deste capítulo anunciamos a discussão que agora tentaremos sistematizar, sobre a motivação da ajuda internacional. Assim como no teatro ou no cinema, nas relações internacionais é também fundamental entender a motivação dos atores, seus interesses. Como nas artes dramáticas, a motivação dos atores do sistema internacional é também complexa, contraditória e mutável. Vejamos como alguns autores analisam a questão dos interesses no sistema internacional de ajuda para o desenvolvimento. 58

59 Hans Morgenthau, em seminal artigo de , expõe sua visão realista da ajuda internacional. Ele avalia, a princípio, que a ajuda internacional dos Estados Unidos serve para atingir objetivos de política externa que não poderiam ser assegurados por meios militares ou da diplomacia tradicional. Assim, admite a necessidade dos Estados Unidos manterem um programa de ajuda externa, mas acha importante discutir o tipo de ajuda externa mais adequada e efetiva, pois avalia os programas de ajuda levados a cabo nos últimos anos (ou seja, durante a década de 1950) como fundamentalmente fracos. Ao longo do artigo, Morgenthau distingue seis tipos de ajuda externa: humanitária; de subsistência; militar; de suborno (bribery); de prestígio e para o desenvolvimento econômico. De forma bastante franca, o autor afirma que muito do que se chama contemporaneamente de ajuda externa (foreign aid) está na categoria do suborno. Ele chama de suborno a transferência de dinheiro e serviços de um governo para outro que realiza a função de um preço pago por serviços políticos prestados ou a serem prestados. 57 Conforme nos explica Morgenthau, o suborno entre governos era, até o início do século XIX, um instrumento costumeiro da diplomacia. Para o autor, essa prática tradicional difere da ajuda externa contemporânea em dois 56 MORGENTHAU, Hans. A Political Theory of Foreign Aid. The American Political Science Review, vol.56, n o 2, IBIDEM; p.302. No original: The transfer of money and services from one government to another performs here the function of a price paid for political services rendered or to be rendered. (tradução nossa) 59

60 aspectos: em primeiro lugar, o suborno é hoje justificado como ajuda para o desenvolvimento econômico e, em segundo lugar, a prática contemporânea exige que dinheiro e serviços sejam transferidos através de mecanismos elaborados que a legitimem. Assim, o autor julga que o desenvolvimento econômico tenha se tornado uma ideologia para justificar e racionalizar a prática tradicional do suborno. Ainda, Morgenthau acredita que a ajuda para o desenvolvimento econômico é menos eficiente do que a prática do suborno, visto que ela implica uma elaborada farsa política: O governo da nação A, ao querer comprar vantagens políticas do governo da nação B por, digamos, 20 milhões de dólares, deve não apenas fingir, como também atuar elaboradamente nesse fingimento, de que o que está realmente fazendo é fornecendo ajuda para o desenvolvimento econômico da nação B. 58 O que o autor questiona na substituição do suborno pela ajuda para o desenvolvimento econômico é que ela cria, tanto para doadores como para recebedores, expectativas que não serão satisfeitas. O suborno era uma transação bastante direta entre dois governos. Morgenthau parece argumentar 58 IBIDEM; p.302. No original: The government of nation A, trying to buy political advantage from the government of nation B for, say, the price of 20 million dollars, must not only pretend, but also act out in elaborate fashion the pretense, that what it is actually doing is giving aid for economic development to the government of nation B. (tradução nossa) 60

61 que a ajuda para o desenvolvimento econômico é um tanto mais nebulosa. Se o objeto da negociação não está claro, se é definido de forma vaga como desenvolvimento econômico, é muito difícil saber se foi de fato atingido: o doador, portanto, termina acusando o recebedor de ineficiência na administração dos recursos concedidos e os recebedores acabam achando insuficiente a ajuda recebida. Para além das críticas sobre o complexo aparato da ajuda para o desenvolvimento econômico, Morgenthau também questiona sua efetividade. Ele afirma que a possibilidade de induzir o desenvolvimento econômico foi reforçada a partir do Plano Marshall que, apesar de voltado para a recuperação de economias já industrializadas, teria entrado para o folclore político como uma receita contra o subdesenvolvimento. Assim, a mentalidade popular estabeleceu correlações entre a infusão de capital e tecnologia em uma sociedade primitiva e seu desenvolvimento econômico, entre desenvolvimento econômico e estabilidade social, entre estabilidade social e instituições democráticas, entre instituições democráticas e uma política externa pacífica IBIDEM,p.305. Thus the popular mind has established correlations between the infusion of capital and technology into a primitive society and its economic development, between economic development and social stability, between social stability and democratic institutions, between democratic institutions and a peaceful foreign policy. (tradução nossa) 61

62 Mas o autor lembra que os Estados podem sofrer de deficiências para o desenvolvimento econômico que não seriam sanáveis por meio de nenhum tipo de ajuda externa. A ausência ou escassez de recursos naturais ou humanos e a presença de costumes religiosos tradicionais poderiam servir como obstáculos significativos ao desenvolvimento econômico, qualquer que seja o volume de ajuda externa que esses Estados venham a receber. De forma um tanto direta, Morgenthau atesta: assim como existem homens vagabundos e pedintes, existem nações vagabundas e pedintes 60. Finalmente, após tecer suas considerações sobre a natureza da ajuda para o desenvolvimento, Morgenthau analisa sua efetividade como promotora do desenvolvimento econômico. Assim, ele avalia que, ainda que a ajuda seja concedida com o fim de promover o desenvolvimento econômico, ou seja, de transformar o status quo nos países recebedores, ela é concedida aos governos, para os quais a mudança nem sempre interessa. Pelo contrário: a ajuda freqüentemente termina por consolidar o grupo no poder. Ainda que a transformação seja realmente efetuada, como controlá-la? Em plena ordem bipolar, como evitar que as mudanças sociais necessárias para o desenvolvimento econômico não venham a se transformar em revolução? Assim, o autor chega à desconcertante conclusão segundo a qual a ajuda para o desenvolvimento econômico, mesmo quando bem sucedida, pode ser contraproducente se o objetivo político do doador for a estabilidade social e política do recebedor. 60 IBIDEM,p.305. No original: (...) as there are bums and beggars, so are there bum and beggar nations. (tradução nossa) 62

63 Dessa forma um tanto pessimista, o teórico de origem alemã duvida da eficiência da ajuda para o desenvolvimento e crê que a melhor estratégia talvez seja a inatividade bem administrada (masterly inactivity). Ainda com um bocado de cinismo, ele alerta para o fato de que a ajuda para o desenvolvimento econômico, apesar de bem-intencionada, pode servir menos aos interesses do doador do que outros tipos de ajuda, menos eficientes na promoção do desenvolvimento econômico, mas eficazes para conquistar a simpatia do Estado recebedor. Por exemplo, aquilo que Morgenthau chamou ajuda de prestígio implica a construção de alguma obra de engenharia ou a doação de armamentos de alta tecnologia que, apesar de irrelevantes para o desenvolvimento econômico, criam a ilusão de poder por meio de monumentos, símbolos de avanço industrial e/ou bélico. Para ilustrar seu argumento, o autor compara a ajuda concedida ao Afeganistão pela União Soviética e pelos Estados Unidos: enquanto a primeira decidiu asfaltar as ruas da capital Cabul um tipo de ajuda de prestígio, pouco relevante para o desenvolvimento econômico os Estados Unidos construíram uma represa em uma parte remota do país que, apesar de contribuir significativamente para o desenvolvimento econômico, está longe dos olhos e da simpatia dos beneficiários. Verifica-se ainda hoje, entre os doadores tradicionais de ajuda, uma forte preocupação com a visibilidade dos projetos por eles financiados (vide, por exemplo, as diretrizes de visibilidade para ações externas da União Européia no endereço 63

64 Morgenthau conclui recomendando que, se o objetivo do doador é criar algum tipo de lealdade política com os Estados recebedores, a ajuda deve ter efeitos mais imediatos e visíveis. Além disso, ele admite que a ajuda internacional não é assunto de natureza técnica, e faz parte do arsenal político dos Estados assim como a diplomacia ou a prática militar. Como tal, deve ser conduzida pela intuição do estadista, mais do que pelo conhecimento do especialista. O Relatório de Desenvolvimento publicado pelo PNUD em 2005 (International cooperation at a crossroads: Aid, trade and security in an unequal world 61 ) contrasta com o cinismo incontornável da perspectiva de Morgenthau: Sob um ponto de vista a ajuda é simplesmente uma transferência de recursos dos países ricos para os países pobres. Sob um outro ponto de vista, a ajuda é reflexo de algo mais fundamental. As políticas de ajuda dos países ricos refletem o modo como eles pensam sobre a globalização, sobre sua própria segurança e prosperidade e sobre sua responsabilidade e obrigações para com os povos mais vulneráveis do mundo. Em última instância, as políticas de ajuda servem como barômetro para medir a tolerância do mundo rico com a pobreza massiva em meio à prosperidade Disponível em (último acesso em abril de 2008) 62 PNUD. Human Development Report International cooperation at a crossroads: Aid, trade and security in an unequal world.p.77. No original: At one level aid is a simple transfer of finance from rich to poor countries. At another level aid is an indicator of something more 64

65 O Relatório faz menção a uma argumentação bastante freqüente nos textos sobre a motivação da ajuda: aquela que combina boas intenções e autointeresse. Vejamos como tal argumentação se desenvolve. O princípio do auto-interesse, ou auto-ajuda, costuma ser geralmente aceito como motivação para qualquer ação de Estado, mas é especialmente caro à corrente realista das relações Internacionais e suas derivadas. (...) um princípio cardeal do realismo nas relações internacionais é a auto-ajuda, ou seja, que nenhum Estado pode contar com outro para defender seus interesses e sua sobrevivência. (...) Isso não exclui nem a possibilidade de obter apoios nem a possibilidade de haver cooperação no sistema internacional, mas implica que a vigilância deveria ser permanente, e que todo e qualquer acordo de cooperação mútua na área de segurança pode ser rompido se for do interesse nacional. 63 A questão das boas intenções, ou da existência de um sentimento de solidariedade no sistema internacional, por sua vez, parece mais próxima da fundamental. The aid policies of rich countries reflect how they think about globalization, about their own security and prosperity and about their responsibilities and obligations to the world s most vulnerable people. Ultimately, aid policies are a barometer for measuring the rich world s tolerance for mass poverty in the midst of plenty. (tradução nossa) 63 NOGUEIRA, João Pontes e MESSARI, Nizar. Teoria das Relações Internacionais: correntes e debates. p.31 65

66 perspectiva do liberalismo nas relações internacionais se nos ativermos aos paradigmas originais da teoria. É este paradigma além daqueles que se inspiraram em seus preceitos que abriga a crença na mudança, no aprendizado e no progresso internacional. A crença no progresso estende-se às relações internacionais, afirmando a possibilidade de transformar o sistema de Estados em uma ordem mais cooperativa e harmoniosa. Essa perspectiva mais otimista acerca das possibilidades de mudança da política mundial foi rotulada por seus críticos realistas como utópica ou idealista 64. O relatório, portanto, procura conciliar essas duas interpretações contrastantes da política internacional, e recorre ao exemplo histórico da Revolução Industrial quando se refere às condições de vida nas fábricas inglesas do século XIX, onde as perdas humanas causadas por epidemias e pela simples exaustão representavam um considerável prejuízo econômico aos donos dos meios de produção. Assim, de acordo com o relatório apresentado pelo reformista social sir Edwin Chadwick, o investimento social em um bem público é imperativo tanto sob o ponto de vista da moralidade quanto pelo bomsenso econômico IBIDEM. p PNUD. Human Development Report International cooperation at a crossroads: Aid, trade and security in an unequal world, p.78. No original: Chadwick s report established the 66

67 O relatório do PNUD segue argumentando que a interdependência internacional dos anos do pós-guerra Fria aumentou a vulnerabilidade dos países industrializados frente às ameaças vindas do Sul: recuperando parcialmente o argumento do Ponto IV, o relatório afirma que a pobreza, assim como a desigualdade, é um fator de desequilíbrio para o sistema internacional, na medida em que alimenta as ondas de imigrantes ilegais e serve como pretexto para a ação de terroristas contra os centros industrializados. O relatório cita o discurso inaugural do presidente Roosevelt em 1945 sobre a II Guerra Mundial: Nós aprendemos que não podemos viver sozinhos, em paz; que nosso bem-estar depende do bem-estar de outras e distantes nações 66. Mais adiante, o relatório recorre aos valores das grandes religiões monoteístas para justificar a existência de uma motivação moral para a ajuda. Tanto as crenças islâmicas como aquelas da tradição cristã possuem entre seus princípios a obrigação de ajudar ao próximo. Assim, o Relatório conclui principle that social investment in a public good was imperative on grounds of morality and common sense economics. (tradução nossa) 66 IBIDEM, p.79. No original: We have learned that we cannot live alone, at peace; that our well-being is dependent on the well-being of other nations far away. (tradução nossa) 67

68 que a ajuda internacional é o ponto de intersecção entre valores morais e auto-interesse iluminado 67. Gilbert Rist, que figura entre os autores críticos do desenvolvimento, denuncia a continuidade nem sempre declarada entre a concepção do desenvolvimento predominante a partir de meados do século XX e a exploração colonial da era dos impérios 68, inclusive nos argumentos utilizados para justificá-las. Se o empreendimento colonial era muitas vezes justificado com o ideal iluminista de civilização, o desenvolvimento promete inclusão e participação nos benefícios da era pós-industrial (RIST 1996, 51). Não por acaso o ex-funcionário do Banco Mundial William Easterly resgata o poema de Rudyard Kipling para utilizar como título de seu mais recente livro O Fardo do Homem Branco: por que o esforço do Ocidente em ajudar os outros fez tanto mal e tão pouco bem 69. Assim como a missão civilizadora dos exploradores coloniais era vista como uma tarefa em benefício dos explorados, um fardo que o homem branco deveria carregar por sua generosidade e sabedoria, assim também Easterly avalia a missão do desenvolvimento. 67 IBIDEM, p.79. No original: International aid is the point at which moral values and enlightened self-interest intersect. (tradução nossa) 68 O eminente historiador britânico Eric Hbsbawn identifica a era dos Impérios no período entre 1875 e 1914, quando, segundo sua já célebre interpretação, teria começado, efetivamente, o século XX. 69 EASTERLY, William. The White Man's Burden: Why the West's Efforts to Aid the Rest Have Done So Much Ill and So Little Good. Penguin Press,

69 Frederick Cooper e Randall Packard, em artigo publicado em coletânea de 2004, argumentam que o discurso de desenvolvimento do final dos anos 1940 serviu para a manutenção do vínculo das metrópoles com as ex-colônias: O esforço de desenvolvimento (...) forneceu um meio pelo qual os poderes imperiais puderam se reconciliar com a perda de poder, enquanto mantiveram uma conexão com suas ex-colônias e um senso contínuo de missão na formação de seus futuros. 70 Cowen e Shenton também denunciam a continuidade entre o imperialismo declarado do século XIX e as doutrinas do desenvolvimento que emergiram do pós-ii Guerra. Vão além, associando o desenvolvimento ao processo de ocidentalização que celebra a difusão da modernidade em prejuízo da tradição. Quando as doutrinas do desenvolvimento são amaldiçoadas no fim do século XX, é feita a acusação de que a idéia e a prática do desenvolvimento estão ligadas a um sistema de pensamento europeu ou 70 COOPER, Frederick e PACKARD, Randall. History and Politics of Development Knowledge. In. EDELMAN, Marc e HAUGERAUD, Angelique (eds.). The Anthropology of Development and Globalization: from classical political economy to contemporary neoliberalism. Blackwell Publishing,

70 ocidental cujo objetivo tem sido impor a modernidade sobre as pessoas que vivem de acordo com a tradição. 71 David Lumsdaine por sua vez, argumenta, em seu livro de 1993 (Moral Vision in International Politics: the foreign aid regime, ), que o imperativo moral é essencial para as políticas de ajuda internacional: (...) a ajuda internacional não pode ser explicada com base somente nos interesses políticos e econômicos dos Estados doadores; qualquer explicação satisfatória deve incluir centralmente a influência das convicções humanitárias e igualitárias dos doadores de ajuda. 72 Por hora, achamos suficiente apresentar essas diferentes concepções a respeito da motivação da ajuda internacional. Cabe notar, entretanto, que as motivações também variam de acordo com cada Estado doador. Por exemplo, 71 COWEN, M. P. e SHENTON, R. W. Doctrines of Development. Routledge, Londres e Nova York p.455. No original: When doctrines of development are now damned at the end of the twentieth century, the accusation is made both that the idea and practice of development is bound up with European or Western system of thought whose purpose has been to impose modernity upon people who live according to tradition. (tradução nossa) 72 LUMSDAINE, David. Moral Vision in International Politics: the foreign aid regime, p.29. No original: (...) foreign aid cannot be explained on the basis of the economic and political interests of the donor countries alone, and any satisfactory explanation must give a central place to the influence of humanitarian and egalitarian convictions upon aid donors. (tradução nossa) 70

71 os Estados escandinavos, com uma história sólida de políticas de bem-estar social, parecem considerar a ajuda como expansão dos princípios internos de proteção social. Por isso, quando observamos a quantidade de ajuda concedida em relação ao PIB do doador, Estados como a Suécia e a Noruega permanecem entre os maiores doadores alcançam, e muitas vezes superam a meta de 0,7%, ainda que não o sejam com relação ao volume total de recursos empregados na ajuda. 71

72 3. A Cooperação Técnica entre Países em Desenvolvimento (CTPD): complementar ou alternativa? 3.1 A emergência da Cooperação Técnica entre Países em Desenvolvimento CTPD: o Plano de Ação de Buenos Aires Vimos, no primeiro capítulo, que a reunião organizada pela ONU em Buenos Aires, em 1978, pode ser considerada como marco inicial da CTPD, ao menos no âmbito institucional multilateral. A organização da conferência foi atribuída ao grupo de trabalho formado a partir de uma resolução da Assembléia Geral da ONU de 1972, antecedente direto do que viria a ser a Unidade Especial do PNUD para a Cooperação Sul-Sul. Com efeito, a Unidade Especial do PNUD para a Cooperação Sul-Sul chamava-se, originalmente, Unidade Especial para a CTPD (TCDC, na sigla em inglês). Foi só no ano de 2003 que a Assembléia Geral da ONU decidiu ampliar o mandato da unidade para Cooperação Sul-Sul para as relações entre Estados do Sul global não restritas à cooperação técnica. De acordo com o PNUD, a cooperação Sul-Sul cobre amplas possibilidades de colaboração entre países do Sul nos domínios político, econômico, social e técnico 73. De fato, desde os anos 1960 a cooperação Sul-Sul vinha ganhando espaço desde 73 (What is South-South Cooperation?) It is a broad framework for collaboration among countries of the South in the political, economic, social, environmental and technical domains. (ultimo acesso em julho/2008) 72

73 meados da década de 1960, quando da formação do G-77 74, em 1964, quando da primeira UNCTAD (United Nations Conference on Trade and Development): Embora as discussões sobre a denominada cooperação Sul-Sul se tivessem iniciado desde 1964, por ocasião da I UNCTAD, até 1972 o enfoque recai nas relações de comércio e da integração regional. A partir de 14 de dezembro de 1972, na resolução 2974 (XXVII), a Assembléia Geral da ONU começou a dar ênfase aos aspectos de cooperação entre os Países em Vias de Desenvolvimento (PVDs), ao determinar a criação de um grupo de trabalho para estudar a melhor maneira para os PVDs juntarem seus esforços e suas experiências com vistas a aumentar e melhorar a assistência técnica ao desenvolvimento, e a examinar as possibilidades e as desvantagens relativas da cooperação técnica regional e internacional entre países em via de desenvolvimento 75 Assim, é possível afirmar que a CTPD está contida na cooperação Sul- Sul, e é uma de suas expressões. Logo, o encontro em Buenos Aires marca o início do diálogo multilateral sobre CTPD. Da conferência resultou o Plano de Ação de Buenos Aires (PABA), que é também considerado um marco 74 O G-77 também realiza reuniões regulares sobre Cooperação Sul-Sul, em coordenação com a unidade Especial do PNUD. Ver, por exemplo, as Conferências de Alto Nível de Teerã (2001) e Marraqueche (2003). 75 SOARES, Guido. A Cooperação Técnica Internacional. In. Cooperação Internacional: Estratégia e Gestão. Jacques Marcovitch (org.), EDUSP. São Paulo,

74 institucional da CTPD e contém elementos reveladores da compreensão internacional sobre o papel da CTPD. O PABA deixa claro, diversas vezes ao longo do texto, que, apesar da CTPD ser um instrumento valioso para o desenvolvimento dos países do Sul, esta afirmação não reduz, de forma alguma, a responsabilidade dos países desenvolvidos de empreenderem as medidas políticas necessárias, em especial, o aumento da assistência aos países em desenvolvimento 76. A insistência no caráter complementar da CTPD revela um cuidado importante que não escapou aos chefes de Estado presentes em Buenos Aires: a CTPD deve, sim, ser reconhecida como forma legítima de promover o desenvolvimento, tendo em vista a semelhança entre as condições históricas, econômicas e sociais dos doadores e recebedores. No entanto, os entusiastas da CTPD têm em conta as limitações da CTPD, e lembram a necessidade de continuar a receber cooperação técnica dos países do Norte econômico, especialmente na área de tecnologia. Por isso o PABA reforça o caráter complementar, e não substitutivo, da CTPD. De fato, o PABA elenca como um dos objetivos da CTPD a possibilidade de aumentar a capacidade dos países em desenvolvimento de adaptar e absorver apropriadamente recursos recebidos dos países desenvolvidos (...) this in no way reduces the responsibility of developed countries to undertake the necessary policy measures, in particular, the increase of development assistance. The Buenos Aires Plano of Action, Introdução. (ultimo acesso em julho/2008) 77 TCDC can serve the purpose of increasing the capacity of developing countries to adapt and absorb appropriate inputs from developed countries. IDEM 74

75 A incapacidade de absorver a ajuda é um dos argumentos mais freqüentes dos autores mais críticos: o economista Jagdish Bhagwati, por exemplo, publicou uma carta aberta ao roqueiro Bono Vox, na qual critica a atuação do último como entusiasta da ajuda internacional 78. Os argumentos de Bhagwati reproduzem uma concepção bastante recorrente, não só nos debates sobre ajuda internacional, mas também nas discussões sobre redes de apoio social na política doméstica. De forma um tanto geral, o debate sobre ajuda costuma levantar duas opiniões contrastantes: os favoráveis, que não raro utilizam argumentos morais e/ou religiosos, e aqueles que condenam a ajuda por considerá-la viciante, prejudicial à livre-iniciativa e à verdadeira autonomia. Entre os representantes dos primeiros está o economista indiano Amartya Sen e o eminente professor e economista Jeffrey Sachs. Entre os representantes dos críticos podemos contar, além de Bhagwati, William Easterly, economista americano já citado no capítulo anterior, e James Shikwati, economista queniano que também descrê dos benefícios da ajuda internacional. Bhagwati sugere, na carta a Bono, que os recursos destinados à ajuda para a África sejam gastos fora do continente, com a concessão de bolsas de estudo para estudantes africanos em universidades do Ocidente, por exemplo, que poderiam utilizar a ajuda internacional também para retornar ao seus países e capacitar outros estudantes. Bhagwati discorda, inclusive, da meta de dedicar 0,7% do PIB à ajuda internacional, por considerá-la irreal tendo em 78 A noble effort to end poverty, Bono, but it is misdirected. Financial Times, 28 de fevereiro Texto integral disponível em: 75

76 vista os objetivos mais imediatos que consomem o orçamento nacional dos países doadores. Os críticos temem, de forma geral, a corrupção ou a imperícia dos governantes que desviam ou desperdiçam os recursos recebidos, além da falta de pessoal local capacitado para levar a cabo as ações de cooperação e ajuda. Apesar do debate inflamado e das posições mais extremadas, tanto os críticos como os entusiastas da ajuda internacional concordam que, mais do que a quantidade de ajuda, a qualidade da ajuda prestada é que deve ser alvo de atenção. Essa preocupação levou o Comitê de Assistência ao Desenvolvimento da OCDE a estabelecer, em 2003, o Grupo de Trabalho sobre Efetividade da Ajuda (Working Group on Aid Effectiveness). O grupo de Trabalho foi estabelecido a partir das recomendações do chamado Consenso de Monterrey 79, que tratava do Financiamento para o Desenvolvimento. O marco principal do debate internacional sobre a efetividade da ajuda é a Declaração de Paris (Paris Declaration on Aid Effectiveness), resultante do Fórum de Alto Nível sobre Efetividade da Ajuda, realizado na capital francesa em De fato, a Declaração de Paris tornou-se referência para a avaliação dos arranjos de ajuda internacional, ao menos no que se refere à cooperação Norte x Sul. A Declaração de Paris destaca cinco compromissos necessários para aumentar a efetividade da ajuda, e estabelece indicadores e prazos para a 79 A Conferência Internacional sobre o Financiamento da Ajuda foi realizada em março de 2002, no México, e foi a primeira conferência organizada pelas Nações Unidas sobre o tema. Dela resultou o Consenso de Monterrey, que trazia recomendações para melhorar a efetividade e o financiamento da ajuda internacional. 76

77 sua implementação. Destacam-se, portanto, os seguintes aspectos, como fundamentais para garantir efetividade à ajuda internacional: apropriação (ownership); alinhamento (alignment); harmonização (harmonisation); gerenciamento por resultados (managing for results); mútua prestação de contas (mutual accountability). Está agendada para setembro de 2008 a III Conferência de Alto Nível sobre Efetividade da Ajuda, a ser realizada em Acra, capital do Gana, organizada pelo DAC/OCDE com apoio do Banco Mundial 80. O tema do encontro será a nova arquitetura da ajuda (new aid architecture), pois promete discutir, entre outros temas, o papel dos não-dac na implementação dos compromissos de Paris. Assim introduzimos o tema que pretendemos explorar na próxima parte: quais as diferenças entre doadores tradicionais, membros, em sua maioria, do DAC/OCDE, e os doadores não-dac? É possível elaborar novos arranjos de cooperação ou a CTPD irá necessariamente emular a cooperação recebida? A nova arquitetura do sistema internacional de ajuda é benéfica para os recebedores? Pretendemos avançar nessas questões na parte seguinte deste trabalho. 3.2 A CTPD e os doadores não-dac : definição pela exclusão Em artigo de 2006, o ex-diretor do Comitê de Assistência ao Desenvolvimento da OCDE (Development Assistance Committee DAC/OCDE), Richard Manning, questiona o uso do termo novos doadores. 80 Para mais informações, consulte o website oficial da Conferência ( 77

78 De fato, Manning inicia seu artigo disposto a questionar a suposta predominância dos países da OCDE entre os doadores internacionais de ajuda, e a argumentar que a predominância dos países do DAC/OCDE é excepcional, e a norma seria um grau maior de competição ou ao menos de coexistência entre doadores DAC e não-dac 81. Manning lembra que, durante os anos 1960, a União Soviética ultrapassou os Estados Unidos e o Banco Mundial como doadora de ajuda, em parte por causa do financiamento da represa de Assuã 82, no Egito. A China também investiu somas significativas em ajuda internacional para a África durante a Guerra Fria, especialmente na construção da ferrovia Tan-Zam (que liga a Tanzânia a Zâmbia). Além disso, a Índia e outros países asiáticos têm sido provedores de assistência técnica sob o Plano Colombo desde Manning argumenta ainda que, no mesmo ano em que se formou o DAC/OCDE, em 1961, o Kuwait estabeleceu o primeiro dos fundos de desenvolvimento do Oriente Médio, que foi responsável por boa parte da ajuda 81 MANNING, Richard. Will Emerging Donors Change the Face of International Cooperation? Development Policy Review, 24 (4) Overseas Development Institute. Oxford, A represa de Assuã deveria contar com financiamento dos EUA e do Reino Unido, mas a Crise do Suez, de 1956, aproximou o Egito de Nasser da União Soviética. (...) o acontecimento transcendente para o Terceiro Mundo será a nacionalização pelo Egito, dirigido pelo presidente Gamal Abdel Nasser, do canal de Suez em julho (...). As posições egípcias foram apoiadas pela União Soviética, tanto no plano militar quanto no plano econômico. VIGEVANI, Tullo. Terceiro Mundo: Conceito e História. Editora Ática. São Paulo, p MANNING, Richard. Will Emerging Donors Change the Face of International Cooperation? Development Policy Review, 24 (4) Overseas Development Institute. Oxford, p

