UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO COOPERATIVISMO DE CRÉDITO, INTERCOOPERAÇÃO E PERFORMANCE ECONÔMICA: O SICREDI (BRASIL)
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- João Gabriel Figueiredo Silveira
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1 UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO Milton Cesar de Goes COOPERATIVISMO DE CRÉDITO, INTERCOOPERAÇÃO E PERFORMANCE ECONÔMICA: O SICREDI (BRASIL) Vila Real, 2011
2 UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO Departamento de Economia, Sociologia e Gestão COOPERATIVISMO DE CRÉDITO, INTERCOOPERAÇÃO E PERFORMANCE ECONÔMICA: O SICREDI (BRASIL) Milton Cesar de Goes Dissertação apresentada à Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro UTAD como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Gestão. Orientador: Prof. Dr. João F. Rebelo Vila Real, 2011
3 Minha gratidão ao Professor Doutor João F. Rebelo, meu orientador, que jamais deiou de me guiar com prontidão na busca do melhor padrão de qualidade para o trabalho; Aos dirigentes e Eecutivos das cooperativas envolvidas, meus agradecimentos pelas respostas sinceras aos questionamentos que fiz por motivo da aplicação do questionário; Aos colegas de trabalho e amigos agradeço todo o apoio que me foi dado; A mais profunda gratidão e agradecimento a minha esposa Teie, que soube entender os vários momentos de minha ausência na rotina familiar e ao mesmo tempo me serviu de motivação para continuar em frente. A você Teie, aos meus filhos Vitor, Tainara e Giacomo um beijo no coração com muito amor.
4 Sonhar pequeno ou sonhar grande, o esforço é o mesmo. Portanto, meu amigo, sonhe Grande. Milton C. de Goes.
5 LISTA DE SIGLAS Bacen Bancoob BNDES CECO Cecred CMN CNSP Cocecrer-RS Confesol CVM Febraban Fenacam FGD FGS FGTE FMI ICA OCB OCEMG OCEPAR OCERGS ONG PLA Previc RD Banco Central do Brasil Banco Cooperativo do Brasil Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social Conselho Consultivo de Crédito Cooperativa Central de Crédito Urbano Conselho Monetário Nacional Conselho Nacional de Seguros Privados Cooperativa Central de Crédito do Rio Grande do Sul Confederação das Cooperativas Centrais de Crédito Rural com Interação Solidária Comissão de Valores Mobiliários Federação Brasileira dos Bancos Federação Nacional das Caias de Crédito Agrícola Mútuo Fundo Garantidor de Depósitos Fundo Garantidor Sicoob Fundo Garantidor para transações eletrônicas Fundo Monetário Internacional International Co-operative Alliance Organização das Cooperativas Brasileiras Organização das Cooperativas do Estado de Minas Gerais Organização das Cooperativas do Estado do Paraná Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do RS Organização Não Governamental Patrimônio Líquido Ajustado Superintendência Nacional de Previdência Complementar Rabo Financial Institutions Development
6 SBPE SFN SPB Sicoob Sicredi Sicredipar Susep Unicred WOCCU Sistema de Poupança e Empréstimo Sistema Financeiro Nacional Sistema de Pagamentos Brasileiro Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil Sistema de Crédito Cooperativo Sicredi Participações Superintendência de Seguros Privados Confederação Nacional das Cooperativas de Crédito World Council of Credit Unions
7 LISTA DE FIGURAS Figura 1: Composição do Sistema Financeiro Nacional SFN Figura 2: Distinção societária entre bancos e cooperativas de crédito no Brasil Figura 3: Modelo Organizacional Sicoob.Fonte: Sicoob Figura 4: Estrutura Unicred Figura 5: Modelo organizacional Cecred Figura 6: Estrutura do Sicredi (entidades de 1º, 2º e 3º graus) Figura 7: Fases de apresentação e análise de dados Figura 8: Ativos totais ( ) Cooperativas A e B Figura 9: Estrutura e forma da intercooperação praticada pela Cooperativa A Figura 10: Estrutura e forma de atuação praticada pela Cooperativa B Figura 11: Comparação entre cooperativa A e cooperativa B quanto à forma de atuação no mercado
8 LISTA DE QUADROS Quadro 1: Dados consolidados dos principais sistemas de cooperativas de crédito brasileiro Quadro 2: Informações Consolidadas do Sistema Sicredi Quadro 3: Instituições de pesquisa para embasamento da tese Quadro 4: Dados estruturais da Cooperativa A Quadro 5: Análise dos números da cooperativa B Quadro 6: Diferencial entre Cooperativas integrantes do Sicredi e Cooperativas Singulares independentes Quadro 7: Portfolio de Produtos e Serviços disponibilizados Cooperativa A Quadro 8: Portfolio de Produtos e Serviços disponibilizados Cooperativa B Quadro 9: Relação de produtos e serviços Cooperativas A e B Quadro 12: Principais inferências da Intercooperação segundo os entrevistados... 86
9 RESUMO O cooperativismo de crédito atravessou séculos e atualmente se encontra, relativamente, robusto e competitivo em vários países. Sua força se deve, principalmente, aos seus princípios universais que não envelheceram, pelo contrário, estão muito atuais e alguns vêm ganhando força como método de gestão, inclusive, em instituições não cooperativas. O presente trabalho eplana brevemente a respeito das suas origens, na Europa, e a posteriori, sua aplicação no Brasil, onde ganha força através do Sicredi, o qual possui na intercooperação sistêmica sua principal estratégia para aumento de performance. É nesse âmbito que o estudo aprofunda seus esforços, ao apresentar o desenvolvimento do Sistema Sicredi, desde a sua origem, sua trajetória e sua participação atual no mercado brasileiro. Para o efeito, comparamos duas cooperativas de crédito: uma integrante ao sistema e outra singular independente, com atuação livre. Para se estudar as duas, analisam-se os dados consolidados em um determinado período e se agrega entrevista dos Presidentes e Eecutivos de ambas, construindo ao final uma visão favorável à intercooperação através de um grande sistema como diferencial competitivo em busca de ganho de mercado. Palavras-chave: cooperativismo, intercooperação, performance, Sistema Sicredi.
