ESTRATÉGIAS EMPRESARIAIS BASEADAS NA PRESERVAÇÃO AMBIENTAL: A AVALIAÇÃO DAS EMPRESAS INDUSTRIAIS DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA
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1 ESTRATÉGIAS EMPRESARIAIS BASEADAS NA PRESERVAÇÃO AMBIENTAL: A AVALIAÇÃO DAS EMPRESAS INDUSTRIAIS DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA Ademir Clemente CEPEC/UFPR Alceu Souza PPAD/PUCPR Melissa Kobus Sasson CEPEC/UFPR Resumo Entre empresários e executivos da indústria predomina uma avaliação estratégica ambígua a respeito dos projetos de preservação ambiental: os juízos emitidos enquanto cidadãos e consumidores são francamente favoráveis, mas as avaliações emitidas enquanto responsáveis pela seleção de investimentos rentáveis e de baixo risco são claramente desfavoráveis. Além disso, a avaliação estratégica das oportunidades representadas pela preservação ambiental não é homogênea no setor industrial: as empresas mais poluentes tendem a se constranger em uma atitude mais defensiva enquanto as menos poluentes parecem mais aptas a obter lucro nessa área. Este artigo avalia, de acordo com a visão dos empresários e dos executivos da indústria, o conteúdo estratégico dos investimentos ambientais, mostra diferenças importantes entre as avaliações de um grupo e de outro e também faz uma análise comparativa entre o comportamento estratégico das empresas menos poluentes e empresas mais poluentes. Tomase por base uma pesquisa direta envolvendo 44 empresas industriais localizadas na Região Metropolitana de Curitiba, nas quais foram entrevistados 31 empresários e 30 executivos. 1. INTRODUÇÃO Em todo o mundo, a atividade industrial é a grande responsável pelas emissões aéreas, pela produção de lixo tóxico, pela emissão de efluentes líquidos contaminantes, além de produzir efeitos sonoros e térmicos notáveis. A atitude das empresas industriais em relação ao Meio Ambiente vem mudando significativamente ao longo dos últimos 30 anos. Nos anos 70, quando a maior parte dos países começou a impor regulamentação ambiental e a controlar os impactos sobre o Meio Ambiente, as empresas industriais adotaram políticas defensivas, tentando minimizar os gastos exigidos e tentando repassa-los aos preços. Nos países desenvolvidos, essa primeira fase perdeu importância com a generalização e a intensificação da agenda ambiental. Quando a preocupação com o Meio Ambiente passou a ocupar lugar de destaque, muitas empresas começaram a perceber o valor estratégico dos projetos de preservação ambiental enquanto oportunidades para melhorar a imagem e para diferenciar produtos. Nesses países, os produtos ecologicamente corretos passaram a ser valorizados e a representar promissoras oportunidades de negócios, devido à combinação de elevado nível de conscientização com forte poder aquisitivo. Além disso, muitas empresas conseguiram estrategicamente desenvolver e consolidar uma imagem de amigas de Meio Ambiente. A conscientização ecológica no Brasil está longe de ser generalizada e forte. Até há pouco tempo, a voz oficial era de que a pior poluição é a fome e a miséria, estando os governos
2 receptivos a todo tipo de atividade poluidora. Com essa política, aparentemente, pretendia-se fazer o contraponto à atitude NIMBY (Not-in-my-back-yard) que se difundia rapidamente pelo mundo desenvolvido. Considere-se, além disso, que uma parte significativa da população se encontra no limite da sobrevivência ou é muito pobre e, naturalmente, tende a considerar relegáveis os danos ambientais. Isso quer dizer que esses consumidores geralmente não exigem produtos ecologicamente corretos e não estão dispostos a pagar nenhum diferencial de preço por eles. Considerando, no outro extremo, a população brasileira com poder aquisitivo semelhante ao observado nas sociedades desenvolvidas, constata-se que mesmo naquelas sociedades a disposição para reconhecer o valor dos produtos favoráveis ao Meio Ambiente é muito tênue: historicamente