METODOLOGIAS NA PRÁTICA EDUCATIVA DO ENSINO DE GEOGRAFIA E A QUESTÃO COMPORTAMENTAL DOS ALUNOS DO 8º ANO DA ESCOLA CENTRO EDUCAIONAL MARIA AUXILIADORA

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1 FELIPE ABRÃO FRANCO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO METODOLOGIAS NA PRÁTICA EDUCATIVA DO ENSINO DE GEOGRAFIA E A QUESTÃO COMPORTAMENTAL DOS ALUNOS DO 8º ANO DA ESCOLA CENTRO EDUCAIONAL MARIA AUXILIADORA 1. INTRODUÇÃO Atualmente, tem se tornado difícil para os professores do ensino básico obter atenção dos alunos em sala de aula, uma vez que uma sala é composta por vários alunos de diferentes realidades, perspectivas e problemas externos à sala de aula. Fato é que, além do professor ter domínio do conteúdo a ser ministrado em sala, o mesmo irá encontrar dificuldades para obter a atenção dos alunos e, ao mesmo tempo, conseguir fazer com que esses alcancem um bom desempenho em sala de aula no processo do ensino e aprendizado. Desse modo, é necessário revisar as práticas de ensino e o método utilizado pelos profissionais do ensino básico na construção da geografia enquanto disciplina curricular. 2. OBJETIVOS Diante do atual contexto da educação brasileira, este trabalho tem como objetivo central oferecer subsídios que auxiliem as práticas educativas diante das questões de comportamento dos alunos, tendo como base a observação do 8º ano Da escola Centro Educacionais Maria Auxiliadora, situada em Cuiabá. É importante informar que, nesse trabalho, o objetivo central não é apontar falhas e erros na didática do professor observado durante a pesquisa. A escolha do 8º se deu em função desta sala, durante o ano letivo, sempre carregar o estereótipo de sala bagunceira. A dispersão dentro de sala por parte dos 1

2 alunos é muito alta, portanto buscarei fazer uma analise onde se possam apontar melhores métodos de didática e alguns instrumentos que o professor possa estar utilizando em sala para melhor relação entre professor e aluno no processo do ensino e aprendizagem. 3. METODOLOGIAS Essa pesquisa foi realizada durante o período letivo da disciplina Estágio Supervisionado Curricular I, do curso de Licenciatura em Geografia da Universidade Federal de Mato Grosso. Esta disciplina me proporcionou observações em sala de aula na escola Centro Educacional Maria Auxiliadora (CEMA), que é uma escola católica e particular situada em Cuiabá. Para fazer uma discussão entre teoria e pratica, a pesquisa bibliográfica foi feita com autores da geografia e da área da educação que discute a educação na perspectiva da formação do aluno crítico e autônomo. É importante ressaltar que todas as disciplinas que estão sendo cursadas nesse semestre e que foram cursadas nos semestres anteriores também nos darão um bom aporte teórico e, também, metodológico. Além da pesquisa bibliográfica, nas observações feitas nos dias 01, 04, 11 de novembro de 2013, foram destacados vários fatores que serão avaliados, como: quantidade de alunos em sala, a organização da sala, didática método de ensino do professor, estrutura da escola e os próprios alunos. 4. RESULTADOS PRELIMINARES Para discutir os assuntos atuais em um mundo globalizados, cada vez mais, é fundamental propor e pensar em um novo currículo e novas práticas de ensino para a geografia, uma vez que é dado a priori romper com a geografia tradicional e buscar novos caminhos em uma geografia que seja capaz de formar um aluno crítico e autônomo que seja capaz de ler o mundo. 2

3 A escola tradicional nos mostra que o processo do ensino e aprendizado é concebido de modo que o professor se torna o detentor do conhecimento que será depositado nos alunos. Desta forma Freire (2013, p.28) destaca que o discurso bancário nos revela que o professor é um transferidor de conteúdos no processo de ensino. O mesmo nos revela que o verdadeiro aprendizado só ocorre quando [...] os educandos vão se transformando em reais sujeitos da construção e reconstrução do saber ensinado, ao lado do educador, igualmente sujeito do processo. (FREIRE, 2013, p. 28). O professor de geografia do ensino básico, por sua vez, deve dominar todo o conteúdo a ser passado ao seu aluno. Mas isso não basta, Pontuschka (2009, p.96-97) nos informa que, é necessário que o professor faça uma leitura sobre a realidade social do seu aluno e, dessa forma, investigar todos seus conhecimentos do senso comum aqueles dos saberes espacial. O domínio do método estará intrínseco na forma em que o professor estará construindo, junto aos seus alunos, os conceitos e saberem geográficos. Vale lembrar que o processo de ensino e aprendizado não é unilateral, como vimos em Freire. A autonomia (por parte do aluno), como se observa em Freire, é um importante caminho de superação da educação tradicionalista. Dessa forma, a superação vai de encontro com a formação de alunos que sejam capazes de ler o mundo de forma crítica, superando os métodos tradicionais de ensino. Para Callai (2005, p.229), a geografia tradicional trabalha com a enumeração de dados geográficos em espaços fragmentados. Dessa forma, esse pensamento tende a explicar os fenômenos espaciais em ciclos fechados, como se tudo daquele lugar fosse explicado por ele mesmo. Vivemos em um mundo globalizado que nos exige que, cada vez mais, se busque discutir as noções de totalidade. Ver o mundo desconexo não permite com que o aluno consiga estabelecer relações entre os fenômenos, fazendo com que o mundo se torne, sob sua ótica, um emaranhado de causas e efeitos. Capra (2006, p.24) afirma que os problemas atuais não podem ser visto isoladamente, tendo em vista que o mundo não é uma máquina composta por partes. A mudança de paradigma é vista como uma forma de discutir o mundo em sua totalidade, concebendo-o de forma integrada e não como mera soma de suas partes. Santos (2006, p.74), também busca discutir a totalidade 3

