***** Questão prévia ***** Saneamento e Fundamentação
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- Ísis Vasques Ribeiro
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1 P.º n.º R.P. 34/2011 SJC-CT Contrato pelo qual uma das partes transmite à outra bem diferente de dinheiro e desta em troca receba bem diferente de dinheiro e dinheiro. Qualificação devida do negócio jurídico no correspondente registo aquisitivo. Comunhão de adquiridos. Qualificação do bem (como próprio ou comum) adquirido em parte com bens próprios de ambos os cônjuges e em parte com dinheiro comum. Qualificação do pedido de registo. Insusceptibilidade de condicionamento em face de registos futuros. PARECER 1. Coube à conservatória do registo predial de... apreciar a viabilidade dos registos de aquisição e hipoteca voluntária que através do sítio se requisitaram sob as aps., e do dia / /, tendo para o efeito sido apresentados três documentos particulares um por acto nessa mesma data autenticados e submetidos a depósito em formato electrónico no dito sítio da Internet. O primeiro daqueles documentos, sobre o qual assentou o pedido de registo de aquisição, respeita a contrato, que se intitulou de permuta, celebrado entre, de um lado, a sociedade..., e, do outro,... e mulher..., casados na comunhão de adquiridos, nos termos do qual a primeira cedeu aos segundos o prédio descrito na ficha n.º... da freguesia de..., concelho de... (doravante, prédio ), que se avaliou em ,00, e estes por sua vez deram àquela, como contrapartida, 1) a fracção autónoma designada pelas letras integrada no prédio descrito na ficha n.º da freguesia de..., concelho de, que lhes pertencia em compropriedade (na proporção de ½ para cada cônjuge), avaliada em ,00, e 2) mais a quantia de ,00 em dinheiro ficando assim igualado o valor das prestações de ambas as partes. O segundo documento formaliza contrato de mútuo com hipoteca celebrado entre o... e mulher, de um lado, e o Banco..., do outro, nos termos do qual, contra hipoteca do prédio, o banco lhes concedeu empréstimo no montante de ,00, quantia de que, conforme se consignou, ,00 se destinavam a 1
2 liquidar o valor em dinheiro empregue na aludida permuta e os restantes ,00 ao expurgo da hipoteca incidente sobre a fracção autónoma cedida à... O terceiro e último documento respeita a contrato de mútuo e hipoteca entre os mesmos intervenientes, nas mesmas qualidades, e envolvendo o mesmo prédio. O montante do empréstimo cifrou-se em 8.588,00, importância que se declarou destinada a fazer face a compromissos financeiros. 2. A aquisição do prédio... (ap. ) foi inscrita provisoriamente por dúvidas, em compropriedade (½ para cada cônjuge), com fundamento em permuta; a hipoteca constituída em garantia do empréstimo de ,00 (ap. ) foi inscrita provisoriamente por dúvidas e por natureza (art. 92.º/2-b CRP); e o registo da hipoteca dada em garantia do empréstimo de 8.588,00 foi efectuado provisoriamente por natureza, com idêntico fundamento. A sra. conservadora qualificou agregadamente os três actos, posto tê-los considerado entre si inextrincavelmente imbricados. Passamos a transcrever o despacho que lavrou: Neste tipo de actos verifica-se uma interdependência e uma conexão que não permite uma análise individual, pelo contrário terá de ser efectuada no seu conjunto. Assim sendo, se por um lado o acto de permuta nos parece certo, por outro quando se analisa o título que servirá de base à hipoteca colocam-se algumas dúvidas. Senão vejamos: a) O valor do imóvel ora adquirido é de ,00 euros; b) Ao imóvel dado em permuta foi atribuído ,00 euros; c) A verba a pagar será de ,00 euros. Sucede porém, que no título de hipoteca a verba solicitada à instituição de crédito não foi ,00 euros, mas o valor igual ao prédio ora adquirido, referindo-se na cláusula 1.ª do doc/ complementar que do empréstimo de ,00 euros são ,00 euros para expurgo da hipoteca no prédio permutado e ,00 euros para o restante pagamento do imóvel permutado. Pelo conceito de permuta ou troca, entende-se ser um contrato oneroso pelo qual se transmite uma coisa ou um direito, mediante a aquisição de outra coisa ou direito, sendo certo que não existe um preço a pagar integralmente em dinheiro como sucede com a compra e venda, mas neste caso e pelos doc/s juntos parece que estamos efectivamente perante uma compra e venda visto o bem dado em permuta, não se encontrar na disponibilidade total dos permutantes, este bem encontrava-se onerado exactamente pelo valor que lhe foi atribuído. 2