os diferenciais de preço dos produtos verdes têm sido reduzidos. No Brasil, como em todo o mundo, generalizou-se o discurso relativo à responsabilidade ambiental da empresa ao mesmo tempo em que se veiculam amplamente informações sobre a possibilidade iminente de ruptura de vários ecossistemas e sobre os custos astronômicos de recuperação do Meio Ambiente. Apesar disso, as estratégias centradas no Meio Ambiente raramente são implementadas e o marketing ambiental das empresas, em particular das empresas industriais, vem apresentando limitações e avança muito mais lentamente do que seria desejável. É possível que a configuração das cadeias produtivas, em que as atividades industriais que maiores impactos exercem sobre o Meio Ambiente se situam longe do consumidor final, seja parte da explicação para isso. Mas essa possibilidade somente confirmaria a incapacidade quase absoluta do consumidor de reconhecer e valorizar produtos ecologicamente corretos, restando às empresas a estratégia de desenvolverem suas imagens associadas ao Meio Ambiente independentemente da agressão que os seus produtos causem. Observe-se também que a globalização da economia e a integração dos mercados apresentam alcance restrito sobre a indústria no que diz respeito ao valor estratégico das políticas ambientais. A adoção das normas ISO pode ser fator importante ou mesmo necessário para a exportação de produtos brasileiros, mas esses padrões somente se estendem à produção destinada ao mercado interno na medida em que se aproveitem economias de escala. A Região Metropolitana de Curitiba, onde foi realizada a pesquisa, apresenta população próxima de 2 milhões de habitantes e se destaca pelo acelerado crescimento industrial observado na última década. A paisagem econômica da região alterou-se profunda e definitivamente nos últimos anos e tornaram-se evidentes problemas de poluição e de congestionamentos até então praticamente desconhecidos. A maior parte dos grandes projetos industriais instalados é de propriedade estrangeira, os maiores investimentos tiveram decisiva participação do governo estadual e trouxeram consigo a cultura das empresas de origem. Este artigo apresenta e discute os resultados de uma pesquisa envolvendo 44 empresas industriais da Região Metropolitana de Curitiba, na qual foram entrevistados 31 empresários (sócios, sócios-diretores e proprietários) e 30 executivos.
3 Procurou-se perceber, através das informações levantadas, a avaliação que empresários e executivos fazem dos investimentos em preservação ambiental, em particular, a avaliação que fazem do conteúdo estratégico de tais investimentos. 2. A PESQUISA Um questionário contendo 11 perguntas, apresentado na seção seguinte, foi aplicado a 61 pessoas de 44 empresas industriais localizadas na Região Metropolitana de Curitiba. Entre as pessoas entrevistadas, 31 são empresários e 30 são executivos. As entrevistas foram realizadas por telefone e pela Internet no período de outubro de 2002 a janeiro de As empresas que compõem a amostra se distribuem pelos ramos de atividade como é mostrado no Quadro 1, a seguir. Este quadro também revela o número de empresários e de executivos por ramo de atividade. O Quadro 1 mostra que foram pesquisadas 44 empresas de 25 ramos industriais. Mostra também a distribuição dos empresários e dos executivos pelos ramos de atividade. QUADRO 1 NÚMERO DE EMPRESAS, DE EMPRESÁRIOS E DE EXECUTIVOS AMOSTRADOS POR RAMO DA INDÚSTRIA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA RAMO DE ATIVIDADE NÚMERO DE EMPRESAS EMPRESÁRIOS EXECUTIVOS TOTAL DE ENTREVISTAS Aditivos alimentares Alimentos Automobilística Calhas Cimento Compensados Embalagens de alumínio Embalagens de Isopor Embalagens plásticas Ferro e Aço Gráfica Lâminas madeira Madeireira Máquinas Material escolar Mecânica Metais, placas Metalúrgica Móveis Peças p/ automóveis Peças p/ máquinas Plásticos Produtos Plásticos Química Velas e parafina TOTAL FONTE: Pesquisa direta.
