MELANOMA AMELANÓTICO COMPLEXO EM CÃO: RELATO DE CASO
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- Mateus Elias Olivares de Almeida
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1 MELANOMA AMELANÓTICO COMPLEXO EM CÃO: RELATO DE CASO JULIANA BRONDINO 1, LUCIANE DOS REIS MESQUITA 2, LUIS GUILHERME DE FARIA 3, GUILHERME COUTINHO VIEIRA 4, PHILIPI DE SOUZA COUTINHO 5 RESUMO: O melanoma é um tumor cutâneo, o qual acomete mais comumente os cães quando comparados aos gatos. Entretanto, a maioria deles é benigna, com excessão dos de cavidade oral, lábios, pele e dígitos, os quais tendem a ser malignos. O melanoma apresenta-se como uma neoplasia de crescimento rápido, a qual costuma evoluir para ulcerações. O presente relato possui como objetivo descrever um caso incomum quanto a localização de um melanoma amelanótico e o acompanhamento de sua evolução e tratamento do paciente. Uma cadela da raça Teckel, nove anos de idade, foi conduzida a clínica veterinária por apresentar um nódulo na região dos dígitos IV e V esquerdos, ulcerado e com claudicação discreta do membro torácico esquerdo. A citologia aspirativa por agulha fina da lesão foi inconclusiva, optando-se pela realização de um exame histopatológico. Sob anestesia geral, realizou-se a exérese total do tumor, e por meio de imunohistoquímica obteve-se um diagnóstico definitivo de melanoma amelanótico. Devido ao alto grau de malignidade do tumor foi optado por realizar amputação do membro torácico esquerdo do animal sem instituição de quimioterapia. Após seis meses do procedimento, a cadela apresenta-se sem sinais de recidiva e sem alterações sistêmicas. O tratamento cirúrgico com retirada de margem ampla do tumor propiciou qualidade de vida ao paciente e até o presente momento sem recidiva e/ou metástases. Palavras-chave: Neoplasia cutânea, Melanoma amelanótico, Cão, Dígito, Histopatologia. INTRODUÇÃO O melanoma é um tumor cutâneo de melanócitos, sendo mais comuns em cães que em gatos, e sãos responsáveis por 5% e 3% das neoplasias cutâneas nestas espécies, respectivamente. Em geral, os animais idosos são os mais acometidos, numa faixa etária entre sete e 14 anos de idade (RASKIN; MEYER, 2003). Nos cães, a maioria dos melanomas cutâneos é benigna, porém os melanomas da cavidade oral (56%), lábios (23%), pele (11%) e dígitos (8%) tendem a ser malignos e correspondem apenas a 2% dos casos (SMITH et al., 2002). Essa neoplasia possui tendencialmente crescimento rápido, podem apresentar diâmetro superior a dois centímetros e frequentemente ulceram, sobretudo nas lesões de grandes dimensões (VAIL; WITHROW, 2007). O diagnóstico de melanoma pode ser complicado, uma vez que existem diversos graus de pigmentação melânica, chegando a casos de total ausência de pigmento como nos melanomas amelanóticos em que as células neoplásicas não sintetizam melanina intracitoplasmática (SULAIMON et al., 2002). A pouca quantidade de pigmento deve-se a deficiência da enzima tirosina ou a perda funcional na capacidade de produção e armazenamento de melanina ocasionada pela rápida diferenciação celular (BARCAUI, 2009). A citologia aspirativa por agulha fina é um método rápido e fácil de diagnóstico, mas não são eficazes no diagnóstico de alguns tipos de melanomas. Desta forma são necessários exames histológicos associados algumas vezes aos ensaios de imunohistoquímica para um diagnóstico mais preciso. Os marcadores imunohistoquímicos que podem ser utilizados para a característica amelanótica são os Melan-A, PNL-2 e proteínas tirosina reativas (SMEDLEY et al., 2011). Os diagnósticos diferenciais para melanomas amelanóticos são fibrossarcoma, schwannoma maligno, carcinoma anaplásico e carcinoma sebáceo (SILVA, 2012). As opções de tratamento para o melanoma incluem radioterapia, fotocoagulação, quimioterapia, imunoterapia, geneterapia, porém o protocolo de eleição é a ressecção cirúrgica ampla. 1 Médica Veterinária autônoma, brondinoo@gmail.com 2 Doutoranda - Departamento de Cirurgia e Anestesiologia Veterinária, FMVZ/UNESP, Campus Botucatu, lrmesquita@yahoo.com.br 3 Doutorando - Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinária FCAV UNESP. Jaboticabal, SP, lgfaria.medvet@ymail.com 4 Acadêmico do Curso de Medicina Veterinária - UFLA, guilhermecouvieira@gmail.com 5 Doutorando - Departamento de Anatomia Patológica, Laboratório de Farmacologia do Câncer UNICAMP, souzaphilipi@gmail.com