3 Apesar de actualmente o nosso código civil não incluir uma norma como a do art º do Código de Seabra, e apesar do valor dado ao prédio objecto de permuta ser superior ao valor dado em dinheiro, efectivamente não estamos perante uma permuta, mas sim uma compra e venda. Sabemos que este tipo de contrato tem interesse designadamente para efeitos de redução do valor do IMT, só que neste caso a utilização desta figura jurídica não me parece a mais correcta para a transmissão do imóvel, visto não terem os permutantes efectivamente um bem próprio para dar em troca; e a ser assim esta aquisição estaria sujeito ao pagamento de IMT o que não sucedeu. Pelo exposto, consideramos não estar a transmissão efectuada correctamente, visto estarmos não perante uma permuta mas sim uma compra e venda e sujeita a pagamento de IMT; e assim sendo os actos foram registados respectivamente: O Primeiro aquisição provisória por dúvidas Arts: 939.º do Cód. Civil; art. 2.º n.º 1 e 5 b) do CIMT; arts. 68.º, 70.º, e 72.º do C.R.P. O Segundo provisória por natureza nos termos do art. 92.º n.º 2 b) do C.R.P. e por dúvidas nos termos das normas já referidas. O terceiro provisório por natureza nos termos do art. 92 n.º 2) b) do C.R.P. 3. Contra a qualificação expendida se interpôs em 27/01/2011 o presente recurso hierárquico, cuja petição aqui se dá por integralmente reproduzida, e na qual, em síntese, se defende: que o contrato pelo qual se transmitiram os imóveis corporiza uma verdadeira permuta; que inexiste qualquer interdependência entre os três actos apresentados, salvo a circunstância de todos terem por objecto o mesmo prédio, impondo o princípio da especialidade que a sua qualificação se processe com autonomia; que a constituição de hipoteca não limita os poderes de disposição jurídica do bem que dela seja objecto; e que a liquidação de IMT foi efectuada no serviço de Finanças competente, não cabendo à conservatória sindicar-lhe a correcção. Em conformidade, pede-se a revogação do despacho impugnado e a consequente feitura dos três registos em termos definitivos. 4. No despacho a que se refere o art. 142.º-A/1 CRP a sra. conservadora sustentou e praticamente repetiu a qualificação impugnada. Suscitou, porém, uma questão prévia, atinente à interposição do recurso. Na verdade, é defendido o entendimento de que, tendo sido efectuado provisoriamente por dúvidas dois actos de registo ( ), deveria o recorrente recorrer não apenas de um despacho mas de dois, visto que não cabe às conservatórias decidir a que ap. deverá o recurso ser afecto. De modo que, movida, conforme frisou, pela preocupação de evitar que em alguma conservatória do país se procedesse à anotação da caducidade de algum dos registos feitos provisoriamente 3
4 por dúvidas, decidiu a sra. conservadora efectuar outra apresentação de impugnação ao segundo acto que se lavrou por dúvidas, devendo por isso ser efectuado o pagamento de um segundo recurso. ***** Questão prévia É pela questão prévia acabada de referir que se impõe começar. Que, a bem dizer, não existe. Vejamos. Foi interposto um único recurso. Ora, tendo sido interposto um único recurso, uma única deve ser a anotação no diário a fazer, independentemente do número, e da relativa autonomia, dos registos cuja qualificação minguante constitua seu objecto; e também uma única vez se deve cobrar o emolumento correspondente. Mal andou pois a sra. conservadora ao desdobrar a interposição do recurso por duas distintas apresentações não é a circunstância de ao recurso caber uma só anotação no diário que obsta a que a sua interposição, sob essa ap. singular, se anote a uma pluralidade de registos efectuados sob aps. distintas (art. 148.º/1 CRP). Questão diferente é a de saber se, em vez de um único, demandava a qualificação que recaiu sobre os pedidos das aps. a a interposição de outros tantos recursos. Mas julgamos ser indiscutível que não demandava: os três pedidos, submetidos pelo mesmo interessado numa mesma requisição electrónica relativamente a um mesmo bem, formam manifestamente um único processo de registo, ao qual materialmente se liga uma única resolução de viabilidade. 1 ***** Saneamento e Fundamentação 1. Apreciada a (inexistente) questão prévia e verificados que estão os necessários requisitos processuais, cumpre conhecer do mérito. 1 Cfr., sobre a temática em tabela, as posições adoptadas nos prcs. RP 285/2004 DSJ-CT, in BRN n.º 1/2005, II Caderno, p. 19, RP 66/2007 DSJ-CT e RP 67/2007 DSJ-CT (nota 1, em todos os textos). 4