4 como noção essencial para uma análise da realidade, considerando que as partes não conseguem explicar a totalidade, pelo contrário, a totalidade explica as partes. A discussão teórica e metodológica até aqui feita, é importante no sentido de ter a clareza do método na aplicação de uma didática que busque discutir a totalidade dos fenômenos, que são globais, dentro do espaço geográfico. Nesse contexto, o CEMA é um colégio particular de preceitos cristãos e que disponibiliza a educação para o ensino fundamental (I e II) e médio. O 8º ano do fundamental II é composto por 37 alunos e sua carga horária de aulas de geografia são de duas horas aula por semana, sem do que cada hora aula tem 50 minutos de duração. Em um primeiro contato com esta sala, foi possível constatar a turma carrega o estereótipo de bagunceiros, sendo que os mesmos se consideram e se afirmam desta maneira. Os alunos do 8 ano possuem um alto grau de dispersão quanto ao conteúdo. A professora admite não tem prazer em lecionar para o oitavo ano. Durante as observações feitas em sala, notei que a professora utiliza bastante o quadro negro para passar os principais tópicos dos assuntos que serão discutidos em sala. Por exemplo, quando se trata de discutir globalização, todos os assuntos que são tópicos do livro didático são escritos no quadro para que, posteriormente, seja explicado. Esse apoio com o quadro negro se torna uma ferramenta importante para o professor conseguir recordar o conteúdo a ser dado em sala. Por outro lado, a professora gasta tempo de sua aula para conseguir começar a explicar o conteúdo. Durante a explicação do conteúdo, consegui constatar que a professora tenta sempre utilizar exemplos do cotidiano dos alunos. Por exemplo, para explicar Indústria da Cultura a professora utiliza como exemplo a televisão (novelas e seriados) como um meio de influencia na sociedade. Em seguida, a mesma, relaciona a Indústria da Cultura, o Consumismo e a Obsolescência Programada dentro de uma sociedade capitalista. De fato, como vimos, é importante utilizar exemplos do cotidiano dos alunos. Para Couto (2011, p.43) a geografia, como disciplina escolar, deve trazer a problematização das práticas sociais e espaciais que esteja articulado com o cotidiano do aluno, fazendo com que o mesmo se interesse pelo conteúdo e, ao mesmo tempo, questione a realidade em possibilidade de ser um ator social ativo. 4

5 Contudo, nas aulas do 8º ano, pude notar que a professora não instiga o debate em sala, fazendo com que o único sujeito desse processo seja o professor. Freire (2013, p.24-25) nos coloca que, no processo do ensino e aprendizado, quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender. Na Geografia, é possível se trabalhar as categorias de analise como forma de superação da didática tradicional para o ensino. Callai (2005, p ) propõe que, ler o mundo perpassa pelas categorias de analise da geografia, sendo trabalhada de forma integrada. É necessário que o professor tenha clareza e consciência metodológica, para poder contextualizar saberes e transmitir conteúdos. Com isso, a autora coloca que as categorias de analise da geografia, partindo do lugar, consegue contextualizar os saberes e fazer com que os fenômenos estudados em sala não estejam desconectados com a realidade dos alunos. Os alunos devem ser parte integrante do espaço e ator social ativo que produz e reproduz em um lugar marcado por encontro de lógicas de diferentes escalas que revelam contrastes sociais em tempos e espaços definidos. Por que não discutir com os alunos a realidade concreta que se deva associar a disciplina cujo conteúdo se ensina [...] (FREIRE, p.33). Por exemplo, estudar globalização nos remete a necessidades de se trabalhar assuntos que influenciam diretamente com o cotidiano dos alunos, dessa forma fazer com que os alunos consigam se interessar pelo conteúdo e instigar a dúvida. Diante da observação, também notei que por diversas vezes a professora solicitava que os alunos lessem parágrafos do livro didático. Dessa maneira a professora conseguia atenção parcial dos alunos, sendo que logo em seguida eles voltavam a conversar e ou bagunçar. Notei que essa metodologia funciona no momento, mas logo em seguida, quando a professora vai dar a palavra, os alunos dispersam sua atenção da aula. Em um dado momento de sua aula, senti que a professora teve dificuldade para explicar o que são satélites, como estão em órbita na terra, como conseguem fotografar o planeta e a relação entre os satélites e os GPS (global positioning system). Ao mesmo tempo, os alunos mostraram não ter compreendido esses conceitos. 5