10 ABSTRACT The credit union has eisted for centuries and it is now relatively strong and competitive in many countries. Its strength is mainly due to its universal principles that do not "aged", by contrast, are very updated and some are becoming stronger as a method of management, even in non-cooperative institutions. This paper briefly eplains about its origins in Europe, and subsequently, its application in Brazil, where it gains strength through the Sicredi, which has as its main strategy to increase performance the systemic intercooperation.it is in this contet that the study reinforce efforts in presenting the development of Sicredi system since its origin, its history and its current presence in Brazilian market. For this, we compare two credit unions: one which belongs to the system and other unique independent, free acting. In order to study both, we analyze the consolidated data in a given period and we add it to the interview of both presidents and eecutives, finding, at the end, a favorable view of the intercooperation through a great system as a competitive advantage in search of market gain. Keywords: cooperative, inter-cooperation, performance, system Sicredi
11 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO O COOPERATIVISMO DE CRÉDITO E INTERCOOPERAÇÃO Enquadramento conceptual do cooperativismo Origem e evolução do crédito cooperativo Cooperativismo de Crédito no Brasil Intercooperação como estratégia empresarial O Sicredi no âmbito da intercooperação PERFORMANCE ECONÔMICA DO SICREDI Metodologia de estudo e processo de escolha da instituição de crédito objeto de análise Análise comparativa das duas cooperativas de crédito Apresentação das instituições Cooperativas A e B Produtos e serviços financeiros oferecidos Comparativo entre principais Indicadores Econômicos de 1997 a Entrevistas a stakeholders Entrevista e entrevistados Entrevista com os Eecutivos da Cooperativa A Entrevista com os Eecutivos da Cooperativa B Análise do refleo da intercooperação sistêmica e não sistêmica na gestão das cooperativas Discussão CONCLUSÕES REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS APÊNDICE... 97
12 12 1 INTRODUÇÃO Diante de uma economia cada vez mais globalizada, dos processos de privatização de bancos públicos, e considerando o declínio e o descrédito recente de grandes Instituições Financeiras Mundiais, o cooperativismo de crédito continua em ritmo de crescimento e desponta como sendo uma alternativa aos sistemas bancários tradicionais. Embora seus resultados não sejam homogêneos em sua participação nas diversas economias do mundo, essas instituições em algumas economias avançadas, tais como Alemanha, França, Finlândia e Holanda estão entre as mais prósperas dentro do segmento financeiro. Isso, principalmente, em função do papel fundamental no desenvolvimento econômico de regiões com menor potencial econômico, pois favorecem aos empreendedores de menor renda, que precisam de crédito, mas geralmente não possuem garantias suficientes para sacar nas demais instituições financeiras (Cabo et al., 2006). O cooperativismo é uma associação autônoma de pessoas unidas voluntariamente para satisfazer suas necessidades comuns, social e cultural, bem como as aspirações econômicas, através de uma propriedade coletiva e democraticamente controlada em conjunto da empresa (Aliança Cooperativa Internacional, [ICA], 2010). As cooperativas se diferenciam das demais empresas por terem no centro das suas atenções a prosperidade de seus associados, através de decisões que almejam o equilíbrio e a rentabilidade dos investimentos dos seus membros e, ainda, colaboram para o crescimento da comunidade. Todavia, não deiam de almejar lucro e epansão, como ocorre com as empresas privadas. Também buscam a propriedade e o controle, mas em especial o bem-estar do associado (ICA, 2010). O marco inicial do cooperativismo de que se tem registro deu-se no ano de 1844, no bairro Rochdale-Manchester, na Inglaterra, com a criação de uma cooperativa de consumo, constituída por 28 operários, em sua maioria tecelões, e chamava-se "Sociedade dos Probos de Rochdale" (Rochdale Quitable Pioneers Society Limited), de onde surgiram para o mundo os princípios morais e de conduta que são considerados, até hoje, a base do cooperativismo autêntico. Em 1995, representantes das cooperativas de todos os países, reunidas em Manchester, durante a Conferência Centenária da International Co-operative Aliance, atualizaram e aprovaram tais princípios passando, então, a ser a essência norteadora do movimento cooperativista mundial. São eles: Adesão Voluntária e Livre
13 13 (primeiro), Gestão Democrática pelos Sócios (segundo), Participação Econômica dos Sócios (terceiro), Autonomia e Independência (quarto), Educação, Formação e Informação (quinto), Intercooperação (seto) e Interesse pela Comunidade (sétimo). Em 2009, havia cooperativas de crédito distribuídas por 97 países, com membros. Esses números atribuem às cooperativas de crédito um target de 7,51% do mercado financeiro mundial (World Council of Credit Unions, [WOCCU], 2011a). As cooperativas de crédito estão presentes em todos os continentes, com ativos maiores em América do Norte, Ásia, Oceania e Europa. Na Europa, os países com números mais epressivos são, respectivamente, a França onde a participação no mercado financeiro chega a 60%; a Alemanha, com 14%; a Holanda, com 39%; a Itália, com 30%, a Áustria, com 25%, e a Espanha, com 5% (ICA, 2011). No Brasil, as primeiras associações foram instituições de cunho puramente assistencial. São os casos da Sociedade Beneficente de Juiz de Fora, de 1885, e a Sociedade Cooperativa Econômica dos Funcionários Públicos de Ouro Preto, de Somente em 1902 é que foi criada a primeira Cooperativa de Crédito Brasileira e da América Latina, por coordenação do padre Jesuíta Theodor Amstad, no atual município de Nova Petrópolis, e chamava-se Caia de Economia e Empréstimos, também conhecida como Caia Rural, atual Sicredi Pioneira, RS (Pinheiro, 2008). Embora a participação no mercado financeiro brasileiro possa ser considerada tímida, com cerca de 2,1% dos seus ativos, o cenário atual mostra-se positivo para a atuação de forma organizada e sistêmica das Cooperativas de Crédito no Brasil. O Cooperativismo de Crédito Brasileiro conta atualmente com dois Bancos Cooperativos, quatro confederações, uma federação, 38 cooperativas centrais e cooperativas singulares. Essa estrutura atende cerca de 4,5 milhões de associados (Sistema Financeiro Nacional, [SFN], 2011). Alguns entraves culturais e a própria visão administrativa dificultam uma melhor eploração do modelo de negócio relacionado com o cooperativismo de crédito. Em função de o Brasil ser um país com dimensões continentais e pelas divergências étnicas e culturais formadoras da sua história, há disparidades comportamentais contrastantes entre suas regiões, devendo a análise do desenvolvimento cooperativo incidir sobre espaços regionais específicos. Um destes casos é a região Sul do Brasil, que, por ser influenciada pela colonização europeia, possui traços comportamentais aproimados aos do povo europeu. Esse fator