79 internacional da década de 1970, coincidindo com os choques do petróleo. Manning lembra que em 1978, os países da OPEP eram responsáveis por 30% da ajuda mundial 84. Assim, o autor acha mais apropriada ainda que pedante a denominação doadores não-dac 85 (non-dac donors) do que novos doadores ou doadores emergentes. Entretanto, Manning assume que, desde o pós-guerra Fria, os países do DAC/OCDE foram responsáveis por aproximadamente 95% de toda a ajuda internacional. Do que falamos, então, quando tratamos dos doadores não-dac? Manning sugere dividi-los em quatro grupos distintos: 1) membros da OCDE que não fazem parte do DAC (como a Turquia, a Coréia, o México e alguns países europeus); 2) novos membros da União Européia que não pertencem à OCDE; 3) países e fundos do Oriente Médio e da OPEP (que parecem priorizar a concessão de ajuda aos países muçulmanos e para a África) e, finalmente, 4) doadores não-dac que não se encaixam nas categorias anteriores. É nesta última classificação duplamente negativa ( não-dac e excluído também das outras categorias) que está o Brasil, junto de, entre outros, China, Índia, Chile, África do Sul, Rússia, Malásia e Tailândia. Manning reconhece a importância da atividade brasileira de cooperação bilateral e multilateral, e junto à CPLP. No entanto, o maior destaque dentro desta categoria cabe à China e à 84 IBIDEM. p I shall therefore use the more accurate, if pedantic, phrase non-dac donors in this article. IBIDEM, p

80 Índia que também, como o Brasil, acumulam a experiência de recebedor e doador. O autor, no entanto, parece mais preocupado em questionar os benefícios que esses doadores não-dac poderiam representar para os países recebedores, como o aumento da oferta internacional de ajuda. Manning chama a atenção para a série de padrões que foram desenvolvidos no âmbito da OCDE para tornar a ajuda internacional mais efetiva, e que não obrigam os não-dac. Desde os compromissos entre os Estados membros do DAC/OCDE de realizarem avaliações inter pares (peer reviews) até a observação das diretrizes presentes na Declaração de Paris sobre a Efetividade da Ajuda, de O ex-diretor do DAC/OCDE teme que o esforço realizado pela sua organização em estabelecer parâmetros para a concessão da ajuda seja minado pela ajuda indiscriminada dos não-dac. Manning identifica, de forma geral, três riscos associados à atuação dos não-dac, a saber: em primeiro lugar, os doadores não-dac podem prejudicar o avanço dos PPAE (Países Pobres Altamente Endividados ou, na sigla em inglês, HIPC - Highly Indebted Poor Countries), que podem querer aproveitar a existência de fundos alternativos com critérios de empréstimo mais brandos para retornar ao círculo vicioso do endividamento; em segundo lugar, Manning teme que os não-dac possam conceder ajuda aos países que não observam as condições impostas pelo DAC, atrapalhando processos históricos de prestação de contas entre recebedor e doador e, finalmente, o autor expressa receio de que a ajuda dos não-dac seja desperdiçada em investimentos improdutivos e insustentáveis. 80

81 Catrina Schläger, em artigo de 2007, não só responde ao ceticismo de Manning afirmando a existência de novos doadores como também sugere que o Brasil pode vir a ser um modelo para outros doadores emergentes 86. A autora reconhece a importância da Índia e da China, mas decide dedicar seu artigo à experiência do Brasil como doador emergente, pois ela avalia que como doador de ajuda para o desenvolvimento o Brasil quase não tem recebido atenção dos debates contemporâneos em nível político ou acadêmico 87. Schläger argumenta que China e Índia representam uma competição mais ameaçadora ao predomínio dos doadores da OCDE, especialmente pelo volume da ajuda que estes países têm enviado ao continente africano, por isso têm sido objeto de mais atenção. Entretanto, Catrina parece apostar que o Brasil, apesar de ser um doador mais modesto em termos de volume de recursos aportados para a ajuda, merece uma análise mais cuidadosa. Ela cita outro estudo de autores alemães que sugere que o Brasil diferente de China e Índia não orienta as suas atividades de doador para objetivos políticos e econômicos de curto prazo 88. Além disso, a autora afirma que o Brasil não restringe sua atuação aos arranjos 86 SCHLÄGER, Catrina. New Powers for Global Change? Challenges for International Cooperation: the Case of Brasil. Dialogue on Globalization Friedrich Ebert Stiftung Briefing Papers #3. Berlim, IBIDEM. No original: (...) as a donor of development aid Brazil has received hardly any attention in the ongoing scholarly or development-policy debates. p.2 88 IBIDEM. No original: (...) Brazil unlike China and India gears its donor activities much less to its own short-term economic and political interests (Altenburg and Weikert 2006: 34) 81

82 bilaterais de CTPD, mas amplia sua atividade de doador com formas inovadoras de cooperação multilateral e trilateral 89. A autora faz uso, inclusive, de artigo publicado na International Affairs de 2006 por Monica Hirst e Maria Soares para reforçar seu argumento de que o Brasil possui posição relativamente privilegiada no sistema de CTPD, tendo em vista sua vocação de país intermediário entre os fortes e os fracos 90. Desta forma, teria ganhado a confiança e o reconhecimento do Sul Global, sem assumir uma postura hostil frente aos países do Norte. Catrina afirma também que o compromisso reiterado do Brasil com o multilateralismo contribui para conferir importância e credibilidade ao país como doador de CTPD. Concordamos, a princípio, com a avaliação que a autora faz sobre a relevância do Brasil como doador de CTPD. Especialmente quando ela trata do potencial que o país tem para servir como intermediário e catalisador do esforço de CTPD. O governo alemão, por exemplo, decidiu, recentemente, classificar o Brasil como país âncora (anchor country), o que significa que a cooperação com o Brasil pode ter efeitos multiplicadores, ao menos em âmbito regional IBIDEM. No original: Furthermore, Brazil is not only active as a classical bilateral donor, it is also engaged in innovative multilateral and trilateral forms of cooperation. p IBIDEM. No original: One of the reasons why this South American country has won the recognition and the trust of the global South is that it sees itself as an intermediary between the weak and the strong (Soares and Hill 2006: 27). p.3 91 IBIDEM. No original: For example, the German Federal Ministry for Economic Cooperation and Development (BMZ) classifies Brazil as an anchor country, meaning the German 82

83 Voltando ao artigo de Richard Manning, ele conclui de maneira mais contemporizadora, afirmando não ser intenção do DAC/OCDE ter exclusividade como doadores de cooperação para o desenvolvimento, ser um cartel de doadores. Ele insiste, porém, que os padrões de comportamento dos doadores estabelecido pelo DAC/OCDE devem ser mantidos, e, se possível, incorporados pelos não-dac. Schläger, por outro lado, sugere que é possível desenvolver modelos alternativos de cooperação, a partir da atuação de países que gozam de reconhecimento tanto do Sul global como do Norte. Aqui, defendemos a idéia de que o Brasil tem potencial para propor novos arranjos de cooperação e para estimular a discussão internacional sobre o tema. Assim, cremos ter levantado, ainda que de forma necessariamente simplificadora, os termos principais do debate sobre novos doadores ou doadores não-dac. Se o capítulo parece inconcluso, é porque o debate também continua em curso, e é nosso objetivo sistematizá-lo com vistas a melhor compreendê-lo. Veremos no próximo capítulo como se deu a transição realizada pelo Brasil, de país recebedor de ajuda externa para a sua dupla personalidade, de recebedor e doador de cooperação técnica internacional. government will seek to develop deepened cooperation with it on special issues with a view to making use of Brazil s regional importance as a catalyst. p.4 83

84 4. A dupla personalidade do Brasil no Sistema Internacional de Cooperação para o Desenvolvimento: recebedor e doador 4.1 O Brasil recebedor de Cooperação Técnica Internacional: da CNAT à ABC Conforme vimos no primeiro capítulo deste trabalho, as políticas de ajuda externa e a cooperação internacional para o desenvolvimento têm sido um dos elementos constitutivos do sistema internacional de pós-guerra, e também um traço histórico singular do mesmo 92. No Brasil, a Cooperação Técnica Internacional (...) acabou por ser incorporada à política exterior do país como uma de suas variáveis permanentes, passando a mobilizar grande número de entidades internas e externas ocupadas com a difusão ou a utilização de técnicas, ou seja, com a elevação da produtividade, o aumento da produção e a posse dos conhecimentos que se faziam necessários 93. Ainda de acordo com o exposto no primeiro capítulo, a Cooperação Técnica Internacional foi originalmente concebida como assistência técnica internacional, a partir da Resolução da Assembléia Geral da ONU de número 92 PINO, Bruno Ayllón. O Sistema Internacional de Cooperação ao Desenvolvimento e seu estudo nas Relações Internacionais: a evolução histórica e as dimensões teóricas. Revista Economia e Relações Internacionais da FAAP, São Paulo, v. 4, n. 8, CERVO, Amado Luiz. Socializando o desenvolvimento; uma história da cooperação técnica internacional do Brasil. Revista Brasileira de Política Internacional 37 (1): Brasília,

85 200, publicada em dezembro de Foi apenas onze anos mais tarde que a Assembléia Geral da ONU determinou a substituição da expressão assistência técnica por cooperação técnica (Resolução 1383 XIV B), em um movimento que identificamos aqui como horizontalização da concepção de cooperação técnica internacional. No Brasil, a institucionalização da Cooperação Técnica Internacional esteve associada à concepção original, de assistência técnica, como nos lembra Joaquim Racy: Ainda na perspectiva assistencial de cooperação, referida anteriormente, o Brasil começou a organizar suas ações de cooperação técnica criando um órgão para cooperação técnica recebida, dentro do Ministério das Relações Exteriores, denominado CNAT Comissão Nacional de Assistência Técnica. 94 A CNAT foi criada por meio do decreto nº , de 27 de outubro de 1950 (vide cópia anexa). De acordo com a interpretação paradigmática da história da política exterior do Brasil, entre os anos 1930 e 1989 predominou o paradigma do Estado desenvolvimentista 95 : 94 RACY, Joaquim Carlos. Política Externa Brasileira: Cooperação e Desenvolvimento na primeira metade da década de Tese de doutorado em História, PUC-SP, p CERVO, Amado Luiz. Política Exterior e Relações Internacionais do Brasil: enfoque paradigmático. Revista Brasileira de Política Internacional, volume 46 número 2, Pp Brasília,

86 O paradigma em construção apresenta, pois, um perfil caracterizado por três componentes: a) consciência da transição; b) desenvolvimento como vetor da política exterior; c) realismo de conduta. 96 O decreto foi assinado pelo presidente Eurico Dutra e por seu chanceler, Raul Fernandes. Apesar da mudança de paradigmas da política exterior do Brasil do modelo agroexportador para aquele do Estado desenvolvimentista ser normalmente identificada a partir dos anos 1930 (com a depressão internacional que possibilitou o desenvolvimento industrial de determinados países da periferia), a gestão de Eurico Gaspar Dutra é geralmente vista como um período peculiar dentro do novo paradigma. Com efeito, o alinhamento automático do presidente Dutra à política estadunidense no pós-ii Guerra não apresentava elementos de autonomia e de realismo de conduta característicos do novo paradigma. De fato, costuma-se associar o início do paradigma desenvolvimentista com o primeiro mandato de Getúlio Vargas, que aproveitou do contexto internacional para barganhar vantagens compatíveis com o interesse nacional. À época, o desenvolvimento estava associado à produção industrial, e Vargas conquistou ganhos significativos com a sua chamada diplomacia pendular 97, que oscilava entre 96 IBIDEM. p A diplomacia pendular do Brasil, entre Washington e Berlim, buscava, em essência, reativar a velha aliança privilegiada com os EUA, inovando-a com outras formas de cooperação 86

87 Estados Unidos e Alemanha, angariando vantagens comerciais e financiamento dos projetos nacionais de desenvolvimento industrial. Uma vez findo o conflito mundial, Eurico Gaspar Dutra conduz as relações internacionais do Brasil consoante a formação do novo regime bipolar, confirmando o alinhamento do país ao bloco ocidental, sob liderança dos Estados Unidos, sem ponderar acerca das vantagens de tal alinhamento para o interesse nacional. A formação da CNAT, achamos, reflete essas duas orientações da política externa da época: a opção pelo ocidentalismo no contexto da Guerra Fria e o desenvolvimento como vetor da política exterior. Identificamos, também, a opção pelo multilateralismo, ainda que restrito aos constrangimentos do regime bipolar. Entre as competências da CNAT, predominam aquelas relacionadas à assistência técnica solicitada pelo Brasil, embora apareçam também menções à cooperação técnica prestada pelo Brasil, especialmente sob a forma de bolsas de estudo: Art. 1.º A Comissão Nacional de Assistência Técnica, criada pelo decreto n.º de 27 de outubro de 1950, tem por fim: (...) acompanhar os trâmites dos projetos de assistência técnica solicitada pelo Brasil aos organismos internacionais competente; (...) providenciar para que os portadores de bolsas de estudo oferecidas pelo Governo econômica. VIZENTINI, Paulo Fagundes. O Nacionalismo Desenvolvimentista e a Política Externa Independente. Revista Brasileira de Política Internacional, 37, Brasília,

88 brasileiro, como contribuição nacional aos programas de assistência técnica, sejam recebidos e encaminhados. 98 A CNAT era composta por representantes governamentais da Secretaria de Planejamento, do Ministério das Relações Exteriores e de Ministérios setoriais e previa, em seu regulamento, a possibilidade de fazer parte dos programas de assistência técnica organizados pelas Nações Unidas e pela Organização dos Estados Americanos 99. Achamos que essa previsão reflete as limitações do sistema de cooperação internacional para o desenvolvimento, além de reiterar o alinhamento ao pólo ocidental liderado pela superpotência americana. Sob a perspectiva de um novo paradigma da política exterior do Brasil, pautado pelo esforço de autonomia e de aproveitamento das oportunidades internacionais em benefício dos objetivos de desenvolvimento nacional, a gestão do presidente Juscelino Kubitscheck é geralmente tida como representativa desta nova orientação da política exterior do Brasil. Com efeito, a Operação Pan Americana, a OPA, pode ser vista como um ensejo de pragmatismo que anuncia, em certa medida, elementos da Política Externa Independente do início dos anos Decreto N , de 9 De Dezembro de 1953, anexo. Aprova o Regulamento da Comissão Nacional de Assistência Técnica. 99 IBIDEM 88

89 A OPA foi uma iniciativa da diplomacia presidencial de Juscelino Kubitschek, por meio de troca de cartas com o presidente Eisenhower, que pleiteava maior atenção dos EUA às necessidades dos países sul-americanos no pós-ii Guerra: a nova orientação da política externa brasileira, o nacionaldesenvolvimento, considerava a ação externa fundamental para alcançar objetivos internos de desenvolvimento. Logo, o projeto desenvolvimentista de JK previa ampla colaboração do capital estrangeiro. Juscelino identificou a necessidade de receber capital e tecnologia por meio da cooperação internacional, tendo em vista o projeto de industrialização que animava o país nas últimas décadas. A deterioração dos termos de troca prejudicava o comércio externo brasileiro, e evidenciava a necessidade de ampliação do mercado brasileiro para a exportação. Diante do esfriamento das relações entre o Brasil e os EUA, já que os últimos pareciam mais preocupados com a reconstrução da Europa e da Ásia destruídas pela Guerra, a OPA apresentava-se como um mecanismo multilateral regional de combate ao subdesenvolvimento. Em seus apelos, JK se referia ao desenvolvimento da América Latina como um todo. Este novo apelo ao pan-americanismo tratava o subdesenvolvimento como uma questão de segurança, alertando os EUA para o risco de economias fragilizadas do continente se aproximarem dos países comunistas que oferecessem boas oportunidades comerciais. Desta forma, a política externa de JK buscava incorporar os elementos ideológicos e de segurança anunciados, como vimos, no Ponto IV de Truman para pleitear ajuda no regime bipolar. Com forte senso de ocasião, a diplomacia presidencial de JK aproveitou a onda 89

90 de antiamericanismo na América Latina, tornada evidente durante a desastrosa visita de Nixon à região, em O resultado da OPA foi, de acordo com alguns autores, pouco significativo em termos pragmáticos, mas relevante como sinal de amadurecimento da política externa brasileira, mais atenta às oportunidades do sistema internacional compatíveis com objetivos nacionais de desenvolvimento. Costuma-se creditar à OPA, ao menos em parte, o mérito pela instituição da Aliança para o Progresso e mesmo pela formação do banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Sem dúvida, a ocasião internacional parecia propícia para barganhar alinhamento no regime bipolar: a revolução cubana tomava o poder na ilha em 1959 e representava a ameaça soviética em pleno continente americano; a descolonização afro-asiática possibilitou a emergência do Terceiro Mundo como ator internacional, questionando o conflito Leste x Oeste. Como a corrida militar entre as superpotências estava, de modo geral, suspensa pelo risco de mútua destruição, a questão do desenvolvimento se impunha com força na agenda internacional. Amado Luiz Cervo e Clodoaldo Bueno elencam, rapidamente, os resultados geralmente associados à OPA: Como resposta à OPA, todavia, costuma-se apontar o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) como único resultado concreto. Mas a Associação Latino-Americana de Livre Comércio (ALALC) e a 90

91 Aliança para o Progresso do presidente Kennedy foram relacionadas à proposta brasileira 100. Para os objetivos deste trabalho, cabe lembrar que a Aliança para o Progresso fazia parte da estratégia dos EUA sob a presidência de Kennedy, que colocou o desenvolvimento como tema relevante da sua política externa. A assinatura do Decreto de Assistência Externa (Foreign Assistance Act), que formou a Agência Americana para o Desenvolvimento Internacional USAID, e a Aliança para o Progresso faziam parte do mesmo movimento que levou o presidente Kennedy a inaugurar, em 1961, a Primeira Década do Desenvolvimento. A Aliança, na sua concepção original, cuja gênese tentamos fazer aqui neste texto, não foi concebida para ser mais um programa convencional de ajuda estrangeira, utilizando os meios tradicionais desta ajuda - dinheiro, homens e materiais. Em que pesem as continuidades em relação às políticas do segundo mandato de Eisenhower (que serão mostradas mais a frente), em que pesem as experiências fundantes do New Deal, do Plano Marshall e do Point Four, o que se propôs realizar, originalmente, não tinha precedentes ou paralelos na história, na experiência política dos programas de desenvolvimento. Em essência, o governo dos EUA propunha-se a reformar as estruturas sociais, políticas 100 CERVO, Amado Luiz e BUENO, Clodoaldo. História da Política Exterior do Brasil. p

92 e econômicas latino-americanas. Um programa ambicioso e certamente carregado de idealismo, por levar muito pouco em conta a dificuldade desta tarefa. 101 A Aliança terminou junto com as mudanças no contexto internacional do final dos anos A Guerra do Vietnã drenava os recursos americanos e a ameaça da alternativa revolucionária cubana estava sufocada pelas ditaduras que se espalharam pela América Latina: o programa saiu de cena no começo do governo Nixon. No fim dos anos 1960, o medo do comunismo havia, de certa forma, esmorecido, o que produziu um clima de complacência e resignação. O não-alinhamento se tronou mais aceitável, e observadores notaram o início de uma distensão na Guerra Fria. (...) A assistência externa caiu para seu ponto mais baixo menos de meio por cento do produto interno bruto. A assistência técnica substituiu os projetos de desenvolvimento de capital, e em certo ponto, em 1971, o Senado recusou a aprovação de qualquer projeto de lei relacionado à ajuda. A Aliança para o Progresso foi abandonada, e a administração de Nixon recomendava que mais ajuda 101 RIBEIRO, Ricardo Alaggio. A Aliança para o Progresso e as Relações Brasil Estados Unidos. Tese de doutorado, Departamento de Ciência Política do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas. Dezembro,

93 fosse canalizada pelas agências de empréstimo internacional, incluindo o Banco Mundial. 102 No Brasil, quase duas décadas depois de sua formação, A CNAT é substituída pela Subsecretaria de Cooperação Econômica e Técnica Internacional (SUBIN), criada a partir do Decreto , de Estava instalada, desde o golpe de 1964, a ditadura militar no país. De fato, o decreto é assinado pela junta militar que assumiu após o afastamento do presidente Costa e Silva 103. A política externa durante o período da ditadura foi um bocado inconstante: alternava períodos de alinhamento incondicional aos EUA e ao bloco ocidental com momentos de autonomia e de foco no interesse nacional. A política externa praticada durante o período Costa e Silva, sob a chancelaria de José Magalhães Pinto, ficou conhecida como diplomacia da 102 THOMPSON, Kenneth W. Morality and Foreign Policy. Baton Rouge Louisiana State University Press, p No original: By the late 1960s, the fear of communism had somewhat abated, producing a mood of complacency and resignation. Nonalignment became more acceptable, and observers noted the beginning of a thaw in the Cold War. ( ) Foreign assistance dropped to its lowest point less than one half of 1 percent of the gross national product. Technical assistance replaced capital development projects, and at one stage in 1971, the Senate refused to pass any aid bill. The Alliance for Progress was abandoned, and the Nixon administration urged that more assistance be channeled through international lending agencies, including the World Bank. (Tradução nossa) 103 Vide anexo. 93

94 prosperidade, e conferia à política exterior a responsabilidade de colaborar com os objetivos de desenvolvimento nacional. A finalidade é colocar a ação diplomática a serviço do desenvolvimento, mediante o máximo aproveitamento das oportunidades que o setor externo possa oferecer à aceleração do progresso e à modernização do país. 104 De acordo com o artigo primeiro do decreto de 1969, as atribuições de formulação, coordenação, negociação e execução da cooperação técnica internacional estariam divididas entre o Ministério do Planejamento e Coordenação Geral e o Ministério das Relações Exteriores. O segundo artigo expõe esta divisão quando exige, para o encaminhamento das solicitações de cooperação técnica, a dupla aprovação dos Ministérios. Um decreto de 21 de outubro de 1969 organizou o Sistema Nacional de Cooperação Técnica. No Ministério das Relações Exteriores localizava-se o Departamento de Cooperação Científica, Técnica e Tecnológica DCT, órgão político do sistema. Na Secretaria de Planejamento da Presidência da República localizava-se a Secretaria de 104 BUENO, Clodoaldo e CERVO, Amado Luiz. História da Política Exterior do Brasil. Editora UnB, 2º edição. Brasília p

95 Cooperação Econômica e Técnica Internacional SUBIN, órgão de apoio logístico do sistema. 105 Cervo lembra ainda que, além do Ministério das Relações Exteriores e da Secretaria de Planejamento da Presidência da República, dois outros órgãos também eram fundamentais para o sistema nacional de cooperação técnica: a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNPq. Assim, a atividade de cooperação técnica internacional no Brasil estava pulverizada entre diferentes instituições governamentais, nenhuma delas dedicada exclusivamente ao assunto. Somente em setembro de 1987 criou-se no Ministério das Relações Exteriores a Agência Brasileira de Cooperação a ABC, extinguindo-se a SUBIN e a Divisão de Cooperação Técnica, que era parte do DCT. O sistema brasileiro de CTI somente pôde contar com um órgão central de formulação política, gerência e controle no momento em que o desempenho daquele sistema já havia entrado em decadência CERVO, Amado Luiz. Socializando o Desenvolvimento; uma história da cooperação técnica internacional do Brasil. Revista Brasileira de Política Internacional 37 (1): p.38. Brasília, Pp IBIDEM, p.45 95

96 A Agência foi criada pelo decreto (vide cópia anexa) no âmbito da Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG), vinculada ao Ministério das Relações Exteriores. O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) apoiou a formação da Agência por meio de atividades de formação do corpo técnico e de capacitação para o gerenciamento da cooperação técnica de acordo com as diretrizes internacionais da época. Entre os princípios que orientaram a capacitação da ABC pelo PNUD estava a chamada modalidade de execução nacional, ou seja, tratava-se da necessidade de formar recursos humanos e institucionais capazes de conduzir a cooperação técnica em âmbito nacional, em vez de deixar execução e a administração dos projetos sob a responsabilidade do organismo ou Estado doador. De forma geral, a atividade da ABC se divide entre a cooperação técnica recebida e a cooperação técnica prestada. Esta divisão se reflete na estrutura da agência, de acordo com o gráfico abaixo 107 : 107 Cabe destacar que, em dezembro de 2006, foi aprovada a setorialização da ABC, que passa a ter coordenações-gerais de cooperação em, respectivamente: agropecuária, energia, biocombustíveis e meio ambiente; tecnologia da informação, governança eletrônica, defesa civil, urbanismo e transportes; e saúde, desenvolvimento social, formação profissional e educação. Tal mudança se deu com o objetivo de implementar o entendimento de que a especialização de funcionários da ABC em temas específicos habilitar-lhes-á a tratar dos mesmos com maior conhecimento de causa, transformando-os em interlocutores credenciados a interagir com os Ministérios e outros órgãos brasileiros prestadores de cooperação de maneira mais eficiente, com vistas a maximizar a cooperação sul-sul brasileira. Relatório de Gestão para Tomada de Contas Anual da Agência Brasileira de Cooperação, Coordenação- Geral de Cooperação Técnica entre Países em Desenvolvimento, ano

97 Direção CGRB CGRM CGPD CGMA CGTI CGDS CGAP Fonte: Fazem parte da modalidade de cooperação recebida a CGRB (Coordenação Geral de Cooperação Técnica Recebida Bilateral) e a CGRM (Coordenação Geral de Cooperação Técnica Recebida Multilateral). Enquanto que na cooperação multilateral as diretrizes para a ação são definidas pelos órgãos diretivos das organizações e organismos que compõem o sistema multilateral, como resultado das negociações entre os Estados signatários sobre os problemas de maior dimensão e que mais imediatamente afligem o sistema internacional, na cooperação bilateral, tais diretrizes são estipuladas em negociações diretas entre os Estados envolvidos RACY, Joaquim Carlos. Política Externa Brasileira: Cooperação e Desenvolvimento na primeira metade da década de Tese de doutorado em História, PUC-SP, p.89 97