2 A associação da cirurgia a algum outro tratamento, principalmente a quimioterapia pode ser indicada (CAMARGO et al., 2008). Quanto ao prognóstico, o diagnóstico precoce da enfermidade é fundamental. Quando há o diagnóstico tardio desse tumor, a excisão cirúrgica raramente é curativa e metástases já podem ser detectadas em linfonodos regionais (SMITH et al., 2003). O presente relato possui como objetivo descrever um caso incomum quanto a localização de um melanoma amelanócito e o acompanhamento de sua evolução e tratamento do paciente. MATERIAL E MÉTODOS Um animal da espécie canina da raça Teckel, fêmea, nove anos de idade, foi conduzido pelo proprietário para consulta veterinária devido a claudicação de membro torácico esquerdo com aumento de volume apresentando área sutil de ulceração, com aproximadamente 0,5 cm de diâmetro entre o IV e V dígito com um mês de evolução e emagrecimento progressivo. A cadela estava em bom estado geral, com normouria, normodipsia, normofagia e normoquesia. Com base nos sinais clínicos expostos e na aparência da lesão foi requisitado um perfil hematológico para avaliação geral da paciente, um exame radiográfico do local acometido pelo aumento de volume e uma citologia aspirativa por agulha fina do nódulo. No hemograma foi observado eritrocitose (9,8 x10 6 /µl), aumento de proteínas totais (10,6g/dl), linfopenia (1,1 x10 3 /µl), neutrofilia (8,6 x10 3 /µl) e trombocitose (530x10 3 /µl); já no bioquímico sérico, as anormalidades constatadas foram um leve aumento em fosfatase alcalina (162,4UI/L), ureia (38,8) e GGT (22,9 UI/L). A citologia aspirativa por agulha fina foi inconclusiva, apresentando apenas neutrófilos e raros plasmócitos, além de contaminação sanguínea intensa. Os achados do exame radiográfico foram uma lise óssea nas falanges proximais, médias e distais dos dígitos I, II e III do membro torácico esquerdo (Figura 1). Figura 1 Imagem radiográfica em projeção dorsopalmar da região metacarpofalangeana. Observa-se aumento de volume na região do metacarpo II, assim como área lítica em terço médio de metacarpo I e II e terço proximal de metacarpo III.
3 Com o diagnóstico inconclusivo, foi sugerido uma biopsia incisional para histopatológico. O animal então foi submetido a anestesia geral inalatória, a qual permitiu a retirada do nódulo, assim como as falanges distal, media e proximal dos dedos I, II e III e dos metacarpos IV e V. O exame histológico (Figuras 2 e 3) apresentou celularidade moderada, células apresentando baixa relação núcleo citoplasma, com núcleos excêntricos e nucléolos proeminentes, um estroma rico em células fusiformes e histiócitos difusos, infiltrado inflamatório misto e necrose extensa. A partir destas características teciduais foi possível a sugestão de três diagnósticos diferenciais: melanoma, carcinoma indiferenciado (carcinoma anaplásico) e tumor da bainha neural periférica. Para um diagnóstico conclusivo, foi realizado um painel imunoistoquímico (Figura 3). Para isso, foram incluídos marcadores de neoplasias epiteliais (EMA, PanCitokeratina,), marcadores de neoplasias mesenquimais (Vimentina, S-100, Desmina), marcador de mutação genica (p53) e marcadores melanocíticos (MELAN-A, PNL2 e Tirosinase). O resultado da reação mostrou negatividade para marcadores epiteliais e p53, positividade focal para S-100, positividade difusa para Vimentina, negativo para Desmina, positividade intensa e difusa para MELAN-A, positividade discreta e focal para PNL2 e Tirosinase. Contudo, concluiu-se que a neoplasia em questão tratava-se de um melanoma amelanótico de diferenciação moderada. Figura 2 A - neoplasia localizada em derme profunda, formando densos lençóis, bem delimitados, com densa celularidade compacta. (HE, 40x). B - neoplasia exibindo pleomorfismo celular, com células apresentando núcleos regulares, com nucléolos evidentes, note a extensa inflamação mista em destaque. (HE, 400x).