14 14 pode influenciar na melhor performance do sistema cooperativista nessa região, em detrimento das demais regiões brasileiras. No Sul do Brasil, o Sistema de Crédito Cooperativo Sicredi apresenta franco crescimento, o que ocorreu a partir da aplicação dos princípios do cooperativismo, como deve ser utilizado por todas as outras instituições do segmento em todas as partes do mundo. No entanto, o sistema aplicado ao sul do Brasil viu de fato o seu crescimento a partir do fortalecimento de um dos princípios do cooperativismo a intercooperação princípio que deu origem à organização em sistema e é utilizado como diferencial competitivo para o crescimento e ganho de mercado. É neste âmbito que se enquadra este trabalho, cuja abordagem dos princípios cooperativos será enfatizada no estudo teórico e empírico do seto princípio, a intercooperação, demonstrando suas vantagens como estratégia para o aumento da peformance econômica de cooperativas de crédito frente ao mercado financeiro brasileiro. Neste conteto, avança-se com as seguintes proposições: Embora haja concorrência no mercado financeiro brasileiro, o cooperativismo de crédito ao pôr em prática a intercooperação através da atuação em sistema, obterá melhor performance econômica, com ganhos de escala e maimização de estruturas; A intercooperação é percebida pelos Dirigentes e Eecutivos como um princípio de gestão capaz de melhorar a performance econômica do Empreendimento Cooperativo. Face às proposições anteriores, o objetivo geral deste trabalho é perceber a intercooperação no cooperativismo de crédito e avaliar a sua influência na performance econômica, tomando como referência o caso específico de duas instituições cooperativas no Sul do Brasil, autorizadas pelo Banco Central do Brasil (BCB) perante o Sistema Financeiro Nacional (SFN) a prestar serviços financeiros ao seu quadro social. Uma delas é filiada ao Sistema Sicredi, que tem na intercooperação um de seus pilares. Por outro lado, será apresentado um case de cooperativa, que embora na sua essência possua os mesmos princípios universais do cooperativismo, atua de forma independente no mercado financeiro, não identificando a necessidade de pertencer a um sistema de crédito para melhorar sua performance econômica. Como objetivos específicos estipularam-se: Apresentar e contetualizar o Cooperativismo e seus princípios na Europa e no Brasil;
15 15 Definir os fatores da intercooperação um dos princípios do cooperativismo que conduzem ao sucesso de uma cooperativa de crédito; Apresentar dois casos práticos e analisar a eistência ou não desses fatores nas instituições analisadas e apontar a intercooperação como fator que conduz para melhor performance econômica do empreendimento cooperativo. Para se atingirem os objetivos anteriores, o método de pesquisa escolhido para se chegar às conclusões propostas é o qualitativo, em função de ele, conforme destacam Kaplan & Duchao (1988), envolver amplamente o pesquisador com a pesquisa, contetualizando-a, conduzindo-a e a interpretando. Nesse sentido, Bradley (1993) compreende que na pesquisa qualitativa o pesquisador se torna um intérprete da realidade. Para Patton (1980) e Glazier (1992), os dados qualitativos apresentam relatos detalhados dos fenômenos e do comportamento, citações diretas de pessoas, ecertos de documentos e registros, transcrições, entrevistas, dados mais detalhados e profundos e, ainda, interações entre indivíduos, grupos e organizações. Seguindo a proposta do método qualitativo, o procedimento envolverá, inicialmente, uma pesquisa em busca de informações teóricas relacionadas ao tema proposto, abordando a história e o cenário atual do Cooperativismo de Crédito na Europa e no Brasil. Essa pesquisa servirá ao embasamento dos argumentos propostos e ao aprofundamento dos objetivos específicos do trabalho. O desenvolvimento da pesquisa ocorrerá por meio da seleção de bibliografia baseada em livros, dissertações, estudos de teses, Leis e Resoluções do Banco Central do Brasil, periódicos e sites na internet. O procedimento ocorrerá em três aspectos: a escolha das fontes, a seleção e análise de material referente ao tema e a composição teórica da dissertação. Num segundo momento, será apresentada uma comparação entre duas cooperativas de crédito, sendo uma filiada ao Sistema Sicredi e outra com atuação independente no mercado financeiro, de maneira a se demonstrar, empiricamente, o tema abordado na fase teórica. Face aos objetivos e às metodologias qualitativa e quantitativa assumidas, o trabalho está organizado do seguinte modo: Além desta introdução, a revisão literária fará uma breve abordagem conceitual do cooperativismo e seus princípios, sua origem e evolução, na Europa e os fatos iniciais da sua entrância no Brasil. Como o trabalho possui foco no princípio da intercooperação, dedicou-se um tópico do capítulo 2 para apresentá-la no âmbito da estratégica empresarial,
16 16 buscando, assim, uma eplicação mais aprofundada sobre o termo, onde se encontra, analogias na formação de redes, inclusive, sendo motivada como estratégia inovadora dentro da gestão empresarial. No âmbito da intercooperação sistêmica, apresenta-se o Sistema Sicredi, sua evolução, desde sua fundação e as estratégias mais recentes, responsáveis por torná-lo uma das marcas ícone entres as instituições financeiras brasileiras. O capítulo 3 é dedicado ao estudo de caso, entre duas cooperativas de crédito, uma afiliada ao Sistema Sicredi e outra com atuação independente, onde, a partir da análise de ambas, buscar-se-á comprovar a tese defendida neste trabalho. O estudo de caso foi estruturado em duas fases. A primeira compreende uma análise teórica, com a apresentação das características mais relevantes das instituições e a análise da presença da intercooperação nas suas gestões, através de dados consolidados de ambas as cooperativas. Em seguida, efetua-se um cruzamento dos números obtidos, mostrando a influência da intercooperação no desempenho de ambas dentro de um determinado período. A segunda fase compreende um questionário/entrevista, direcionado aos Presidentes e principais eecutivos de cada instituição, com o intuito de colher informações diretas sobre a presença da intercooperação em suas gestões. Por derradeiro, o capítulo 4 foi destinado à síntese das principais conclusões do estudo, identificar as suas limitações e ainda epressar algumas sugestões para futuras pesquisas.
