PAPILOMATOSE ORAL ASSOCIADA AO PARASITISMO POR Leishmania sp. EM UMA CADELA SRD- RELATO DE CASO

Transcrição

1 PAPILOMATOSE ORAL ASSOCIADA AO PARASITISMO POR Leishmania sp. EM UMA CADELA SRD- RELATO DE CASO ORAL PAPILLOMATOSIS ASSOCIATED WITH PARASITISM BY Leishmania sp. IN A FEMALE DOG UNDEFINED- CASE REPORT Victor Fernando Santana LIMA 1* ; Jacilene Lourenço da SILVA 1 ; Sandra Maria de TORRES 2 ;Yvens Santos NASCIMENTO 3 ; Valdemiro Amaro da Silva JÚNIOR 4 ; Leucio Câmara ALVES 4 1 Pós-graduando em Ciência Animal Tropical, Universidade Federal Rural de Pernambuco. victor.fslima@gmail.com 2 Médica Veterinária Residente, Laboratório de Histopatologia, Universidade Federal Rural de Pernambuco. 3. Graduando em Medicina Veterinária, Universidade Federal de Sergipe. 4. Docente do Departamento de Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Resumo A papilomatose é uma dermatose advinda de uma neoplasia, auto-limitante e infecto contagiosa que acomete cães com doenças imunossupressoras como a leishmaniose. Devido à ausência de informações, neste trabalho relatamos um caso de uma cadela SRD, de dois anos de idade atendido no Hospital Veterinário da URPE, com histórico de dermatite descamativa a cerca de um mês. No exame físico foi observado alopecia e ulceras na pele, onicogrifose, linfadenomegalia e papilomas na cavidade oral. Como o animal era oriundo de uma área endêmica para leishmaniose e apresentava-se com sintomatologia clínica da doença, foi realizado punção de medula óssea, aspirado de linfonodo e citologia esfoliativa, no qual foi confirmado por meio da microscopia a presença amastigotas de Leishmania sp. Em decorrência do estado clínico no qual o animal se encontrava, associado a confirmação da Leishmaniose canina, doença de caráter zoonótico, os proprietários optaram pela eutanásia do animal. Desta forma, o paciente foi eutanasiado seguindo-se as diretrizes do Conselho Federal de Medicina Veterinária. No exame post-mortem foram coletados fragmentos dos papilomas de diferentes áreas da cavidade oral, para análise histopatológica, sendo observado características histopatológica da papilomatose típica e atípica, além da presença de formas amastigotas de Leishmania sp. no citoplasma de macrófagos presentes na derme Anais do 38º CBA, p.1076

2 papilar. Desta forma, conclui-se que animais parasitados por Leishmania sp. apresentam imunossupressão, estando assim, susceptíveis a agentes oportunistas. Palavras-chave: papillomavirus, cães, Leishmania. Keywords: papillomavirus, dogs, Leishmania. Revisão de literatura A papilomatose é uma dermatose de origem neoplásica, infecto-contagiosa e auto-limitante, a qual possui como principal agente etiológico na espécie canina o Papilomavírus Canis familiares (PVC) (MUNDAY et al., 2010). Sem predileção racial ou sexual, a papilomatose afeta comumente animais jovens e adultos imunossuprimidos, proveniente de canis, hospitais veterinários, clínicas ou ambientes similares com elevado fluxo de cães (NAGATA e ROSENKRANTZ, 2013). Caraterizado por lesões nodulares isoladas ou múltiplas, com aspecto de verruga ou couve-flor, de consistência dura, e coloração branco acinzentado a negra, com superfícies ásperas e friáveis os papilomas estão na maioria das vezes, localizadas na região oral, genital, cutânea e ocular. Clinicamente os animais apresentam emagrecimento, disfagia, ptialismo, dificuldade de se alimentar, halitose e até mesmo sinais neurológicos (FERNANDES et al., 2009; COSTA et al., 2014). A infecção regride na maioria das vezes após 70 dias pós-infecção. Entretanto, essa doença pode persistir e recidivar em cães debilitados ou portadores de doenças imunossupressoras como a leishmaniose, doença de caráter zoonótico, causada por parasitas intracelulares do gênero Leishmania sp., os quais são transmitidos através da picada da fêmea de flebótomos do gênero Lutzomyia (FERNANDES et al., 2009; FERREIRA et al., 2013). Diante do exposto, associado a ausência de trabalhos relatando a ocorrência de papilomatose oral associado a leishmaniose em cães, o objetivo do respectivo trabalho é relatar um caso de papilomatose oral associada ao parasitismo por Leishmania sp. em uma cadela SRD. Descrição do Caso: Foi atendido no Hospital Veterinário da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), uma cadela SRD, de dois anos de idade, pesando aproximadamente 10,5 Kg, com histórico de dermatite descamativa a cerca de um mês. Como resultado do exame físico foi observado alopecia periocular, dermatite Anais do 38º CBA, p.1077