6 É importante ressaltar que alguns conteúdos são mais difíceis de ser trabalhados em sala pelo professor. Alguns conceitos podem ser mais complexos para serem construídos junto aos alunos. Fato é que, se o conteúdo está aparentemente desconexo com a realidade concreta do aluno, o mesmo não verá necessidade em aprender. Como afirma Pontuschka (2009, p.97), os conteúdos devem ser bem utilizados pelos professores a fim de fazer os alunos compreenderem a realidade, dando assim sentido e significado à aprendizagem. Em diversos casos o auxilio de materiais audiovisuais pode ser um caminho importante no processo de concretização de um conceito. Uma vez que recursos como: maquetes, fotos, filmes, animações, entre outros, podem fixar melhor o conteúdo e fazer com que o aluno consiga abstrair o concreto tornando-o concreto-pensado. No caso da geografia: Tratando-se dos conceitos geográficos, este movimento do abstrato para o concreto supõe uma abordagem dos conceitos/ conteúdos da geografia no ensino a partir das conexões e contradições da universalidade (espaço global) com a singularidade (Praticas espaciais dos indivíduos), mediadas pela particularidade (escalas intermediárias do espaço geográfico). (COUTO, 2011, p.34) Como vimos, é fundamental que o aluno entenda os fenômenos globais e crie conceitos a partir de acontecimentos que estão presentes em seu espaço vivido. Vale ressaltar que o professor pode abordar as diferentes categorias de análise da geografia. 5. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES A literatura, na área do ensino em geografia, nos fornece importantes meios e subsídios para uma boa didática em sala. Como vimos, o método e suas metodologias constrói um aluno crítico e autônomo, ao mesmo tempo em que dá subsídios para o professor em suas práticas educativas. Mas é importante colocar que a realidade 6

7 concreta está um passo do conhecimento científico, portanto a realidade, aqui pesquisada, não pode ser vista sob a ótica do conhecimento teórico pesquisado. O tempo de observação da turma do 8º ano foi de apenas três aulas, sendo que todas foram assistidas no mês do novembro. Para uma analise mais aprofundada, dos alunos e professor, faltou uma pesquisa empírica mais detalhada e mais prolongada. Com esse tipo de análise, feita em sala, foi possível identificar algumas características das práticas pedagógicas do professor em sala. Desse modo foi possível traçar uma relação entre a prática (do professor em sala) e o conhecimento cientifico e, posteriormente, dar subsídios para um melhor rigor metodológico das práticas pedagógicas no sentido de melhor a relação professor e aluno. Instigar a curiosidade do aluno pode ser uma importante prática para fazer com o que os alunos participem mais da aula, ao mesmo tempo em que o questionamento (por parte do professor e aluno) consegue problematizar os conteúdos a serem dados pelo professor. Mas para isso, é necessários contextualizar todos os saberes geográficos dentro da realidade concreta do aluno, ao ponto em que o mesmo sinta parte integrante do espaço e ator das práticas espaciais. O professor não é o único sujeito do processo de ensino e aprendizado, pois Quem ensina aprender ao ensina e que aprende ensina ao aprender. (FREIRE, 2013, p.25). Dessa forma, o professor pesquisador deve ter um rigor metodológico no intuito de formar alunos críticos, autônomos e que consigam ler o mundo. Tudo isso em um contexto de superação da educação tradicionalista que tem o objetivo de apenas transferir conhecimento. O aluno, por sua vez, conseguirá obter conhecimentos que sirvam para sua realidade espacial concreta possibilitando-o movimentar, produzir e reproduzir-se como sujeito social ativo do espaço. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CALLAI, Helena Copetti. Aprendendo a Ler o Mundo: a geografia nos anos iniciais do ensino fundamental. Cedes, Vol.25, n.66, p : Campinas, maio/agosto

8 CAPRA, Fritjof. A Teia da Vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. São Paulo: Cultrix, COUTO, Marcos Antônio Campos. Método Dialético na Didática de Geografia. In: Produção do Conhecimento e Pesquisa no Ensino de Geografia. P Goiás: Editora da PUC-Goiás, FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 46ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, PONTUSCHKA, Nídia Nacib. PAGANELLI, Tomoko Iyda. CACETE, Núria Hanglei. Para Ensinar e Aprender Geografia. 3ª ed. São Paulo: Editora Cortez, SANTOS. A Natureza do Espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 4ª edição. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo,