NEUROCIÊNCIA LIGADA AO PROCESSO DE APRENDIZAGEM

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1 NEUROCIÊNCIA LIGADA AO PROCESSO DE APRENDIZAGEM

2 Colaboradores O e-book Neurociência ligada ao processo de aprendizagem foi elaborado para o blog Painel de Educação, plataforma de conteúdos administrada pelo Sistema ETAPA que integra o Grupo Educacional ETAPA, e parceiros especialistas em diversos assuntos do setor da educação. No blog Painel de Educação você encontra temas que englobam aprendizagem e gestão escolar, conteúdos ricos para que possa aprofundar seus conhecimentos, disponibilizados nos formatos de vídeo, e-book e podcast. Além do Painel de Educação, o Sistema ETAPA desenvolve material didático com uma metodologia própria que atende desde a Educação Infantil até o Ensino Médio, reunindo a experiência e a qualidade de quem se dedica 100% à Educação, há quase 50 anos, sendo reconhecido por seus resultados e eficiência Nesta edição, contamos com a participação da neurocientista Dra. Leonor Guerra que, há quase 25 anos, colabora com escolas brasileiras, de educação infantil ao ensino superior, na capacitação de professores a respeito do funcionamento do cérebro durante a aprendizagem. Dra Leonor coordena o Projeto NeuroEduca, criado na época em que atuou como professora e pesquisadora na Universidade Federal de Minas Gerais.

3 1. Índice 2. INTRODUÇÃO...pg CONTRIBUIÇÕES À EDUCAÇÃO TRAZIDAS PELA NEUROCIÊNCIA...pg COMO AS ESTRATÉGIAS PEDAGÓGICAS MULTISSENSORIAIS CONTRIBUEM PARA A APRENDIZAGEM?...pg FUNÇÕES EXECUTIVAS E ATIVIDADES ESCOLARES, COMO INTEGRÁ-LAS?...pg AS EMOÇÕES E A MEMÓRIA NA APRENDIZAGEM...pg ESPIRAL DA APRENDIZAGEM: RECONTAR, REVER E REPASSAR...pg A ATENÇÃO NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM...pg CONCLUSÃO...pg. 20

4 2. Introdução É cada vez maior a necessidade de compreensão sobre o funcionamento cerebral e as estratégias que favorecem seu desenvolvimento no meio educacional. Por ser responsável pelo processamento de informações, armazenamento de conhecimentos e comportamentos, é relevante que educadores entendam os mecanismos do cérebro e sua relação com o processo ensino-aprendizagem. Aprecie o conteúdo e boa leitura! O conhecimento dos fundamentos neurocientíficos contribui, e muito, na implementação e execução das diversas estratégias pedagógicas. Por isso, este e-book do Painel de Educação trará informações relevantes, compartilhadas de maneira muito didática, com o objetivo de auxiliar gestores e educadores na compreensão dessa importante ciência

5 3. CONTRIBUIÇÕES À EDUCAÇÃO TRAZIDAS PELA NEUROCIÊNCIA Foi durante os últimos 50 anos que a neurociência (conjunto das áreas do conhecimento que tem como foco de estudo o sistema nervoso) apresentou significativo avanço. A evolução da tecnologia digital, que possibilitou o uso de neuroimagens, foi de extrema importância para o aumento da compreensão do funcionamento do cérebro. Assim, a relação entre o comportamento e o funcionamento cerebral passou a ser mais bem compreendida. Tais descobertas trouxeram contribuições para diversas áreas como marketing, direito, economia e, claro, EDUCAÇÃO. Mas, afinal, qual a relação entre educação e neurociência? No processo de aprendizagem, o objetivo do professor é auxiliar o aluno a adquirir novos conhecimentos e comportamentos. Ambos dependem da estrutura do sistema nervoso, da atividade do conjunto de neurônios e das modificações que neles ocorrem durante a aprendizagem. O cérebro é o ator principal desse processo. Assim, tudo que envolve a aprendizagem do ponto de vista cerebral é de grande interesse não apenas para educadores como para os pais. Tais conhecimentos são chamados de indicações da neurociência para a aprendizagem. O ato de aprender é fundamental para a vida, para solução de problemas e para sobrevivência. O cérebro e os neurônios que o constituem são responsáveis por contribuir no desenvolvimento dos indivíduos por meio das reações aos estímulos que recebem

