P. n.º CP 5/2010 SJC-CT Direito real de habitação periódica. Duração mensal. Deliberação
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- Júlio Ávila Bugalho
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1 P. n.º CP 5/2010 SJC-CT Direito real de habitação periódica. Duração mensal. Deliberação 1. Considerando os constrangimentos de ordem informática identificados pela Conservatória do Registo Predial de no âmbito da informatização do prédio n.º... ( ), objecto do direito real de habitação periódica (DRHP), vem o chefe de projecto SIRP suscitar a questão de saber «se é legalmente admissível a identificação de fracções temporais com nomes de meses». 2. A questão é colocada a pretexto de o SIRP ter sido concebido de modo a permitir a abertura automática de 52 fracções temporais e de se ter estruturado o campo da descrição das fracções temporais com a indicação do número correspondente à semana de utilização, no pressuposto de que sobre cada uma das unidades de alojamento incidem sempre 52 direitos parcelares e que a duração do DRHP, enquanto situação jurídica adquirida pelos utentes do empreendimento turístico, tem sempre a duração de 7 dias seguidos em cada ano (365 dias:7 dias = 52 semanas). 3. Acontece, no caso em apreço, que sobre as seis unidades de alojamento que compõem o objecto do direito real de habitação periódica incidem direitos parcelares de conteúdo diverso quanto à duração, pois, em cada ano, há períodos de utilização semanal (1.º trimestre e último bimestre) e períodos de utilização mensal (Abril a Outubro), pelo que a dificuldade de extractação radica no facto de o campo relativo à identificação da fracção temporal não se encontrar formatado para aceitar valores alfanuméricos, obrigando a que, à identificação do número do empreendimento turístico e da letra da unidade de alojamento, se siga um número compreendido entre 1 e 52 (número de semanas comportadas por cada ano). Pronúncia 1. Compulsando os elementos juntos ao processo, verificamos que o DRHP em causa foi constituído na vigência do Decreto-Lei n.º 355/81, de 31 de Dezembro (que instituiu este direito como meio de dinamizar o turismo interno e captar o investimento e a mobilização de pequenas poupanças tendo em vista as necessidades de habitação sazonal), no qual se estipulava que o direito tinha natureza perpétua, excepto quando a propriedade se 1
2 achasse constituída no regime de direito de superfície, e que o direito parcelar era limitado a um período certo de tempo de cada ano, com duração mensal (artigo 1.º/1) E verificamos também que a alteração do DRHP registado se deu já no domínio do Decreto-Lei n.º 368/83, de 4 de Outubro, que alterou a redacção inicial da disciplina jurídica deste instituto e que, designadamente, reduziu para uma semana o período temporal de referência do direito de habitação periódica e estipulou a possibilidade de o mesmo ser constituído com natureza perpétua ou com um limite de duração não inferior a 20 anos. 3. Donde, tanto a constituição do direito real de habitação periódica registada a coberto da ap.... de de de como a sua alteração (ap. de / / ) parecem ajustar-se, quanto à duração do regime e do direito, à disciplina jurídica contida nos aludidos diplomas legais, porquanto não se exigia, como se exige agora (artigo 3.º/3 do Decreto- Lei n.º 275/93, de 5 de Agosto), que os períodos de tempo tivessem todos a mesma duração Também no artigo 3.º do Decreto-Lei n.º 275/93, que actualmente disciplina o DRHP, se admite que o direito parcelar do utente tenha duração superior a sete dias seguidos, desde que não exceda o máximo de 30 dias seguidos, o que acaba por estender o problema em tabela tanto a casos passados ao abrigo do direito pregresso como a registos efectuados ou a efectuar no domínio da lei em vigor, já que o número de direitos de habitação periódica pode bem ser inferior às 52 fracções temporais preconizadas pelo SIRP. 5. E deve outrossim considerar-se a reserva de quaisquer períodos de tempo para reparações, conservação, limpeza e outros fins comuns ao empreendimento (cfr. artigo 3.º/5 do Decreto-Lei n.º 275/93, de 5 de Agosto), podendo ocorrer que, a despeito de os direitos terem duração semanal, alguns períodos do ano tenham sido subtraídos ao tempo de uso que se divide ou partilha através do DRHP, não havendo, também aqui, os 52 direitos parcelares impostos pela aplicação. 1 Como refere Carvalho Fernandes, Lições de Direitos Reais, 4.ª edição, pp. 458/459, o regime legal do direito de habitação periódica assenta em duas realidades que importa manter distintas: a habitação periódica, enquanto esquema ou regime de exploração de um empreendimento turístico, e o direito de habitação periódica, enquanto situação jurídica adquirida pelos utentes desse empreendimento. 2 No Decreto-Lei n.º 130/89, de 18 de Abril, foram clarificados certos aspectos do regime jurídico do DRHP, tendo sido estipulado, no n.º 2 do artigo 2.º, que a duração dos direitos parcelares poderia variar entre o mínimo de 7 e o máximo de 30 dias consecutivos, de acordo com o estabelecido no título constitutivo. 2