5 2. Defende a sra. conservadora que o contrato pelo qual se deu a transmissão do prédio... a favor do... e da deve ser qualificado como de compra e venda e não como de permuta sendo porém certo que, incongruentemente com tal posição, foi como permuta que o designou no registo de aquisição efectuado. Sobre a matéria da qualificação mais adequada que deve recair sobre o contrato real quoad effectum que genericamente apresente as características do específico contrato dos autos, no contexto da apreciação do pedido de registo que nele se funde, tivemos nós oportunidade de reflectir no parecer emitido no P. CP 24/2010 SJC-CT, para que remetemos, e que encerrámos com a conclusão de que O contrato oneroso pelo qual uma das partes transmita à outra bem diferente de dinheiro e, como contrapartida, dela receba prestação complexa constituída por bem diferente de dinheiro e dinheiro, não correspondendo nem ao legalmente típico modelo da compra e venda pura nem ao socialmente típico modelo da permuta pura, também não deve como tal qualificar-se como causa do registo aquisitivo que com base nele se promova (CRP, art. 95.º/1-a)); em vez disso, deverá preferir-se uma referenciação complexiva, com suficiente nível de concretização, que, reflectindo o verdadeiro modo de ser do contrato, permita definir correctamente a conformação da situação jurídica do bem por ele causada. Não vamos repetir a argumentação então alinhada que nos conduziu à adopção do entendimento assim condensado. Na presente ocasião limitamo-nos a reiterar o que ali nos esforçámos por deixar vincado é dizer, que verdadeiramente importante, do ponto de vista dos fins próprios do registo, não é tanto a escolha, para o negócio jurídico de que se trate, de um nomen iuris mais ou menos consagrado, na lei ou nos usos ( compra, permuta, contrato misto de compra e venda e permuta ), como antes definir com precisão, por via da identificação desse negócio, o estatuto jurídico a que o bem fica sujeito. Segundo cremos, o contrato dos autos proporciona-nos um exemplo bem ilustrativo da bondade prática da orientação por nós perfilhada. Lembremos os traços essenciais desse negócio: a... cedeu prédio no valor de ,00; o e a... contra-prestaram fracção autónoma de que eram comproprietários no valor de ,00 e ainda uma quantia em dinheiro comum (cfr. art º CC) no montante de ,00. Temos portanto um bem (o prédio ) adquirido em parte com bens próprios e em parte com bens comuns o 5
6 que linearmente nos situa no âmbito da facti-species da norma do art º/1 CCivil, onde se determina que Os bens adquiridos em parte com dinheiro ou bens próprios de um dos cônjuges e noutra parte como dinheiro ou bens comuns revestem a natureza da mais valiosa das duas prestações. Quid iuris quanto ao regime do domínio que fica a vigorar sobre o prédio adquirido? Para a sra. conservadora, tal como resulta dos termos em que lavrou o registo, sobre o bem ficou a incidir regime de compropriedade de configuração igual à que incidia sobre a fracção autónoma cedida pelos consortes, ao que se crê de acordo com uma interpretação do art º/1 que consente eleger para termo de comparação, com o dos bens comuns, o valor global dos bens próprios de ambos os cônjuges, em vez de pôr em confronto como antes se nos afigura devido o valor relativo da entrada feita por cada um dos patrimónios participantes, para determinar o ingresso do bem adquirido naquele dos três (próprio de um, próprio de outro, ou comum) que mais se tenha esforçado. Repare-se que, de acordo com esta outra maneira de entender o critério do art º/1, o prédio... revestirá natureza comum, posto que a quantia em dinheiro mobilizada pela comunhão ( ,00) é de valor superior ao da contribuição da cada património próprio ( ,00:2=48.650,00). 2 Seja porém qual for o partido que se tome no que toca à definição da titularidade do bem, a verdade é que a simples constatação da divergência de entendimentos só realça a importância de na feitura do registo aquisitivo que se baseie em negócio de conteúdo prestacional complexo do tipo analisado se seguir o modo de fazer que naquele parecer preconizámos. Concretizando, quanto ao registo requisitado sob a ap.... do dia / / : ao facto aquisitivo, em vez de permuta, chamaríamos transmissão contratual a título oneroso, ou equivalente; e 2 Quer-nos parecer que o enquadramento realizado pela sra. conservadora foi em grande parte influenciado pelo facto de a aquisição do prédio... ter tido como contrapartida a cedência, pelos cônjuges, de bem de que estes eram os únicos comproprietários, o que terá levado a que, em vez de se comparar as entradas de cada património, se comparasse o valor da fracção autónoma com o valor do dinheiro comum. Seria ainda o mesmo o raciocínio da sra. conservadora, cabe perguntar, se a contribuição com bens próprios de cada cônjuge se fizesse mediante a cedência, v.g., de 1/5 do prédio x de que um cônjuge fosse comproprietário e de 1/10 do prédio y de que outro cônjuge fosse comproprietário, sendo a soma do valor destes dois direitos, mas não o de cada direito, superior ao valor dos bens comuns também entregues (v.g., ½ do prédio z )? No plano estritamente jurídico, nós não vemos diferença entre a hipótese figurada e a concreta situação ocorrida. 6