6 Tais estímulos são resultado das estratégias pedagógicas que os professores utilizam com seus alunos para proporcionar mudanças nas conexões cerebrais. Nesse processo, os neurônios são remodelados, fazem novas conexões ou reforçam as já existentes. Vale reforçar que esse processamento cerebral só ocorre a partir da interação do aprendiz com o ambiente em que está inserido. A aprendizagem resulta na reorganização do cérebro do aprendiz, que o leva a novos comportamentos Dra. Leonor Guerra - 6 -

7 4. COMO AS ESTRATÉGIAS PEDAGÓGICAS MULTISSENSORIAIS CONTRIBUEM PARA A APRENDIZAGEM? No momento em que o aluno está sendo ensinado, sua interação com o ambiente é fundamental. O cérebro é essencial porque recebe os estímulos externos que chegam aos órgãos dos sentidos por meio de ondas eletromagnéticas, informações mecânicas, térmicas, químicas ou de dor. Tais estímulos ativam as células nervosas - os neurônios - de diversas partes do sistema nervoso, incluindo neurônios do cérebro onde o processamento é realizado. O estímulo recebido pelo receptor sensorial (um prolongamento de um neurônio sensitivo que captou o estímulo ambiental) é transformado em atividade elétrica neste primeiro neurônio. Essa atividade ou mensagem é retransmitida, por meio da sinapse comunicação entre neurônios a um segundo neurônio que leva a informação aos outros e, finalmente, chega ao cérebro

8 Veja como ocorre essa ação na prática: Via sensorial de tato Quanto mais variados forem os estímulos sensoriais que o aluno recebe, mais completa, significativa e integrada será sua compreensão sobre a experiência de aprendizagem. Por isso, é importante que o educador entenda que estratégias pedagógicas multissensoriais (que utilizam os diversos sentidos) tornam a aprendizagem mais eficiente, pois o estudante compreende melhor, de forma mais completa e integrada os ensinamentos apresentados. Diferentes estímulos atingem áreas cerebrais distintas, ativando diversos conjuntos de neurônios que irão revelar ao aluno características visuais, auditivas, táteis, olfativas, entre outras, geradas a partir de uma interação, seja ela com um objeto, uma pessoa ou uma experiência complexa

9 4.1 FUNÇÕES EXECUTIVAS E ATIVIDADES ESCOLARES, COMO INTEGRÁ-LAS? Você sabe o que são funções executivas? Elas estão entre as diversas funções cognitivas (processos mentais conscientes baseados em experiências sensoriais, perceptuais, pensamentos, representações, recordações, etc.) que são muito importantes no processo de aprendizagem. As funções executivas são responsáveis por criar e regular estratégias de comportamento para variadas metas e contextos. Portanto, colaboram com o estudante quando ele precisa estabelecer metas, encontrar soluções para problemas e elaborar e conduzir estratégias comportamentais nas mais diversas circunstâncias. Todas essas ações dependem da atividade do cérebro, da porção mais anterior do lobo frontal, a chamada área pré-frontal

10 Você sabia que a área pré-frontal começa a se desenvolver na infância (a partir dos três anos) e passa por grandes modificações ao longo da adolescência até ter sua formação completa por volta dos 25 anos? Com o desenvolvimento dessa área cerebral, o aluno adquire e/ou melhora suas habilidades de: As funções executivas podem ser desenvolvidas com o auxílio de atividades promovidas por educadores. Entre as sugestões estão brincadeiras, interações entre as crianças para a resolução de problemas, exercícios físicos que exijam concentração, atenção, disciplina e o desenvolvimento de estratégias. Dessa forma, os estudantes aprendem a planejar suas atividades estabelecendo suas metas, identificando erros e ausência de lógica, corrigindo os próprios lapsos nas diversas matérias acadêmicas e muito mais

11 O cérebro não mudou, mas, os estímulos que ele recebe e os resultados que tais estímulos provocam sim: as habilidades necessárias para a adaptação de uma pessoa no século XXI são diferentes daquelas de alguns anos atrás. Por isso, as estratégias pedagógicas precisam ser repensadas, principalmente por gestores escolares e educadores, na intenção de oferecerem uma forma de aprendizagem mais eficaz. No universo acadêmico, o desenvolvimento das funções executivas possibilita ao estudante aprender a autorregular seu comportamento que, junto com sua motivação e percepção de autoeficácia (constatação de que a dedicação às tarefas escolares geram os bons resultados), colaboram para sua aprendizagem