98 A Coordenação Geral de Cooperação Técnica entre Países em Desenvolvimento (CGPD) concentra as atividades de cooperação horizontal da ABC/MRE. As coordenações temáticas (Coordenação-Geral de Cooperação em Agropecuária, Energia, Biocombustíveis e Meio-Ambiente CGMA, a Coordenação-Geral de Cooperação Prestada nas Áreas de Tecnologia da Informação, Governança Eletrônica, Defesa Civil, Urbanismo e Transporte CGTI e a Coordenação-Geral de Cooperação em Saúde, Desenvolvimento Social, Educação e Formação Profissional CGDS) servem tanto para orientar a cooperação recebida como a cooperação prestada pelo Brasil. Finalmente, a Coordenação-Geral de Acompanhamento de Projetos e Planejamento Administrativo (CGAP), tem a função de cuidar dos aspectos administrativos e zelar pela execução orçamentária dos projetos de forma geral, além de realizar o planejamento administrativo da Agência. Em 1996, a Agência foi integrada à Secretaria de Estado das Relações Exteriores, por meio do Decreto 2070/96, tornando-se órgão da administração direta, de acordo com os preceitos do direito administrativo brasileiro. De acordo com Cervo, o Brasil, quando comparado a outros países recebedores de cooperação técnica, não está entre os maiores recebedores de ajuda externa, tanto bilateral como multilateral: Comparando-se o Brasil com outros países, observa-se que não foi expressiva em termos quantitativos a cooperação técnica bilateral ou multilateral recebida por esse país do exterior. Com efeito, até 1983, dos 98

99 4.353 projetos que o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD financiou em todo o mundo, envolvendo recursos estimados de 2,9 bilhões de dólares, o Brasil beneficiou-se com apenas 0,7%, correspondentes a 20,5 milhões de dólares. Proporções semelhantes verificavam-se no que dizia respeito à cooperação bilateral. 109 Assim, apesar de não estar entre os maiores recebedores em termos de volume de ajuda, o Brasil soube aproveitar com eficiência a ajuda do exterior, o que terminou por capacitar a Agência Brasileira de Cooperação para atividades de prestação de cooperação técnica. Veremos, a seguir, as peculiaridades da cooperação técnica internacional prestada pelo Brasil aos demais países em desenvolvimento. 4.2 Perfil misto a partir dos anos 1970: o Brasil recebedor e doador O Brasil figura na lista do DAC/OCDE de recebedores de ajuda como país de renda média-baixa (lower-middle income), ou seja, o país é ainda elegível para receber ajuda. Porém, as desigualdades que marcam o Estado brasileiro desde a sua mais remota origem fizeram com que o Brasil tivesse índices bastante variados de desenvolvimento. Nesse sentido, o país avançou 109 CERVO, Amado Luiz. Socializando o Desenvolvimento; uma história da cooperação técnica internacional do Brasil. Revista Brasileira de Política Internacional 37 (1): p.38. Brasília, p

100 muito em alguns domínios do desenvolvimento social a ponto de poder contribuir com outros países que enfrentam problemas semelhantes. Amado Cervo, em seu levantamento acerca da atividade de cooperação técnica da ABC/MRE realizada em meados dos anos 1990, identifica uma procura significativa pela CTPD brasileira, que ele atribui ao bom conceito de que o Brasil gozava no sistema internacional de cooperação técnica 110. A experiência brasileira dos anos setenta tornara-se conhecida e era bem conceituada tanto nas agências do Norte, prestadoras de CTI, quanto nas agências recipiendárias do Sul. (...) Pode-se argumentar que a Conferência de Buenos Aires de 1978, ao determinar ao PNUD que organizasse e apoiasse a CTPD, teria despertado o interesse do Terceiro Mundo pela CTI brasileira. O argumento é correto, porém sem credibilidade e sem confiança não teria havido tamanha demanda por cooperação técnica do Brasil. 111 A maior parte das solicitações de CTPD recebidas pela ABC, de acordo com o levantamento realizado por Cervo, vinha dos países da América do Sul e Caribe. Ainda segundo o autor, os objetivos políticos da CTI prestada pelo Brasil eram o fortalecimento da amizade com o Terceiro Mundo e a criação de condições propícias para a penetração de interesses econômicos, como a 110 IBIDEM, p IBIDEM, p

101 exportação de manufaturados e de serviços de engenharia. 112 O autor compara a demanda por projetos de cooperação prestada pelo Brasil nos anos sessenta (2 projetos) e nos anos setenta (26 projetos): A quase totalidade da demanda foi, portanto, encaminhada na década de oitenta, quando declinava sensivelmente o número de projetos novos relativos à CTI recebida pelo Brasil. Estaria o país transformandose de recipiendário em prestador de CTI? 113 De fato, apesar do aumento pela procura da CTPD brasileira, o país ainda não pode ser considerado doador líquido de ajuda internacional. De acordo com o mapa anexo, que mostra a ajuda per capita, o Brasil encontra-se entre os países que recebem menos de US$5 ao ano, ou seja, está em uma posição intermediária entre doadores e recebedores de ajuda (dados do Banco Mundial, de 2002). Os dados per capita escondem as desigualdades regionais e setoriais que afetam o Brasil, mas são, de todo modo, reveladores da posição do Brasil no sistema internacional de cooperação para o desenvolvimento. Os relatórios de prestação de contas da Coordenação-Geral de CTPD da ABC/MRE, ao menos desde 2002, afirmam a missão e a estratégia da CTPD brasileira da maneira como segue: 112 IBIDEM, p IBIDEM, p

102 A estratégia maior da cooperação prestada pelo Brasil, que não é assistencialista, não visa a fins lucrativos nem possui pretensões comerciais, está centrada no fortalecimento institucional de nossos parceiros, condição fundamental para que a transferência e a absorção de conhecimentos sejam efetivas. 114 A CTPD empreendida pelo Brasil parece querer escapar das armadilhas da cooperação Norte x Sul, e faz um esforço em transformar o discurso da ajuda em um discurso de cooperação e parceria. Sem deixar de reconhecer a importância da cooperação recebida, o discurso brasileiro sobre CTPD parece incorporar a experiência de país recebedor para avançar em seu papel de prestador, como se o país houvesse captado a CTI do Norte, processado sua assimilação e adaptação, e se dispusesse a repassá-la ao Sul 115. Mais do que simplesmente repassar a experiência da cooperação recebida do Norte, a CTPD brasileira pretende questionar, em certa medida, o arranjo tradicional da ajuda Norte x Sul. Como todos sabemos, o sistema tradicional de cooperação internacional que pautou as relações Norte-Sul na última metade do século XX esgotou a maior parte de seus paradigmas e, devido à sua 114 Relatório de Gestão para a Tomada de Contas Anual da Agência Brasileira de Cooperação, Coordenação-Geral de Cooperação Técnica entre Países em Desenvolvimento ( ) 115 CERVO, Amado Luiz. Socializando o Desenvolvimento; uma história da cooperação técnica internacional do Brasil. Revista Brasileira de Política Internacional 37 (1): p.38. Brasília,

103 rigidez filosófica, ideológica e mesmo operacional, não soube se atualizar de maneira a atender às novas realidades nacionais, regionais e globais. A decadência do modelo anterior, que se reflete de forma dramática na diminuição dos recursos alocados pelos doadores tradicionais, se, por um lado, não coincidiu com o surgimento de outro modelo, por outro provoca um debate estimulante sobre o futuro da cooperação internacional. 116 Com efeito, uma das inovações da CTPD empreendida pelo Brasil é o seu baixo custo. Assim, se o país não figura entre os doadores líquidos de ajuda em volume de recursos despendidos, o número absoluto de projetos levados adiante pela ABC/MRE com outros países em desenvolvimento é bem mais significativo. De acordo com publicação da ABC de 2005, Apenas no período de 1998 a 2003, o Brasil empregou cerca de 15 milhões de dólares na cooperação horizontal, distribuídos em mais de 120 ações e projetos com países da América Latina, Caribe, África e Ásia. De 2004 a 2006, a evolução da atividade de CTPD é visível a partir do gráfico abaixo: 116 NOGUEIRA, Ruy Nunes Pinto. A Cooperação Técnica Sul-Sul implementada pelo Brasil. Discurso proferido pelo embaixador Nogueira por ocasião da sessão de abertura da Conferência de Alto Nível do G-77 sobre Cooperação Sul-Sul. Marraqueche, Marrocos, dezembro de

104 Missões de Acompanhamento e Avaliação Reuniões intergovernamentais Número de projetos acompanhados Número de Atividades acompanhadas Acordo Básico de Cooperação Técnica Fonte: Relatório de Gestão para a Tomada de Contas Anual da Agência Brasileira de Cooperação, Coordenação-Geral de Cooperação Técnica entre Países em Desenvolvimento, 2004 a O fluxo financeiro da CTPD empreendida pela ABC/MRE também revela a intensificação das atividades de cooperação horizontal: 104

105 Fluxo financeiro dos projetos de CTPD (despesas em US$) Fonte: Relatório de Gestão para a Tomada de Contas Anual da Agência Brasileira de Cooperação, Coordenação-Geral de Cooperação Técnica entre Países em Desenvolvimento, 2004 a O embaixador Nogueira chama a atenção para o fato de que a CTPD brasileira tem baixo custo, pois se concentra nas áreas de capacitação, por meio do envio de técnicos e consultores, promoção de cursos para elaboração, análise e formatação de projetos de cooperação técnica e pequenas doações de equipamentos exclusivamente no âmbito de projetos. 117 Nesse sentido, o embaixador Lauro Moreira, ex-diretor da Agência Brasileira de Cooperação, trata do papel da CTPD brasileira em discurso proferido em conferência realizada em Lisboa, em 2006: 117 IBIDEM. 105

106 Não obstante não ser ainda o Brasil um doador líquido de recursos no âmbito da cooperação técnica internacional, possuímos um importante acervo de conhecimentos técnicos e soluções que podem ser aplicados de imediato em países com problemas assemelhados aos nossos, principalmente nos setores de agricultura, energia, meio ambiente, metrologia, saúde, ensino profissionalizante, informatização, desenvolvimento industrial e administração pública, entre outros. 118 Ainda de acordo com os Relatórios de Gestão para a Tomada de Contas Anual da Agência Brasileira de Cooperação da Coordenação-Geral de Cooperação Técnica entre Países em Desenvolvimento, a partir de 2004 a CTPD brasileira tem-se pautado pelas seguintes diretrizes: priorizar programas de cooperação técnica que favoreçam a intensificação das relações do Brasil com seus parceiros em desenvolvimento, principalmente com os países de interesse prioritário para a política exterior brasileira; apoiar projetos vinculados, sobretudo a programas e prioridades nacionais de desenvolvimento dos países recipiendários; 118 MOREIRA, Lauro. A Política Externa e de Cooperação Brasileira para África. Discurso proferido por ocasião da reunião sobre Diplomacia, Cooperação e Negócios: o papel dos atores externos em Angola e Moçambique. Lisboa,

107 canalizar os esforços de CGPD para projetos de maior repercussão e âmbito de influência, com efeito multiplicador mais intenso; privilegiar projetos com maior alcance de resultados; apoiar, sempre que possível, projetos com contrapartida nacional e/ou com participação efetiva de instituições parceiras; estabelecer parcerias preferencialmente com instituições genuinamente nacionais. O relatório estabelece como prioridades da CTPD brasileira as seguintes: a) compromissos assumidos em viagens do Presidente da República e do Chanceler; b) países da América do Sul; c) Haiti; d) países da África, em especial os Palops, e Timor-Leste; e) demais países da América Latina e Caribe; f) apoio à CPLP; e g) incremento das iniciativas de cooperação triangular com países desenvolvidos (através de suas respectivas agências) e organismos internacionais. 107

108 Este último item faz referência a uma outra inovação que costuma ser associada à CTPD brasileira: os arranjos de triangulação estabelecidos com países desenvolvidos ou com organizações internacionais. Mais adiante exemplificaremos esta modalidade de CTPD com o programa de parceria estabelecido com o Japão (Japan-Brazil Partnership Programme). 108

109 5. A atividade de CTPD da Agência Brasileira de Cooperação da autonomia por diversificação ( ): exemplos ilustrativos A Política Externa do primeiro governo Lula já é objeto de um número considerável de estudos e artigos que procuram, de maneira geral, identificar os elementos de continuidade e de ruptura com relação à gestão anterior os dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso e também com relação às linhas teóricas que orientaram a política externa brasileira ao longo de sua história. Nosso objetivo nesta parte do trabalho é compreender como a política externa do primeiro governo Lula orientou a atividade da Agência Brasileira de Cooperação como doadora de CTI aos países em desenvolvimento. No capítulo anterior, ensaiamos uma apresentação da história da cooperação técnica internacional (CTI) no Brasil com vistas a localizar com mais precisão os elementos que ensejaram a mudança de perfil recebedor para um perfil misto, de doador e recebedor de CTI. Avançaremos, agora, com a análise da atividade de CTPD nos primeiros anos sob o governo Lula da Silva. Em primeiro lugar, pretendemos identificar as características mais visíveis da política externa de Lula, tanto de acordo com seus formuladores quanto a partir da análise de autores dedicados ao tema. Em seguida, com base nos dados dos relatórios de atividade da Coordenação-Geral de Cooperação Técnica entre Países em Desenvolvimento (CTPD), da Agência Brasileira de Cooperação, pretendemos demonstrar como essas características se realizaram na atividade da ABC como doadora de Cooperação Técnica Internacional aos países em desenvolvimento. 109

110 Argumentaremos, de forma mais geral, em favor da hipótese segundo a qual a política externa brasileira do primeiro governo Lula da Silva estaria afastando-se da identidade de grande mercado emergente para se aproximar de uma identidade internacional mais compatível com a idéia de systemaffecting state, segundo a concepção de Keohane 119. Esta última categoria inclui países que dispondo de recursos e capacidades relativamente limitadas, comparativamente às potências, mas com perfil internacional assertivo, valorizam as arenas multilaterais e a ação coletiva entre países similares de forma a exercer alguma meta de poder e influenciar nos resultados internacionais. 120 Como lembra Maria Regina Soares de Lima, a qualidade de systemaffecting state foi atribuída ao Brasil (bem como à Índia e ao México) nos anos 1960 e 1970, mas a implementação do Consenso de Washington nos anos 1990 alterou a identidade desses países para aquela de grande mercado emergente, alinhado ao receituário neoliberal advogado pela potência norteamericana. Nesse sentido, reiteramos o argumento defendido pela autora em artigo publicado na Revista Brasileira de Política Internacional em 2005, no qual defende que o Brasil estaria, contemporaneamente, procurando conciliar as duas identidades (mercado emergente e system-affecting state). 119 KEOHANE, Robert. Lilliputian s dilemmas: small states in International Politics. International Organization, vol.23,no 2, LIMA, Maria Regina Soares de. A Política Externa Brasileira e os Desafios da Cooperação Sul-Sul. Revista Brasileira de Política Internacional no 48 (1),

111 Outro autor consultado, Marcelo Fernandes Oliveira 121, também parece concordar com a tese segundo a qual a alternativa de inserção internacional baseada na identidade de grande mercado emergente, que se esforça para adaptar-se às exigências do Consenso de Washington (privatizações, reformas fiscais e desregulamentação da economia) tem, na conjuntura internacional contemporânea, pouco apelo, principalmente após a crise Argentina de O país platino, depois de acatar obedientemente as prescrições do Consenso de Washington sob o governo Menem, viu sua economia entrar em colapso, com graves turbulências políticas e sociais. O discurso hegemônico liberal de integração aos mercados globais vem perdendo a sua eficácia na medida em que seus resultados econômicos demonstraram-se insuficientes para a solução dos problemas sociais dos países em desenvolvimento. (...) Esse ambiente inviabilizou a continuidade da estratégia de inserção internacional baseada na premissa de autonomia pela integração do governo Fernando Henrique Cardoso. 122 A partir do argumento explorado pelos autores citados, é nosso objetivo argumentar em favor da hipótese segundo a qual a atividade de CTPD do 121 OLIVEIRA, Marcelo Fernandes. Estratégias internacionais e diálogo Sul-Sul no governo Lula: alianças duradouras ou coalizões efêmeras? In. Índia, Brasil e África do Sul, perspectivas e alianças. VILLARES, Fabio (org.) 122 IBIDEM. p

112 primeiro governo Lula da Silva procura afirmar a identidade internacional de system-affecting state, recuperando alguns aspectos já visíveis na Política Externa Independente do início dos anos 1960 e no Pragmatismo Responsável e Ecumênico de Geisel, já na década de Mais do que isso, argumentamos também pela presença significativa do pragmatismo na Política Externa Brasileira, ainda que sob diversas orientações e contextos, como elemento de continuidade cuja origem remonta ao modelo da agroexportação 123. Ainda, buscaremos demonstrar que a estratégia brasileira de CTPD representa avanço significativo no sentido de formação de uma política externa assertiva, multilateral, mas não necessariamente terceiro-mundista, ou seja, que inclui os países do Norte no esforço de desenvolvimento dos países de 123 Em História da Política Exterior do Brasil, Amado Cervo e Clodoaldo Bueno sistematizam, de maneira didática e ao mesmo tempo substancial, as grandes linhas de continuidade da Política Exterior do Brasil e seus momentos de ruptura. A negociação da Independência do Brasil foi, segundo os autores, o modelo mais ruinoso ao interesse nacional já experimentado, pois desconsiderou os interesses nacionais, enquadrando o Estado brasileiro no sistema internacional, desde o seu nascimento, sob condição dependente. A partir da nossa leitura desta obra fundamental, acreditamos ser possível estabelecer uma linha contínua de pragmatismo na política externa brasileira, que teria início efetivamente em meados do século XIX com a Tarifa Alves Branco. A partir de então, a política externa brasileira adquiriu uma função mais pragmática de serviço aos interesses nacionais que, à época, estavam diretamente atrelados à agroexportação. O período republicano, de alinhamento aos EUA sob a orientação do Barão do Rio Branco, também contou com importantes elementos de pragmatismo, que, de forma mais ou menos ininterrupta, caracterizou a política externa brasileira até a contemporaneidade. 112

113 menor desenvolvimento relativo (vide, por exemplo, os arranjos de triangulação com países desenvolvidos ou Organizações Internacionais). Antes de desenvolvermos as hipóteses descritas acima, iremos refletir brevemente sobre a política externa do primeiro governo Lula da Silva e seu relacionamento com o Sul de forma geral, nos parágrafos seguintes. 5.1 Política Externa do Primeiro Governo Lula e o relacionamento com o Sul: linhas gerais; O discurso inaugural do presidente Luís Inácio Lula da Silva, de janeiro de 2003, enfatizou significativamente os elementos de mudança que, afirma, motivaram sua eleição: (...) Foi para isso que o povo brasileiro me elegeu Presidente da República: para mudar. (...) Nossa política externa refletirá também os anseios de mudança que se expressaram nas ruas. 124 Como avaliar, entretanto, o alcance dessa anunciada mudança na política externa brasileira? Em artigo apresentado em 2007 na reunião anual da International Studies Association, por exemplo, Tullo Vigevani e Gabriel Cepaluni argumentam que, ainda que não tenha havido ruptura dos paradigmas históricos de política externa brasileira, o governo Lula empreendeu significativa mudança de ênfase em determinados aspectos de 124 Discurso na sessão de posse no Congresso Nacional, 01 de janeiro de

114 sua política externa. Os autores fazem uso do modelo de Charles Hermann 125 para analisar as mudanças na política externa brasileira sob o governo Lula. Segundo Hermann, mudanças na política externa de um Estado podem ser motivadas pelo líder do governo (leader-driven); por pressão de segmentos da burocracia nacional relacionada à política externa (bureaucratic advocacy); por re-estruturações domésticas ou por choques externos. Vigevani e Cepaluni identificam os agentes de mudança e avaliam que não houve re-estruturações domésticas significativas que pudessem ocasionar mudanças na política externa. Assim, além da mudança de líderes (FHC Lula) e de agentes da burocracia ligada ao Itamaraty (Lampreia e Lafer Amorim, Pinheiro Guimarães e Marco Aurélio Garcia), os choques externos que, segundo os autores, teriam provocado mudanças na política externa seriam os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 e as dificuldades oriundas da Rodada de Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC). O primeiro contribuiu para justificar o unilateralismo da potência americana, e, como conseqüência, a agenda econômica dominante no fim do século passado perdeu sua proeminência vis-à-vis a agenda de segurança. 126 A segunda ensejou a liderança brasileira da coalizão de países em desenvolvimento nas negociações comerciais, especialmente a partir da V Conferência Ministerial da OMC em Cancun. 125 HERMANN, Charles F. Changing course: when governments choose to redirect foreign policy. International Studies Quarterly, n o 34, OLIVEIRA, Marcelo Fernandes de. Estratégias internacionais e diálogo Sul-Sul no governo Lula: alianças duradouras ou coalizões efêmeras? 114

115 Apesar de não identificarem alterações significativas nos objetivos históricos da política externa brasileira durante o primeiro governo Lula, Vigevani e Cepaluni identificam mudanças de ênfase e de agenda e, em oposição à autonomia via participação do governo FHC, consideram a autonomia por diversificação da administração de Lula da Silva. Com efeito, o esforço da diplomacia de Lula da Silva em diversificar seus parceiros internacionais é marcante. No entanto, conforme argumentamos, a política externa de Lula da Silva não pode ser considerada terceiro-mundista visto que, mesmo quando defendeu interesses contrários àqueles do Norte econômico, o fez em nome de princípios humanitários, como a fome e a saúde. Dessa forma, angariou simpatia de atores não-estatais e de líderes mundiais preocupados com sua aprovação no âmbito doméstico. O caso das patentes farmacêuticas para medicamentos antiretrovirais de tratamento da AIDS é exemplar dessa dinâmica internacional dos chamados países emergentes. Os Estados Unidos acusaram África do Sul, Índia e Brasil de desrespeitarem os acordos de propriedade intelectual negociados no âmbito da OMC (TRIPS Trade Related Aspects of Intellectual Property Rights). Argumentando pela importância social e humanitária do acesso aos medicamentos antiretrovirais, a estratégia brasileira no contencioso das patentes contra os Estados Unidos na OMC baseou-se na premissa humanitária, o slogan de que o bem público deve prevalecer sobre o lucro. 127 A coalizão efêmera (OLIVEIRA 2006) dos países em desenvolvimento, ao mesmo tempo em que contrariava os interesses dos 127 IBIDEM, p

116 países industrializados, evitava o confronto aberto, pois conseguia angariar simpatia da sociedade civil internacional e de ONGs estadunidenses. Assim, a política externa de Lula, de maneira geral, em vez de se concentrar na oposição Norte x Sul, pareceu equilibrar-se entre ambos os pólos econômicos, demonstrando autonomia e pragmatismo em sua estratégia de inserção política externa. Tentaremos verificar como a CTPD serviu a esse objetivo estratégico. Antes, voltamos rapidamente à comparação entre a política externa de FHC e de Lula da Silva, entre a autonomia via participação e a autonomia por diversificação, respectivamente. Vigevani e Cepaluni argumentam que as diferenças mais significativas entre as duas autonomias seriam as seguintes: o esforço de inserir a questão da fome na agenda internacional, especialmente no início do primeiro mandato de Lula da Silva; a atuação no Haiti como parte da estratégia para pleitear assento permanente no Conselho de Segurança da ONU e a aproximação dos países em desenvolvimento como a que culminou na formação do IBAS aliança entre Índia, Brasil e África do Sul, com o objetivo de redução da fome e das assimetrias econômicas e de poder. De forma semelhante, outros autores consultados também procuram identificar os elementos singulares da política externa do primeiro governo Lula, aquilo que a caracterizaria na história da política exterior do Brasil. O diplomata Paulo Roberto de Almeida, cujos diversos artigos acompanharam a política externa do presidente Lula da Silva desde o seu advento, avalia que, em seu primeiro mandato, as linhas básicas da política externa do governo Lula combinavam os princípios tradicionais da diplomacia do Itamaraty com algumas 116

117 inovações conceituais e novas ênfases nas alianças preferenciais que seriam seguidas de modo relativamente consistente. 128 Almeida parte das promessas contidas no discurso inaugural do presidente Lula com relação à política externa para compará-las às realizações possíveis de observar ao final do primeiro mandato. Seleciona, em seu artigo, os seguintes temas que considera relevantes para realizar um balanço da política externa de Lula: Conselho de Segurança da ONU; alianças com parceiros estratégicos; situação do Mercosul; relações com a Argentina; liderança do Brasil na América do Sul e bloco político regional; OMC e negociações comerciais multilaterais e regionais; relações com a China, Rússia e o papel internacional do Brasil. 129 É possível notar que o relacionamento entre Brasil e outros países em desenvolvimento está implícito em muitos dos temas considerados relevantes na política externa do primeiro mandato Lula. De fato, a busca por parcerias estratégicas com países em desenvolvimento tem sido considerada traço definidor da política externa de Lula. O mesmo Paulo Roberto de Almeida, em artigo publicado em 2006, realiza uma revisão bibliográfica sobre a política externa do governo Lula até então, dividindo-a em vozes autorizadas, apoiadores externos e independentes ou críticos. Com relação aos últimos, é comum encontrar críticas a respeito do suposto terceiro-mundismo da política externa sob o governo Lula. É nosso objetivo argumentar que a 128 ALMEIDA, Paulo Roberto de. A diplomacia do governo Lula em seu primeiro mandato: um balanço e algumas perspectivas. Carta Internacional, março de p IBIDEM, p

118 atividade da ABC como prestadora de cooperação desmente críticas desse gênero. Entretanto, a política externa do primeiro governo Lula, quando comparada àquela de seu antecessor, revela uma significativa diferença de ênfase: enquanto a política externa de FHC voltava-se, de forma geral, aos países do Norte, a de Lula enfatizava as chamadas parcerias estratégicas com outros países em desenvolvimento, ou pertencentes ao Sul, como China, Índia, África do Sul e demais países africanos, entre outros 130. Por que não chamá-la, afinal, terceiro mundista? Nesse sentido, uma análise das viagens presidenciais de FHC e de Lula pode ser de grande ajuda. Ambos os presidentes gozaram boa receptividade entre os demais chefes de Estado, o que lhes possibilitou explorar ativamente a chamada diplomacia presidencial, de relevante valor estratégico e simbólico. Tanto Fernando Henrique Cardoso como Lula da Silva viajaram 130 Cabe notar, entretanto, que a política externa do segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso havia já identificado a necessidade de aproximação dos países em desenvolvimento a partir, principalmente, do s constrangimentos internacionais do período, em especial a reação estadunidense aos ataques terroristas de setembro de 2001: Nessa direção, quase no fim de seu mandato, a diplomacia de FHC intensificou relações e estabeleceu coalizões na lógica da geometria variável de poder com países em desenvolvimento na Organização Mundial do Comércio (OMC), tais como Índia e África do Sul, durante o contencioso das patentes farmacêuticas contra os Estados Unidos. Contudo, a derrota eleitoral da coalizão política liderada por FHC para Lula em 2002 não lhe permitiu colher os frutos dessa empreitada internacional, até então relegada a segundo plano durante seus dois mandatos. (OLIVEIRA 2006) 118

119 consideravelmente em seus respectivos mandatos. O último parece ter superado o primeiro no número de viagens oficiais, como gostam de lembrar os críticos, mas os números absolutos não são tão importantes para os objetivos deste trabalho. Os deslocamentos oficiais são especialmente relevantes para o âmbito da cooperação técnica internacional, visto que muitos acordos de cooperação são assinados ou negociados por ocasião dessas visitas. Assim sendo, os gráficos 131 abaixo mostram a ênfase concedida aos países industrializados nas viagens realizadas por Fernando Henrique Cardoso, em contraste aos destinos eleitos pelo presidente Lula durante sua primeira gestão (estão contabilizadas as viagens realizadas até março de 2006). As viagens presidenciais de Lula da Silva revelam um equilíbrio entre países industrializados e em desenvolvimento, entre o Norte e o Sul, o que parece justificar a qualificação de sua política externa como ecumênica, semelhante, em determinados aspectos, àquela exercida durante o governo Geisel (MIYAMOTO e CARDOZO 2006). Em todo caso, se utilizarmos as viagens presidenciais como indicador, a diplomacia lulista não pode ser considerada como sendo terceiromundista (SEITENFUS, 2007). 131 SEITENFUS, Ricardo. O Brasil e suas relações internacionais. Carta Internacional, março de 2007 p.18. Os gráficos não incluem viagens realizadas para a América do Sul. 119