17 17 2 O COOPERATIVISMO DE CRÉDITO E INTERCOOPERAÇÃO Este capítulo tem por finalidade perspectivar e integrar a intercooperação no cooperativismo de crédito, como um dos princípios que mais agrega valor ao empreendimento cooperativo quando posto em prática. Também procurará demonstrar a origem e a evolução do cooperativismo na Europa e, principalmente, no Brasil, onde será abordada a composição e função do Sistema Financeiro Nacional (SFN) e seus cinco principais sistemas cooperativos, bem como demonstrar os diferenciais que caracterizam um banco e uma cooperativa de crédito de acordo com as normas e leis brasileiras. Nesse conteto, este capítulo começa por efetuar um breve enquadramento conceptual do cooperativismo (seção 2.1), após o que apresenta uma síntese da origem e evolução do cooperativismo de crédito (seção 2.2), com relevo para o caso europeu. O capítulo continua com uma apresentação do cooperativismo de crédito no Brasil (seção 2.3), avançando para a questão da intercooperação com estratégia empresarial (seção 2.4) e terminando com a descrição do caso Sicredi (seção 2.5). 2.1 Enquadramento conceptual do cooperativismo As Cooperativas de Crédito são instituições financeiras, independentes de capital eterno, sem fins lucrativos e com o propósito de fornecerem poupança e crédito, entre outros serviços financeiros, a seus associados, os quais, através de depósitos, formam uma rede partilhada de poupadores e mutuários, pertencentes a uma comunidade específica (WOCCU, 2011b). Para Etgeto et al. (2005), o conceito de cooperação possui um forte cunho sociológico na sua formação, pois encontramos no termo uma maneira de integração social onde um grupo de pessoas com os mesmos objetivos se unem em prol deles, para em conjunto atingi-los, como ocorre em casos de fins econômicos. Historicamente, é possível considerar dois tipos de atividade cooperativa, a saber, a cooperação econômica, e as ideias utópicas de cooperação elaboradas por alguns líderes socialistas do século XIX, como os ingleses Robert Owen e Willian Thompson e os franceses Buchez, Cabet e Fourier (Williams, 2007). Contudo, focaremos nossos esforços em eplicar a cooperação de cunho econômico, não nos aprofundando nos motivos das falhas dos ideais utópicos.
18 18 Nos países desenvolvidos, o movimento cooperativo se desencadeou em função dos efeitos da revolução industrial e do sistema capitalista e, ainda, da ascensão dos movimentos operários, fornecendo uma alternativa mais democrática aos preceitos hierárquicos defendidos pelo capitalismo (Williams, 2007). O cooperativismo, diante do liberalismo proposto por Adam Smith, é outra via, em função, da não comprovação da eficiência das teorias de Smith, defensor da livre concorrência como uma atividade saudável à natureza humana, a qual garantiria a equidade e a distribuição de recursos. Todavia, a própria história vem demonstrando revezes sobre a teoria da mão invisível de Deus abençoando um mercado moralmente livre. De acordo com Willians (2007), para o capitalismo liberal atingir êito, precisa de alguns pressupostos fundamentais que nem sempre conseguem ser postos em prática. O cooperativismo é embasado por sete princípios universais, a saber: adesão voluntária e livre; gestão democrática pelos sócios; participação econômica dos sócios; autonomia e independência; educação, formação e informação; intercooperação e interesse pela comunidade. Diante desses pilares, o cooperativismo pode ser um método eficiente para o desenvolvimento de um mercado mais justo e, inclusive, livre, em função de ele possuir, além dos princípios universais, a crença nos homens como criaturas essencialmente cooperativas, ao contrário de uma visão de concorrência inata, como propõe Smith (Williams, 2007). Para Robertson (2010), o cooperativismo possui importância na própria evolução da história do trabalho, embora o assunto, na maioria das vezes, seja pouco eplorado pelos historiadores. Nesse sentido, um dos argumentos para a desqualificação do cooperativismo junto à história do trabalho é pela sua busca do enfoque heroico, em função das lutas de classe do período pós-segunda Grande Guerra, agregando a isso apenas os partidos e sindicatos criados no período. Também podemos considerar a tentativa da desvalorização do movimento cooperativista no âmbito da própria marginalização da cooperação pelos movimentos sindicais. Como eposto, o cooperativismo teve sua origem em países europeus, contudo, trataremos desse tema no próimo tópico.