12 4.2 AS EMOÇÕES E A MEMÓRIA NA APRENDIZAGEM Situações que desencadeiam estresse, ansiedade, e emoções como medo, raiva dentre outras, ativam áreas cerebrais ligadas às regiões responsáveis pela modulação da memória. Uma dessas é o hipocampo. O hipocampo, responsável pelo processamento e gerenciamento da memória e, portanto, fundamental para a aprendizagem, está situado entre estruturas que processam as emoções. Assim, emoção e aprendizagem caminham juntas. No cérebro existem regiões específicas que processam as emoções. O conjunto dessas áreas cerebrais é chamado de sistema límbico. Algumas delas estão relacionadas ao chamado sistema de recompensa que, quando ativado, juntamente com as regiões específicas da área pré-frontal, levam o indivíduo a repetir as experiências vividas e/ou tarefas executadas que resultaram nessa ativação: tal comportamento é o que conhecemos como motivação

13 Por que é importante o educador saber disso? Simplesmente porque a estrutura cerebral gerenciadora das memórias tem ligação direta com as emoções que o estudante vivencia durante o processo de aprendizagem. Estudos em neurociência têm indicado que o desempenho acadêmico é influenciado principalmente pelas emoções (positivas e negativas), percepção e autoeficácia, motivação e funções executivas (que inclui a autorregulação geradora da reflexão sobre como está aprendendo). Mas não apenas isso, a expectativa do professor também tem consequência nesse processo. Por exemplo, quando o educador investe menos tempo no aluno que julga ter menos competência ou mais dificuldade em algo relacionado aos estudos, esse comportamento reflete, de maneira negativa, no desenvolvimento do estudante. Por outro lado, a expectativa positiva do professor em relação ao potencial do aprendiz colabora para o seu melhor desempenho acadêmico

14 5. ESPIRAL DA APRENDIZAGEM: RECONTAR, REVER E REPASSAR Em que consiste a espiral da aprendizagem? Essa técnica tem o objetivo de dar oportunidade ao aluno de rever e repassar conteúdos já trabalhados e experiências vividas, visando esclarecer dúvidas e consolidar os conhecimentos e habilidades na memória, levando à aprendizagem. Esse movimento de estudo e entendimento da matéria, para a incorporação de novos conhecimentos e habilidades, está relacionado ao funcionamento do cérebro

15 No processo de aprendizagem, durante a aula, o aluno ativa neurônios que serão reativados posteriormente, durante o sono. Quando o neurônio entra em atividade produz algumas substâncias químicas que levam à fabricação de proteínas, utilizadas na formação e reorganização de sinapses (zonas de comunicação entre neurônios). Essas modificações das sinapses produzirão as memórias. Para que essas alterações das sinapses e, portanto, a consolidação das memórias, ocorra é importante que exista a repetição de tarefas e/ou a reexposição a experiências relacionadas ao que é aprendido, por meio de estratégias pedagógicas que façam o aluno usar seu cérebro. Vale esclarecer que, quanto mais vezes o aluno ativar seus neurônios enquanto estiver acordado, maior a probabilidade de, durante o sono, esses neurônios serem reativados e fabricarem proteínas para criação de novas sinapses, reorganização das já existentes e reforço das sinapses já reorganizadas. O resultado é a consolidação das memórias e, portanto, da aprendizagem. Todo esse processo de modificação das sinapses é chamado de NEUROPLASTICIDADE, fenômeno que depende do sono e de nutrientes necessários às reações químicas que produzem a reorganização das sinapses. Colocando em prática: Quais são os pontos que devem ser incentivados nos alunos para realização da espiral da aprendizagem? Ter uma boa noite de sono Ter uma alimentação equilibrada Retomar assuntos abordados em sala de aula sob diferentes ângulos e de diversas formas (leitura e/ou produção de texto, filmes, discussões em grupos)

16 A espiral de aprendizagem implica em rememoração, neuroplasticidade e consolidação da memória. O conteúdo a ser aprendido pode ser apresentado de diferentes maneiras, como: Algumas atitudes do professor podem contribuir para o melhor desenvolvimento do estudante porque influenciam na memorização e motivação. A estratégia pedagógica utilizada pode fazer com que o aluno retenha mais ou menos uma informação. Em uma aula expositiva na qual apenas o professor fala, sem que os alunos sejam provocados por perguntas, a probabilidade de o estudante reter as informações é menor do que se ele tivesse feito uma leitura prévia sobre o tema, chegando à classe com dúvidas para serem esclarecidas durante a exposição. Estratégias que recrutam mais áreas cerebrais tendem a ser mais eficientes. Quanto mais áreas cerebrais mobilizamos em uma situação de aprendizagem, maior a probabilidade de registrarmos a experiência e/ou o conteúdo. O cérebro que aprende é aquele que precisa estar mais ativo. Por isso, ao pensar em estratégias pedagógicas, avalie o quão estimulante elas serão