120 Destino dos deslocamentos de C ardos o ( ) Países em des envolvimento Países indus trializados Destino dos deslocamentos de Lula (janeiro 2003-març o de 2006) 34 Países em des envolvimento 30 Países indus trializ ados Com efeito, Shiguenoli Miyamoto e Sandra Cardozo, diferentemente dos autores anteriormente mencionados, adotam uma perspectiva histórica para analisar a política externa do governo Lula, comparando-a com aquela empreendida durante o governo Geisel (1974 a 1979), a qual ficou conhecida 120

121 como pragmatismo responsável e ecumênico 132. Parece-nos muito interessante a comparação, visto que ela procura fundamentar-se a partir da preferência pelo multilateralismo em distintos contextos internacionais e domésticos. O contexto internacional que constrangia a política externa do Brasil à época de Geisel estava marcado pelo choque do petróleo de 1973, que representava, também, uma polarização Norte x Sul, na medida em que os países exportadores de petróleo, muitos deles carentes em matéria de desenvolvimento nacional, ousaram impor sua vontade comercial aos demais países do sistema. A preocupação brasileira com o gargalo energético orientaria, em certa medida, a diplomacia pragmática e ecumênica de Geisel: Neste panorama e diante dos aspectos da configuração internacional, procurou-se uma diversificação das relações com outros países, com uma visão pragmática dos alinhamentos possíveis. (...) Esta diretriz da política externa brasileira expressou a busca de ampliação das opções internacionais dentro de posturas autonomistas, sem estar vinculado à política de blocos, revelando uma expansão comercial brasileira em áreas não tradicionais. Apesar de contenciosos, não 132 CARDOZO, Sandra Aparecida e MYIAMOTO, Shiguenoli. Política Externa Brasileira em dois momentos: uma análise comparativa entre a política externa do governo Geisel e do governo Lula. V Encontro da ABCP, Belo Horizonte, julho de

122 ocorreram rupturas radicais com os EUA, uma vez que as grandes potências estavam sob a détente. 133 A partir do estudo apresentado por Myiamoto e Cardozo, podemos inferir, ainda que de forma geral, que a política externa de Lula da Silva se insere em uma tradição de pragmatismo e universalismo que manteve a concepção da política externa como instrumento de desenvolvimento nacional, com autonomia para buscar alianças e parcerias que melhor servirem aos seus objetivos no âmbito interno. Finalmente, com vistas a melhor sistematizar as propostas contidas no discurso inaugural, listamos abaixo as principais características atribuídas, pelo próprio presidente em seu discurso de posse, à política externa do governo que começava: orientar a ação diplomática por uma perspectiva humanista; considerar a política externa como instrumento do desenvolvimento nacional; combater ao protecionismo comercial; preservar a soberania; grande prioridade atribuída à construção de uma América do Sul politicamente estável, próspera e unida por meio da revitalização do Mercosul; 133 IBIDEM,p

123 com relação aos países desenvolvidos, a política externa almeja estabelecer uma parceria madura com os Estados Unidos, o fortalecimento do entendimento e cooperação com a União Européia e Japão, entre outros; aprofundar relação com países em desenvolvimento, entre outros, China, Índia, Rússia, África do Sul; contribuir para o desenvolvimento do continente africano, reafirmando os laços profundos que existem com o Brasil; valorizar as organizações multilaterais e a democratização das relações internacionais sem hegemonias de qualquer espécie ; defender a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas, com países desenvolvidos e em desenvolvimento entre seus membros permanentes; enfrentar o terrorismo e o crime organizado por meio da cooperação e do Direito Internacional. 5.2 A CTPD como instrumento da autonomia por diversificação A estratégia de aproximação dos países em desenvolvimento no primeiro mandato do governo Lula está, ao menos aparentemente, fundamentada sobre três pilares: reforço institucional do Mercosul; liderança da coalizão de países 123

124 em desenvolvimento nas negociações comerciais multilaterais; ações de combate à fome internacional ( diplomacia humanista ). Pretendemos, aqui, refletir mais detidamente sobre as diferentes maneiras do Brasil se relacionar com países em desenvolvimento e de menor desenvolvimento relativo (os PMD Países Menos Desenvolvidos), manifestas na atividade de CTPD do primeiro governo Lula. O levantamento que faremos a seguir não pretende abarcar toda a atividade recente de CTPD da ABC, até porque o acesso à documentação é bastante limitado e demandaria mais tempo e disponibilidade para a pesquisa 134. Assim, o que faremos a seguir é levantar exemplos da CTPD empreendida pela ABC nos últimos anos que consideramos mais relevantes e representativos, apontando rumos para futuras pesquisas sobre o tema. Logo, excluiremos a cooperação prestada ao Mercosul, pois entendemos que ela engendra elementos integracionistas que mereceriam dedicação exclusiva, o que não faz parte da proposta do presente trabalho. Por outro lado, com vistas a obter um panorama mais compreensivo da cooperação prestada pelo Brasil aos países de menor desenvolvimento relativo, incluímos em nossas ponderações a modalidade de CTPD conhecida como triangulação, que 134 Amado Cervo, em seu artigo de 1994 (Socializando o desenvolvimento: uma história da cooperação técnica internacional do Brasil) já identifica dificuldades no acesso à documentação sobre CTPD: O estado da documentação é o mais precário de todas as modalidades existentes (p.60). Infelizmente, e apesar da disposição e boa-vontade dos servidores do Itamaraty, a situação permanece semelhante àquela encontrada por Cervo em meados dos anos

125 é prestada pela ABC-MRE junto a um terceiro país desenvolvido ou Organização Internacional. De fato, os arranjos triangulares dos quais a ABC tem participado demonstram resultados significativos e bastante potencial para próximos projetos conjuntos. Veremos, especialmente, a cooperação triangular estabelecida com o Japão (Brazil-Japan Partnership). Em 1987, com a criação da ABC, estabeleceu-se efetivamente uma coordenação para tratar da Cooperação entre Países em Desenvolvimento, com o objetivo de coordenar, negociar, aprovar, acompanhar e avaliar a cooperação para o desenvolvimento, em todas as áreas do conhecimento, entre o Brasil e países em desenvolvimento. À época, o Comitê de Alto Nível da Unidade Especial do PNUD para CTPD criou o conceito de países pivôs da CTPD: Estados em desenvolvimento com potencial para assumir um papel de liderança na promoção e aplicação da CTPD. Além do Brasil, foram classificados como países pivôs : Chile; China; Colômbia; Costa Rica; Cuba; Egito; Gana; Índia; Indonésia; Malta; Malásia; Ilhas Maurício; México; Nigéria; Peru; Coréia do Sul; Senegal; Tailândia; Trinidad e Tobago; Tunísia e Turquia 135. Apesar da crescente institucionalização e reconhecimento internacional que a CTPD brasileira tem angariado na última década, o tema continua pouco estudado nos cursos de graduação em Relações Internacionais do país. Em artigo de 2006, Bruno Ayllón alerta para a necessidade de se fomentar a pesquisa sobre cooperação técnica internacional no Brasil, lembrando que ela 135 Ver (último acesso em julho/2008) 125

126 se torna mais urgente se pensamos que o Brasil está começando a superar seu perfil de país beneficiado pelos fluxos de ajuda internacional ao desenvolvimento para construir um perfil diferente como país doador 136. Nesse sentido, o levantamento que pretendemos fazer a seguir tem como objetivo ilustrar algumas características do novo perfil brasileiro no sistema internacional de cooperação para o desenvolvimento, não apenas para contribuir diretamente com a bibliografia sobre o assunto, mas também para servir como sugestão para futuros temas de estudos. Não é nosso objetivo, como já mencionamos, realizar um levantamento exaustivo dos projetos executados ou em execução. Antes, trata-se de uma seleção de temas que, acreditamos, são significativos para a atividade do Brasil como doador de CTPD. As ações de combate à fome internacional, por meio da chamada diplomacia humanista, são freqüentes no âmbito da CTPD brasileira, e achamos o caso do Haiti bastante ilustrativo nesse aspecto. Os arranjos de cooperação triangular estabelecidos com o Japão também são ilustrativos do potencial dessa modalidade de CTPD para o avanço quantitativo e qualitativo da CTPD empreendida pelo governo brasileiro. 136 PINO, Bruno Ayllón. O Sistema Internacional de Cooperação ao Desenvolvimento e seu estudo nas Relações Internacionais: a evolução histórica e as dimensões teóricas. Revista Economia e Relações Internacionais da FAAP, São Paulo, v. 4, n. 8, p

127 5.2.1 O caso do Haiti O Haiti é o único Estado da América Latina e Caribe a figurar na lista de Países Menos Desenvolvidos PMD (Least Developed Countries LDC) publicada pelo Alto Representante das Nações Unidas para os Países Menos Desenvolvidos, Países Mediterrâneos e Pequenos Estados Insulares (UN Office of the High Representative for the Least Developed Countries, Landlocked Developing Countries and Small Island Developing States no original em inglês, que forma a intragável sigla UN-HRLLS). De fato, o Haiti acumula duas categorias dentro da classificação onusiana: a de País Menos Desenvolvido e a de Pequeno Estado Insular. O país tem uma história turbulenta desde a sua independência, fruto de uma cruenta guerra civil, que continuou com as ditaduras de François Duvalier o Papa Doc e de seu herdeiro Jean Claude Duvalier, o Baby Doc. A eleição de Jean Bertrand Aristide, nos anos 1990, tampouco conseguiu superar a história de violência e miséria do país. Os anos 2000 não têm sido diferentes para os haitianos. As eleições presidenciais foram turbulentas e o presidente Jean Bertrand Aristide foi acusado de manipular resultados, provocando demonstrações populares violentas que se espalharam pelo país: No início do mês de fevereiro de 2004, conflitos armados tomaram a cidade de Gonaïves e se espalharam pelas demais cidades nos dias 127

128 seguintes. Gradualmente, os insurgentes tomaram controle de boa parte do norte do país. 137 Nesse contexto de agravamento da crise política e social no país, o governo brasileiro assumiu a incumbência de contribuir, de forma um tanto protagonista, com os esforços de estabilização do país. Com efeito, na Conferência de Doadores para o Haiti, realizada em julho de 2004 na sede da OEA (Organização dos Estados Americanos) em Washington, o chefe da delegação brasileira reafirma a disposição do governo em participar da força de estabilização aprovada pela Resolução 1542 do Conselho de Segurança das Nações Unidas 138 : Por não ser o país ainda doador de recursos financeiros, nos termos estipulados pela Ajuda Oficial ao Desenvolvimento ODA, a delegação brasileira ofereceu apoio em termos de cooperação técnica, no entendimento de ser tal contribuição o instrumento mais adequado para 137 In early February 2004, armed conflict broke out in the city of Gonaives, and in the following days fighting spread to other cities. Gradually the insurgents took control of much of the northern part of the country. (último acesso em julho/2008) 138 Discurso do chefe da delegação do Brasil à Conferência de Doadores para o Haiti em Washington. Cópia do documento disponível no anexo. 128

129 proporcionar pronta resposta ao quadro de carências exacerbadas gerado pela crise haitiana 139. Conforme mencionamos anteriormente, no entanto, as diferenças entre a cooperação militar, humanitária e para o desenvolvimento nem sempre são claras, e a crise no Haiti implica ações coordenadas em diversos domínios: A cooperação brasileira no Haiti supera o âmbito militar vale observar, entretanto, que mesmo a MINUSTAH desempenha ações de caráter humanitário, além das ações militares propriamente ditas. 140 Assim, a atividade de cooperação da CTPD para o país adquiriu, a partir de 2004 e, mais claramente, desde 2005, caráter complementar ao esforço de 139 VALLER FILHO, Wladimir. O Brasil e a Crise Haitiana: A Cooperação técnica como instrumento de solidariedade e de ação diplomática. FUNAG, Brasília, p VERENHITACH, Gabriela D.; DEITOS, Marc Antoni; SEITENFUS, Ricardo (Orientador). O Brasil e a Cooperação Triangular Sul-Sul Para o Desenvolvimento: O Caso Do Haiti. Trabalho apresentado no I Simpósio em Relações Internacionais do Programa de Pós-graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas (UNICAMP e PUC-SP), de 12 a 14 de novembro de Acesso permitido por meio do site (útlimo acesso em julho/2008) 129

130 pacificação da MINUSTAH (Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti). O sistema de busca de projetos do site da ABC/MRE traz 29 projetos em execução ou já finalizados realizados no país. Entretanto, de acordo com os relatórios da Coordenação Geral de CTPD da ABC, apenas em 2005 o Haiti aparece como prioridade nas atividades de cooperação da Agência: (...) tendo em vista a prioridade conferida pelo Governo brasileiro à cooperação com o Haiti, a ABC coordena a implementação de projetos na área de agricultura, defesa civil, esporte, infra-estrutura, meio ambiente e saúde. Nesse sentido, e consoante a estratégia de aproximação dos países em desenvolvimento do primeiro mandato do governo Lula identificada anteriormente neste capítulo, a CTPD prestada para o Haiti engendra aspectos da chamada diplomacia humanista. O país se beneficiou, junto da Guiné- Bissau, do Fundo IBAS de Combate à Fome e à Pobreza 141, por meio de um 141 A iniciativa para a formação do Fundo IBAS de combate à fome e à pobreza foi anunciada pelo Presidente Lula durante a 58o Sessão de Abertura da Assembléia Geral da ONU, em setembro de Na ocasião, reiterou-se que as Metas do Milênio (MDG - Millenium Development Goals) não serão atingidas a menos que a comunidade internacional se mobilize para traduzir os compromissos internacionais em ações efetivas de combate ao 130

131 projeto de cooperação técnica para o manejo de resíduos sólidos (Solid Waste Management Strategy). Este projeto foi agraciado pela ONU com o Prêmio Parceria Sul-Sul (South-South Partnership Award), na categoria Aliança Sul-Sul (South-South Alliance). O prêmio foi instituído pelas Nações Unidas para destacar esforços bem-sucedidos de CTPD. De acordo com o relatório da Sub-Secretaria Geral de Cooperação e Promoção Comercial sobre as atividades de CTPD realizadas pelo Brasil, existem, atualmente (o relatório é de julho de 2007), 80 projetos de cooperação técnica em execução na América Central e Caribe, o que equivale a 18,79% do total de projetos em execução no âmbito da CTPD. Desses, 18 estão execução no Haiti, ou o equivalente a 22,5% dos projetos em atividade na América Central e Caribe. subdesenvolvimento. Assim, o Fundo IBAS tem como objetivo propiciar a adequada implementação das MDG, por meio de identificação, desenvolvimento e disseminação de projetos concretos, que se tenham provado bem sucedidos em nosso ou em outros países em desenvolvimento, na luta contra a fome e a pobreza. Para tanto, a iniciativa insere-se nas práticas e mecanismos do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) e os projetos a serem replicados observarão os regulamentos das Nações Unidas. Em vez de empreender medidas emergenciais, o objetivo dos projetos deve ser capacitar os países beneficiários a dar um passo no sentido de seu próprio desenvolvimento econômico. Qualquer país em desenvolvimento pode ser beneficiado pelo Fundo IBAS, que é administrado pelo Conselho Executivo do PNUD. (último acesso em julho/2008) 131

132 Os projetos em execução no Haiti incluem também iniciativas de triangulação, como aquela empreendida por meio do Subprograma de Cooperação Sul-Sul do Fundo das Nações Unidas de População (FNUAP), de combate à violência de gênero Triangulação: o exemplo da cooperação ABC - JICA (Japan Brazil Partnership Programme JBPP) O Japão iniciou suas atividades de doador de ajuda internacional em meados da década de 1950, quando ele ainda era também recebedor de ajuda internacional. Os projetos de Cooperação Triangular foram inaugurados no Brasil através do Programa Brasil-Japão, que possibilitou, por meio do Programa de Treinamento para Terceiros Países (TCTP), a transferência de conhecimentos adquiridos pelo Brasil a países beneficiários da cooperação na África e América Latina, com o apoio do governo japonês. O programa durou vinte anos, e possibilitou um intenso intercâmbio de especialistas entre Brasil e Japão, além da atualização de tecnologias e conhecimento, beneficiando ambos os países e, evidentemente, os países alvo dos projetos de cooperação VERENHITACH, Gabriela D.; DEITOS, Marc Antoni; SEITENFUS, Ricardo (Orientador). O Brasil e a Cooperação Triangular Sul-Sul Para o Desenvolvimento: O Caso Do Haiti. Trabalho apresentado no I Simpósio em Relações Internacionais do Programa de Pós-graduação em 132

133 A atividade do Japão como doador de ajuda internacional teve início em meados dos anos 1950, ou seja, em uma época em que o país ainda era recebedor de ajuda externa. No âmbito do Plano Colombo, o Japão concedeu ajuda para países do Sul e Sudeste da Ásia. Como boa parte da ajuda era para recuperar os estragos feitos pelo Japão durante a II Guerra Mundial, os projetos de infra-estrutura tinham ênfase especial na atividade japonesa de ajuda externa. Com efeito, a ajuda voltada para projetos infra-estruturais caracterizou a ajuda externa japonesa até os anos O Japão destacou-se como doador de ajuda internacional principalmente a partir dos anos 1990, quando se tornou o maior doador do planeta. Sua ajuda oficial em 1999 equivalia à 0,35% do PIB do país, o que superava em muito a média dos demais países do DAC/OCDE 144. Em 1961, o Japão se tornou um membro do DAC/OCDE, mas ainda hoje inclui a cooperação sul-sul entre as diretrizes da Agência Japonesa de Cooperação Internacional a JICA (Japan International Cooperation Agency). As diretrizes de ajuda oficial ao desenvolvimento (AOD) da agência japonesa, expressas na Política de Médio Prazo do Japão divulgada em Fevereiro de Relações Internacionais San Tiago Dantas (UNICAMP e PUC-SP), de 12 a 14 de novembro de Acesso permitido por meio do site (útlimo acesso em julho/2008) 143 DEGNBOL-MARTINUSSEN, John. AID: Understanding international development cooperation. Zed Books, p IBIDEM. p

134 2005, também se referem à Cooperação Sul-Sul. O Plano de Médio Prazo da JICA (que cobre o período de Outubro de 2003 até Março de 2007) declara que, "(...) a JICA deverá aumentar o seu apoio à Cooperação Sul-Sul, que promove a Capacidade de Desenvolvimento efetivamente em países em desenvolvimento e que leva também a um aumento de recursos de assistência assim como à promoção de cooperação intra-regional 145 ". Apesar de manter sua atividade de ODA voltada, em sua maior parte, para projetos infra-estruturais, a partir dos anos 1980 a ajuda externa do Japão se tornou mais voltada aos temas da pobreza. A partir de estudo publicado na Political Research Quarterly sobre a política japonesa de ajuda na América Latina, os autores concluíram que a ajuda japonesa para o continente obedece a preocupações humanitárias e, ao mesmo tempo, a interesses econômicos. Para chegar a esta conclusào, os autores avaliaram que o Japão escolhe os recebedores de ajuda na América Latina de acordo com baixos índices de renda per capita mas, também, conjugam este critério àquele do contingente populacional, o que sugere uma preocupação com potenciais mercados consumidores para seus produtos de exportação (último acesso em julho de 2008) 146 TRUMAN, John P; EMMERT, Craig F.; STERKEN, Robert E. Explaining Japanese Aid Policy in Latin America: a test for competing theories. Political Research Quarterly, vol. 54, núnero 1, março de p

135 Entretanto, estas justificativas não são compatíveis com a triangulação estabelecida com o Brasil, que faz uso justamente do perfil de potência média do país para empreender arranjos de cooperação em benefício de terceiros países beneficiários. No Brasil, o Japan Brazil Partnership Programme, executado junto aom a ABC/MRE, é o primeiro e mais longevo arranjo de triangulação empreendido pela ABC. É também, atualmente, o maior parceiro do Brasil em atividades de triangulação, seguido pela Agência Alemã (GTZ) e pelo Departamento de Desenvolvimento Internacional da Inglateraa (DFID) 147. O Programa de Parceria Japão-Brasil, inicialmente, esteve focado na realização de projetos nos países africanos de língua oficial portuguesa (PALOPs) e no Timor Leste, especialmente em áreas de saúde pública (com apoio da FIOCRUZ) e de agricultura, com apoio técnico da Embrapa. Os projetos realizados no âmbito do programa Brasil-Japão são realizados no Brasil, com técnicos brasileiros e japoneses especialistas nos assuntos da capacitação, para técnicos selecionados dos países beneficiários. Desta forma, a triangulação atinge beneficiários de diferentes países ao mesmo tempo, que deverão servir como multiplicadores do conhecimento adquirido nos cursos de formação. O programa inclui ainda o envio de técnicos para instituições japonesas para atividades de capacitação temática (último acesso em julho de 2008) 135

136 Além do Brasil, na América do Sul, o Japão executa atividades de triangulação com Argentina e Chile. 136

137 6. Considerações Finais O tema da Cooperação Técnica entre Países em Desenvolvimento ainda causa estranhamento entre os acadêmicos das relações internacionais. De fato, o assunto ainda é pouco estudado e quase ausente das grades curriculares tanto dos cursos de graduação como de pós-graduação da área. Esta ausência contrasta com uma atividade intensa e interessante da Agência Brasileira de Cooperação de elaboração e execução de projetos de CTPD. Na ordem contemporânea do pós-guerra Fria, o debate ficou ainda mais estimulante e variado, pois passou a envolver estudiosos das relações internacionais, burocratas e policy-makers das Organizações Internacionais e das agências nacionais especializadas, representantes da sociedade civil, economistas e até astros do rock 148. Sem os constrangimentos ideológicos de outrora, discute-se a eficiência da ajuda, a sua legitimidade e a sua forma. Vimos, ao longo do trabalho, que ocorreram transformações importantes tanto no que se refere à concepção de desenvolvimento predominante na agenda internacional ao longo das décadas como com relação à própria idéia de cooperação internacional. Tivemos a intenção de mapear as encarnações do desenvolvimento, desde a sua origem como reconstrução das economias fustigadas pela II Guerra até a sua concepção contemporânea, multidimensional, refletida nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Paralelamente, analisamos a transição, ainda não completamente realizada, 148 Ficou famosa a carta aberta que o economista Jagdish Baghwati publicou, dirigida ao roqueiro Bono, criticando a atuação do último como entusiasta da ajuda internacional. Ver: A noble effort to end poverty, Bono, but it is misdirected. Finacial Times, 28 de fevereiro

138 entre uma concepção predominante entre os países doadores do Norte, de ajuda internacional, para uma idéia ainda em formação, de cooperação internacional, que supõe uma relação mais igualitária no sistema de cooperação internacional para o desenvolvimento. A nossa preocupação com os termos utilizados no debate internacional pode se explicar por um alinhamento, ainda que ligeiro, com as vertentes pósmodernas da teoria das relações internacionais, que a partir, principalmente, da obra de Foucault, associam a linguagem ao poder e desafiam alguns princípios iluministas. Vimos por exemplo, no capítulo 2, que muitos autores chamam atenção para a associação entre a ajuda para o desenvolvimento e o empreendimento colonial da era dos impérios. Identificamos, assim, uma estreita relação entre o discurso do desenvolvimento internacional propagado pelos grandes doadores do DAC-OCDE e pelas agências de desenvolvimento internacional (como o PNUD) e aquele utilizado para justificar a exploração colonial. O relatório publicado em 1951, Measures for the economic development of underdeveloped, incluía entre suas recomendações, como vimos, sugestões que ultrapassavam a dimensão meramente técnica do desenvolvimento. Condenava-se o estilo de vida dos países subdesenvolvidos que, diziam, era incompatível com a modernidade. O desenvolvimento era, portanto, ao mesmo tempo meio e fim de um processo aparentemente evolutivo, que privilegiava a modernização em detrimento da tradição. 138

139 É esta concepção evolutiva do desenvolvimento que decidimos revelar neste trabalho, assim como achamos por bem questionar o aspecto técnico da cooperação internacional para o desenvolvimento. Muito do conhecimento sobre desenvolvimento tem o pé no chão tecnologias agrícolas, metodologias para registro de contas governamentais e as instituições estão geralmente ansiosas para apresentar o desenvolvimento nesses termos. Porém desenvolvimento é fundamentalmente sobre a mudança de como as pessoas vivem suas vidas, e a própria associação ao conhecimento técnico é por si só um ato político. 149 Assim como a corrente pós-moderna da teoria das relações internacionais, duvidamos do espírito evolutivo do desenvolvimento. Assim como os teóricos pós-modernos, achamos por bem desconfiar do discurso exclusivista, que, por se auto-proclamar como técnico, não admite contestações. 149 COOPER, Frederick e PACKARD, Randall. History and Politics of Development Knowledge. In EDELMAN, Marc e HAUGERAUD, Angelique (eds.). The Anthropology of Development and Globalization: from classical political economy to contemporary neoliberalism. Blackwell Publishing, No original: Much development knowledge is down to earth agricultural technologies, methods of keeping government accounts and institutions are often eager to portray development knowledge in such terms. Yet development is fundamentally about changing how people conduct their lives, and the very claim to technical knowledge is itself a political act. Tradução nossa. 139

140 Ser moderno é ser livre de superstições e ignorância (...). Mesmo hoje a modernização, com suas idéias concomitantes de desenvolvimento econômico e político, compreende estes sentimentos. Incluído neles está a firme crença de que existe um caminho ótimo, e talvez um único caminho, para o progresso e que a razão, a ciência e a tecnologia irão revelar este caminho. 150 Curiosamente, Gilbert Rist inverte essa concepção que identifica o desenvolvimento com uma modernidade laica, neutra e técnica, quando afirma que o desenvolvimento é um elemento na religião da modernidade. 151 Não queremos aqui avançar nas discussões sobre teoria das relações internacionais. Gostaríamos, isso sim, de chamar atenção para alguns termos 150 Vasquez, John. The Post-Positivist Debate: Reconstructing Scientific Enquiry and International Relations Theory After Enlightenment's Fall, in Ken Booth and Steve Smith (eds) International Relations Theory Today, Pennsylvania: Pennsylvania State University Press, p.219. No original: To be modern is to be free from superstition and ignorance ( ). Even today modernization with its concomitant ideas of economic and political development connotes these sentiments. Beneath them is the firm belief that there exists an optimal way, and perhaps only one way, to progress, and that reason, science and technology will uncover that way. Tradução nossa. 151 RIST, GILBERT. The history of development: from Western origins to global faith. London, New York: Zed Books, p

141 que povoam o discurso sobre a cooperação internacional para o desenvolvimento, e, a partir das críticas, abrir frentes para a transformação. Acreditamos, a partir do estudo realizado, que o Brasil tem enorme potencial para contribuir com a mudança substantiva do debate internacional sobre cooperação, e achamos que a CTPD é uma maneira privilegiada para associar discurso e ação. 141

142 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AGÊNCIA BRASILEIRA DE COOPERAÇÃO. Via ABC. Publicação da Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores. Brasília, julho de ALTENBURG, Tilman e WEIKERT, Jochen. Möglichkeiten und Grenzen entwicklungspolitischer Dreieckskooperation mit Ankerländern. Dialogue on Globalization Friedrich Ebert Stiftung Discussion Papers 15. Berlim, ALVES, José Augusto Lindgren. Relações Internacionais e Temas Sociais: a Década das Conferências. Funag, AMADOR, Ethel Abarca. El nuevo rostro de la cooperación técnica entre países en desarrollo (CTPD) y las nuevas tendencias internacionales. Ciencias Sociales número 94, BUENO, Clodoaldo e CERVO, Amado Luiz. História da Política Exterior do Brasil. Editora UnB, 2º edição. Brasília