4 Levando em conta o processo industrial das empresas, a amostra foi subdividida em duas: indústria menos poluente e indústria mais poluente, conforme mostra o Quadro 2, a seguir. QUADRO 2 NÚMERO DE EMPRESAS, DE EMPRESÁRIOS E DE EXECUTIVOS POR SUB-AMOSTRA DA INDÚSTRIA DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA SUB-AMOSTRA MENOS POLUENTES MAIS POLUENTES NÚMERO DE EMPRESAS EMPRESÁRIOS EXECUTIVOS TOTAL DE ENTREVISTAS TOTAL FONTE: Ver texto. 3. ANÁLISE DOS RESULTADOS A Figura 1, a seguir, mostra o questionário utilizado na pesquisa. Para maior facilidade na análise que segue, adicionou-se uma coluna de identificação das perguntas. FIGURA 1 QUESTIONÁRIO UTILIZADO NA PESQUISA ENVOLVENDO EMPRESÁRIOS E EXECUTIVOS DO SETOR INDUSTRIAL DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA E IDENTIFICAÇÃO DAS PERGUNTAS PERGUNTA IDENTIFICAÇÃO 1. Qual o ramo de atividade da empresa? RAMO DE ATIVIDADE 2. Qual a sua posição na empresa? POSIÇÃO NA EMPRESA 3. Você acha que as empresas em geral, com relação aos gastos com a preservação do Meio Ambiente, deveriam: ( )Evitar tanto quanto possível ( )Apenas atender às exigências legais ( )Investir porque é lucrativo ( )Investir porque é ético 4. Você acha importante a preservação ambiental para o futuro do Planeta Terra? ( )Sim ( )Não ( )Talvez 5. Quanto à capacidade do mercado consumidor de perceber a diferenciação relativa à preservação ambiental, você considera: ( )Elevada ( )Moderada ( )Desprezível 6. Você, enquanto consumidor, estaria disposto a pagar um preço maior por um produto ecologicamente correto? ( )Sempre ( )Depende do produto ( )Nunca 7. A sua empresa possui mecanismos específicos para a preservação ambiental? ( )Sim ( )Não 8. Você acha que existem muitas barreiras (estruturais, financeiras ou culturais) para se implantar um sistema de preservação ambiental nas GASTOS COM O MEIO AMBIENTE PRESERVAÇÃO PARA O FUTURO MERCADO CONSUMIDOR ENQUANTO CONSUMIDOR MECANISMOS DE PRESERVAÇÃO BARREIRAS
5 empresas? ( )Sim ( )Não 9. Quanto ao investimento em preservação ambiental pelas empresas, você acha que: ( )Há retorno total + lucro ( )Há retorno total apenas, sem lucro ( )Não há retorno ( )O retorno não chega a cobrir o investimento 10. Na sua opinião, porque as empresas, independentemente do ramo de atividade, raramente adotam atitude firme e clara de preservação ambiental? ( )Falta de informação ( )Falta de capital para investir ( )Falta de interesse ( )A estrutura da empresa não comporta 11. Na empresa onde trabalha, há algum incentivo ao controle de impactos ambientais? Caso positivo, que iniciativas são tomadas? ( )Há um departamento especializado ( )Há um balanço ambiental para controle ( )Palestras / eventos ( )Projetos ( )Outros: INVESTIMENTOS EM PRESERVAÇÃO AUSÊNCIA DE POLÍTICA INCENTIVOS NA EMPRESA 3.1 Análise comparativa dos perfis dos empresários e dos executivos A Figura 2, a seguir, mostra os perfis das respostas dos empresários e dos executivos às perguntas de número 3 a 7. COMPARAÇÃO DOS PERFIS DOS EMPRESÁRIOS E DOS EXECUTIVOS (1ª Parte) Porcentagem GASTOS COM O MEIO AMBIENTE PRESERVAÇÃO PARA O FUTURO MERCADO CONSUMIDOR ENQUANTO CONSUMIDOR MECAN. DE PRESERV. Empresários(n=31) Executivos(n=30) Perguntas FIGURA 2 COMPARAÇÃO DOS PERFIS DOS EMPRESÁRIOS E DOS EXECUTIVOS DO SETOR INDUSTRIAL DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA 1ª PARTE
6 A pergunta número 3 mostra significativa diferença entre a percepção dos empresários e dos executivos com relação aos gastos para preservação do Meio Ambiente: embora ambos os grupos tenham rejeitado totalmente a alternativa de evitar tanto quanto possível, os empresários atribuem maior importância a apenas atender às exigências legais, enquanto o apelo de natureza ética atinge com maior intensidade os executivos. É notável que ambos os segmentos apontam com elevada freqüência o valor estratégico desses gastos, representado por investir porque é lucrativo. A questão número 4 encontrou absoluta unanimidade tanto em um grupo como em outro a respeito da importância da preservação ambiental. Observe-se, entretanto, que a questão não se refere à atribuição de responsabilidade. Através da pergunta número 5 obteve-se a avaliação dos empresários e dos executivos da indústria quanto à capacidade do mercado de perceber a diferenciação ecológica dos produtos. Os executivos, na grande maioria, avaliam como moderada essa capacidade, enquanto os empresários não apresentam concentração tão clara. É importante observar que tanto empresários quanto executivos apontam capacidade desprezível com maior freqüência do que elevada capacidade. Aqui certamente reside a razão mais importante para avaliar como de alto risco as estratégias centradas na preservação ambiental. Padrão completamente distinto é encontrado em relação à pergunta número 6, na qual os empresários e os executivos respondem enquanto consumidores. Praticamente não há diferença entre os perfis dos dois grupos e cerca de dois terços se dizem dispostos a sempre reconhecer a diferenciação ambiental dos produtos, enquanto para outro um terço depende do produto. Nenhum entrevistado se considera insensível à qualidade ecológica dos produtos. A pergunta número 7 trata da existência de mecanismos de preservação ambiental na empresa. Os perfis levantados são muito semelhantes, com cerca de 80% dos empresários e dos executivos indicando a existência de tais mecanismos nas suas empresas. Observe-se que a pergunta é abrangente e engloba quaisquer atividades relacionadas com a preservação. A Figura 3, a seguir, mostra os perfis das respostas dos empresários e dos executivos às perguntas de número 8 a 11.
7 COMPARAÇÃO DOS PERFIS DOS EMPRESÁRIOS E DOS EXECUTIVOS (2ª Parte) Porcentagem BARREIRAS INVESTIMENTOS EM AUSÊNCIA DE INCENTIVOS NA EMPRESA PRESERVAÇÃO POLÍTCA Empresários(n=31) Executivos(n=30) Perguntas 110 FIGURA 3 COMPARAÇÃO DOS PERFIS DOS EMPRESÁRIOS E DOS EXECUTIVOS DO SETOR INDUSTRIAL DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA 2ª PARTE As dificuldades percebidas pelos empresários e pelos executivos da indústria para implantar sistemas de preservação ambiental nas empresas foram avaliadas através da questão número 8. Entre os empresários entrevistados, 80% consideram que existem muitas barreiras estruturais, financeiras ou culturais. Entre os executivos, esse percentual atinge pouco mais de 60%. A percepção de um cenário externo desfavorável à implantação de sistemas de preservação ambiental é muito elevada em ambos os grupos e é particularmente alta entre os empresários. A pergunta número 9 trata da avaliação do retorno dos projetos de investimentos em preservação ambiental. Os perfis observados se assemelham quanto ao padrão de distribuição das respostas, com concentração nos extremos. Em torno de 40% dos empresários consideram lucrativos esses projetos, enquanto outros quase 40% consideram-nos deficitários. Pouquíssimos empresários apontaram a alternativa não há retorno, no que são acompanhados pelos executivos. Os executivos são mais otimistas: cerca de 50% avaliam como rentáveis os projetos empresariais de preservação ambiental. Entretanto, mesmo entre os executivos mais de 20% consideram deficitários tais projetos de investimento. A concentração de respostas nos extremos estaria a confirmar a hipótese de que os investimentos estratégicos em preservação ambiental tendem a receber avaliações muito distintas dentro das empresas e, com freqüência, acabariam sendo avaliados como de alto risco.