3 descamativa e ulcerativa nas pontas das orelhas, dorso e membros, além de onicogrifose e aumento dos linfonodos poplíteos. Na cavidade bucal foi evidenciado halitose, placas bacterianas em alguns dentes, além de papilomas disseminados por toda a cavidade oral (lábios, língua, palato e mucosa oral). Como o animal era oriundo de uma área endêmica para leishmaniose e apresentava-se com sintomatologia clínica da doença, foi realizado punção de medula óssea, aspirado de linfonodo e citologia esfoliativa da pele para pesquisa de Leishmania sp., além exames completares como hemograma e bioquímica sérica. Anemia normocítica normocrômica, hipocrômia, hiperproteinemia, hipoalbuminemia e hiperglobulinemia foram observados na análise hematológica e bioquímica. Formas amastigotas de Leishmania sp. foram visibilizadas em lâminas confeccionadas a partir do aspirado da medula óssea, linfonodos, e citologia esfoliativa da pele. Em decorrência do estado clínico no qual o animal se encontrava, associado a confirmação da Leishmaniose canina, os proprietários optaram pela eutanásia do animal. Para realização da eutanásia do paciente, foi administrado por via endovenosa Xilazina (10 mg/kg) e Cetamina (5 mg/kg). Após confirmação do efeito anestésico foi administrado Cloreto de potássio por via EV, até a constatação total da parada respiratória, cardíaca e morte. No exame post-mortem foram coletados fragmentos dos papilomas de diferentes áreas da cavidade oral, sendo esses acondicionados em coletores contendo formalina tamponada neutra a 10%, identificados e encaminhados para análise histopatológica, o qual revelou: hiperplasia da camada epitelial com cristas epidérmicas extensas e profundas, papilas dérmicas que se projetavam no sentido contrário às cristas, com eixo conjuntivo bastante vascularizado, queratina tubular com conjuntivo, infiltrado mononuclear linfocitário com fibroblastos superativos e figuras de mitose com infiltrado inflamatório mononuclear do tipo linfoplasmocitário nas papilas dérmicas. Observou-se também a presença de formas amastigotas de Leishmania sp. no citoplasma de macrófagos presentes na derme papilar. O material analisado possui características de papilomatose típica e atípica. Nas projeções típicas assemelhavam-se a dedos de luva, constituído de tecido epitelial e de tecido conjuntivo, sendo bastante pronunciado, com hiperplasia de ambos, com espessamento da camada córnea, granulosa e espinhosa, infiltrado inflamatório difuso. Presença de fibras colágenas maduras com ausência ou Anais do 38º CBA, p.1078