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151 SARAIVA, José Flávio Sombra. Relações Internacionais Dois Séculos de História: Entre a Ordem Bipolar e o Policentrismo (de 1947 a nossos dias). IBRI/FUNAG. Brasília, 2001 SATO, Eiiti. O Papel dos Países Periféricos na Ordem Econômica Internacional: Percepções em Mudança. Dissertação de Mestrado, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, Pp.: SCHLÄGER, Catrina. New Powers for Global Change? Challenges for International Cooperation: the Case of Brasil. Dialogue on Globalization Friedrich Ebert Stiftung Briefing Papers #3. Berlim, SEN, Amartya. Development as freedom. Oxford University Press, 1999 IDEM. The man without a plan. Foreign Affairs, march-april

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154 Relatórios Governamentais 2004, 2005 e Relatório de Gestão para tomada de contas anual da Agência Brasileira de Cooperação: Coordenação Geral de Cooperação Técnica entre Países em Desenvolvimento 2001, 2002 e Coordenação Geral de Cooperação Técnica entre Países em Desenvolvimento: Relatório de atividades Atividades de Cooperação Sul-Sul Realizadas pelo Brasil. Relatório da Sub- Secretaria Geral de Cooperação e Promoção Comercial. Julho,

155 Lista de Anexos Quadro 1: As Décadas do Desenvolvimento Quadro 2: Atores da Cooperação Internacional para o Desenvolvimento Resolução da Assembléia Geral da ONU (XIV). Expanded Programme of Technical Assistance Resolução da Assembléia Geral da ONU 200, 1948 (III). Technical Assistance for Economic Development Resolução da Assembléia Geral da ONU 1420 (XIV). International Developmenmt Association (BIRD) Decreto Nº , de 27 de Outubro de 1950: Cria, no Ministério das Relações Exteriores, a Comissão Nacional de Assistência Técnica. Decreto Nº , de 8 de Julho de 1965: Modifica o Decreto de Criação da Comissão Nacional de Assistência Técnica para incluir na mesma o Presidente do Conselho Nacional de Pesquisas. Decreto Nº , de 21 de Outubro de 1969: Dispões sobre as atividades de Cooperação Técnica Internacional e dá outras providências. Decreto Nº , de 25 de Setembro de 1987: Aprova o Estatuto da Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG), e dá outras providências. Decreto 2.070, de 13 de Novembro de 1996: Aprova a Estrutura Regimental do Ministério das Relações Exteriores e dá outras providências. 155

156 Discurso do chefe da delegação do Brasil à Conferência de Doadores para o Haiti em Washington. Missão Permanente do Brasil junto à OEA, julho Portaria N o 433, de 22 de Outubro de 2004: Regulamento da Modalidade de Execução Nacional para a Gestão de Projetos de Cooperação Técnica Internacional Technical Cooperation Among Developing Countries Basic Documents The Buenos Aires Plano of Action Ajuda per Capita 2002 (mapa) 156

157 Quadro 1 As Décadas do Desenvolvimento Objetivo do desenvolvimento Indicadores históricos e institucionais Projetos (áreas prioritárias) Anos Anos 1960 Anos 1970 Anos 1980 Anos 1990 Anos 2000 Reconstrução Complexo (pobreza, Foco no Estado como promotor do desenvolvimento Ponto IV Plano Marshall Expanded Programme of Technical Assistance (EPTA) Measures for the economic development of underdeveloped countries CEPAL Latin American Training Center (depois School of the Americas) Apoio à industrialização e à acumulação de capital por meio da substituição de importações Aumento do PIB Alívio da pobreza Ajuste estrutural Industrialização trade, not aid International Development Association (IDA/BIRD) PNUD Foreign Assistance Act USAID Institute of Development Studies (Sussex) Aliança para o Progresso MacNamara no Banco Mundial Relatório Pearson Myrdal publica Asian drama Nixon rompe com o sistema de Bretton Wodds Conferência das Nações Unidas sobre CTPD (Buenos Aires, 1978) Relatório Brandt Neoliberalismo econômico (Reagan e Thatcher) Crise da dívida nos países do terceiro Mundo Relatório Brundtland Políticas de ajuste Grandes projetos Créditos a pequenos estrutural infra-estruturais: produtores rurais, implementadas rodovias e projetos na área de pelos organismos barragens educação e segurança financeiros alimentar multilaterais; liberalização comercial Sustentabilidade Liberdade (Amartya Sen) governança educação, igualdade de gênero, mortalidade infantil, sustentabilidade ambiental, acesso à tecnologia) Índice de Desenvolvimento Objetivos de Humano (IDH) Desenvolvimento do Milênio Relatório PNUD Conferência de Monterrey de sobre Financiamento do Desenvolvimento Desenvolvimento Humano (Human Conferências da OCDE Development sobre efetividade da Ajuda Report) (Paris; Roma; Acra) Rio 92 Agenda 21 Inclusão dos Projetos relacionados aos temas compromissos assumidos transversais: meio para atingir os Objetivos de ambiente e Desenvolvimento do Milênio igualdade de gênero

158 Quadro 2: Atores da Cooperação Internacional para o Desenvolvimento Doadores Executores Públicos Estados (Ministérios, órgãos administrativos) Instituições Financeiras Multilaterais Instituições Multilaterais não-financeiras (ONU e suas subsidiárias) Organizações de Integração Regional (União Européia) Estados (Ministérios, órgãos administrativos) Instituições Financeiras Multilaterais Instituições Multilaterais não-financeiras (ONU e suas subsidiárias) Organizações de Integração Regional (União Européia) Privados Fundações ONGs Sindicatos Universidades Empresas Indivíduos Igrejas Indivíduos (especialistas, consultores) Instituições de Ensino e Pesquisa ONGs Fundações Empresas Igrejas Beneficiários Indivíduos

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165 ADVERTÊNCIA Informamos que os textos das normas deste sítio são digitados ou digitalizados, não sendo, portanto, "textos oficiais". São reproduções digitais de textos originais, publicados sem atualização ou consolidação, úteis apenas para pesquisa. Senado Federal Subsecretaria de Informações DECRETO Nº , DE 27 DE OUTUBRO DE Cria, no Ministério das Relações Exteriores, a Comissão Nacional de Assistência Técnica. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, usando da atribuição que lhe confere o artigo 87, nº I, da Constituição e tendo em vista o disposto no Decreto-lei nº 9.121, de 3 de abril de 1946, DECRETA: Art. 1º Fica criada, no Ministério das Relações Exteriores, a Comissão Nacional de Assistência Técnica. Art. 2º Compete à Comissão Nacional de Assistência Técnica: I - Estudar problemas relativos à participação do Brasil em programas de assistência técnica das Nações Unidas e, eventualmente, da Organização dos Estados Americanos; II - Fazer o levantamento das necessidades brasileiras em matéria dessa assistência técnica e preparar planos e programas para obtenção de auxílio técnico de tais organizações; III - Estudar as possibilidades de contribuição brasileira para programas cooperativos, de assistência técnica a que se refere êste decreto, examinando para êsse fim as facilidades disponíveis em órgãos públicos federais, organizações estaduais, autarquias e sociedades privadas de interêsse público; IV - Estabelecer normas para contratos de prestação de serviços de assistência técnica da sua competência, superintender a execução dos mesmos e estabelecer critérios para intercâmbio de bolsistas e técnicos dentro dos programas internacionais de assistência técnica; V - Disseminar documentação informativa sôbre as facilidades de assistência técnica disponíveis em outros países ou em organizações internacionais e sôbre contribuição brasileira para atividades de assistência técnica. Art. 3º A Comissão Nacional de Assistência Técnica compor-se-á de onze membros nomeados pelo Presidente da República mediante indicação do Ministro das Relações Exteriores que será o seu Presidente. 8

166 Parágrafo único. A Comissão poderá convidar, para participar de seus trabalhos, órgãos cuja colaboração julgue de interêsse em aspectos específicos de assistência técnica. Art. 4º A Comissão poderá, em consulta com os governos estaduais, estabelecer comissões estaduais ou regionais para elaboração de planos e programas de assistência técnica de interêsse regional ou estadual. Art. 5º A Comissão poderá constituir Comitês ad hoc para o estudo de problemas específicos, bem como delegar poderes às Comissões Nacionais filiadas a agências especializadas da ONU, para tratar de assuntos de assistência técnica de sua especialidade. Art. 6º A Comissão Nacional de Assistência Técnica terá uma Secretaria no Ministério das Relações Exteriores. Parágrafo único. Os serviços da Comissão serão prestados sem ônus para o Tesouro Nacional. Art. 7º O Ministro de Estado das Relações Exteriores baixará as instruções necessárias ao funcionamento da Comissão Nacional de Assistência Técnica. Art. 8º Êste Decreto entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário. Rio de Janeiro, em 27 de outubro de 1950; 129º da Independência e 62º da República. EURICO G. DUTRA Raul Fernandes 9

167 ADVERTÊNCIA Informamos que os textos das normas deste sítio são digitados ou digitalizados, não sendo, portanto, "textos oficiais". São reproduções digitais de textos originais, publicados sem atualização ou consolidação, úteis apenas para pesquisa. Senado Federal Subsecretaria de Informações Decreto N , De 9 De Dezembro de Aprova o Regulamento da Comissão Nacional de Assistência Técnica. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, usando de atribuição que lhe confere o artigo 87, I, da Constituição, decreta: Art. 1º fica aprovado o Regulamento da Comissão Nacional de Assistência Técnica (CNAT) que, assinado pelo Ministro das Relações Exteriores, com êste baixa. Art. 2º Êste Decreto entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas a disposições em contrário. Rio de Janeiro, em 9 de dezembro de 1953; 132.º da Independência e 65.º da República. GETULIO VARGAS Vicente Ráo 10

168 REGULAMENTO DA COMISSÂO NACIONAL DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA. CAPÍTULO I DA FINALIDADE E CONSTITUIÇÃO Art. 1.º A Comissão Nacional de Assistência Técnica, criada pelo decreto n.º de 27 de outubro de 1950, tem por fim: a) estudar assuntos relativos à participação do Brasil em programas de assistência técnica organizados pelas Nações Unidas e Organização dos Estados Americanos; b) fazer o levantamento das necessidades brasileiras em matérias dessa assistência técnica e preparar planos e programas para obtenção de auxílio técnico das Organizações acima mencionadas; c) estudar as possibilidades de contribuição brasileira para programas cooperativos de assitência técnica, examinando, para êsse fim, as facilidades disponíveis em órgãos públicos federais organizações estaduais, autarquias e sociedades privadas de interêsse público; d) estabelecer normas para contratos de prestação de serviços de assistência técnica de sua competência e superintender a execução so mesmos; e) estabelecer critérios para intercâmbio de bolsistas e técnicos dentro dos programas internacionais de assistência técnica. Art. 2.º A Comissão compro-se-á de onze membros, nomeados pelo Presidente da República. Parágrafo único. A Comissão é subordinada diretamente ao Ministro de Estado das Relações Exteriores, que será o seu Presidente. Art. 3.º O Presidente da Comissão escolherá, dentre seus membros, um Vice-Presidente, que o 11

169 substituirá em seus impedimentos. Art. 4.º A Comissão terá um Secretariado para os seus trabalhos técnico administrativos, superintendido por um Diretor Executivo. 1.º O Diretor Executivo da Comissão será designado por Decreto, dentre funcionários da carreira de Diplomata. 2. O Secretariado da Comissão será constituído de preferência por servidores do Ministério das Relações Exteriores ou de outros órgãos da administração pública, devidamente requisitados, ou de instituições que participem do Programa de Assistência Técnica. Art. 5.º Nos casos de impedimentos por licença, férias ou outro qualquer afastamento, os membros da Comissão serão substituídos por proposta da mesma Comissão. CAPÍTULO II Da Competência Da Comissão Art. 6.º Compete à Comissão: a) elaborar, anualmente, a estimativa de suas despesas e preparar a Seção correspondente da proposta orçamentária do Ministério das Relações Exteriores a ser encaminhada ao Departamento Administrativo do Serviço Público; b) sugerir ao órgão competente o montante da contribuição anual aos Programas de Assistência Técnica das Nações Unidas e da Organização dos Estados Americanos; c) propor medidas gerais em matéria de assistência técnica, elaborando programas de trabalho 12

170 e verificando sua execução no país; d) tomar outras medidas que julgar necessárias ao desempenho das suas atribuições; e) executar diretamente ou em cooperação com entidades públicas ou privadas, tôdas a medidas necessárias à realização de seus fins. Do Presidente: Art. 7.º compete ao Presidente: a) dar instruções de ordem geral para o desempenho das finalidades da Comissão e para a organização de seus serviços; b) presidir as sessões; c) convocar a Comissão e representá-la; d) propor a conclusão de acôrdos e convênios; e) promover os meios legais e administrativos para o funcionamento da Comissão. Do Vice-Presidente: Art. 8.º Ao Vice-Presidente, assistido pelo Diretor Executivo, compete, além das funções que lhe forem delegadas pelo Presidente: coordenar as atividades da Comissão e orientar seus trabalhos; a) executar as decisões tomadas. Do Diretor-Executivo: 13

171 Art. 9.º Compete ao Diretor Executivo: a) superintender o serviço do Secretariado: b) assistir às sessões e preparar as respectivas Ordens do Dia; c) assessorar o Vice-Presidente na execução das deliberações; d) estudar as contribuições do Brasil ao Programas de Assistência Técnica das Nações Unidas e da organização dos Estados Americanos, sistematizando o respectivo catálago; e) acompanhar os trâmites dos projetos de assistência técnica solicitada pelo Brasil aos organismos internacionais competente; f) providenciar para que os portadores de bolsas de estudo oferecidas pelo Govêrno brasileiro, como contribuição nacional aos programas de assistência técnica, sejam recebidos e encaminhados; g) informar a Comissão sôbre as atividades e reuniões dos organismos internacionais de assistência técnica, inclusive o andamento dos projetos daqueles organismos que sejam de interêsse para o Brasil; h) reunir e divulgar os programas de assistência técnica, oferecida por governos estrangeiros; i) admitir o pessoal auxiliar do Secretariado, tendo em vista as necessidades do serviço e os recursos financeiros aprovados pela Comissão; j) responder o expediente de rotina da Comissão, bem como conhecer e decidir os assuntos que não sejam da competência privativa da Comissão, prevista no art. 6.º. Das Sessões: Art. 10. As sessões serão realizadas ordinàriamente no curso da primeira semana de cada mês, 14

172 em dia e hora fixadas pelo Diretor Executivo, com antecedência mínima de 5 dias. Art.11. O Presidente, ou o Vice-Presidente em exercício, poderá convocar sessões extraordionárias desde que justificadas por motivo relevante, mediante comunicação do Diretor Executivo. Parágrafo único. Qualquer membro poderá propor ao Presidente ou ao Vice-Presidente em exercício a convocação de reuniões extraordinárias da Comissão. Art. 12. A Presidência das sessões caberá: 1.ª Ao Presidente; 2.ª Ao Presidente, no impedimento do Presidente; 3.ª Ao membro mais antigo, no impedimento do Presidente e do Vice Presidente. Art. 13. No início de cada sessão será lida e submetida à aprovação a Ata da sessão anterior. Art. 14. Os assuntos dependentes de parecer da Comissão serão distribuídos rotativamente entre seus membros, com exclusão do Vice-Presidente. Parágrafo único. Os pareceres serão apresentados em duas vias, uma das quais previamente encaminhada ao Secretariado. Art. 15. As deliberações serão tomadas por maioria de votos dos membros presente à Sessão. Art. 16. As sessões da Comissão não serão públicas. Parágrafo único. Mediante proposta do Presidente ou de um dos membros, poderão ter acesso às sessões pessoas especialmente convidadas. 15

173 Disposições Gerais; Art. 17. Os membros da Comissão não perceberão remuneração especial pelos seus trabalhos, sendo êstes, porém, considerados como relevantes serviços prestados ao País. Art. 18. A conta da dotação própria do orçamento serão pagas as gratificações de serviço de pessoal do Secretariado, além de outros encargos, inclusive os gastos decorrentes de aquisião de material necessário ao funcionamento, assim como outras despesas relativas às atividades da Comissão. Art. 19. A movimentação das dotações do Secretariado será feita mediante adiantamento, devidamente autorizada na forma da legislação em vigor Rio de Janeiro, em 9 de dezembro de Vicente Ráo 16

174 ADVERTÊNCIA Informamos que os textos das normas deste sítio são digitados ou digitalizados, não sendo, portanto, "textos oficiais". São reproduções digitais de textos originais, publicados sem atualização ou consolidação, úteis apenas para pesquisa. Senado Federal Subsecretaria de Informações DECRETO Nº , DE 8 DE JULHO DE Modifica o Decreto de criação da Comissão Nacional de Assistência Técnica para incluir na mesma o Presidente do Conselho Nacional de Pesquisas. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, usando da atribuição que lhe confere o artigo 87, nº I, da Constituição, DECRETA: Art. 1º O artigo 3º do Decreto número , de 27 de outubro de 1950, que criou, no Ministério das Relações Exteriores a Comissão Nacional de Assistência Técnica, modificado pelo artigo 1º do Decreto nº , de 2 de setembro de 1964, é acrescido do seguinte item: XIII - Presidente do Conselho Nacional de Pesquisa. Art. 2º Êste Decreto entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário. Brasília, 8 de julho de 1965; 144º da Independência e 77º da República. H. CASTELLO BRANCO Vasco da Cunha 17

175 ADVERTÊNCIA Informamos que os textos das normas deste sítio são digitados ou digitalizados, não sendo, portanto, "textos oficiais". São reproduções digitais de textos originais, publicados sem atualização ou consolidação, úteis apenas para pesquisa. Senado Federal Subsecretaria de Informações DECRETO Nº , DE 21 DE OUTUBRO DE Dispõe sôbre as atividades de cooperação técnica internacional e dá outras providências. OS MINISTROS DA MARINHA DE GUERRA, DO EXÉRCITO E DA AERONÁUTICA MILITAR, usando das atribuições que lhes confere o artigo 3º do Ato Institucional nº 16, de 14 de outubro de 1969, combinado com o Art. 83, item II, da Constituição, e na forma do que dispõe o Art. 39 do Decreto-lei nº 200, de 25 de fevereiro de 1967, DECRETAM: Art. 1º Compete ao Ministério do Planejamento e Coordenação Geral estabelecer a política interna de cooperação técnica e coordenar a sua execução, inclusive pela definição de prioridades e pela sua compatibilização com o plano global de governo. Ao Ministério das Relações Exteriores cabe a formulação da política externa de cooperação técnica, a negociação dos seus instrumentos básicos e o encaminhamento das solicitações aos organismos internacionais públicos e as agências de governos estrangeiros. Art. 2º As solicitações de cooperação técnica só serão encaminhadas a qualquer organismo internacional ou agência de govêrno estrangeiro após prévia aprovação pelos Ministérios do Planejamento e Coordenação Geral e das Relações Exteriores, no campo da competência respectiva de cada um, na forma do Art. 3º dêste Decreto. Parágrafo único. O Ministério do Planejamento e Coordenação Geral, através da Subsecretária de Cooperação Econômica e Técnica Internacional (SUBIN), elaborará o calendário dentro do qual serão recebidos os pedidos de cooperação técnica formulados pelas instituições interessadas. Art. 3º Para os fins previstos no Artigo anterior, o Ministério do Planejamento e Coordenação Geral promoverá, pelo seu órgão competente, a realização de reuniões periódicas onde se procederá, de forma colegiada, ao exame das solicitações submetidas a sua aprovação, bem como de assuntos gerais de cooperação técnica. Nessas reuniões, em que o Ministério das Relações Exteriores sempre se fará representar; estarão também presentes, a juízo do Ministério do Planejamento e Coordenação Geral, representantes dos órgãos da Administração federal, direta e indireta, setorial e regionalmente responsáveis pela matéria ou pela área em que se inscreverem as solicitações em exame, bem como, na qualidade de assessores, outros órgãos e especialistas cuja audiência se faça necessária. 1º As reuniões previstas neste Artigo serão precedidas dos estudos técnicos pertinentes, 18

176 promovidos pelo Ministério do Planejamento e Coordenação Geral, diretamente ou através do Instituto de Planejamento Econômico e Social, bem como, nas áreas das respectivas competências especificadas pelo Conselho Nacional de Pesquisas, Comissão Nacional de Pesquisas, Comissão Nacional de Energia Nuclear e Centro Nacional de Recursos Humanos. 2º Poderão ser dispensados do processamento de aprovação interna e de negociação externa previstos neste Decreto os entendimentos e acordos operacionais estabelecidos diretamente pelos órgãos especializados citados no parágrafo anterior, nos campos de sua competência, com, os congêneres estrangeiros ou internacionais, mediante pronunciamento nesse sentido do Ministério do Planejamento e Coordenação Geral, ouvido o Ministério das Relações Exteriores. Art. 4º Os órgãos competentes para tratar dos assuntos de cooperação técnica internacional são, no Ministério do Planejamento e Coordenação Geral, a Subsecretaria de Cooperação Econômica e Técnica Internacional (SUBIN) e, no Ministério das Relações Exteriores, a Divisão de Cooperação Técnica. Art. 5º Dentro do prazo de trinta dias, a contar da publicação dêste Decreto, os demais Ministérios deverão indicar ao Ministério do Planejamento e Coordenação Geral a repartição competente, nos diferentes órgãos da Administração direta e indireta sob sua jurisdição, para tratar de cooperação técnica internacional, nos têrmos do Art. 3º. Parágrafo único. As repartições indicadas deverão estar capacitadas, diretamente ou mediante o apoio técnico de outros setores especializados, para decidir sôbre a programação setorial da cooperação técnica recebida, formular e analisar projetos e acompanhar a sua execução. Art. 6º O Ministério do Planejamento e Coordenação Geral promoverá a elaboração do Plano Básico de Cooperação Técnica Internacional, contendo os projetos prioritários das principais instituições nacionais, bem como, diretamente ou através de organismos públicos ou privados de reconhecida competência, a avaliação periódica dos programas de cooperação técnica internacional em curso no país. Art. 7º Fica extinta a Comissão Nacional de Assistência Técnica (CNAT), criada, no Ministério das Relações Exteriores, pelo Decreto nº , de 27 de outubro de 1950, modificada pelos Decretos nºs e , respectivamente de 2 de setembro de 1964 a 8 de julho de Parágrafo único. Ficam revogados os Decretos nºs , de 9 de dezembro de 1953, que aprovou o Regulamento da CNAT, e A, de 2 de setembro de 1964, que o alterou. Art. 8º Fica extinto o Escritório do Govêrno Brasileiro para a Coordenação do Programa de Assistência Técnica (Ponto IV), criado pelo Decreto nº , de 30 de março de 1959, revisto pelo Decreto nº , de 7 de abril de Parágrafo único. As atribuições do referido Escritório passam a Subsecretaria de Cooperação Econômica e Técnica Internacional (SUBIN) do Ministério do Planejamento e Coordenação Geral. Art. 9º Fica extinto o Conselho de Cooperação Técnica da Aliança para o Progresso (CONTAP), criado pelo Decreto nº , de 1 º de outubro de º Passam a Subsecretaria de Cooperação Econômica e Técnica Internacional (SUBIN) do Ministério do Planejamento e Coordenação Geral as funções previstas para o CONTAP pelos Artigos 1º, 2º, 3º, 5º, 8º e 9º do mencionado Decreto, as quais poderão ser desempenhadas por um Secretário-Executivo, designado pelo Ministro do Planejamento e Coordenação Geral. 2º Caberá ao Ministro do Planejamento e Coordenação Geral o ato de autorização a que se 19

177 refere o Art. 9º do Decreto nº , de 1º de outubro de º Fica mantida a competência da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) para conceder prioridades, aprovar e acompanhar a execução de projetos, na área da sua jurisdição, desde que enquadrados na programação nacional, conforme os têrmos do Artigo 7º do mesmo Decreto. Art. 10. Os servidores públicos requisitados pelo Escritório do Governo Brasileiro para a Coordenação do Programa de Assistência Técnica (Ponto IV) e pelo Conselho de Cooperação Técnica da Aliança para o Progresso (CONTAP) passam a disposição do Ministério do Planejamento e Coordenação Geral. Art. 11. A partir de 1º de janeiro de 1970, a contabilização a que se refere o 1º do Artigo 3º do Decreto número , de 1º de outubro de 1965, passará a ser feita pela Subsecretaria de Cooperação Econômica e Técnica Internacional (SUBIN) do Ministério do Planejamento Coordenação Geral, e a auditoria correspondente pela Inspetora Geral de Finanças do mesmo Ministério, comunicando-se os resultados da mesma ao Banco Central do Brasil. Art. 12. Êste Decreto entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário. Brasília, 21 de outubro de 1969; 148º da Independência e 81º da República. AUGUSTO HAMANN RADEMAKER GRÜNEWALD Aurélio de Lyra Tavares Márcio de Souza e Mello José de Magalhães Pinto Hélio Beltrão 20

178 ADVERTÊNCIA Informamos que os textos das normas deste sítio são digitados ou digitalizados, não sendo, portanto, "textos oficiais". São reproduções digitais de textos originais, publicados sem atualização ou consolidação, úteis apenas para pesquisa. Senado Federal Subsecretaria de Informações DECRETO Nº , DE 25 DE SETEMBRO DE 1987 Aprova o Estatuto da Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG), e dá outras providências. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso das atribuições que lhe confere o artigo 81, item III, da Constituição, DECRETA: Art. 1º Fica aprovado o Estatuto da Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG), instituída pelo Decreto nº , de 18 de novembro de 1971, que com este baixa. Art. 2º Para consecução de seus objetivos, integrará a estrutura da FUNAG a Agência Brasileira de Cooperação (ABC), dotada de autonomia financeira. Parágrafo único. Para o exercício da autonomia de que trata este artigo a ABC disporá de um Fundo Especial de Cooperação Técnica (FUNEC), de natureza contábil. Art. 3º Compete a ABC: I - coletar e gerar, para o FUNEC, recursos líquidos ou em espécie no País ou no exterior; II - assumir obrigações de co-financiamento; e III - fornecer apoio financeiro direto a programas e atividades de cooperação. Art. 4º Mantém-se relativamente ao pessoal originário da extinta SUBIN/SEPLAN e vinculado a órgãos da administração pública federal direta e indireta a atual forma de remuneração, sendo-lhe assegurados os direitos e vantagens de que é titular, inclusive aqueles referentes ao uso de imóveis funcionais. Art. 5º A ABC efetuará previsão em seu orçamento, a fim de ressarcir aos respectivos órgãos de origem das despesas de remuneração salarial de pessoal mencionado no artigo 4º. Art. 6º Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação. Art. 7º Revoga-se o Decreto nº , de 18 de novembro de 1971 e demais disposições em 21

179 contrário. Brasília, 25 de setembro de 1987; 166º da Independência e 99º da República. JOSÉ SARNEY Paulo Tarso Flecha de Lima Aluízio Alves ESTATUTO DA FUNDAÇÃO ALEXANDRE DE GUSMÃO CAPÍTULO I Da Finalidade, Sede e Foro Art. 1º A Fundação Alexandre de Gusmão (FUNAG), instituída pelo Decreto nº , de 18 de novembro de 1971, rege-se por este estatuto, na conformidade da Lei nº 5.717, de 26 de outubro de Art. 2º A FUNAG, pessoa jurídica de direito privado dotada de autonomia técnica, administrativa e financeira, terá a supervisão do Ministro de Estado das Relações Exteriores. Art. 3º O prazo de duração da FUNAG é indeterminado. Art. 4º A FUNAG terá sede e foro no Distrito Federal, podendo manter escritório no País e no exterior. Art. 5º É finalidade da FUNAG promover estudos, pesquisas e outras atividades relacionadas com problemas da política externa do Brasil e das relações internacionais de modo geral, competindolhe em especial: I - realizar e promover atividades culturais e pedagógicas no campo das relações internacionais; II - realizar e promover estudos e pesquisas sobre problemas atinentes às relações internacionais; III - divulgar a política externa brasileira em seus aspectos gerais; IV - contribuir para a formação no Brasil de uma opinião pública sensível aos problemas de convivência internacional; V - promover, difundir e coordenar a cooperação técnica entre organizações e instituições nacionais, estrangeiras e internacionais; VI - outras atividades compatíveis com suas finalidades e com este estatuto. Parágrafo único. Para a realização dessas finalidades, a FUNAG poderá: a) celebrar convênios com entidades nacionais, estrangeiras e internacionais; b) prestar serviços a órgãos dos governos federal, estaduais e municipais e a organizações 22

180 privadas, neste caso sempre mediante remuneração adequada; e c) exercer suas atividades diretamente ou através de órgãos públicos e privados. Art. 6º A FUNAG será representada, em juízo e fora dele, por seu Presidente. CAPÍTULO II Do Patrimônio Art. 7º O patrimônio da FUNAG será constituído: I - de dotação específica a ser consignada no orçamento da União e saldos orçamentários e financeiros existente; II - de subvenções da União, dos Estados e dos Municípios; III - de bens que vier a adquirir a qualquer título; IV - de recursos privados resultantes de doações e contribuições em dinheiro, valores, e bens móveis e imóveis, que venha a receber de pessoas físicas e jurídicas; e V - de rendimento de qualquer natureza, que venha a auferir, com remuneração decorrente de aplicações de seu patrimônio e de prestação de serviços. 1º A FUNAG poderá receber doações, legados, auxílios e contribuições para a constituição de fundos especiais e para custeio de serviços determinados. 2º A FUNAG poderá contrair empréstimos, internos e externos, para o financiamento de suas atividades, mediante expressa autorização do Ministro de Estado das Relações Exteriores. Art. 8º A FUNAG aplicará recursos na formação de um patrimônio rentável cujos resultados contribuirão para a garantia de sua manutenção. Art. 9º Os recursos de que trata o art. 7º poderão ser aplicados: I - em aquisição de bens imóveis de renda, de obras de arte, e de títulos públicos de emissão da União, dos Estados e Municípios; e II - em outras operações efetuadas com instituições financeiras oficiais. Art. 10. Os depósitos e a movimentação do numerário serão feitos, exclusivamente, em conta da FUNAG, em estabelecimentos oficiais de crédito. Art. 11. Os bens e direitos da FUNAG serão utilizados exclusivamente para consecução de seus fins. CAPÍTULO III Da Organização 23

181 Art. 12. São órgãos da FUNAG: I - o Conselho Curador; II - a Presidência; III - a Agência Brasileira de Cooperação (ABC); e IV - o Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI). Parágrafo único. Serão aprovados pelo Conselho Curador os Regimentos Internos que definirão a estrutura básica e as normas de funcionamento do ABC e do IPRI. CAPÍTULO IV Do Conselho Curador Art. 13. O Conselho Curador, cuja Presidência caberá ao Ministro de Estado das Relações Exteriores, será constituído de... membros, sendo... natos e... temporários, e composto de duas Câmaras: a Câmara de Relações Internacionais e a Câmara de Cooperação Técnica Internacional, que possuirão igual número de membros. Art. 14. São membros natos do Conselho Curador: I - o Subsecretário-Geral de Assuntos Políticos Bilaterais do Ministério das Relações Exteriores; II - o Subsecretário-Geral de Assuntos Políticos Multilaterais e Especiais do Ministério das Relações Exteriores; III - o Subsecretário-Geral de Assuntos Econômicos e Comerciais do Ministério das Relações Exteriores; IV - o Subsecretário-Geral de Administração e Comunicações do Ministério das Relações Exteriores; V - o Secretário de Controle Interno do Ministério das Relações Exteriores; VI - o Diretor do Instituto Rio Branco do Ministério das Relações Exteriores; VII - o Chefe de Gabinete do Ministro de Estado das Relações Exteriores; VIII - o Chefe de Gabinete do Secretário-Geral do Ministério das Relações Exteriores; IX - o Chefe do Departamento de Administração do Ministério das Relações Exteriores; X - o Chefe do Departamento Cultural do Ministério das Relações Exteriores; XI - o Secretário-Geral da Secretaria de Administração Pública da Presidência da República; XII - o Secretário do Tesouro Nacional do Ministério da Fazenda; 24

182 XIII - o Secretário de Orçamento e Finanças da Secretaria de Planejamento e Coordenação da Presidência da República; XIV - o Presidente do Banco do Brasil S.A.; XV - o Presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Ministério da Ciência e Tecnologia. Art. 15. Os membros temporários e seus suplentes serão eleitos pelo Conselho Curador, por maioria absoluta, e escolhidos dentre pessoas de reconhecida experiência em assuntos internacionais ou que hajam contribuído de forma relevante para a criação, manutenção ou funcionamento da FUNAG. 1º A duração do mandato dos membros temporários será de um triênio, e um terço dos membros será substituído anualmente. A primeira investidura será por tempo variável de um a três anos, conforme dispuser o ato de designação. 2º Os representantes de fundações e outras entidades, se houver, poderão ser substituídos, a qualquer tempo, a critério das entidades representadas. 3º No caso de vacância antes do término do mandato do titular ou suplente, far-se-á nova designação ou eleição para o período restante. Art. 16. O Conselho Curador reunir-se-á ordinariamente com a maioria de seus membros uma vez por ano. Art. 17. A função de membro do Conselho Curador não será remunerada. Art. 18. O Conselho Curador poderá reunir-se com a maioria de seus membros, extraordinariamente, por convocação de seu Presidente ou mediante requerimento de, no mínimo, um terço de seus membros. Parágrafo único. O Presidente da FUNAG poderá solicitar a convocação do Conselho Curador ao seu Presidente, sempre que necessário, para o desempenho das funções previstas nas letras b e c do item III, do art. 23. Art. 19. As deliberações serão tomadas por maioria de votos dos presentes. Art. 20. A ausência injustificada de qualquer membro a três reuniões consecutivas importa em perda do mandato. Art. 21. É vedada a acumulação da função de Curador ou Suplente com qualquer outra de natureza técnica ou administrativa da FUNAG. Art. 22. O Presidente da FUNAG ou seu substituto legal, o Diretor do IPRI e o Diretor Executivo da ABC participarão das reuniões do Conselho Curador, sem direito a voto. Art. 23. Ao Conselho Curador compete: I - em relação às atividades gerais da FUNAG, deliberar sobre: 25

183 a) as diretrizes gerais; b) as diretrizes da política de retribuição dos serviços prestados pela FUNAG, consideradas as condições de mercado; c) a proposta do Regimento Interno elaborado na forma deste Estatuto; d) proposta de alteração do Estatuto; e) programas anuais e plurianuais de investimentos, as respectivas alterações, e os programas de aplicação de recursos (art. 9º); e f) o orçamento e suas alterações. II - em relação ao pessoal da FUNAG: a) aprovar o quadro de pessoal; b) definir as diretrizes gerais de política salarial; III - em relação ao controle de gestão: a) deliberar sobre as contas, após a apresentação dos certificados e pareceres da auditoria interna; b) adotar as normas relativas à licitação para compras, obras, serviços e alienações; c) pronunciar-se sobre a aceitação de doações com encargos; e d) aprovar o relatório anual. VI - em relação ao seu funcionamento, aprovar o seu Regimento Interno. CAPÍTULO V Da Presidência e seus Órgãos SEÇÃO I Da Presidência Art. 24. O Presidente da FUNAG será o Secretário-Geral do Ministério das Relações Exteriores, o qual será assistido por uma Diretoria-Geral. Parágrafo único. A função do Presidente e a de Diretor na FUNAG não serão remuneradas. Art. 25. Ao Presidente da FUNAG incumbirá, em especial: I - representar a FUNAG, em juízo e fora dele, podendo inclusive delegar poderes e constituir mandatários; 26

184 II - submeter ao Conselho Curador assuntos e documentos que por ele ou pelo Ministro de Estado das Relações Exteriores devam ser aprovados, bem assim as informações necessárias à avaliação de resultados; III - submeter ao Conselho Curador outras matérias de sua competência; e IV - atender às requisições e solicitações dos órgãos que exerçam poder de controle sobre a FUNAG. Art. 26. A FUNAG será gerida por um Diretor-Geral designado por seu Presidente, dentre os funcionários do Quadro Permanente da Carreira de Diplomata, após aprovação do Ministro de Estado das Relações Exteriores. Art. 27. O Diretor-Geral é responsável pela orientação, direção e coordenação das atividades administrativas e financeiras da FUNAG, e pelo cumprimento das normas e determinações legais, competindo-lhe, em particular: I - encaminhar ao Presidente os assuntos e documentos que devam ser submetidos ao Conselho Curador; II - elaborar proposta de Regimento Interno da FUNAG, que será submetido ao Conselho Curador; III - submeter ao Conselho Curador propostas de regimentos autônomos relativos ao IPRI e à ABC, elaboradas pelos respectivos diretores; IV - fixar normas de organização, com exceção das do IPRI e da ABC; V - elaborar e encaminhar propostas de alteração de Regimento Interno; VI - dirigir, coordenar e controlar as atividades dos Serviços Auxiliares; VII - apresentar a proposta de orçamento-programa, a prestação anual de contas e o relatório anual da FUNAG; VIII - acompanhar e controlar a execução de convênios, contratos e projetos descentralizados em que a Fundação seja parte, com exceção daqueles da competência da ABC e do IPRI, a não ser quando solicitado; IX - responsabilizar-se pelos atos de administração patrimonial; e X - elaborar e submeter ao Presidente da FUNAG o plano de cargos e salários do pessoal. Art. 28. A Diretoria-Geral será composta das seguintes Diretorias Adjuntas, subordinadas ao Diretor-Geral: I - Diretoria Adjunta Administrativa e Financeira; II - Diretoria Adjunta do Fundo Especial do Patrimônio Cultural; III - Diretoria Adjunta de Apoio Editorial e Documentação. Parágrafo único. A estrutura das Diretorias Adjuntas será fixada pelo Regimento Interno da 27

185 FUNAG. CAPÍTULO VI Da Agência Brasileira de Cooperação Art. 29. A Agência Brasileira de Cooperação (ABC) é o organismo destinado a apoiar as atividades de que trata o item IV do art. 4º do Decreto nº , de 31 de março de Art. 30. Cabe à ABC, no âmbito do Sistema de Cooperação Técnica Internacional, cujo órgão central é o Ministério das Relações Exteriores, operar programas de cooperação técnica em todas as áreas do conhecimento, entre o Brasil e outros países e organismos internacionais, nos termos da política externa brasileira. Art. 31. Incumbe à ABC, entre outras atividades: I - articular órgãos e entidades nacionais, estrangeiras e internacionais, públicos e privados, inclusive instituições de ensino e pesquisa, para participação em programas de cooperação técnica; II - promover e organizar a participação de empresas privadas em programas de cooperação técnica; III - celebrar convênios internos; IV - propor e coordenar programas de cooperação técnica e executar os programas aprovados pelo Ministério das Relações Exteriores; V - acompanhar e avaliar a execução dos programas de cooperação técnica; VI - assessorar o Departamento de Cooperação Científica, Técnica e Tecnológica do Ministério das Relações Exteriores no exame da viabilidade e dos resultados de programas de cooperação técnica; VII - assessorar tecnicamente o órgão central de planejamento da União no processo de elaboração orçamentária, no tocante aos projetos e atividades de cooperação técnica internacional a serem desenvolvidos pelos demais Ministérios; VIII - analisar, em conjunto com os Ministérios responsáveis pela formulação de planos e políticas globais e setoriais, o mérito dos projetos e atividades de cooperação técnica internacional, possibilitando ao Ministério das Relações Exteriores negociação de Programa Global de Cooperação com as respectivas fontes externas; IX - processar, difundir e repassar aos destinatários os dados referentes à oferta e à demanda de cooperação internacional; X - selecionar ou apontar instituições e pessoal técnico habilitados a participarem de projetos de cooperação técnica internacional; XI - organizar cursos, estágios e visitas de missões; 28

186 XII - administrar os recursos humanos, materiais e financeiros à sua disposição; e XIII - organizar ações ligadas ao Voluntariado Internacional. Art. 32. A administração superior da ABC será exercida pelo Conselho de Administração, que terá por finalidade definir as diretrizes da Agência, estabelecer prioridades para a execução dos programas de cooperação técnica e acompanhar a execução desses programas. Parágrafo único. O Conselho de Administração será integrado pelo Presidente da FUNAG, pelos Subsecretários Gerais e pelo Chefe do Departamento de Cooperação Científica, Técnica e Tecnológica do Ministério das Relações Exteriores. Art. 33. Diretor-Executivo da ABC será o Chefe do Departamento de Cooperação Científica, Técnica e Tecnológica do Ministério das Relações Exteriores. Art. 34. O Diretor-Executivo será assessorado pelo Grupo Técnico Consultivo (GTC). Parágrafo único. O GTC é um órgão de assessoramento interinstitucional, composto de outros Ministérios e instituições ligados às atividades de cooperação técnica. Art. 35. Ao Diretor-Executivo da ABC incumbirá: I - elaborar o projeto de regimento interno da ABC; II - dirigir a Agência, praticando os atos necessários à sua administração; III - submeter ao Conselho Curador, por intermédio do Presidente da FUNAG: a) o relatório anual; b) a prestação de contas anual. IV - propostas de modificação do Estatuto; e V - a edição de normas de organização relativas à ABC. CAPÍTULO VII Do Instituto de Pesquisas de Relações Internacionais Art. 36. O Instituto de Pesquisas de Relações Internacionais (IPRI) será dirigido por um diretor, designado, dentre os funcionários do Quadro Permanente da Carreira de Diplomata, pelo Presidente da FUNAG, após aprovação do Ministro de Estado das Relações Exteriores. Art. 37. Ao Diretor do Instituto de Pesquisas de Relações Internacionais (IPRI) incumbe: I - elaborar o projeto de regimento interno do IPRI; II - dirigir o Instituto, praticando os atos necessários à sua administração; 29

187 III - submeter ao Presidente da FUNAG a prestação de contas anual relativa às suas atividades; IV - submeter ao Presidente da FUNAG um relatório anual; V - propor ao Presidente da FUNAG a contratação de técnicos e especialistas que deverão atuar no âmbito de estudos e pesquisas de relações internacionais; VI - propor a modificação do Estatuto; e VII - editar normas de organização relativas ao IPRI. Art. 38. Ao IPRI incumbe promover e divulgar: I - estudos e pesquisas sobre problemas atinentes às relações internacionais; II - a coleta e sistematização de documentos relativos a seu campo de atuação; III - o intercâmbio científico e colaboração com instituições congêneres nacionais, estrangeiras e internacionais; e IV - cursos, conferências, seminários e congressos na área de relações internacionais. CAPÍTULO VIII Do Controle de Resultados e de Legitimidade Art. 39. A FUNAG contará com auditoria interna como unidade de sua estrutura orgânica, diretamente subordinada ao Presidente da Fundação, com a incumbência de: I - efetuar controle e avaliação de resultados, de conformidade com as Normas de Organização; II - reunir e elaborar documentos e informações a serem fornecidos ao Conselho Curador e a outros órgãos que exerçam poder de controle sobre a FUNAG; e III - executar tarefas relacionadas com o seu campo de atividade determinadas pelo Presidente da FUNAG. Art. 40. A FUNAG fornecerá os documentos requisitados pelos órgãos competentes, necessários ao controle de resultados, e dará condições para a realização do controle de legitimidade. CAPÍTULO IX Do Regime Financeiro Art. 41. O exercício financeiro da FUNAG coincide com o ano-calendário. Art. 42. A prestação anual de contas da FUNAG, que incluirá as da ABC e do IPRI, será apresentada ao seu Presidente para posterior apreciação pelo Conselho Curador e deverá conter os seguintes elementos: 30

188 I - balanço patrimonial; II - balanço orçamentário; III - balanço financeiro; e IV - certificado de auditoria independente sobre a exatidão das contas e dos balanços. 1º Os balanços serão consolidados e incluirão os da ABC e do IPRI. 2º A prestação de contas será submetida ao Conselho Curador e, aprovada, será apresentada ao Ministro de Estado das Relações Exteriores, acompanhada do relatório anual (Decreto nº , de 18 de novembro de 1971, art. 2º parágrafo único). CAPÍTULO X Do Regimento Interno Art. 43. O funcionamento da FUNAG obedecerá ao disposto em seu Regimento Interno e em Normas de Organização que regularão: I - em relação as atividades-meio: a) os recursos institucionais, compreendendo a estrutura administrativa, as atribuições das unidades e a competência dos dirigentes, chefes e encarregados; b) os recursos humanos, financeiros, patrimoniais e materiais; c) o sistema de administração dos recursos; II - em relação à avaliação de desempenho: a) o controle de resultados; b) o controle de legitimidade; c) o sistema contábil e de apuração dos custos. CAPÍTULO XI Do Regime de Pessoal Art. 44. O regime jurídico de pessoal da FUNAG é o da legislação trabalhista. 1º O Plano de Cargos e Salários da FUNAG, após aprovado pelo seu Conselho Curador, será submetido pelo Ministro de Estado das Relações Exteriores ao Conselho Interministerial de Salários de Empresas Estatais (CISE), na forma da legislação vigente. 2º A Fundação poderá requisitar, por intermédio do Ministro de Estado das Relações Exteriores, servidores de outros órgãos da administração federal, direta e indireta, para o cumprimento de 31

189 suas finalidades. CAPÍTULO XII Das Disposições Gerais e Transitórias Art. 45. A ABC e o IPRI funcionarão sob regime de administração delegada, devendo seus atos de gestão orçamentária e financeira serem aprovados pelo Conselho Curador. Art. 46. A proposta de alteração do Estatuto poderá ocorrer por iniciativa do Presidente da FUNAG ou de um terço, no mínimo, dos membros do Conselho Curador. 1º A proposta será encaminhada a cada um dos membros do Conselho Curador, o qual poderá, dentro do prazo de quinze dias, reunir-se na forma prevista neste Estatuto para deliberação. 2º A proposta de alteração será dada por aprovada pelo Conselho Curador, se contar com metade mais um dos votos de seus membros incluindo-se o voto do seu Presidente. Art. 47. As alterações estatutárias serão encaminhadas pelo Ministro de Estado das Relações Exteriores ao Presidente da República para aprovação. Art. 48. As Câmaras de Relações Internacionais e a de Cooperação Técnica Internacional, previstas no art. 12, bem como o Grupo Técnico Consultivo da ABC previsto no art. 34, serão regulados pelos regimentos do IPRI e da ABC. Art. 49. A primeira investidura dos membros temporários do Conselho Curador far-se-á por um, dois ou três anos, para fins de aplicação do critério de renovação pelo terço (art. 15, 1º). Parágrafo único. Os mandatos de maior duração caberão àqueles que alcançaram maior número de votos. Brasília-DF, 25 de setembro de PAULO TARSO FLECHA DE LIMA R E T I F I C A Ç Ã O DECRETO Nº , DE 28 DE SETEMBRO DE 1987 DECRETOS NºS , E , DE ABRIL DE

190 (PUBLICADOS NO DIÁRIO OFICIAL DE 29 DE ABRIL DE SEÇÃO I) - Nas páginas 7.457, e 7.462, nas assinaturas LEIA-SE: José Sarney e Paulo Tarso Flecha de Lima. 33

191 ADVERTÊNCIA Informamos que os textos das normas deste sítio são digitados ou digitalizados, não sendo, portanto, "textos oficiais". São reproduções digitais de textos originais, publicados sem atualização ou consolidação, úteis apenas para pesquisa. Senado Federal Subsecretaria de Informações DECRETO Nº 2.070, DE 13 DE NOVEMBRO DE Aprova a Estrutura Regimental do Ministério das Relações Exteriores e dá outras providências. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso das atribuições que lhe confere o art. 84, incisos IV e VI, da Constituição, DECRETA: Art. 1 Ficam aprovados a Estrutura Regimental e o Quad ro Demonstrativo dos Cargos em Comissão e Funções Gratificadas do Ministério das Relações Exteriores, na forma dos Anexos I e II, a este Decreto. Parágrafo único. Em decorrência do disposto no caput deste artigo, ficam remanejados da Fundação Alexandre de Gusmão para o Ministério das Relações Exteriores, um cargo DAS 101.5, um cargo DAS 101.4, quatro cargos DAS e nove cargos DAS Art. 2º Os apostilamentos decorrentes do remanejamento de que trata o parágrafo único do artigo anterior deverão ocorrer no prazo de vinte dias contados da data de publicação deste Decreto. Parágrafo único. Após os apostilamentos previstos no caput, o Ministro de Estado das Relações Exteriores fará publicar no Diário Oficial da União, no prazo de trinta dias contados da data de publicação deste Decreto, relação nominal dos titulares dos cargos em comissão do Grupo- Direção e Assessoramento Superiores - DAS a que se refere o parágrafo único do artigo anterior indicando, inclusive, o número de cargos vagos, sua denominação e respectivo nível. Art. 3º O Ministro de Estado das Relações Exteriores fará republicar no prazo de noventa dias, a contar da data de publicação deste Decreto, o Regimento Interno da Secretaria de Estado das Relações Exteriores com as alterações impostas por este Decreto. Art. 4º Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação. Art. 5 Revoga-se o Decreto nº 1.756, de 22 de dezembro de Brasília, 13 de novembro de 1996; 175º da Independência e 108º da República. 34

192 FERNANDO HENRIQUE CARDOSO Luiz Felipe Lampreia Luiz Carlos Bresser Pereira Anexo ao Decreto nº 2.070, de 13 de novembro de ANEXO I ESTRUTURA REGIMENTAL MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES CAPÍTULO I DA NATUREZA E COMPETÊNCIA Art. 1 O Ministério das Relações Exteriores, órgão da administração direta, tem como área de competência os seguintes assuntos: I - política internacional; II - relações diplomáticas e serviços consulares; participação nas negociações comerciais, econômicas, técnicas e culturais com governos e entidades estrangeiras; IV - programas de cooperação internacional; V - apoio a delegações, comitivas e representações brasileiras em agências e organismos internacionais e multilaterais. Parágrafo único. Cabe ao Ministério das Relações Exteriores auxiliar o Presidente da República na formulação da política exterior do Brasil, assegurar sua execução e manter relações com Estados estrangeiros, organismos e organizações internacionais. CAPÍTULO II DA ESTRUTURA ORGANIZACIONAL Art. 2º O Ministério das Relações Exteriores tem a seguinte estrutura organizacional: I - órgãos de assistência direta e imediata ao Ministro de Estado: a) Gabinete; b) Secretaria de Planejamento Diplomático; II - órgãos setoriais: 35

193 a) Secretaria de Controle Interno; b) Consultoria Jurídica; III - Secretaria-Geral das Relações Exteriores: a) Gabinete do Secretário-Geral; b) Inspetoria-Geral do Serviço Exterior; c) Corregedoria do Serviço Exterior; d) Cerimonial; e) Instituto Rio Branco; f) Direção-Geral de Assuntos Consulares, Jurídicos e de Assistência a Brasileiros no Exterior; g) Agência Brasileira de Cooperação; h) Subsecretaria-Geral de Assuntos de Integração, Econômicos e de Comércio Exterior: 1. Departamento de Cooperação Científica, Técnica e Tecnológica; 2. Departamento Econômico; 3. Departamento de Integração Latino-Americana; 4. Departamento de Promoção Comercial; i) Subsecretaria-Geral de Assuntos Políticos: 1. Departamento da África e Oriente Próximo; 2. Departamento das Américas; 3. Departamento da Ásia e Oceania; 4. Departamento da Europa; 5. Departamento Cultural; 6. Departamento de Direitos Humanos e Temas Sociais; 7. Departamento de Organismos Internacionais; 8. Departamento de Temas Especiais; j) Subsecretaria-Geral do Serviço Exterior: 1. Departamento de Administração; 36

194 2. Departamento de Comunicações e Documentação; 3. Departamento do Serviço Exterior; IV - unidades descentralizadas: a) Escritório de Representação no Rio de Janeiro; b) Escritório de Representação no Rio Grande do Sul; c) Escritório de Representação na Região Nordeste; V - órgãos de deliberação coletiva: a) Conselho de Política Externa; VI - órgãos no exterior; a) Missões Diplomáticas Permanentes; b) Repartições Consulares; c) Unidades específicas, destinadas a atividades administrativas, técnicas, culturais ou de gestão de recursos financeiros; VII - Entidade vinculada: Fundação Alexandre de Gusmão. Parágrafo único. O conjunto de órgãos do Ministério das Relações Exteriores no Brasil denominase Secretaria de Estado das Relações Exteriores. CAPÍTULO III DA SECRETARIA DE ESTADO DAS RELAÇÕES EXTERIORES SEÇÃO I Dos Órgãos de Assistência Direta e Imediata ao Ministro de Estado Art. 3º Ao Gabinete do Ministro compete: I - assistir ao Ministro de Estado em sua representação política e social, ocupar-se das relações públicas e do preparo e despacho de seu expediente pessoal; II - promover a articulação entre o Ministério e os órgãos da Presidência da República; III - promover a articulação entre o Ministério e o Congresso Nacional e providenciar o atendimento as consultas e aos requerimentos formulados; IV - providenciar a publicação oficial e a divulgação das matérias relacionadas com a área de atuação do Ministério; 37

195 V - exercer outras atribuições que lhe forem cometidas pelo Ministro de Estado. Art. 4º À Secretaria de Planejamento Diplomático compete: I - desenvolver atividades de planejamento da ação diplomática; II - desenvolver atividades de planejamento político; III - acompanhar, no âmbito do Ministério das Relações Exteriores, os assuntos referentes aos ministérios militares. SEÇÃO II Dos Órgãos Setoriais Art. 5º À Secretaria de Controle Interno, como órgão setorial do Sistema de Controle Interno do Poder Executivo, compete: I - assessorar o Ministro de Estado no âmbito de sua competência, operando como órgão de apoio à supervisão ministerial; II - orientar, acompanhar, fiscalizar e avaliar a gestão orçamentário-financeira, patrimonial e operacional das unidades jurisdicionadas e da entidade vinculada; III - verificar e certificar as contas dos responsáveis pela aplicação, utilização ou guarda de bens e valores públicos; IV - supervisionar os registros sobre a composição e atuação das comissões de licitações; V - realizar auditorias sobre acordos e contratos firmados com organismos internacionais; VI - executar a contabilidade analítica das unidades jurisdicionadas; VII - verificar a exatidão e a suficiência dos dados relativos à admissão de pessoal, qualquer título, e à concessão de aposentadorias e pensões no Ministério e na entidade vinculada; VIII - atuar como interlocutor junto ao Tribunal de Contas da União. Parágrafo único. Funcionará junto ao Consulado-Geral em Nova York uma Unidade de Controle Interno, subordinada técnica e administrativamente à Secretaria de Controle Interno, para exercer as funções típicas do Controle Interno no exterior. Art. 6º À Consultoria Jurídica, órgão setorial da Advocacia-Geral da União, compete: I - assessorar o Ministro de Estado em assuntos de natureza jurídica; II - exercer a coordenação do órgão jurídico da entidade vinculada; III - fixar a interpretação da Constituição, das leis, dos tratados e dos demais atos normativos a ser uniformemente seguida no âmbito do Ministério e da entidade vinculada, quando não houver 38

196 orientação normativa do Advogado-Geral da União; IV - elaborar estudos e preparar informações por solicitação do Ministro de Estado; V - assistir ao Ministro de Estado no controle interno da legalidade administrativa dos atos a serem por ele praticados ou já efetivados e daqueles oriundos da entidade vinculada; VI - examinar, prévia e conclusivamente, no âmbito do Ministério, os textos de edital de licitação, como os dos respectivos contratos ou instrumentos congêneres, a serem publicados e celebrados, bem como os atos pelos quais se vá reconhecer a inexigibilidade, ou decidir a dispensa, de licitação. SEÇÃO III Da Secretaria-Geral das Relações Exteriores Art. 7º À Secretaria-Geral das Relações Exteriores compete: I - assessorar o Ministro de Estado na direção e execução da política exterior do Brasil, na supervisão dos serviços diplomático e consular e na gestão dos demais negócios afetos ao Ministério das Relações Exteriores; II - orientar, coordenar e supervisionar as unidades administrativas do Ministério das Relações Exteriores no exterior; III - dirigir, orientar, coordenar e supervisionar a atuação das unidades que compõem a Secretaria de Estado das Relações Exteriores, exceto a dos órgãos de assistência direta e imediata ao Ministro de Estado. Parágrafo único. A Secretaria-Geral das Relações Exteriores contará com um Secretário-Geral Adjunto, ao qual serão cometidas atribuições específicas, dentre as quais representar o Brasil em missões especiais ao exterior e chefiar grupos negociadores ad hoc. Art. 8º Ao Gabinete do Secretário-Geral compete: I - assistir ao Secretário-Geral das Relações Exteriores em sua representação e atuação política, social e administrativa; II - auxiliar o Secretário-Geral das Relações Exteriores no preparo e no despacho de seu expediente; III - centralizar a produção de material de divulgação sobre a realidade e a política externa brasileiras. Art. 9º À Inspetoria-Geral do Serviço Exterior compete desenvolver atividades de inspeção administrativa e avaliação do desempenho concernentes aos programas e às ações dos setores político, econômico, comercial, consular, cultural, de cooperação técnica e de cooperação científico-tecnológica das unidades organizacionais na Secretaria de Estado e no exterior. Art. 10. À Corregedoria do Serviço Exterior compete considerar as questões relativas à conduta dos integrantes do Serviço Exterior, bem como dos demais servidores do Ministério das Relações 39

197 Exteriores em serviço no exterior, observada a legislação pertinente. Parágrafo único. A Corregedoria do Serviço Exterior disporá de regimento próprio. Art. 11. Ao Cerimonial incumbe assegurar a observância das normas do cerimonial brasileiro e de concessão de privilégios diplomáticos aos agentes diplomáticos estrangeiros e aos funcionários de organismos internacionais acreditados junto ao Governo brasileiro. Art. 12. Ao Instituto Rio Branco compete o recrutamento, a seleção, a formação e o aperfeiçoamento do pessoal da Carreira de Diplomata. Parágrafo único. O Instituto Rio Branco promoverá e realizará os concursos públicos de provas e os cursos que se fizerem necessários ao cumprimento do disposto neste artigo. Art. 13. A Direção-Geral de Assuntos Consulares, Jurídicos e de Assistência a Brasileiros no Exterior compete: I - orientar e supervisionar as atividades de natureza consular e de assistência a brasileiros desempenhadas pelas unidades administrativas do Ministério das Relações Exteriores no País e no exterior; II - acompanhar, no âmbito do Ministério das Relações Exteriores, os assuntos concernentes à política imigratória nacional; III - cuidar da execução das normas legais e regulamentares brasileiras referentes a documentos de viagem, no âmbito do Ministério das Relações Exteriores; IV - tratar de matérias relativas à cooperação judiciária internacional; V - propor atos internacionais sobre tema de sua responsabilidade e coordenar a respectiva negociação. Art. 14. À Agência Brasileira de cooperação compete: I - coordenar, negociar, aprovar, acompanhar e avaliar, em âmbito nacional, a cooperação para o desenvolvimento em todas as áreas do conhecimento, recebida de outros países e organismos internacionais e aquela entre o Brasil e países em desenvolvimento; II - administrar recursos financeiros nacionais e internacionais alocados a projetos e atividades de cooperação para o desenvolvimento por ela coordenados. Art. 15. À Subsecretaria-Geral de Assuntos de Integração, Econômicos e de Comércio Exterior compete assegurar o Secretário-Geral das Relações Exteriores no trato das questões de natureza econômico-comercial relacionadas com a integração regional, com a economia internacional e com a promoção do comércio exterior. Art. 16. Ao Departamento de Cooperação Científica, Técnica e Tecnológica compete propor, em coordenação com os Departamentos geográficos, diretrizes de política exterior no âmbito das relações científicas e da cooperação técnica. Art. 17. Ao Departamento Econômico compete propor diretrizes de política exterior, no âmbito internacional, relativas a matéria de natureza econômica. 40

198 Art. 18. Ao Departamento de Integração Latino-Americana compete propor diretrizes de política exterior no âmbito internacional relativas ao processo de integração latino-americano e, em especial, ao MERCOSUL. Art. 19. Ao Departamento de Promoção Comercial compete orientar e controlar as atividades de promoção comercial no exterior. Art. 20. À Subsecretaria-Geral de Assuntos Políticos compete assessorar o Secretário-Geral das Relações Exteriores no trato das questões de natureza política das relações entre os Estados. Art. 21. Ao Departamento da África e Oriente Próximo, ao Departamento das Américas, ao Departamento da Ásia e Oceania e ao Departamento da Europa compete coordenar e acompanhar a política do Brasil com cada país e com o conjunto das suas respectivas áreas geográficas. Art. 22. Ao Departamento Cultural compete propor, em coordenação com os Departamentos geográficos, diretrizes de política exterior no âmbito das relações culturais e educacionais e difundir no exterior informações sobre a arte e a cultura brasileiras. Art. 23. Ao Departamento de Direitos Humanos e Temas Sociais compete: I - propor diretrizes de política exterior no âmbito internacional relativas aos direitos humanos, aos direitos da mulher, aos direitos da criança e do adolescente, à questão dos assentamentos humanos, aos demais temas tratados nos órgãos das Nações Unidas especializados em assuntos sociais; II - coordenar a participação do Governo brasileiro em organismos e reuniões internacionais no tocante a matéria de sua responsabilidade. Art. 24. Ao Departamento de Organismos Internacionais compete: I - propor diretrizes de política exterior no âmbito internacional relativas à codificação do direito internacional, às questões atinentes ao direito humanitário, ao desarmamento, à não-proliferação de armas de destruição em massa e à transferência de tecnologias sensíveis, aos assuntos relativos à fiscalização e supressão internacional do comércio de entorpecentes e aos assuntos políticos levados à consideração da Organização das Nações Unidas e da Organização dos Estados Americanos; II - coordenar a participação do Governo brasileiro em organismos e reuniões internacionais no tocante a matéria de sua responsabilidade. Art. 25. Ao Departamento de Temas Especiais compete: I - propor diretrizes de política exterior no âmbito internacional relativas ao meio ambiente, às questões indígenas, à Antártida, ao espaço exterior, à ordenação jurídica do mar e seu regime, à utilização econômica dos fundos marinhos e oceânicos e ao regime jurídico da pesca; II - coordenar a participação do Governo brasileiro em organismos e reuniões internacionais no tocante a matéria de sua responsabilidade. Art. 26. À Subsecretaria-Geral do Serviço Exterior compete assessorar o Secretário-Geral das Relações Exteriores no trato de todos os aspectos administrativos relacionados com a execução 41

199 da política exterior. Parágrafo único. A Subsecretaria-Geral do Serviço Exterior exerce, ainda, o papel de órgão setorial dos Sistemas de Pessoal Civil - SIPEC, de Organização e Modernização Administrativa - SOMAD, de Administração de Recursos da Informação e da Informática - SISP, de Serviços Gerais - SISG e de Planejamento e Orçamento, por intermédio dos Departamentos e Coordenações-Gerais a ela subordinados. Art. 27. Ao Departamento de Administração compete: I - planejar e supervisionar as atividades de administração de material e de patrimônio, no país e no exterior; II - supervisionar os serviços gerais de apoio administrativo no Brasil, observando a orientação do órgão central do Sistema de Serviços Gerais da Administração Federal - SISG, ao qual se vincula tecnicamente como órgão setorial. Art. 28. Ao Departamento de Comunicações e Documentação compete planejar, supervisionar e coordenar as atividades referentes à transmissão, guarda, recuperação, circulação e disseminação de informações e documentos, observando a orientação do órgão central do Sistema de Administração dos Recursos de Informação e Informática da Administração Federal - SISP, ao qual se vincula tecnicamente como órgão setorial. Art. 29. Ao Departamento do Serviço Exterior compete planejar, coordenar e supervisionar as atividades de formulação e execução da política de pessoal, inclusive em seus aspectos de pagamentos e de assistência médica e social, observando a orientação do órgão central do Sistema de Pessoal Civil da Administração Federal - SIPEC, ao qual se vincula tecnicamente como órgão setorial. SEÇÃO IV Das Unidades Descentralizadas Art. 30. Aos Escritórios de Representação no Rio de Janeiro, no Rio Grande do Sul e na Região Nordeste, compete coordenar e apoiar as ações que o Ministério das Relações Exteriores desenvolva nas suas específicas jurisdições. Parágrafo único. Ao Escritório no Rio de Janeiro cabe ainda apoiar as unidades administrativas do Ministério das Relações Exteriores e da Fundação Alexandre de Gusmão situadas naquela cidade. SEÇÃO V Dos Órgãos de Deliberação Coletiva Art. 31. Ao Conselho de Política Externa, presidido pelo Ministro de Estado e integrado pelo Secretário-Geral das Relações Exteriores, pelo Chefe de Gabinete do Ministro, pelos Subsecretários-Gerais e pelo Secretário-Geral Adjunto, compete: I - assegurar unidade às atividades da Secretaria de Estado das Relações Exteriores; II - aconselhar as autoridades políticas envolvidas pela formulação e execução da política externa; 42

200 III - deliberar sobre as diretrizes para a elaboração de programas de trabalho do Ministério das Relações Exteriores; IV - aprovar políticas de gerenciamento das carreiras do Serviço Exterior; V - decidir sobre políticas de alocação de recursos humanos e orçamentários. Parágrafo único. O Conselho de Política Externa terá por Secretário-Executivo o Secretário de Planejamento Diplomático. Art. 32. À Comissão de Promoções, presidida pelo Ministro de Estado das Relações Exteriores, compete aferir o desempenho dos servidores da Carreira de Diplomata para efeitos de promoção por merecimento. Parágrafo único. A Comissão de Promoções terá regulamento próprio aprovado pelo Presidente da República. CAPÍTULO IV DAS ATRIBUIÇÕES DOS DIRIGENTES SEÇÃO I Do Secretário-Geral das Relações Exteriores Art. 33. Ao Secretário-Geral das Relações Exteriores incumbe: I - assistir ao Ministro de Estado na direção e execução da política exterior brasileira; II - supervisionar os serviços diplomático e consular; III - coordenar, supervisionar e avaliar a execução dos projetos e atividades do Ministério. IV - exercer outras atribuições que lhe forem cometidas pelo Ministro de Estado. Art. 34. Aos Subsecretários-Gerais incumbe: SEÇÃO II Dos Subsecretários-Gerais I - assessorar o Secretário-Geral das Relações Exteriores na coordenação da execução da política exterior do Brasil em suas respectivas áreas de competência; II - orientar, acompanhar e avaliar a atuação dos Departamentos e demais unidades que lhes estão diretamente subordinados. SEÇÃO III 43

201 Do Chefe do Gabinete Art. 35. Ao Chefe do Gabinete incumbe coordenar e supervisionar as atividades dos órgãos de assistência direta e imediata ao Ministro de Estado. SEÇÃO IV Dos Demais Dirigentes Art. 36. Aos dirigentes dos demais órgãos incumbe planejar, dirigir e orientar a execução das atividades das respectivas unidades e exercer outras atribuições que lhes forem cometidas em suas áreas de competência. CAPÍTULO V DAS REPARTIÇÕES NO EXTERIOR SEÇÃO I Das Missões Diplomáticas Permanentes Art. 37. As Missões Diplomáticas Permanentes, que compreendem Embaixadas, Missões e Delegações Permanentes junto a organismos internacionais, são criadas e extintas por decreto e tem natureza e sede fixadas no ato de sua criação. Art. 38. Às Embaixadas compete assegurar a manutenção das relações do Brasil com os governos dos Estados junto aos quais estão acreditadas, cabendo-lhes, entre outras, as funções de representação, negociação, informação e proteção dos interesses brasileiros. Parágrafo único. Às Embaixadas podem ser atribuídas também a representação junto a organismos internacionais. Art. 39. Às Missões e Delegações Permanentes incumbe assegurar a representação dos interesses do Brasil nos organismos internacionais junto aos quais estão acreditadas. Art. 40. O Chefe de Missão Diplomática é a mais alta autoridade brasileira no país junto a cujo governo exerce funções, cabendo-lhe coordenar as atividades das repartições brasileiras ali sediadas, exceto as das Missões e Delegações permanentes junto a organismos internacionais e as dos órgãos de caráter puramente militar. 1 Chefe de Missão Diplomática residente em outro Estado pode ser cumulativamente acreditado junto a governos de Estados nos quais o Brasil não tenha sede de representação diplomática permanente. 2 Na hipótese do parágrafo anterior, podem ser d esignados Encarregados de Negócios ad interim residentes em cada um dos Estados onde o Chefe da Missão não tenha sua sede permanente. SEÇÃO II 44

202 Art. 41. São Repartições Consulares: I - os Consulados-Gerais; II - os Consulados; III - os Vice-Consulados; IV - os Consulados Honorários. Das Repartições Consulares Parágrafo único. Às Embaixadas pode ser atribuída a execução de serviços consulares, com jurisdição determinada em portaria do Ministro de Estado das Relações Exteriores. Art. 42. Às Repartições Consulares cabe prestar assistência a brasileiros, desempenhar funções notariais e outras previstas na Convenção de Viena sobre Relações Consulares, bem como, quando previsto em seu programa de trabalho, exercer atividades de intercâmbio cultural, cooperação técnica, científica e tecnológica, promoção comercial e de divulgação da realidade brasileira. Art. 43. Os Consulados-Gerais, os Consulados e os Vice-Consulados são criados ou extintos por decreto que lhes fixa a categoria e a sede. Parágrafo único. A criação ou extinção dos Consulados Honorários e a fixação da jurisdição dos demais Consulados mencionados neste artigo são estabelecidas por portaria do Ministro de Estado das Relações Exteriores. Art. 44. Os Consulados-Gerais e os Consulados subordinam-se diretamente à Secretaria de Estado, cabendo-lhes, entretanto, nos assuntos relevantes para a política externa, coordenar suas atividades com a Missão Diplomática junto ao Governo do país em que tenham sede. Parágrafo único. Os Vice-Consulados e Consulados Honorários são subordinados a Consulado- Geral, Consulado ou Serviço Consular de Embaixada. SEÇÃO III Das Unidades Específicas Art. 45. As unidades específicas, destinadas a atividades administrativas, técnicas ou culturais, são criadas por ato do Ministro de Estado, que lhes estabelece a competência, a sede e a subordinação administrativa. Parágrafo único. O Escritório Financeiro em Nova York é a unidade específica gestora dos recursos utilizados no exterior. CAPÍTULO VI DAS SUBSTITUIÇÕES EM AUSÊNCIAS E IMPEDIMENTOS EVENTUAIS Art. 46. O Ministro de Estado será substituído, em suas ausências e impedimentos eventuais, pelo 45

203 Secretário-Geral das Relações Exteriores e este pelo mais antigo dentre os Subsecretários-Gerais. Art. 47. Os titulares das Subsecretarias-Gerais serão substituídos pelo mais antigo dentre os Diretores-Gerais de Departamento a eles subordinados e estes pelo mais antigo dentre os Chefes de Divisão a eles subordinados. 1 O Consultor Jurídico será substituído pelo mai s antigo dentre os Coordenadores-Gerais. 2 Os titulares das demais unidades administrativ as serão substituídos pelos servidores de mais alta hierarquia a eles subordinados. CAPÍTULO VII DAS NOMEAÇÕES E DESIGNAÇÕES NA SECRETARIA DE ESTADO Art. 48. O Secretário-Geral das Relações Exteriores será nomeado pelo Presidente da República dentre os Ministros de Primeira Classe da Carreira de Diplomata, que tenham exercido chefia de Missão Diplomática, em caráter permanente, ainda que comissionados. Art. 49. O Consultor Jurídico será nomeado pelo Presidente da República dentre os Ministros de Primeira Classe da Carreira de Diplomata, respeitado o art. 58 da Lei Complementar n 73, de 10 de fevereiro de Parágrafo único. A escolha do Consultor Jurídico poderá também recair em pessoa não integrante da Carreira de Diplomata, de ilibada reputação e notável saber jurídico, com relevantes serviços prestados ao Brasil. Art. 50. Serão nomeados pelo Presidente da República dentre os ocupantes de cargo de Ministro de Primeira Classe da Carreira de Diplomata: I - os Subsecretários-Gerais; II - o Secretário-Geral Adjunto; III - o Chefe do Gabinete; IV - o Inspetor-Geral do Serviço Exterior; V - o Chefe de Gabinete do Secretário-Geral; VI - o Corregedor do Serviço Exterior. Art. 51. Serão nomeados pelo Presidente da República dentre os ocupantes de cargo de Ministro de Primeira Classe ou de Ministro de Segunda Classe da Carreira de Diplomata: I - o Chefe do Cerimonial; II - o Diretor do Instituto Rio Branco; III - o Diretor-Geral de Assuntos Consulares, Jurídicos e de Assistência a Brasileiros no Exterior; 46

204 IV - os Diretores-Gerais de Departamento; V - o Secretário de Controle Interno; VI - o Secretário de Planejamento Diplomático. Art. 52. Ao término do mandato do Presidente da República, os ocupantes dos cargos de confiança por ele nomeados deverão colocar formalmente seus cargos à disposição e aguardar, no exercício de suas funções, sua dispensa ou confirmação. Art. 53. Serão nomeados ou designados pelo Ministro de Estado das Relações Exteriores: I - dentre os ocupantes de cargo de Ministro de Primeira Classe ou de Ministro de Segunda Classe da Carreira de Diplomata: a) o Assessor de Relações com o Congresso; b) os Inspetores; c) o Coordenador-Geral de Modernização e Planejamento Administrativo; d) o Coordenador-Geral de Orçamento e Finanças; e) o Presidente da Comissão de Estudos de História Diplomática; f) o Assessor de Comunicação Social; g) o Diretor-Geral da Agência Brasileira de Cooperação. II - dentre os ocupantes de cargos de Ministro de Primeira Classe, Ministro de Segunda Classe ou de Conselheiro da Carreira de Diplomata: a) o Introdutor Diplomático; b) os Chefes dos Escritórios de Representação. III - dentre os ocupantes de cargo de Ministro de Segunda Classe ou de Conselheiro da Carreira de Diplomata: a) os Subchefes do Gabinete; b) os Chefes de Divisão; c) o Coordenador-Geral de Ensino do Instituto Rio Branco, com o título de Vice-Diretor; d) o Subchefe do Cerimonial; e) os Coordenadores-Gerais; f) os Chefes de Gabinete dos Subsecretários-Gerais; 47

205 g) o Assessor de Imprensa; IV - dentre os ocupantes dos cargos de Ministro de Segunda Classe, Conselheiro ou Primeiro Secretário da Carreira de Diplomata: a) os Assessores do Secretário-Geral; b) o Chefe da Secretaria do Instituto Rio Branco; c) os Coordenadores Técnicos. V - dentre os ocupantes de cargos de Conselheiro, Primeiro Secretário, Segundo Secretário ou Terceiro Secretário da Carreira de Diplomata: a) os Assistentes; b) os Assessores; c) os Coordenadores; d) os Chefes de Serviço. 1 Os ocupantes de cargos de Direção e Assessoram ento Superiores das Comissões Brasileiras Demarcadoras de Limites, dos cargos de Coordenador Técnico da Assessoria de Comunicação Social, de Coordenador Técnico da Assessoria de Relações com o Congresso, bem como de Coordenador-Geral, Coordenadores e de Gerentes da Agência Brasileira de Cooperação, podem ser nomeados pelo Ministro de Estado dentre as pessoas do quadro de servidores do Ministério da Relações Exteriores, ou dentre pessoas estranhas àquele quadro, desde que portadoras de habilitação técnica para o desempenho de sua missão. 2 Os Coordenadores-Gerais e os Coordenadores da Consultoria Jurídica, os dirigentes do Serviço de Assistência Médica e Social e do Serviço de Arquitetura e Engenharia podem ser nomeados dentre servidores de nível superior não pertencentes à Carreira de Diplomata ou dentre pessoas estranhas ao quadro de servidores do Ministério das Relações Exteriores, desde que portadores de habilitação técnica para o desempenho de suas funções. CAPÍTULO VIII DOS CARGOS E FUNÇÕES NO EXTERIOR Art. 54. Aos servidores da Carreira de Diplomata, nomeados ou designados para servir no exterior, cabem os seguintes cargos e funções: I - aos Ministros de Primeira Classe: a) Chefe de Missão Diplomática permanente, com o título de Embaixador; b) Representante Permanente, Delegado Permanente, Representante Permanente Alterno e Delegado Permanente Alterno junto a organismo internacional; c) Cônsul-Geral; 48

206 II - aos Ministros de Segunda Classe: a) em caráter excepcional, Chefes de Missão Diplomática permanente, com o título de Embaixador; b) Cônsul-Geral; c) Ministro-Conselheiro, em Missão Diplomática permanente; d) Chefe, interino, de Missão Diplomática permanente, com o título de Encarregado de Negócios do Brasil, ad interim; e) Cônsul-Geral Adjunto; f) Chefe, interino, do Consulado-Geral, com o título de Cônsul-Geral, interino; g) Chefe do Escritório Financeiro; h) Chefe de unidade administrativa, técnica ou cultural específica; III - aos Conselheiros: a) Cônsul; b) Vice-Cônsul, em Vice-Consulado; c) Conselheiro em Embaixada, Missão ou Delegação Permanente, com o título de Chefe de Chancelaria, expressamente designado, quando não houver Ministro-Conselheiro; d) Cônsul-Geral-Adjunto; e) Chefe de unidade administrativa, técnica ou cultural específica; f) Chefe de Setor de Missão Diplomática permanente ou de Repartição Consular; g) Chefe, interino, de Missão Diplomática permanente, com o título de Encarregado de Negócios do Brasil, ad interim; h) Chefe interino, de Consulado-Geral, com o título de Encarregado do Consulado-Geral, interino; IV - aos Primeiros Secretários: a) Cônsul; b) Vice-Cônsul, em Vice-Consulado; c) Conselheiro em Embaixada, com o título de Chefe de Chancelaria, expressamente designado, quando não houver diplomata mais antigo, ou em Repartição Consular, observado o disposto no artigo 67 do Regulamento do Pessoal do Serviço Exterior, aprovado pelo Decreto n , de 1 de outubro de 1986; 49

207 d) Primeiro Secretário de Embaixada, de Missão ou Delegação permanente; e) Cônsul-Adjunto, em Consulado-Geral ou Consulado; f) Chefe de Setor de Missão Diplomática permanente ou de Repartição Consular; g) Chefe, interino, de Missão Diplomática permanente, com o título de Encarregado de Negócios do Brasil, ad interim; h) Chefe, interino, de Repartição Consular, com o título de Encarregado do Consulado-Geral ou do Consulado, interino; i) Chefe, interino, de unidade administrativa, técnica ou cultural específica; V - aos Segundos Secretários: a) Vice-Cônsul, em Vice-Consulado; b) Conselheiro, em Embaixada, com o título de Chefe de Chancelaria, expressamente designado, quando não houver diplomata mais antigo, ou em Repartição Consular, observado o disposto no artigo 67 do Regulamento do Pessoal do Serviço Exterior, aprovado pelo Decreto nº , de 1986; c) Segundo Secretário de Embaixada, de Missão ou Delegação Permanente; d) Cônsul-Adjunto, em Consulado-Geral ou Consulado; e) Chefe de Setor de Missão Diplomática permanente ou de Repartição Consular; f) Chefe, interino, de Missão Diplomática permanente, com o título de Encarregado de Negócios do Brasil, ad interim; g) Chefe, interino, de Repartição Consular, com o título de Encarregado do Consulado-Geral ou do Consulado, interino; VI - aos Terceiros Secretários: a) Vice-Cônsul, em Vice-Consulado; b) Terceiro Secretário de Embaixada, de Missão ou Delegação permanente; c) Vice-Cônsul, em Consulado-Geral ou Consulado; d) Chefe, interino, de Missão Diplomática permanente, com o título de Encarregado de Negócios do Brasil, ad interim; e) Chefe, interino, de Repartição Consular, com o título de Encarregado do Consulado-Geral ou do Consulado, interino. Parágrafo único. Os Cônsules-Gerais-Adjuntos e os titulares das unidades administrativas de que trata este artigo exercem funções de chefia para os efeitos do disposto na alínea b do inciso I do artigo 6º do Regulamento de Promoções da Carreira de Diplomata, aprovado pelo Decreto nº 50

208 93.326, de CAPÍTULO IX DAS NOMEAÇÕES E DESIGNAÇÕES PARA SERVIR NO EXTERIOR Art. 55. Mediante prévia aprovação pelo Senado Federal, os Chefes de Missão Diplomática permanente e os Representantes e Delegados Permanentes junto a Organismo Internacional são nomeados pelo Presidente da República, com o título de Embaixador, dentre os ocupantes de cargo de Ministro de Primeira Classe ou, excepcionalmente, dentre os ocupantes de cargo de Ministro de Segunda Classe da Carreira de Diplomata, na forma da lei. 1º Em caráter excepcional, pode ser designado, para exercer a função de Chefe de Missão Diplomática permanente e de Representantes e Delegados Permanentes junto a Organismo Internacional, brasileiro nato, não pertencente aos quadros do Ministério das Relações Exteriores, maior de 35 anos, de reconhecido mérito e com relevantes serviços prestados ao Brasil. 2º Ao término do mandato do Presidente da República, os Chefes de Missão Diplomática permanente, bem como os Representantes e Delegados Permanentes junto a Organismo Internacional devem colocar formalmente seus cargos à disposição e aguardar, no exercício de suas funções, sua dispensa ou confirmação. Art. 56. Os titulares dos Consulados-Gerais, Consulados e Vice-Consulados são nomeados pelo Presidente da República. Parágrafo único. Em caráter excepcional, os titulares de Vice-Consulados podem ser escolhidos dentre os ocupantes de cargo de Oficial de Chancelaria do Serviço Exterior ou nomeados, em comissão, dentre brasileiros natos de comprovada idoneidade e familiarizados com o meio onde exercerão seus cargos. Art. 57. Os Ministros de Segunda Classe, Conselheiros, Primeiros Secretários, Segundos Secretários e Terceiros Secretários são nomeados ou designados para servir em Missões Diplomáticas permanentes, Repartições Consulares e outras repartições no exterior, pelo Ministro de Estado, exceto quando se incluem nos artigos 54 ou 55 desta Estrutura Regimental. Art. 58. Os Cônsules Honorários são designados pelo Ministro de Estado dentre pessoas de comprovada idoneidade, de preferência brasileiras. CAPÍTULO X DAS DISPOSIÇÕES GERAIS E TRANSITÓRIAS Art. 59. Os Diplomatas em serviço nos postos no exterior e na Secretaria de Estado ocuparão privativamente cargos em comissão ou funções de chefia, assessoria e assistência correspondentes à respectiva classe, observadas as ressalvas estabelecidas neste Anexo. Art. 60. Os oficiais e auxiliares do Gabinete do Ministro de Estado serão escolhidos dentre os servidores do Ministério das Relações Exteriores. Art. 61. Os servidores não-diplomáticos do quadro do Ministério das Relações Exteriores, observada a lei, serão designados para servir no exterior por ato do Secretário-Geral das Relações 51