8 As razões para a inexistência de uma atitude firme e clara das empresas em relação à preservação do Meio Ambiente foram apontadas na pergunta número 10. Os perfis observados são dramaticamente distintos. Para a maioria dos empresários, a maior dificuldade consiste na falta de recursos para investir (45%), enquanto para os executivos o maior óbice é a falta de interesse (50%). A falta de informação é apontada com maior freqüência pelos empresários, mas é também importante para os executivos. Esse resultado está a indicar a necessidade de maior e melhor suprimento de informações pelas autoridades. Ainda cabe observar com respeito à questão número 10 que os empresários apontam com grande freqüência a alternativa a estrutura da empresa não comporta, o que de certa forma corrobora a grande incidência de falta de capital para investir. A questão número 11 trata do nível de organização da empresa pesquisada em relação às atividades de preservação ambiental. Os perfis observados dos empresários e dos executivos são muito semelhantes. É notória a virtual inexistência de balanço ambiental nas empresas. A grande maioria aponta a existência de projetos na área ambiental. Entre 20% e 30% das empresas pesquisadas, de acordo com a pesquisa, possuem departamento especializado e entre 30% e 40% realizam palestras e eventos sobre o Meio Ambiente. 3.2 Análise comparativa dos perfis das empresas menos poluentes e empresas mais poluentes A Figura 4, a seguir, mostra os perfis das respostas das empresas classificadas como menos poluentes e como mais poluentes às perguntas de número 3 a 7. PERFIS DAS EMPRESAS MENOS POLUENTES E MAIS POLUENTES(1ª Parte) Porcentagem 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% GASTOS COM O MEIO AMBIENTE PRESERVAÇÃO PARA O FUTURO menos poluentes MERCADO CONSUMIDOR mais poluentes ENQUANTO CONSUMIDOR MECAN. DE PRESERV. Perguntas FIGURA 4 COMPARAÇÃO ENTRE OS PERFIS DAS EMPRESAS MENOS POLUENTES E MAIS POLUENTES DO SETOR INDUSTRIAL DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA 1ª PARTE
9 Os perfis de respostas à pergunta número 3 mostram importantes diferenças de atitude diante dos gastos com o Meio Ambiente. Tanto para as empresas menos poluentes como para as mais poluentes a incidência de motivação ética é pouco superior a 40%, mas as mais poluentes dão muito mais importância ao atendimento às exigências legais enquanto as menos poluentes percebem com muito maior freqüência a oportunidade de investir na preservação ambiental e obter lucro. Pode-se inferir que as empresas mais poluentes, premidas pela necessidade de atender aos requisitos legais, apresentam maior dificuldade para perceber conteúdo estratégico nos gastos com o Meio Ambiente. Quanto à capacidade do mercado consumidor de perceber a diferenciação ecológica dos produtos, de que trata a pergunta número 5, os perfis levantados são completamente díspares. Entre as empresas menos poluentes as respostas se distribuem de forma crescente pelas 3 categorias elevada, moderada e desprezível. Para as empresas mais poluentes, observase enorme concentração na categoria moderada, cerca de 70%. As empresas menos poluentes estariam mostrando avaliação mais clara e, portanto, percebendo nível de incerteza mais baixo. A comparação dos perfis relativos à pergunta número 6 mostra diferença de valores entre empresários e executivos de empresas menos poluentes e de empresas mais poluentes: os primeiros, com maior freqüência, dizem-se dispostos a pagar um preço maior por um produto ecologicamente correto. Os perfis mostrados pelas respostas à pergunta número 7, que trata da existência na empresa de mecanismos específicos de preservação ambiental, são muito semelhantes, mas é surpreendente que as empresas menos poluentes tenham indicado com maior incidência na alternativa sim. A Figura 5, a seguir, mostra os perfis das respostas das empresas classificadas como menos poluentes e como mais poluentes às perguntas de número 8 a % 70% PERFIS DAS EMPRESAS MENOS POLUENTES E MAIS POLUENTES(2ª Parte) Porcentagem 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% BARREIRAS INVESTIMENTOS EM PRESERVAÇÃO AUSÊNCIA DE POLÍTCA INCENTIVOS NA EMPRESA menos poluentes mais poluentes Perguntas FIGURA 5 COMPARAÇÃO ENTRE OS PERFIS DAS EMPRESAS MENOS POLUENTES E MAIS POLUENTES DO SETOR INDUSTRIAL DA REGIÃO METROPOLITANA DE CURITIBA