19 Origem e evolução do crédito cooperativo A atividade cooperativa advém, possivelmente, desde o início das civilizações; todavia, diante dos propósitos deste estudo, serão considerados os fatos ocorridos a partir do século XIX. Conforme eposto por Williams (2007), no Reino Unido surgiram as primeiras cooperativas de consumo, assim como na França, as de trabalhadores e na Alemanha, as de crédito. O nascimento, propriamente dito, das cooperativas de créditos advém de um momento de fracasso cultural e de fome na Alemanha, entre os anos de 1846 e 1847; Hermann Schulze-Delitzsch e Friedrich Wihelm Raiffeisen criaram a primeira cooperativa de crédito em 1852, o People s Bank, com o objetivo de prover crédito aos empreendedores da cidade de Flammersfeld (WOCCU, 2011a). Para Pinheiro (2008), pode-se considerar o ano de 1844 como o marco inicial para o cooperativismo moderno, em Rochdale, na Inglaterra, através da fundação, por 28 tecelões, de uma cooperativa de consumo. A iniciativa motivou o surgimento da primeira cooperativa de crédito, em 1847, no povoado de Weyerbusch/Westerwal, por Wihelm Raiffeisen, com a instituição de uma associação de amparo à população rural. Raiffeisen idealizou o embrião de instituições, que depois seguiram o modelo estabelecido por ele. No mesmo ano, na Alemanha, Victor Aimé Huber iniciou o desenvolvimento dos primeiros princípios cooperativos, onde surgiu a ideia de sociedades de créditos dentro do sistema cooperativo (WOCCU, 2011a). Na Itália, Luigi Luzzatti, foi o precursor dos grandes bancos-cooperativos que prosperam na Europa até hoje ao fundar em 1865, a primeira cooperativa, cujo modelo herdou o seu sobrenome, Luzzatti (Pinheiro, 2008). As cooperativas de crédito urbanas advieram por intermédio de Herman Schulze, em 1856, com a criação de associação de dinheiro antecipado, em Delitzsch, na Alemanha. Daí se originou o nome das cooperativas do tipo Schulze-Delitzch, diferenciadas daquelas do tipo Raiffeisen, em função de almejarem retorno das sobras líquidas proporcionalmente ao capital, à área de atuação não-restrita e ao fato de seus dirigentes serem remunerados (Pinheiro, 2008, p. 23). Para Delfiner et al. (2006), no conteto histórico do cooperativismo de crédito na Europa, os bancos cooperativos tiveram origem através das cooperativas, comunidades locais, escolas profissionalizantes, entre outros, principalmente pela escassez de serviços
20 20 bancários em determinadas regiões. Diante disso, sobrevieram as ideias de união social e de solidariedade que estão na base do cooperativismo. Na concepção de Souza (2009), a ideologia do cooperativismo adveio de intelectuais influentes ao pensamento da época, que viam nele uma maneira inteligente de corrigir os impasses oriundos de questões resultantes do modelo capitalista que se instalara naquela época. Dentro dos princípios de Rochdale, no Reino Unido, em 1830, eistiam cerca de 300 cooperativas. Já no início do século XX, encontramos as sociedades cooperativas presentes em 26 países; entre 1925 e 1950 chegaram a 134 nações, atingindo 165 países, embora possamos considerar 187; todavia, 22 delas não tiveram dados sobre a origem encontrados (Williams, 2007). Para (Delfiner et al., 2006), os bancos cooperativos europeus operam em mercados competitivos, prestam serviços de qualidade e são significativos dentro da economia do continente. Uma das vantagens do modelo de negócio é a proimidade com os sócios e a orientação regional, o que oferece condições favoráveis a obter informações mais completas de seus clientes e a menor custo, além de os recursos captados serem investidos na mesma região. Dentro da economia europeia, os bancos cooperativos contribuem com a sua dinâmica, devido ao aporte financeiro a todo o conjunto econômico: pequenas e médias empresas, agricultores, famílias, profissionais liberais, entre tantos. A relação estreita junto às pequenas e médias empresas incentiva o crescimento do setor. No continente europeu não há tratamento diferenciado às cooperativas de crédito em relação às demais instituições financeiras (Delfiner et al., 2006). A estrutura do sistema bancário cooperativo europeu, a partir dos anos 70, passou por uma série de fusões e aquisições, culminando com sistemas centralizados, todavia com variações de abrangência em determinados países, como o caso da centralização nacional na Holanda, onde o Rabobank é responsável pelas funções de associações obrigatórias a todos os bancos cooperativos e acompanhamento dos mesmos e, embora os bancos possuam alguma autonomia, são severamente observados em relação à liberação de empréstimos, entre outras restrições financeiras, e, ainda, sujeitos a correções gerenciais recomendadas pela central. Todavia, a eemplo dos bancos cooperativos portugueses e finlandeses, os bancos estão arraigados aos interesses de suas respectivas regiões onde estão estruturados. Constituem associações locais com a função de desburocratização da
21 21 gestão e, dentro do princípio cooperativo de democracia interna, criam melhores condições para o fomento de seus associados e clientes (Delfiner et al., 2006). Contudo, alguns países apresentam peculiaridades, por eemplo, na Espanha, as Cooperativas de Crédito são sociedades de caráter privado, com titularidade pertencente aos seus associados com o objetivo de atender às suas necessidades financeiras e com garantias da legislação espanhola de pleno direito de atuação no ramo bancário. Possuem como órgão diretivo a União Nacional de Cooperativas de Crédito (UNACC), constituída em 1969, que engloba todas as cooperativas de crédito da Espanha. A UNACC tem como principal objetivo o fomento e a difusão do cooperativismo, defesa e representação de seus membros diante de instituições e associações públicas de qualquer âmbito, além da promoção de programas educativos aos sócios e à sociedade, em colaboração com outras instituições. Aos associados, oferece assessoramento e formação à gestão cooperativa em todos os níveis técnicos (Cooperativismo de Crédito no mundo, 2007). Em Portugal, as cooperativas de crédito são equiparadas às demais instituições financeiras, com destaque para as de Crédito Agrícola Mútuo. Embora as cooperativas de crédito tenham surgido na Europa no século XIX, em Portugal, o sistema foi implantado apenas no século posterior, especificamente em As cooperativas de crédito, nos seus primeiros 30 anos, foram organizações pouco desenvolvidas no país. Somente a partir de 1978 houve crescimento, com o advento da Federação Nacional das Caias de Crédito Agrícola Mútuo (Fenacam), instituição que passou a representar os interesses das