7 acrescentaríamos, em campo livre, que a aquisição teve como contrapartida a cedência da fracção autónoma tal, no valor de tanto, da qual cada cônjuge era comproprietário de ½, e ainda a quantia de tanto em dinheiro comum. Segundo cremos, de nenhuma destas precisões se pode dizer que seja supérflua. 3. Certo é que nos autos não se discute o acerto do regime da titularidade que naquele registo se definiu mas tão-somente a qualificação jurídica do contrato em que o registo se fundou. Sendo que em nossa opinião, como vimos, esse contrato não é tal como ficou a constar do registo e o recorrente defende uma permuta, nem é como de seu lado defende a recorrida, contradizendo o registo que fez uma compra e venda. O que temos muita dificuldade em alcançar, porém, é o sentido das razões que a sra. conservadora aduz para considerar que o contrato afinal é uma compra e venda, e que, tanto quanto julgamos ser capazes de acompanhar o seu raciocínio, se podem articular nestes termos: a fracção autónoma cedida pelos cônjuges estava onerada com hipoteca em garantia de mútuo concedido pelo Banco...; o novo empréstimo, de montante igual ao do valor atribuído ao prédio adquirido ( ,00), servirá em parte ( ,00) para financiar o pagamento da diferença de valor dos bens transmitidos e noutra parte ( ,00) para obter o expurgo daquela referida hipoteca, ficando garantido por nova hipoteca sobre o prédio adquirido; o que significa que, valendo a fracção autónoma cedida tanto quanto o valor dos encargos pelos quais em relação a ela ainda há que responder (os tais ,00), o seu valor, para efeitos de aferir da equivalência das prestações das partes, acaba por ser nulo, pelo que não se deverá entrar em linha de conta senão com a prestação realizada em dinheiro. É verdade que a sra. conservadora chega a afirmar que o bem cedido pelos cônjuges, pelo facto de se encontrar onerado exactamente pelo valor que lhe foi atribuído, não se encontrava na disponibilidade total deles, mas não cremos que, ao dizê-lo, estivesse a usar o conceito de disponibilidade no sentido técnicojurídico que se refere ao poder de disposição do bem hipotecado. A recorrida nunca disse que a fracção autónoma, por causa da hipoteca que sobre ela pesava, era um bem intransmissível, nem decerto é razoável supor que pudesse pensá-lo (cfr. art. 696.º CCivil). O que quis dizer, julgamos nós, foi só que uma vez que o valor do bem que os consortes entregaram é anulado pelo valor de quanto por sua causa 7
8 se ficou ainda a dever, daí decorre que a ele (ao valor do bem, e, nesse sentido, ao próprio bem) ao fim e ao cabo se não possa atender no cômputo dos valores reciprocamente prestados. Sem certezas de que tenhamos apreendido correctamente, foi a lógica (própria) que conseguimos entrever na argumentação desenvolvida. Salvo o devido respeito, porém, é uma lógica que para nós não oferece a mínima base no sentido de no contrato identificar a presença de uma compra e venda em vez de uma permuta. Nem, como defendemos, decidir que seja uma ou outra coisa assume verdadeira relevância na qualificação da viabilidade do registo, mormente quando na execução do registo fundado em contrato com tais características compósitas se siga o modo de fazer que propomos. 4. Parece-nos no entanto que todo o empenho aplicado na tentativa de demonstrar que o negócio ocorrido foi uma compra e venda e não uma permuta (e uma compra e venda, ao que parece, pelo valor total de ,00), tem subjacente uma abordagem norteada por princípios de direito fiscal, mais do que de direito civil. Como se sabe, o CIMT, na al. c) do seu art. 4.º, define permuta como o contrato em que as prestações de ambos os permutantes compreendem bens imóveis. Ora, se o imóvel que integra a prestação de um dos contraentes não puder ser tido em conta, nos termos vistos (porque o seu valor, dentro duma certa lógica, se revela nulo), então deixará de poder falar-se, para este efeito, em permuta. Sobrará por inteiro o valor integral do imóvel compreendido na prestação da contraparte (os tais ,00), e é esse valor que se tomará para base da liquidação do imposto em causa. Mas também do ponto de vista fiscal não vemos como se possa sustentar semelhante entendimento. O e a... efectivamente entregaram a fracção autónoma de que eram proprietários à... para desta adquirirem o prédio Das prestações de ambos os contraentes fazem pois parte bens imóveis e tanto basta para que fiscalmente (ainda que porventura não civilmente) exista permuta. Quer a premissa de que o bem dado pelos cônjuges é, prática e juridicamente, desprovido de valor na interpretação que julgamos mais conforme com os considerandos desenvolvidos pela sra. conservadora, quer as consequências que daí se retiram, seja para o efeito da qualificação jurídico-civil do 8