209 Exteriores. Art. 62. Servidor não-diplomático que exerça funções consulares em serviço consular de Embaixada ou em Repartição consular poderá, por necessidade de serviço, ser acreditado como vice-cônsul. Art. 63. O Regimento Interno da Secretaria de Estado das Relações Exteriores definirá o detalhamento dos órgãos integrantes da Estrutura Regimental, as competências das respectivas unidades e as atribuições de seus dirigentes. <<ANEXOS>> (tabela) RETIFICAÇÃO DECRETO Nº 2.070, DE 13 DE NOVEMBRO DE Aprova a Estrutura Regimental do Ministério das Relações Exteriores e dá outras providências. <<Anexos>> 52

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217 Home > Knowledge Base > The Buenos Aires Plan of Action (BAPA) The Buenos Aires Plan of Action (BAPA) The Conference Emblem Introduction Objectives Action to be taken A. Action at the national level B. Action at the subregional and regional levels C. Action at the interregional level D. Action at the global level United nations General Assembly Endorses plan of action The Buenos Aires Plan of Action (BAPA) represents a major milestone in the evolution of technical cooperation among developing countries (TCDC) in that it provides the conceptual underpinning as well as a practical guide for realizing the objectives of TCDC. Since its adoption in 1978, several decisions and resolutions reaffirming the validity and importance of TCDC have been adopted by the UN General Assembly, ECOSOC, the UNDP Executive Board and the High-Level Committee on TCDC. ECOSOC Resolution 1992/41 calls upon all parties in the development effort to give the TCDC option "first consideration" in their technical cooperation activities. The resolution invites all countries and the United Nations development system to review their existing policies and procedures in order to improve the environment for TCDC and facilitate its widespread use. The publication of the Report of the South Commission in 1990 has also given added impetus to TCDC. New Directions for TCDC TCDC Cooperation Framework ( ) Second Cooperation Framework ( ) High Level Committee Resolutions Pivotal Countries - An Issue Paper TCDC and SHD TCDC Basic Documents From Concept to Action The BA Plan of Action (English) The BA Plan of Action (French) The BA Plan of Action (Spanish) Within recent months, increased emphasis has been placed by both developing and developed countries on TCDC as a vital instrument for fostering South-South cooperation and as an important complement to traditional North-South development cooperation. In this context, the Special Unit for TCDC (SU/TCDC) has sought to adopt a more strategic orientation in its work in order to increase the development impact of its activities in support of the overall objectives of South-South cooperation. In its effort, BAPA remains a remarkably relevant guide for promoting national and collective self-reliance as a key strategy for responding to the development challenges facing the developing countries in a rapidly changing and increasingly complex international environment. SU/TCDC is therefore pleased to reissue BAPA in order to satisfy increasing demand for the publication. Denis Benn Director Special Unit for TCDC November 1994 A New Dimension in International Cooperation for 60

218 Development On 12 September 1978 in Buenos Aires, capital of Argentina, delegations from 138 States adopted by consensus a Plan of Action for Promoting and Implementing Technical Cooperation among Developing Countries (TCDC). They gave it the name of the city that had been host to their United Nations Conference on TCDC. The consensus adoption of the Buenos Aires Plan of Action marked the full success of this Conference, tributes to which were still being paid in the United Nations General Assembly when, in December 1978, it resolved to endorse the Plan and urged all Governments and elements of the United Nations system to implement its recommendations. The Conference Emblem A symbolic new bridge joining the countries and people of the Southern hemisphere was adopted as the emblem of the United Nations Conference on Technical Cooperation among Developing Countries. Top The centre of the Conference emblem - where the Southern, Northern, Eastern and Western parts of the world all join - symbolizes a further and ultimate objective of TCDC and the 1978 United Nations Conference: The enhancement of truly global partnership for development. The Plan of Action may well be the most exhaustively, carefully debated document of its kind. Fully five years of detailed, progressively expanding analysis and discussion of the need for and potential of technical co-operation among developing countries at national and regional levels, in expert groups and intergovernmental meetings, and at the headquarters of the United Nations Development Programme and the other agencies and organizations of the United Nations development system went into the drafting of the Plan. At the Buenos Aires Plan Conference itself, hundreds of government specialists in development from all over the world, including 45 Cabinet Ministers, 41 Deputy Ministers, and 81 heads of departments of development planning and cooperation, studied and debated every line of the draft with special determination, often working late into the night. The resultant Plan is a detailed blueprint for major changes in approaches to development assistance and for a dramatically heightened emphasis on national and collective self-reliance among developing countries as foundations for a new international economic order. The Plan is not a "read once and put away" document. It needs reading again and again to identify, in the necessarily compressed 61

219 language of each Objective and Recommendation, the concrete and urgent development problems which they seek to overcome. Every national and international institution involved in any degree in development will wish to use it continuously as a checklist of factors necessary to consider in programme and project design, resource selection, and evaluation. The actions identified will offer guidance for such purposes for a decade or more ahead. They amount to prescriptions of new ways, newly perceived and strengthened capacities, which can give major additional impetus to the attack on world poverty and underdevelopment and the establishment of a new international economic order. To enable development workers everywhere to have constant access to this vital new blueprint, UNDP is pleased to be able to publish the full and exact text in this more durable form, together with the General Assembly Resolution endorsing it. Additional copies are readily available from the Special Unit for Technical Co-operation among Developing Countries, Room 1230, 304 East 45 Street, New York, New York Buenos Aires Plan of Action for Promoting and Implementing Technical Co-operation among Developing Countries The United Nations Conference on Technical Co-operation among Developing Countries Having convened in Buenos Aires, from 30 August to 12 September 1978 pursuant to General Assembly resolutions 31/179 of 21 December 1976 and 32/183 of 19 December 1977 on technical cooperation among developing countries. 1. Adopts the following Plan of Action for Promoting and Implementing Technical Co-operation among Developing Countries; 2. Decides that it be known as the "Buenos Aires Plan of Action"; 3. Urges all Governments, the entire United Nations Development system and the international community as a whole, to take effective action for its implementation. I. Introduction Top 1. The United Nations Conference on Technical Co-operation among Developing Countries comes at a critical point in the evolution of relations among developing countries themselves and between them and developed countries. 2. Profound changes are taking place in international political and economic relationships. When the principal institutions of the 62

220 present international system were first established, a group of industrialized countries were dominant in world affairs. However, the historic process of decolonization now makes it possible for a large number of States, representing an overwhelming proportion of the world's population, to participate in international affairs. Moreover, substantial changes are taking place at the world level in the control and distribution of resources and in the capabilities and needs of nations. As a result of these changes and other international developments, the expansion of international relations and co-operation and the interdependence of nations are progressively increasing. Interdependence, however, demands sovereign and equal participation in the conduct of international relations and the equitable distribution of benefits. 3. The international system is in a state of ferment. Concepts, political and economic positions, institutions and relationships must be adjusted to the new realities and changing perceptions. It is in this perspective that the countries of the developing world have made their call for the new international economic order as an expression of their political will and their determination, based on the principles of national and collective self-reliance, to work towards a new pattern of international relations more appropriate to the real circumstances and reflecting fully the interests of the world community as a whole. 4. There is a growing recognition of the urgency and magnitude of the problems that are being faced and will increasingly be faced by the world community in the future. The problems of development social and economic, national and international demand greatly increased, concerted efforts by the developing and developed countries if the new international economic order is to be a reality. While the progress of the developing countries depends primarily on their own efforts, that progress is also affected by the policies and performance of the developed countries. At the same time, it is evident that, as a consequence of widening international relations, co-operation and interdependence in many fields, the progress of the developed countries is now, and will increasingly be, affected by the policies and performance of the developing countries. 5. in this historic new stage of progress towards the attainment of the new international economic order, technical co-operation among developing countries (TCDC) is becoming a critically important dimension. It is a means of building communication and of promoting wider and more effective co-operation among developing countries. It is a vital force for initiating, designing, organizing and promoting co-operation among developing countries so that they can create, acquire, adapt, transfer and pool knowledge and experience for their mutual benefit and for achieving national and collective self-reliance, which are essential for their social and economic development. 6. This form of co-operation is not new. A large number of cooperative activities have been carried out among developing 63

221 countries over the years and many are now in progress. What is new, however, is that co-operation among developing countries is now perceived by those countries to be increasingly important in promoting sound development in the present world context. Furthermore, the difficulties currently encountered by the world economy make it even more necessary for the developing countries to evolve strategies based on greater national and collective selfreliance, for which TCDC is an important instrument. This in no way reduces the responsibility of developed countries to undertake the necessary policy measures, in particular, the increase of development assistance for accelerated development of developing countries. 7. TCDC is a multidimensional process. It can be bilateral or multilateral in scope, and subregional, regional or interregional in character. It should be organized by and between Governments which can promote, for this purpose, the participation of public organizations and, within the framework of the policies laid down by Governments, that of private organizations and individuals. It may rely on innovative approaches, methods and techniques particularly adapted to local needs and, at the same time, use existing modalities of technical co-operation to the extent that these are useful. While the main flows of technical co-operation visualized would be between two or more developing countries, the support of developed countries and of regional and interregional institutions may be necessary. 8. TCDC is neither an end in itself nor a substitute for technical cooperation with developed countries. Increased technical cooperation of the developed countries is required for the transfer of appropriate technologies and also for the transfer of advanced technologies and other expertise in which they have manifest advantages. Further contributions from the developed countries are required for the enhancement of technological capabilities of developing countries through support to relevant institutions in those countries. TCDC can serve the purpose of increasing the capacity of developing countries to adapt and absorb appropriate inputs from developed countries. 9. The importance of co-operation among developing countries in general, and of technical co-operation in particular, has been recognized in a series of declarations, resolutions and decisions of the United Nations General Assembly and other bodies. In its most recent resolution on the Conference (resolution 32/183 of 19 December 1977), the General Assembly, recalling its earlier resolutions 3201 (S-VI) and 3202 (S-VI) of 1 May 1974 containing the Declaration and the Programme of Action on the Establishment of a New International Economic Order, 3281 (XXIX) of 12 December 1974 containing the Charter of Economic Rights and Duties of States and 3362 (S-VII) of 16 September 1975 on development and international economic co-operation, recognized that the basic objectives of technical co-operation among developing countries were the furthering of the national and 64

222 collective self-reliance of developing countries and the enhancement of their creative capacity to solve their development problems. The same objectives, within a broader context, had been strongly supported at the Fifth Conference of Heads of State or Government of Non-Aligned Countries, held at Colombo from 16 to 19 August 19761, at the Conference on Economic Co-operation among Developing Countries, held at Mexico City from 13 to 22 September 19762, by the Cairo Declaration of March 1977 on Afro- Arab Cooperation3, at the First Conference of Ministers of Labour of the non-aligned and other developing countries, held at Tunis from 24 to 26 April 1978, which adopted a programme of action and cooperation in the spheres of employment and the development of human resources4, and most recently by the Declaration and Action Programme for Economic Co-operation adopted by the Conference of Foreign Ministers of Non-Aligned Countries held at Belgrade in July The General Assembly, by it s resolution 32/182 of 19 December 1977 endorsed the recommendations of the Working Group on Technical Co-operation among Developing Countries6 as modified by the relevant decisions on technical co-operation among developing countries adopted at the eighteenth, twenty-third and twenty-fourth sessions of the Governing Council of the United Nations Development. Programme, thus recognizing that those recommendations represented a substitute contribution to the development of TCDC, especially within and by the United Nations development system. 11. The Kuwait Declaration on Technical Co-operation among Developing Countries of 5 June 1977, following four regional intergovernmental meetings on the subject, states that "TCDC is a historical imperative brought about by the need for a new international order. It is a conscious, systematic and politically motivated process developed to create a framework of multiple links between developing countries.7 The Kuwait Declaration was recognized in resolution CM/Res.560 (XXIX), adopted by the Council of Ministers of the Organization of African Unity at its twenty- ninth ordinary session held at Libreville from 23 June to 5 July It was further endorsed by the Assembly of Heads of State and Government of the Organization of African Unity at its thirty-first ordinary session, held at Khartoum from 7 to 18 July Technical co-operation among developing countries has emerged as a new dimension of international co-operation for development, which gives expression to the developing world's determination to achieve national and collective self-reliance and to the need to bring about the new international economic order. Its emergence and rationale should therefore be viewed in this global perspective, in the light of experience gained from international technical assistance and in the light of the conclusions reached by previous United Nations world conferences that had a bearing on development and co- operation. 13. TCDC as well as other forms of co-operation among all 65

223 countries must be based on strict observance of national sovereignty, economic independence, equal rights and noninterference in domestic affairs of nations, irrespective of their size, level of development and social and economic systems. 14. The strengthening of TCDC must constitute an important component of any future strategy which seeks to accelerate development, to enhance human dignity and progress, and to improve the performance of the world economy as a whole. II. Objectives 15. The basic objectives of TCDC, which are interdependent and mutually supportive contribute to the wider objectives of the development of the developing countries and international development co-operation. They reinforce those of closely related forms of co-operation, including economic co-operation among developing countries, for which TCDC is a key instrument. The objectives are: Top a. To foster the self-reliance of developing countries through the enhancement of their creative capacity to find solutions to other development problems in keeping with their own aspirations, values and special needs; b. To promote and strengthen collective self-reliance among developing countries through exchanges of experience, the pooling, sharing and utilization of their technical resources, and the development of their complementary capacities; c. To strengthen the capacity of developing countries to identify and analyse together the main issues of their development and to formulate the requisite strategies in the conduct of their international economic relations, through pooling of knowledge available in those countries through joint studies by their existing institutions, with a view to establishing the new international economic order; d. To increase the quantum and enhance the quality of international co-operation as well as to improve the effectiveness of the resources devoted to over-all technical co- operation through the pooling of capacities; e. To strengthen existing technological capacities in the developing countries, including the traditional sector, to improve the effectiveness with which such capacities are used and to create new capacities and capabilities and in this context to promote the transfer of technology and skills appropriate to their resource endowments and the development potential of the developing countries so as to strengthen their individual and collective self-reliance; f. To increase and improve communications among developing countries, leading to a greater awareness of common problems and wider access to available knowledge and 66

224 experience as well as the creation of new knowledge in tackling problems of development; g. To improve the capacity of developing countries for the absorption and adaptation of technology and skill to meeting their specific developmental needs; h. To recognize and respond to the problems and requirements of the least developed, land-locked, island developing and most seriously affected countries; i. To enable developing countries to attain a greater degree of participation in international economic activities and to expand international co-operation. 16. TCDC clearly serves many other purposes, such as overcoming attitudinal barriers, increasing developing countries' confidence in each other's technical capabilities and enhancing the process of harmonization of their interests so as to take fully into account, within the context of the fundamental concept of solidarity, their specific subregional, regional and interregional characteristics, particularly by identifying priorities in such fields as transport and communications, employment, development and exchange of human resources, as well as agriculture and industry. III. Action to be taken Top 17. The recommendations formulated below should strengthen and support co-operation among developing countries, for example, and without implying an indication of priority, through the implementation of current activities and programmes of action decided upon by the developing countries, in such fields as employment and development of human resources, fisheries, food and agriculture, health, industrialization, information, integration of women in development, monetary and financial co-operation, raw materials, science and technology, technical co-operation and consultancy service, telecommunications, tourism, trade, and transport and communications. These recommendations should also facilitate the formulation of programmes of co-operation in other sectors. A. Action at the national level 18. The primary objectives of the following recommendations for action at the national level are: to increase the awareness in each developing country of its own capabilities, skills and experience, and of those available in other developing countries, to establish and strengthen the necessary supportive arrangements - institutions, information, human and other resources on which TCDC must be firmly based; to identify specific opportunities for TCDC, and to enhance the capacities of developing countries to Top 67

225 organize and implement expeditiously and effectively projects with a TCDC dimension. While such actions would clearly be the responsibility of each developing country, the support of other developing countries, developed countries and international organizations where requested, could make important contributions. In the implementation of the recommendations set out below, the United Nations development system would be expected to extend its fullest support when requested to do so by Governments. 19. Bilateral co-operation among developing countries represents an important form of TCDC and an instrument for forging links between national and collective self-reliance. Therefore, the main aim of recommendations concerning bilateral co-operation is to stimulate, intensify and improve it in substance, forms and mechanisms. Recommendations I. National programming for technical cooperation among developing countries 20. In formulating its national development plan or programme, each developing country should endeavour to identify its potential for TCDC. Such a process should include evaluation of its experience in relevant sectors of economic and social development that may have a bearing on the needs of other developing countries. On this basis, the Government may consider national requirements in research, technology, skills, consultancy services and training facilities and employment strategies that can be met most effectively through co-operation with other developing countries, as well as the contributions in respect of these which it can make for the benefit of other developing countries. Recommendation 2. Adoption of policies and regulations favourable to technical co-operation among developing countries 21. Each developing country should consider adopting policies favourable to TCDC, and working out the legal and administrative framework for effective and equitable co-operation, taking into account practices already established on the basis of formal conventions, thus ensuring their widest possible applicability and acceptance. The framework should cover the administrative and legal arrangements concerning the entry, employment, obligations, privileges and immunities of experts and consultants, arrangements concerning fellowships, the use of contractors and other specialist services, entry of equipment and supplies, fiscal and currency regimes favourable to TCDC and also financial arrangements aimed at an equitable sharing of costs. It should also cover appropriate administrative and legal arrangements embracing, inter alia, arrangements to facilitate the sending of technical and professional personnel abroad without jeopardizing the terms and prospects of their regular employment on their return, as well as the provision of consultancy services, the supply 68

226 of equipment and the granting of fellowships and apprenticeships. Recommendation 3. National mechanisms for promoting technical co-operation among developing countries 22. Each developing country should, as appropriate, organize flexible mechanisms or strengthen them where they already exist in order to promote TCDC, to facilitate the co- ordination of TCDC activities at the national level and their incorporation into the national development programmes. Such mechanisms may involve the participation of public and private sector representatives to enable close interaction with government bodies and other sectoral organizations. Recommendation 4. The strengthening of national information systems for technical co-operation among developing countries 23. Each developing country should take adequate steps to strengthen the gathering, processing and dissemination of information covering the availability of national capacities, knowledge and experience for application and use in TCDC, if necessary with the support of the information systems of the United Nations development system, and particularly of the Information Referral System (INRES) of the United Nations Development Programme (UNDP), as well as official, professional and other sources. Governments of developing countries should further intensify their co-operation with the appropriate bodies at the regional, interregional and global levels for the pooling of such information so as to facilitate the communication to other developing countries of the availability of such resources and opportunities for TCDC. These bodies should secure the information for TCDC through Governments and entities officially designated by them and disseminate it through the channels established for this purpose by Governments. Recommendation 5. The improvement of existing institutions 24. Since a strong institutional base is essential for viable TCDC, developing countries should individually identify and assess the effectiveness and potential of national institutions for the purpose, and adopt measures, wherever necessary, to improve their effectiveness and enhance their potential. National organizations of developing countries working on common problems can make valuable contribution to the expansion of TCDC. Such organizations could organize operational collaboration so as to achieve a mutuality of relationships. Such collaboration would strengthen their own capabilities by sharing work and experience with others working on the same problems at various levels of complexity and in diverse environments, and also, where feasible, by sharing 69

227 responsibilities for common training activities. Recommendation 6. Promotion of national research and training centres with multinational scope 25. Developing countries should encourage existing national research and training centres to broaden their scope of activities to include programmes and projects which are of interest to several countries at a subregional, regional and interregional level. While existing national centres should be utilized for this purpose to the maximum extent possible, where necessary, new centres may be created for the same purpose. Recommendation 7. The promotion of greater technological selfreliance 26. Developing countries should make every effort to strengthen their scientific and technological capabilities to suit their special needs, values and resource endowments by formulating, where necessary, technology plans as an integral part of their national development plans; establishing scientific and technological data banks; encouraging indigenous research and development activities for the attainment of their development objectives; combining research efforts and sharing their results with one another by means of agreements on scientific and technical co-operation, strengthening national design, national laboratories, research centres and scientific and other institutions; and linking their national research and development institutions, where appropriate, to those in other developing countries, including linkage through the regional centres on transfer and development of technology, developing countries should undertake special efforts to strengthen their national potentials in engineering and consultancy services by improving the professional standards, organizing training and research. Broad exchange of experiences in this field among developing countries is an indispensable component of national and collective self-reliance. Recommendation 8. The formulation, orientation and sharing of policy experiences with respect to science and technology 27. In view of the important role of science and technology in the development of developing countries, and bearing in mind the successful experience of several developing countries in applying science and technology in their development process, developing countries should, wherever possible, exchange among themselves their experiences in the formulation and implementation of their plans and policies for the orientation of science and the transfer and development of technology to their own development objectives, needs and capabilities. Recommendation 9. The promotion of greater self-reliance in the 70

228 economic and social spheres 28. The Governments of developing countries should intensify their efforts to promote national and collective self- reliance by strengthening their mutual contacts and communications by exchanging experience, and by undertaking programmes and projects, including joint ones, in areas of mutual interest in the economic and social sectors. Recommendation 10. Technical co-operation among developing countries in the cultural spheres 29. The Governments of developing countries should, in order to affirm the cultural identity of their peoples and to enrich and strengthen their collective capacity with a greater awareness of the culture and heritage of other developing countries, increasingly employ TCDC mechanisms to foster cultural and educational links and to strengthen mutual knowledge by promoting exchanges and co-operation in the social sciences, education and culture. Recommendation 11. The encouragement of technical cooperation among developing countries through professional and technical organizations 30. The Governments of developing countries should encourage and facilitate co-operation among professional, and technical organizations in their TCDC activities in their own countries and in other developing countries. Recommendation 12. The expansion of TCDC through national public and private enterprises and institutions 31. Having regard to the important and growing contribution that enterprises and institutions in the public sector are making to national development in the developing countries and the rich fund of experience acquired by them over the years, the Governments of developing countries should endeavour to establish or strengthen suitable arrangements to encourage and maintain cooperation and communication between public enterprises and institutions in their own countries and those in other developing countries, especially with a view to promoting closer technical collaboration. Similarly, Governments of developing countries should aim at encouraging comparable arrangements with regard to national private enterprises and institutions, where applicable. Recommendation 13. Information and education programmes in support of technical co-operation among developing countries 32. Governments and non-governmental organizations of developing countries should undertake long-term information and education programmes to strengthen their own cultural identities, to encourage greater awareness of their common development 71

229 problems and opportunities, to mobilize public support for selfreliance, and to break down attitudinal barriers to the expansion of TCDC. The United Nations system should lend intensive support to such programmes, seeking special additional resources for that purpose. Recommendation 14. The expansion of bilateral technical links 33. In order to facilitate sustained and widening technical cooperation among developing countries, and since bilateral arrangements constitute one of the fundamental aspects of this cooperation, the Governments of developing countries should endeavour to expand bilateral arrangements for promoting TCDC through such mechanisms as co- operative agreements and programmes, joint commissions, the regular exchange of information and experience, and the support of initiatives in the public and private sectors. In this respect developing countries should undertake special efforts to intensify TCDC through longterm programmes and projects by enhancing the programming and undertaking special measures for the successful implementation of those programmes and also by establishing direct linkages among similar institutions. B. Action at the subregional and regional levels 34. TCDC should be conducted by each State, and at the subregional and regional levels jointly by all concerned. The following recommendations for action at the subregional and regional levels should take into account inter alia the need to: Top a. Strengthen existing subregional and regional institutions and organizations and thus their capacity to serve better the needs of each Government concerned in its efforts to cooperate with others; b. Develop and strengthen inter-institutional links in important, high-priority substantive areas, such as those identified at the regional preparatory intergovernmental meetings for the Conference, designed to draw on the capabilities and experiences available in the region; c. Reinforce the capacities available for data collection and analysis in order to provide systematic and updated information for decision-makers at the national, subregional and regional levels; and d. Improve regional information systems for TCDC, particularly those related to technical co-operation needs which cannot always be expressed simply in the traditional terms of skills, equipment and training requirements. Recommendation 15. The strengthening of subregional and 72

230 regional institutions and organizations 35. All Governments should endeavour to strengthen the capacities of subregional and regional organizations to implement TCDC activities and projects. In this connexion the United Nations development system should support these endeavours, particularly through the regional commissions, in close collaboration with the regional bureaux of UNDP and with other bodies of the United Nations development system which have regional structures or divisions. Recommendation 16. The identification, development and implementation of initiatives for technical co-operation among developing countries 36. The appropriate subregional and regional intergovernmental organizations, at the request of and in close collaboration with the countries concerned and with the support of the United Nations regional commissions and other United Nations organizations, should undertake analyses of technical co-operation needs and capacities within the respective subregion or region to assist Governments of developing countries in the identification, development and implementation of TCDC initiatives in agreed priority areas. Recommendation 17. The enhancement of contributions by professional and technical organizations 37. The appropriate subregional and regional intergovernmental organizations, at the request of and with the support of the United Nations regional commissions and other United Nations organizations, should conduct appropriate studies at the request of the Governments concerned and recommend to Governments action programmes to enhance the contributions of the professional and technical organizations concerned in support of TCDC. Recommendation 18. The creation of new links for technical cooperation among developing countries in important substantive areas 38. The appropriate subregional and regional intergovernmental organizations, including or with the support of the regional commissions, at the request of and in close consultation with the countries involved, should formulate and support TCDC activities and projects at the subregional and regional levels in such areas of particular concern as may be identified by Governments individually or jointly. These TCDC activities and projects should facilitate and strengthen linkages among the national organizations working to resolve developmental problems, and those concerned with research and development and the adaptation of technology. Recommendation 19. Promotion of complementary industrial and 73

231 agricultural projects at the subregional and regional levels 39. The appropriate subregional and regional intergovernmental organizations, in view of the potential for complementarities, should promote joint projects in industry and agriculture where the parties concerned specialize in their respective areas of complementarity, the products of which would have preferential access to the market of the parties concerned in the subregion or region. Recommendation 20. The improvement of regional information for technical co-operation among developing countries 40. The appropriate subregional and regional intergovernmental organizations, including, or with the support of, the United Nations regional commissions, at the request of and in close collaboration with the countries concerned and with the support of other United Nations organizations should: a. Contribute towards improving both the qualitative and quantitative aspects of the Information Referral System (INRES) and similar systems being developed by other components of the United Nations Development system in specialized technical fields in widening their coverage and utilization of information on technical co-operation among developing countries; b. Ensure the effective, speedy and economical pooling and dissemination of information on the technical co- operation requirements and capacities of the developing countries within each region drawing on, inter alia, various potential mechanisms such as institutional networks and professional journals, which should also aim at overcoming language barriers; c. Prepare or harmonize, where necessary, sub-regional and regional standards in TCDC information flow. Recommendation 21. Support to national research and training centres with multinational scope 41. The appropriate subregional and regional intergovernmental organizations, with the support of the United Nations development system, should provide, at the request of interested developing countries, the necessary support to enable national research and training centres with multinational scope to operate effectively in order to promote TCDC. Top 74

232 Ajuda per Capita Fonte: Banco Mundial Legenda: US$ 50 ou mais US$ US$ 5 19 menos de US$ 5 Doador líquido de ajuda Não há dados 75

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