Caias Agrícolas, em relação ao crédito, nos âmbitos nacional e internacional e, hoje é é integrante das principais instituições coordenadoras do cooperativismo mundial (Cooperativismo de Crédito no mundo, 2007). As Cooperativas de Crédito Agrícola Mútuo são geridas mediante a gestão democrática e o voto pluralista. Os recursos arrecadados são investidos nos próprios locais de origem e, embora, não possuam nenhum privilégio em relação aos outros entes do sistema financeiro do país, disponibilizam soluções vantajosas aos seus sócios (Cooperativismo de Crédito no mundo, 2007). Desde 1978, o sistema de crédito agrícola tem sofrido várias reestruturações, sendo de destacar um processo contínuo de fusões entre caias de crédito agrícola, em busca de economia de escala; a oferta de um escopo diversificado de produtos; e um modelo de governança intercooperativa liderado pela Caia Central de Crédito Agrícola (Cabo & Rebelo, 2010) Para Cabo et al. (2006), na região ibérica, a partir de 1990, houve uma transformação na maneira de gerir as cooperativas de crédito. Visando, num primeiro
22 22 momento, a melhores condições de competição com as grandes potências não cooperativadas do setor e a criar condições de oferecer produtos e serviços tão competitivos como os das demais instituições financeiras,, formaram-se grupos econômicos entrelaçados, utilizando a união como estratégia dentro do setor financeiro para se tornarem mais competitivas. A França adota o sistema de centralização regional, com dois sistemas de crédito concentrados, o agrícola e o mútuo, os quais beneficiam a aplicação de índices de adequação de fundos próprios em nível regional (Delfiner et al., 2006). A Alemanha adota o sistema descentralizado de cooperação financeira, isto é, constitui bancos autônomos e regionais integrados em diferentes patamares de associação e operação. Todavia, a lei alemã eige que cada cooperativa se associe a uma rede regional, a qual possui o controle sobre esses afiliados através de auditoria e o gerenciamento de suas atividades operacionais (Delfiner et al., 2006). Há utilização da descentralização, isto é, a autonomia, como forma de negócio; contudo, há relação voluntária com as federações ou outras instituições que prestam serviços auiliares. Tal proposta, além da Alemanha, também é verificada na Espanha, nos bancos rurais e de crédito, e na Itália, nos bancos regionais. Em síntese, segundo Delfiner et al. (2006), os bancos cooperativos possuem papel significativo na economia europeia. Mesmo operando num setor altamente competitivo, conseguem oferecer serviços de qualidade aos seus associados. Isso se dá, principalmente, pela aproimação que possuem com eles, o que permite, com investimentos menores em relação às outras instituições financeiras, um conhecimento mais profundo do perfil de seu público-alvo. Outro fator a destacar é a captação de recursos em uma região e aplicação nela mesmo. Possuem influência direta nos aspectos da sociedade, contribuindo com o desenvolvimento do setor agrícola, profissionais liberais e, principalmente, auiliando o desenvolvimento e a criação de pequenas e novas empresas. 2.3 Cooperativismo de Crédito no Brasil No Brasil, encontramos o embrião do cooperativismo no século XVII, através das reduções jesuíticas, nas Américas espanhola e portuguesa. Portugal e Espanha disputaram a região do Prata através da Companhia de Jesus e da Coroa espanhola. A busca pela evangelização dos índios proporcionou a introdução da agricultura e da pecuária na região,
23 23 atividades que foram essenciais para a manutenção do objetivo das duas nações. Nesse sentido, percebe-se uma postura cooperativista na maneira como essas atividades econômicas foram desenvolvidas entre os silvícolas e os padres, podendo ser consideradas o marco inicial das cooperativas e desencadeador do modelo de cooperativismo adotado hoje pelo Sicredi (Cerutti, 2000). Outros relatos sobre os primeiros sinais do cooperativismo no Brasil encontram suporte nas inúmeras irmandades religiosas e leigas que ampliavam sua atuação além do círculo religioso, atuando solidariamente em construções de prédios e empréstimos aos seus membros. Essas fraternidades eram formadas, no mais das vezes, por pessoas de uma mesma classe social, com o intuito de, através de subsídios, incluírem novos irmãos dentro de uma rede social e assim penetrar numa sociedade cheia de privilégios, à época, pois, somente por concessão da Corte era possível realizar negócios, daí a importância de se pertencer a uma irmandade na qual a cooperação e a confiança prevalecessem entre seus membros (Sicredi, 2011). Para Pinheiro (2008), há referências ao início de projetos cooperativos, a partir de 1895, em Juiz de Fora, Minas Gerais. Todavia, não podemos considerá-los como Cooperativas, mas já continham alguns propósitos semelhantes aos adotados pelo Cooperativismo mundial a posteriori. Segundo a Organização das Cooperativas do Estado de Minas Gerais (OCEMG), essa instituição era uma espécie de consórcio, com o objetivo de auiliar em educação, saúde e seguridade de seus consorciados. Em sentido mais estrito, podemos considerar o surgimento das Cooperativas a partir de 1889, em Minas Gerais, com o advento da Sociedade Cooperativa Econômica dos Funcionários Públicos de Ouro Preto. A instituição possuía cunho de consumo, no entanto, seu estatuto social previa, nos artigos 41 e 44, a formação de uma caia de auílios e socorros, com o objetivo de amparar viúvas pobres de associados e a sócios que caíssem na indigência por falta absoluta de meio de trabalho (Sicredi, 2011 ). No Rio Grande do Sul, pode-se considerar como marco inicial a Caia de Economia e Empréstimos Amstad, fundada em 1902, pelo padre Jesuíta Theodor Amstad, em Linha Imperial, município de Nova Petrópolis, instituição ainda ativa, hoje com o nome de Cooperativa de Crédito Livre Admissão de Associados Pioneira da Serra Gaúcha Sicredi Pioneira/RS. A importância do religioso foi imprescindível à real introdução do cooperativismo no Rio Grande do Sul. Até então, o acesso à informação e à infraestrutura do estado apresentavam um cenário bastante restrito, além de não haver crédito para o produtor rural,