4 Figura 3. Painel imunoistoquímico. A - negatividade para anti-desmina. B - positividade focal para anti-s-100. C - positividade difusa para anti-vimentina. D - Positividade moderada e difusa para anti-mlean-a. (400x). Revelação, DAB. Com o comprometimento ósseo já visibilizado ao exame radiográfico, em virtude da malignidade tumoral e da impossibilidade de aumentar a margem cirúrgica, optou-se pela amputação do membro acometido. Após o tratamento cirúrgico animal voltou a apresentar um bom escore corporal, normorexia, normodipsian, normoquezia e normoúria, sendo a terapêutica instituída possibilitando uma sobrevida até o momento de seis meses. RESULTADOS E DISCUSSÃO O paciente relatado acima apresentou um tumor de ocorrência pouco comum, porém quando manifesta-se é em animais da faixa etária semelhante a dele, conforme já descrito por Raskin e Meyer (2003). Vail e Withrow (2007) já caracterizavam como alta malignidade os melanomas na região de dígitos, ulcerados e com comportamento de crescimento rápido. O diagnóstico por meio de imunoistoquímica (SMEDLEY et al., 2011) possibilitou a definição do tumor e consequentemente a instituição de uma terapêutica adequada à situação. A detecção precoce da neoplasia permitiu a total
5 exérese da mesma, o que propiciou a estabilização do paciente sem complicações secundárias ao processo tumoral, assim como as metástases. CONCLUSÃO O presente relato vem para salientar a importância do diagnóstico precoce e preciso do melanoma amelanótito, o qual permitiu a instituição do tratamento de forma eficaz e rápida para diminuir a chance de agravamento da doença e metástases. Isso foi fundamental para um prognóstico favorável e melhora da qualidade de vida do animal. REFERÊNCIAS BARCAUI, C. Diagnóstico do melanoma amelanótico. Boletim Informativo do Grupo Brasileiro de Melanoma, São Paulo, v. 11, n. 44, p. 1, fev-mar CAMARGO L.P.; CONCEIÇÃO L.G; COSTA P.R.S. Neoplasias melanocíticas cutâneas em cães: Estudo retrospectivo de 68 casos ( ). Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, São Paulo, v. 45, n. 2, p , RASKIN, R. E.; MEYER, D. J. Atlas de citologia de cães e gatos. São Paulo: Roca, p. SILVA, A.L.D.A. Melanoma intra-ocular com disseminação meníngea, pulmonar, renal e cardíaca em cão p. Monografia (Especialização em Residência Médico-Veterinária em Patologia veterinária) Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte. Disponível em: < Acesso em: 27 de ago SMEDLEY, R. C.; SPANGLER, W. L.; ESPLIN, D. G.; KITCHELL, B. E.; BERGMAN, P. J.; HO, H.-Y.; BERGIN, I. L., KIUPEL, M. Prognostic Markers for Canine Melanocytic Neoplasms. A Comparative Review of the Literature and Goals for Future Investigation. Veterinary Pathology. v. 48, n. 1, p , SMITH, S.H.; GOLDSCHIMDT, M.H.; MACMANUS, P.M. A comparative review of melanocytic neoplasms. Veterinary Pathology, Pennsylvania, v. 39, n. 6, , out SULAIMON S.S.; KITCHELL B.E.; EHRHART E.J. Immunohistochemical detection of melanomaspecific antigens in spontaneous canine melanoma. Journal of comparative pathology, Illinois, v. 127, n. 2, p , mar VAIL, D.M.; WITHROW, S.J. Tumors of the skin and subcutaneous tissues. In: WITHROW, S.J.; MACEWEN, E. G. Small animal clinical oncology. St. Louis: Saunders Elsevier, p
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