3 6. Mas, como se admite que através de uma intervenção directa na base de dados possam ser eliminadas as descrições de fracções temporais em excesso, sobra o problema de saber se a identificação das fracções temporais comporta a referência a «meses», em vez de «semanas», tendo em conta que, na descrição da fracção temporal, o número aposto a seguir ao número do empreendimento turístico e à letra da unidade de alojamento é «lido» como referência à semana a que, dentro do ano, respeita o direito (por exemplo, o n.º 6 significa, em linguagem SIRP, a 6.ª semana do ano) Ora, diante do que dispõe o n.º 3 do artigo 83.º do Código do Registo Predial (CRP), às fracções temporais deve ser atribuído o número do empreendimento turístico e, havendo-a, a letra da unidade de alojamento ou apartamento, mencionando-se o início e o termo do período de cada direito de habitação Do que se depreende que a lei registal, em consonância com a lei substantiva, apenas exige que fique concretizado o período de tempo de uso em que o direito parcelar se consubstancia mediante indicação do início e do termo em cada ano, seja por referência a dias concretos, seja através da menção da semana ou do mês a que respeita E não se diz, no mencionado preceito legal, que ao número do empreendimento turístico e à letra da unidade de alojamento deve seguir-se, na descrição da fracção temporal, o número da semana, segundo a ordem por que sucede no ano civil, pois, como já vimos, tal critério de distinção nem sempre se compaginaria com o regime jurídico pertinente ao direito em causa. 7. Logo, teremos de concluir que o constrangimento a que alude a consulta é de ordem puramente informática, embora, quanto a nós, não deixe de poder ser transitoriamente resolvido através de uma tradução ou leitura diferente dos campos referentes à identificação das fracções temporais, bem podendo entender-se que o número aposto no seguimento do número do empreendimento turístico e da letra da unidade de alojamento respeita ao resultado da repartição do ano por períodos de tempo de uso, sendo que o número aposto na última fracção temporal corresponderia não ao número total de semanas de uso mas ao número total de períodos de uso em cada ano Ou seja, no exemplo acima referido, o n.º 6 equivaleria ao 6.º período de uso da unidade de alojamento em cada ano, sendo que a duração desse período ficaria balizada nos campos «INÍCIO DO PERÍODO» / «FIM DO PERÍODO», cujo conteúdo 3
4 automaticamente assumido pela aplicação teria de ser alterado manualmente de forma a contemplar a periodicidade correcta Vale isto por dizer que o número aposto no campo dedicado à identificação da descrição da fracção temporal não pode constituir uma referência à periodicidade do direito segundo um critério de divisão semanal, antes deverá corresponder ao número sequencial correspondente à fracção temporal de uso descrito, segundo a repartição ou divisão de tempo em cada ano e a ordem cronológica do uso pertinente a cada um dos direitos criados. 8. Sendo que este critério (ordem sequencial de direitos de uso, em vez de ordem sequencial de semanas) não parece de molde a comprometer ou agravar as condições de localização ou pesquisa da descrição subordinada no sistema informático, designadamente, para obtenção de certidão online, ponto é que o serviço de registo adeqúe o conteúdo do certificado predial à realidade SIRP, mencionando o número da descrição da fracção temporal, logo que este documento lhe seja apresentado para qualquer fim. 9. Assim, no caso em apreço, importaria manter 26 descrições subordinadas de 2.º grau (fracções temporais), correspondentes a 26 períodos de uso, rectius, 26 direitos reais de habitação periódica, devendo assinalar-se: a) nas primeiras 12 descrições, o dia da semana, a semana do ano e a hora em que se inicia o período de uso da unidade de alojamento (duração semanal) e, seguindo o mesmo critério, o fim do mencionado período; b) nas descrições com os números 13 a 19, o dia do mês e a hora correspondentes ao inicio do período de uso da unidade de alojamento (duração mensal) e, seguindo o mesmo critério, o fim do mencionado período; c) nas descrições com os números 20 a 26, o dia da semana, a semana do ano e a hora em que se inicia o período de uso da unidade de alojamento (duração semanal) e, seguindo o mesmo critério, o fim do mencionado período. Encerramento 4
5 Pelo exposto, cremos que a aplicação SIRP estará em condições de receber a conversão informática dos registos em causa, sem perda do acerto técnico-jurídico, através da eliminação das fichas que não fazem falta ao DRHP publicitado e com as adaptações ao nível do conteúdo das descrições subordinadas e dos certificados prediais ora propostas. Deliberação aprovada em sessão do Conselho Técnico de 26 de Maio de Maria Madalena Rodrigues Teixeira, relatora. Esta deliberação foi homologada pelo Exmo. Senhor Presidente em
6 FICHA P.º C.P. 5/2010 SJC-CT SÚMULA DAS QUESTÕES TRATADAS Direito Real de Habitação Periódica: Duração dos direitos parcelares Conversão informática do registo do DRHP elementos de identificação dos direitos contidos no SIRP Correcção do automatismo (criação de 52 fracções temporais) Correcção manual das descrições subordinadas (fracções temporais) e actualização dos certificados prediais. 6
A posição deste Conselho vai expressa na seguinte. Deliberação
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