24 24 o que tornava a atividade agropecuária etremamente limitada. Diante disso, adveio a necessidade de empreender em conjunto, cultura oriunda das colonizações alemã e italiana na região (Sicredi, 2011). Segundo Kotz, (2007), a iniciativa foi desencadeada devido às dificuldades financeiras vividas pelos colonos da região à época. Em 1940, a região sul do Brasil, compreendida pelos estados de Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, já contava com cerca de cinquenta instituições e dez mil associados. Todavia, o desenvolvimento do sistema cooperativo ainda não se consolidava nessa época, principalmente pela concorrência com o Banco do Brasil instituição estatal de economia mista, que passou a oferecer financiamentos a juros mais baios, não fomentando a criação de poupança. Essa ação foi contrária à desenvolvida em outros países, onde houve o incentivo aos bancos cooperativos agrícolas. Em 1964, o governo brasileiro resolveu disciplinar as ações das instituições bancárias no país, através da Lei n 4.595/64. A norma interveio diretamente na Central das Caias Rurais, praticamente etinguindo-a. Diante disso, suas afiliadas ficaram isoladas e aos poucos foram sendo abandonadas, devido às suas dificuldades estruturais. Em 1979, restavam apenas quatorze cooperativas de crédito no Rio Grande do Sul. Durante a década de 60, o Sicredi alcançou o número de 66 cooperativas. Contudo, as Legislações de 1964 e 1965 priorizaram os bancos oficiais, com a criação de crédito rural e a restrição do espectro societário e operacional das cooperativas. As novas normas acarretaram na etinção de cerca de 50 delas e, no final dos anos setenta, restavam apenas 13 cooperativas de crédito (Severo, 2010). Além disso, para Kotz (2007), houve um consenso entre as cooperativas de crédito em reorganizar-se independente de alguma ação do governo nacional. Assim, a alternativa idealizada foi a de criar um Sistema de Crédito Cooperativo do Rio Grande do Sul que funcionasse com a participação e o controle final de suas cooperativas associadas. Em 1980, uniram-se nove cooperativas remanescentes para constituírem a Cooperativa Central de Crédito do Rio Grande do Sul (Cocecrer-RS), atualmente, a Cooperativa de Crédito Central do Rio Grande do Sul Central Sicredi Sul, com sede em Porto Alegre. Com a Central, as cooperativas vislumbraram a possibilidade de reorganização através de um sistema no qual elas passassem a atuar de maneira coesa em busca de objetivos comuns. Através da centralização das atividades operacionais, houve redução
25 25 considerável dos custos, ganho de escala e, ainda, a possibilidade de gerir uma única marca (Sicredi, 2011). Severo (2010) aponta que, em outubro de 1995, o Conselho Monetário Nacional, com a integração das cooperativas filiadas ao Sicredi-RS, autorizou o funcionamento do primeiro Banco Cooperativo Brasileiro, o Banco Cooperativo Sicredi S.A., permitindo acesso aos produtos e serviços financeiros proibidos às cooperativas pela legislação vigente. O banco possui posicionamento voltado às necessidades das cooperativas de crédito do Sicredi e, também, àquelas que possuam convênios de prestação de serviços. A função do banco é a de oportunizar às cooperativas de crédito ingressarem no mercado financeiro e oferecer programas especiais de financiamento, administrar em escala os recursos do Sistema, desenvolver produtos corporativos e políticas de comunicação e marketing (Sicredi, 2011). O Relatório ainda epõe que o Banco Cooperativo Sicredi engloba em sua estrutura outras empresas com o intuito de viabilizar às cooperativas de crédito produtos e serviços aos seus associados, como uma Corretora de Seguros, para disponibilizar produtos relacionados a seguros; uma Administradora de Cartões, que possibilita soluções em transações eletrônicas; uma Administradora de Consórcios e, ainda, uma Fundação, com o objetivo de difundir programas educacionais para a promoção do cooperativismo e formação de associados, e uma Confederação, que presta diversos serviços às associadas e outras instituições parceiras do Sicredi. Ainda a ressaltar a respeito de outro Banco Cooperativo, constituído em 1997 o Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob), instituição comercial privada, formado por quatorze cooperativas. Tem como objetivo auiliar as cooperativas de crédito do Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (Sicoob) com produtos e serviços como: reservas bancárias, compensação de cheques e administração de operações de crédito referentes à utilização de cartões de crédito. O cooperativismo de crédito no Brasil se incorpora SFN (Figura 1), o qual é responsável pela regulamentação, fiscalização e eecução das operações referentes à movimentação de moeda e do crédito na economia brasileira. Formado por um conjunto de órgãos subdivididos em dois subsistemas, o primeiro, com funções normativas, composto pelo Conselho Monetário Nacional (CMN); Banco Central do Brasil (Bacen); Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e, ainda, três instituições especiais: Banco do Brasil, Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Caia Econômica Federal
26 26 (CEF). O segundo conjunto engloba o Sistema de Poupança e Empréstimo (SBPE) e outras instituições não financeiras e auiliares, responsáveis pela parte operativa, isto é, encarregam-se das intermediações financeiras através da transferência de recursos entre fornecedores e tomadores de recursos, ações controladas pelo CMN e pelo Bacen. A figura abaio ilustra a composição do SFN (Bacen, 2011). ÓRGÃOS NORMATIVOS Conselho Monetário Nacional - CMN ENTIDADES SUPERVISORAS Banco Central do Brasil - BACEN Comissão de Valores Mobiliários - CVM Instituições Financeiras Captadoras de depósitos à vista Bolsa de Mercadorias e Futuros OPERADORES Demais Instituições Financeiras Bancos de Câmbio Bolsas de Valores Outros intermediários financeiros e administradores de recursos de terceiros Conselho Nacional de Seguros Privados - CNSP Superintendência de Seguros Privados - Susep Resseguradoras Sociedades Seguradoras Sociedade de Capitalização Entidades abertas de previdência complementar Conselho Nacional de Previdência Complementar - CNPC Superintendência Nacional de Previdência Complementar - PREVIC Entidades fechadas de previdência complementar (fundos de Pensão) Figura 1: Composição do Sistema Financeiro Nacional SFN. Fonte: Bacen, Em termos de consumidor final no mercado, estão presentes: Bancos Múltiplos com Carteira Comercial, Bancos Comerciais, Caia Econômica Federal e Cooperativas de Crédito. As Cooperativas de Crédito e os Bancos possuem autorização de funcionamento epedida pelo Banco Central do Brasil (Bacen) e possuem produtos e serviços com a nomenclatura tradicional, como as demais instituições bancárias tradicionais. Contudo, alguns aspectos divergem quanto à estrutura societária legal. Na figura 2, dez aspectos que distinguem um Banco Comercial e uma Cooperativa de Crédito, e que fazem a diferença no momento da disponibilização de produtos e serviços financeiros.