17 6. A ATENÇÃO NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM A atenção é uma função cognitiva que permite o indivíduo selecionar, em um determinado momento, o estímulo mais relevante e significativo dentre os vários recebidos. A atenção depende da atividade dos neurônios que são ativados em conjunto com os neurônios que estão processando determinada experiência. Os seres humanos são expostos a diversos estímulos, a todo tempo (cheiros, sons, sensações táteis, visuais, entre outras), mas, o cérebro só consegue prestar atenção, com melhor qualidade, a um estímulo por vez. Isso significa que os neurônios responsáveis pela atenção não conseguem processar bem dois estímulos simultaneamente. Eles podem alternar sua atividade, focando ora em uma informação visual, ora em informação auditiva, por exemplo. Mas, ao alternar sua atividade, partes da informação podem ser perdidas

18 Existem três grupos (circuitos) de neurônios responsáveis pela atenção e cada grupo tem uma função: 1º grupo - Manter a vigilância: permite consciência de tudo o que está ao redor, mantendo o indivíduo acordado, em vigília; 2º grupo - Responder aos estímulos: trata-se do circuito orientador. Quando entra em atividade, permite o desligamento do foco de atenção de um determinado alvo e o seu deslocamento para um novo (ou mais relevante) estímulo para o momento; 3º grupo Manter o foco da atenção: responsável por manter a atenção prolongada e inibir os estímulos distraidores. Esse circuito de atenção, localizado na região frontal do cérebro, tem sido bastante estudado por pesquisadores, pois está vinculado ao transtorno de déficit de atenção e hiperatividade. Porém, a distração não está relacionada apenas a isso. Quando temas não são interessantes, naturalmente, resultam na distração dos estudantes. A atenção é mobilizada pelo que é novo, pelo que é significativo e relevante para o bem estar e sobrevivência do indivíduo

19 No desenvolvimento de crianças é possível perceber que elas têm um circuito de inibição dos estímulos distraidores ainda em formação. Por esse motivo crianças se distraem e perdem a atenção com certa frequência. Na medida em que essa região frontal se desenvolve ao longo da infância e, principalmente, durante a adolescência, o jovem torna-se mais capaz de controlar sua atenção e seu próprio comportamento. A ATENÇÃO é flutuante, atuando em ciclos de maior ou menor concentração, dependendo da relevância dos estímulos e do quanto estes estão vinculados aos arquivos mentais (padrões cerebrais) que o indivíduo possui. distraidores. Mas serve como alerta entender que, no mundo contemporâneo, o excesso de estímulos gera sobrecarga ao cérebro. Isso porque exige foco de atenção em estímulos simultâneos que dificultam a seleção do que é mais relevante. O cérebro não é multitarefa. Ele faz uma coisa de cada vez e para aprender é fundamental focar a atenção. A atenção é o primeiro fator limitador da aprendizagem, pois memorizamos as experiências que passam pelo filtro da atenção. Dra. Leonor Guerra O cérebro é um decodificador de padrões cerebrais. Quanto mais diversidade de estímulos os alunos receberem, mais padrões cerebrais eles vão acumular e mais fácil será para conquistar sua atenção. A atenção também pode ser treinada por meio de exercícios que exijam a resistência aos estímulos

20 7. Conclusão Através da neurociência, a educação ganhou importantes conhecimentos sobre como o cérebro funciona, o que possibilita os educadores compreenderem melhor como as informações são processadas e de que maneira o conhecimento é armazenado. Dessa forma, é significativo considerar que: As estratégias pedagógicas mais eficazes em um determinado contexto ou grupo de alunos passam a ser mais bem compreendidas quando se entende como a atenção, a memória, a emoção e a função executiva contribuem para a aprendizagem. Quanto mais diversidade de estímulos o aluno receber, maior será a facilidade com que o conteúdo será memorizado e aprendido. A motivação, a aprendizagem significativa e a participação do aluno no seu processo de estudo são fundamentais. Por isso, gestores e educadores precisam estar bem atentos à evolução da ciência aliada à educação. Entender as relações do cérebro com o processo ensino-aprendizagem para o planejamento educacional é primordial