10 A comparação dos perfis observados em relação à pergunta número 8 é surpreendente: as empresas menos poluentes indicam com maior freqüência barreiras estruturais, financeiras ou culturais para a implantação de sistemas de preservação ambiental. Isso estaria a confirmar que as empresas menos poluentes estão, de modo geral, mais atentas às oportunidades estratégicas identificáveis em relação ao Meio Ambiente e, com maior assiduidade, estariam procurando realizar negócios nessa área. Com a pergunta número 9 pode-se contabilizar mais um indicador da tendência das empresas menos poluentes a perceberem mais facilmente o valor estratégico do Meio Ambiente: as empresas menos poluentes são claramente muito mais otimistas em relação aos projetos de investimentos voltados à preservação. A freqüência com que a oportunidade de lucro em tais projetos é mencionada pelas empresas menos poluentes alcança 60%, o dobro do observado entre as empresas mais poluentes. A pergunta número 10 versa sobre as razões para a falta de uma política de preservação mais firme e mostra perfis muito semelhantes: a única diferença digna de nota é a maior demanda por informação entre as empresas menos poluentes, o que reforça as observações anteriores a favor dessas empresas. Quanto à pergunta número 11, as empresas mais poluentes, como era esperado, indicam com maior freqüência que contam com departamento especializado no controle de impactos ambientais e que mantêm projetos nessa área. A promoção de eventos e palestras relacionados ao Meio Ambiente é importante para os dois segmentos, com pequena vantagem para as empresas menos poluentes. Isso também está de acordo com a ilação de que as empresas menos poluentes atribuem maior valor estratégico ao Meio Ambiente. As empresas raramente realizam balanço ambiental, mas é importante observar que a prática do balanço ambiental é duas vezes mais freqüente entre as empresas menos poluentes. 4. CONCLUSÃO As limitações da pesquisa em que se baseia este artigo não permitem que se dêem por definitivas as análises aqui apresentadas. As restrições que pesam sobre o desenvolvimento de estratégias empresariais baseadas na preservação ambiental apresentam origens variadas e são percebidas de forma diferenciada por empresários e executivos da indústria. Os executivos se mostram menos reticentes e mais proativos, enquanto os empresários se caracterizam pelo conservadorismo e pela busca de segurança, em atitude defensiva. Os executivos mais facilmente percebem valor estratégico em projetos de preservação ambiental. O reconhecimento quase unânime da existência de barreias estruturais, financeiras e culturais juntamente com o reconhecimento da falta de informação, apontado por representativa parcela de empresários e de executivos, parecem constituir elemento indispensável para orientar a formulação de políticas públicas na área do Meio Ambiente. Os empresários e os executivos das empresas mais poluentes estão mais voltados a atender às exigências legais e mais raramente conseguem perceber valor estratégico na área do Meio Ambiente. Por outro lado, os empresários e os executivos das empresas menos poluentes, com
11 maior freqüência, destacam a existência de barreiras, avaliam como rentáveis os investimentos e enxergam conteúdo estratégico nos projetos orientados à preservação ambiental. De modo geral, as empresas menos poluentes se mostram mais aptas a atuar estrategicamente em relação ao Meio Ambiente. 5. BIBLIOGRAFIA ALMEIDA, L. T. Política ambiental: uma análise econômica. São Paulo: UNESP, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR ISO Sistema de gestão ambiental: especificação e diretrizes para uso. Rio de Janeiro: ABNT, AZAMBUJA, T. T.; MACEDO, R. K. de. Gestão da Qualidade Ambiental. Rev. Controle da Qualidade, n. 24, maio, BRITO F. Planejamento Estratégico e ISO In: Seminário Nacional de Gerenciamento Ambiental nos Municípios. IETEC. jul./95. BUSATO, J. A Decisão de Investir em Gerenciamento Ambiental: Evolução da Questão em Santa Catarina. Disponível em < Acesso em: 20/12/2002. CAIRNCROSS, F. Meio Ambiente Custos e Benefícios. São Paulo: Nobel, CASTRO, N. de. A questão ambiental: o que todo empresário precisa saber. Brasília: SEBRAE, CAVALCANTI, Rachel N. As normas da série ISO In ROMEIRO, Ademar R. et al. Economia do meio ambiente: teorias políticas e a gestão de espaços regionais. São Paulo: UNICAMP.IE, CICCO, F. de. ISO 14000: a nova norma de gerenciamento e certificação ambiental. Revista de Administração de Empresas. São Paulo: v. 34, n. 5, p , set./out CLEMENTE A. (Org.) Projetos Empresariais e Públicos. São Paulo: Atlas, p CLEMENTE A. HIGACHI H. Y. Economia e Desenvolvimento Regional. São Paulo: Atlas, p COMISSÃO MUNDIAL SOBRE MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO. Nosso futuro comum. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, COMO AS ORGANIZAÇÕES ESTÃO TRATANDO A GESTÃO AMBIENTAL Revista Banas Ambiental.. Ano I, n. 5, abril, DONAIRE, D. Gestão ambiental na empresa. 2 ed., São Paulo: Atlas, Considerações sobre a Influência da Variável Ambiental na Empresa. Revista de Administração de Empresas. SP: v. 34, n. 2, mar./ abr., 1995.
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