9 contrato, seja para efeitos de controlo do cumprimento das obrigações fiscais, tudo se nos afigura de repudiar. A fracção autónoma cedida tem um valor patrimonial e tem um valor declarado. E estes valores não são juridicamente obliterados pelo facto de se achar ela constituída em garantia do pagamento duma qualquer dívida, igual, maior ou menor do que tais valores. Não faz por isso sentido dizer que a transmissão não foi efectuada correctamente, ainda quando a censura se quede pelo aspecto fiscal, como parece ser o caso. O IMT liquidado foi-o como tinha que ser pela diferença entre os valores declarados dos bens permutados, posto que superior à diferença entre os valores patrimoniais tributários (CIMT, art. 12.º/4, regra 4.ª). 5. Uma breve palavra, por fim, quanto à invocada necessidade de se qualificar os três pedidos em simultâneo, com fundamento na suposta interdependência dos factos submetidos a registo. Também a este respeito não parece ser de alinhar com a recorrida. A abordagem englobante adoptada, salvo melhor opinião, só no quadro da aplicação do regime definido no art. 97.º/1 CRP teria cabimento. Ora não é manifestamente o caso, desde logo porque a ideia de simultaneidade da constituição dos factos ínsita naquela norma postula a unicidade formal do título, condição que não se verifica: são três os títulos, cada um respeitante à formalização de seu negócio. Claro que o registo definitivo das hipotecas pressupõe o registo definitivo da aquisição, porque deste em relação directa de dependência, maxime em termos de trato sucessivo. Mas o que não pode é minguar-se o registo da aquisição em função do conteúdo do título que serve de base a registo de hipoteca ulterior. A qualificação de cada registo faz-se em função dos registos preexistentes (cfr. art. 68.º CRP), não em função dos registos que hão-de vir mesmo quando a superveniência seja a da apresentação imediatamente contígua. 6. Termos em que propomos o provimento integral do recurso, devendo converter-se os registos efectuados provisoriamente por dúvidas. Em conformidade firmamos as seguintes CONCLUSÕES 9
10 1.ª O contrato pelo qual uma das partes transmita à outra bem diferente de dinheiro e desta receba prestação integrada por bem diferente de dinheiro e dinheiro, não sendo uma verdadeira compra e venda nem uma verdadeira permuta também não deve como tal qualificar-se como causa do registo aquisitivo que com base nele se promova (CRP, art. 95.º/1-a)); em vez disso, deverá preferir-se uma referenciação complexiva, com suficiente nível de concretização, que, reflectindo o verdadeiro modo de ser do contrato, permita definir correctamente a conformação da situação jurídica do bem por ele causada. 2.ª No âmbito do regime da comunhão de adquiridos, o bem que na constância do casamento seja adquirido em parte com dinheiro ou bens comuns e noutra parte com dinheiro ou bens próprios de ambos os cônjuges ingressará naquele dos patrimónios (comum, próprio de um ou próprio de outro) cuja contribuição seja mais valiosa. 3.ª Existe contrato de permuta para efeitos de sujeição a IMT sempre que nas prestações de ambas as partes se compreendam bens imóveis, tomando-se para base da liquidação a diferença de valores respectivos (patrimoniais ou declarados, consoante a que for maior), sendo de rejeitar qualquer ideia de ausência total de valor dos bens causada pela sua eventual oneração por hipoteca. 4.ª A apreciação da viabilidade do pedido de registo é condicionada pelos registos anteriormente efectuados, não pelos registos ulteriormente requisitados. Parecer aprovado em sessão do Conselho Técnico de 27 de Julho de António Manuel Fernandes Lopes, relator, João Guimarães Gomes de Bastos, Luís Manuel Nunes Martins, Maria Madalena Rodrigues Teixeira, Isabel Ferreira Quelhas Geraldes. Este parecer foi homologado pelo Exmo. Senhor Presidente em
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