4 pequena quantidade de figuras de mitose. Na porção atípica derme reticular apresentou uma estruturação normal com presença de glândulas, havendo predominância de tecido epitelial, principalmente, da camada espinhosa. O diagnóstico diferencial da papilomatose foi baseado em outras neoplasias (epúlides fibromatosos, tumor venéreo transmissível e carcinoma de células escamosas). Discussão A papilomatose é uma das neoplasia que afetam os cães, a qual caracterizase pela presença de lesões isoladas ou múltiplas, na cavidade oral, genital, tecido subcutâneo e região ocular (FERNANDES et al., 2009; WIGGANS et al., 2013), assim como as múltiplas lesões nos lábios, língua, gengiva, palato mole e duro do paciente deste relato. Vale ressaltar que a replicação viral ocorre nas células basais do estrato germinativo que estão em divisão contínua, causando acantomatose, hiperqueratose e hiperproliferação espontânea de células tumorais benignas nos locais acometidos (SCOPEL et al., 2010). Embora a papilomatose seja uma doença que acomete normalmente cães com idade inferior a um ano, o paciente deste relato possuía idade superior a 2 anos. Além disso, hemorragia, disfagia, anorexia, ptialismo, halitose, infecção bacteriana secundária com presença de secreção purulenta são normalmente relatados em cães com papilomatose, sendo alguns destes sintomas identificados na cadela deste trabalho (FERNANDES et al., 2009; COSTA et al., 2014). Interessantemente, Erliquiose, Cinomose e Parvovirose são algumas das enfermidades citadas como potencializadoras da replicação e manifestação clínica dos Papillomavirus (WALL e CALVER, 2006). Contudo, animais parasitados por Leishmania sp. podem ser acometidos por uma diversidade de patógenos oportunistas, devido a imunossupressão causada pelo parasito (SILVA, 2007). Para o diagnóstico da leishmaniose em cães informações obtidas na anamnese, exame clínico, além dos resultados hematológicos, bioquímicos e a identificação das amastigotas de Leishmania sp. em aspirado de medula óssea, linfonodos e pele do paciente, são de extrema importância (GOMES et al., 2008; GRAMICCIA, 2011). Assim, como a realização da histopatologia das massas orais de cães com papilomas (SCOPEL et al., 2010). Anais do 38º CBA, p.1079

5 Conclusões Conclui-se que animais parasitados por Leishmania sp. apresentam imunossupressão, estando assim, susceptíveis a agentes oportunistas, como é o caso dos papilomavírus, principais responsáveis pela produção de tumores de mucosa oral em cães. Referências: COSTA, T.S.; CARVALHO, J. R. G. de.; CARVALHO, F. M. de. et al. Criocirurgia no tratamento da papilomatose oral canina: relato de seis casos. In: 35º CONGRESSO BRASILEIRO DA ANCLIVEPA. Anais... Belo Horizonte, FERNANDES, M. C.; RIBEIRO, M. G.; FEDATO, F. P. et al. Papilomatose oral em cães: revisão da literatura e estudo de doze casos. Sem: Ciê. Agr., v. 30, n. 1, p , FERREIRA, A. L.; FALQUETO, A.; GRIMALDI JÚNIOR, G. et al. Ecological and epidemiological aspects of the sand fly (Diptera, Psychodidae) fauna of the National Monument of Pontões Capixabas, State of Espírito Santo, Southeastern Brazil. Jour. Med. Ent., v.50, n.6, p , GOMES, Y.M.; PAIVA CAVALCANTI, M.; LIRA, R.A. et al. Diagnosis of canine visceral leishmaniasis: biotechnological advances. Vet. Jour., v.175, p.45 52, GRAMICCIA, M. Recent advances in leishmaniasis in pet animals: Epidemiology, diagnostics and antivectorial prophylaxis. Vet. Par., v.181, p.23-30, MUNDAY, J. S.; FRENCH, A. F.; MACNAMARA, A. R. The development of multiple cutaneous inverted papilloma following ovariohysterectomy in a dog. New Zea. Vet. Jou., v.58, n.3, p , NAGATA, M.; ROSENKRANTZ, W. Cutaneous viral dermatoses in dogs and cats. Com: Com. Edu. For Vet., v.35, n.7, p.1, SCOPEL, D.; SILVA, C. C.; FORTES, T. P.; NUNES, J. E. V.; ARAÚJO, G. A. Papiloma genital em um canino relato de caso. XII ENPOS Encontro de Pós Graduação da UFPel Universidade Federal de Pelotas, Novembro, SILVA, F.S. Patologia e patogênese da leishmaniose visceral canina. Rev. Tró. Ciê. Agrá. Bio., v.1, n. 1, p. 20, WALL, M.; CALVERT, C.A. Canine viral papillomatosis. Infectious disease in the dog and cat. 3.ed. Philadelphia: W.B. Saunders, p WIGGANS, K.T.; HOOVER, C.E.; EHRHART, E.J. et al. Malignant transformation of a putative eyelid papilloma to squamous cell carcinoma in a dog. Vet. Oph., v.16, n.1, p , Anais do 38º CBA, p.1080