27 27 DISTINÇÃO ENTRE BANCOS COMERCIAIS E COOPERATIVAS DE CRÉDITO BANCOS COOPERATIVAS DE CRÉDITO São Sociedades de Capital com fins lucrativos São Sociedades de Pessoas com fins econômicos Numero limitado de ações O poder de decisão é eercido na proporção do número de ações O resultado é distribuido aos acioanistas na proporção do capital investido no Banco. No plano societário, são regulados pela Lei das Sociedades Anônimas Anônimas (Lei n 6.404/76) Instituição financeira bancária Numero ilimitado de associados O poder de decisão esta na efetiva participação do associado, o voto tem peso igual para todos. O resultado (sobras) é distribuído entre os sócios, proporcionalmente ao volume de operações que realizaram durante o eercício. São regidas pela Lei Cooperativista (Lei n 5.764/71). Instituição financeira não bancária O usuário dos Produtos e Serviços é um mero cliente Podem tratar distintamente cada usuário Permite a transferência de ações a terceiros Oferecem riscos ao Sistema Financeiro Nacional O usuário dos Produtos e Serviços é o próprio dono, associado. Não há distinção entre os associados, o que vale para um vale para todos (art. 37 da Lei n 5.764/71). Não é permitida a transferência de quotas-partes a terceiros, estranhos a sociedade. Não oferecem riscos ao Sistema Financeiro Nacional, seus riscos são auto sustentados (os prejuízos são suportados pelos associados). Figura 2: Distinção societária entre bancos e cooperativas de crédito no Brasil. Fonte: Schardong, 2002; Loredo & Meinem; As cooperativas de crédito se dividem em três grupos, a saber: Singulares, Centrais e Confederações de Cooperativas Centrais. As Singulares prestam serviços financeiros de captação de crédito somente aos associados. Também podem receber repasses de outras instituições financeiras e ainda efetuarem aplicações no mercado financeiro. As Centrais prestam serviços às cooperativas Singulares afiliadas e ainda as supervisionam. As Confederações de Cooperativas Centrais prestam serviços às Centrais e suas afiliadas. São disciplinadas, além das normas gerais que regem o sistema financeiro, pela Lei Complementar n. 130, de 17 de abril de 2009, que institui o Sistema Nacional de Crédito Cooperativo; pela Lei nº 5.764, de 16 de dezembro de 1971, que institui o regime jurídico das sociedades cooperativas; e pela Resolução nº 3.859, de 27 de maio de 2010, que disciplina sua constituição e funcionamento (Bacen, 2011).
28 28 De acordo com os dados fornecidos pelo Bacen, em dezembro de 2010, havia Cooperativas de Crédito no Brasil, com um montante de ativos na ordem de R$ 68,8 bilhões e ainda se somam a esse valor os ativos do Banco Cooperativos Sicredi S.A. e do Bancoob, resultando em um montante de R$ 92 bilhões de ativos. Esse número, como representação de mercado, simboliza 2,1% do total de ativos, target que se encontra na nona posição no ranking das instituições financeiras do país (Sicredi, 2011). Dentre os Sistemas Cooperativos do Ramo de Crédito no Brasil, os cinco principais são: Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (Sicoob); Sistema de Crédito Cooperativo (Sicredi); Confederação Nacional das Cooperativas de Crédito (Unicred); Cooperativa Central de Crédito Urbano (Cecred) e a Confederação das Cooperativas Centrais de Crédito Rural (Confesol). Essas instituições, até o final de 2010, mantinham Cooperativas de Créditos ligadas a elas e, juntas, possuem aproimadamente 60% de todos os ativos administrados por Cooperativas de Crédito no Brasil (Sicredi, 2011). O Sicoob tem por finalidade solidificar e fortalecer os processos operacionais das afiliadas e engloba as cooperativas singulares e centrais de crédito e a Confederação Nacional de Cooperativas de Crédito do Sicoob (Sicoob Confederação). Duas outras instituições não cooperativadas, Bancoob e Fundo Garantidor do Sicoob (FGS), buscam auiliar na operacionalização e aperfeiçoar a qualidade dos serviços oferecidos aos cooperados. Todas as entidades são jurídicas, autônomas e, de modo complementar, visam a atender às necessidades financeiras e à proteção do patrimônio do cooperado. A figura 3 ilustra o modelo organizacional do Sicoob.
29 29 Figura 3: Modelo Organizacional Sicoob. Fonte: Sicoob, O Sistema Unicred é formado pela Confederação Nacional das Cooperativas Centrais Unicred s Unicred do Brasil, com os principais fins de representação política e institucional do Sistema e, ainda, responsável pelo desenvolvimento de diretrizes, padronização, fiscalização e gerenciamento da marca. Também age com auílio financeiro às Cooperativas Unicred s Singulares e Centrais Unicred, efetuando o ranking das unidades de atendimento através de índices financeiros, medindo a saúde e pujança financeira e da gestão de seus administradores (Unicred, 2011). As Centrais Unicred organizam em comum e em maior escala, os serviços econômicos e assistenciais de interesse das filiadas, integrando e orientando suas atividades, bem como, facilitando a utilização recíproca dos serviços (Unicred, 2011). As Singulares e Cooperativas Filiadas objetivam o auílio aos associados através de assessoria e buscam Retorno sobre o Patrimônio Líquido Ajustado (PLA), acima da média de mercado e ainda, prestam atendimento personalizado e disponibilizam produtos e serviços diferenciados voltados para o atendimento das necessidades dos associados (Unicred, 2011). A figura 4 ilustra a estrutura da Unicred.
30 30 Figura 4: Estrutura Unicred. Fonte: Unicred, A Confesol objetiva fomentar a inserção financeira de pequenos agricultores e, ainda, contribuir no processo de organização social. Vincula-se às cooperativas adjacentes ao movimento de agricultura rural com interação solidária. Iniciou no final da década de 1980, através da ação de pequenos agricultores vinculados ao movimento de reforma agrária nas regiões Sudeste e Centro-Oeste do Paraná. Para dirimir as dificuldades de crédito para investimento, desenvolveram o Fundo de Crédito Rotativo. Financiado pela Agência de Desenvolvimento da Igreja Católica da Alemanha (Misereor), gerenciado por entidades e movimentos pastorais, sindicais, Organizações Não Governamentais (ONGs), associativas e sem terras. Engloba as Centrais Cresol e a Chehnor, no sul do Brasil; Ecosol, abrangência em todo o território nacional; Creditag, com abrangência em vários estados; Integrar, no Nordeste e Ascoob, na Bahia (Sicredi, 2011). A Cecred foi constituída em 2002 por intermédio da união das cooperativas Viacredi, Acredicoop (Creditêtil) e Concredi. O sistema atualmente é formado por 13 Cooperativas Singulares que abrangem Santa Catarina e Paraná e uma Cooperativa Central sediada em Blumenau e, ainda, estende sua atuação ao Rio Grande do Sul (Cecred, 2011). A organização do sistema segue os princípios do cooperativismo, com a gestão em forma de pirâmide invertida, onde as resoluções são tomadas pelos cooperados, com poder de decisão igualitária. O sistema ainda possui organismos adjacentes que, através de votação, auiliam as necessidades dos cooperados, a saber: um Conselho de Administração
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