ECONOMIA INTERNACIONAL II 7. O sistema monetário internacional (Parte II) Bibliog.: Mendonça (1998), cap. 6 Krugman (2006), cap.18 António Mendonça amend@iseg.utl.pt
O SISTEMA DE BRETTON WOODS 1. ANTECEDENTES: A crise de 1929 e a mudança de paradigmas - crise económica; - crise do mercado ; - crise da economia neoclássica. O New Deal de Roosevelt (20/01/1933) - Emergency Banking Act; - National Recovery Administration; - Sistema de segurança social (1936);
O novo sistema Keynesiano - crítica à lei de Say - mercado vs intervenção do Estado; - desemprego voluntário vs desemprego involuntário - impossibilidade da crise vs evitabilidade da crise. O sistema de Bretton Woods exprime as mudanças das condições económicas e dos paradigmas.
Sobre o ajustamento pelo mercado: Os teóricos da escola clássica dir-se-íam geometras euclideanos num mundo não euclideano, os quais, descobrindo que na realidade as linhas aparentemente paralelas se encontarm com muita frequência, as criticam por se não conservarem rectas como único recurso contra as malfadadas intersecções que se produzem. Na verdade, o que cumpre é rejeitar o axioma das paralelas e elaborar uma geometria não euclideana. A ciência económica reclama hoje uma operação desse género. (Keynes, T.G.)
E sobre o desemprego voluntário : Além disso, a tese de que o desemprego que caracteriza um período de depressão se deva à recusa da mão-de-obra em aceitar uma diminuição dos salários nominais não está claramente demonstrada pelos factos. Não é de todo lícito afirmar que o desemprego nos Estados Unidos em 1932 se teha devido a uma teimosa resistência do trabalhador em aceitar uma diminuição dos salários nominais ou ao desejo persistente de conseguir um salário real superior ao que consentia o rendimento do sistema económico. (Keines, T.G.)
2. O sistema de Bretton Woods pode ser analisado a) Enquanto regime de cãmbios; b) Enquanto sistema de instituições; c) Enquanto conjunto teórico de regras de organização e funcionamnto; d) Enquanto modo concreto de estruturação e funcionamento do sistema monetário internacional do pósguerra.
CARACTERÍSTICAS DE BRETTON-WOODS 1. Cada país indica uma paridade para a sua moeda em ouro ou dólar; 2. Os EUA asseguram a convertibilidade-ouro do dólar na base de 1 onça = 35 dólares; 3. Na base da definição do ponto anterior são fixadas taxas de câmbio bilaterais cuja estabilidade os diferentes países se comprometem a assegurar. São fixadas margens de flutuação de 1%. Existe obrigação de intervenção, vendendo ou comprando dólares para assegurar a manutenção das taxas de cãmbio dentro das margens.
4. As paridades são passíveis de revisão: - até 10% basta notificação ao FMI; - mais de 10% o fundo só autoriza em presença de desequilíbrios fundamentais = > evitar desvalorizações competitivas. 5. Os países comprometem-se a assegurar a convertibilidade das respectivas moedas (só se tornou efectiva a partir de 1958); São permitidas reservas em relação aos movimentos de capitais.
INSTITUIÇÕES DE SUPORTE 1. Fundo Monetário Internacional (FMI), organismo intergovernamental com objectivos de: - evitar desvalorizações competitivas; - funcionar como orgão de coordenação das políticas monetárias a nível internacional; - fundo de apoio aos países com défices nas balanças de pagamentos. (Voto directamente proporcional à dimensão económica do país)
2. Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD) Banco Mundial grupo de instituições especializadas em diversos tipos de financiamento (BIRD, Sociedade Financeira Internacional; Associação Internacional de Desenvolvimento, Terceiro Guichet) Objectivos: - facilitar a reconstrução das economias do países membros; - encorajar o aparecimento de empresas privadas produtivas nos países em desenvolvimento; - empréstimos em condições especiais aos países mais pobres; - empréstimos aos países mais pobres.
3. Banco de Pagamentos Internacionais (BPI) Instituição integrada, que havia sido criada em 1930 com o objectivo de facilitar o pagamento das reparações dvidas pela Alemanha aos aliados, no seguimento da 1ª Guerra Mundial.
O MERCADO DE CÂMBIOS S nj j S S 1 Venda de j S e S 2 Compra de j 0 Padrão-ouro => Bretton Woods => Centralização do stock de ouro no B. Central j D Q j
R E G R A S D O J O G O S nj S* S 1 S e S 2 0 A j S j D B Venda j Compra j j D Q j
Regras do Jogo: Se o aumento da procura de j é um fenómeno permanente => Políticas monetária e fiscal restritivas visando a redução da procura de j => redução da despesa agregada => redução das importações => j D regressa à posição inicial. A taxa de câmbio de equilíbrio volta a um nível situado dentro dos limites. NOTA: Uma falha na aplicação da regra pode levar à impossibilidade de sustentação da paridade
Aplicação concreta da regra: - venda de j significa compra de n; - n é retirada da circulação e a oferta de moeda contraise; - as taxas de juro aumentam; - a despesa agregada diminui; - as importações contraem-se; - a procura de j diminui. A aplicação da regra tem custos: redução do output e desemprego.
O PROBLEMA DO AJUSTAMENTO A existência de custos internos leva as autoridades a procurarem instrumentos alternativos de ajustamento a taxa de câmbio, (deixando transparecer uma diminuição do compromisso face à paridade). Considere-se a definição de taxa de câmbio real R = S.P*/P Com, S = Taxa de câmbio nominal; P = Nível de preços internos; e P* = Nível de preços externos.
Considere-se, ainda, a relação produto despesa Y = C + I + G + X - M com C + I + G = D, tem-se: O que significa: Y D = X M A) Se Y > D => X > M (Excedente na balança corrente) B) Se Y < D => X< M (Défice na balança corrente)
Considerem-se as seguintes definições: Equilibrio externo (EE): Combinações de R e D que tornam a balança corrente equilibrada. (Inclinação positiva: porquê?) Equilibrio interno (EI): Combinações de R e D que garantem um nível de emprego compatível com a taxa natural de desemprego (NAIRU). (Inclinação negativa: porquê?)
DIAGRAMA DE SWAN R = SP*/P Desemprego + Excedente Inflação + Excedente E EE Inflação + défice Desemprego + Défice EI O D
CHOQUE INFLACIONÁRIO INTERNO (P => R ) R = SP*/P O Desemprego + Excedente Inflação + Excedente E. C Desemprego + Défice D EE Inflação + défice EI
Qual o mecanismo que leva de volta a economia a E? Na hipótese de câmbios fixos, P terá de diminuir => Preços e salários flexíveis à descida: 1º Mecanismo: aumento do desemprego => redução de salários => redução de P; 2º Mecanismo: défice externo => venda de moeda estrangeira => compra de moeda nacional => contracção da oferta monetária => aumento das taxas de juro => redução da despesa => redução de P Hip: as autoridades respeitam as regras do jogo.
Mas suponha-se a hipótese de preços e salários rígidos Os mecanismos de ajustamento não actuam e a economia fica presa na linha tracejada (Dilema de Meade): -Se a prioridade é dada ao equilíbrio interno => => aumento do défice externo; - Se a prioridade é dada ao equilíbrio externo => => aumento do desemprego; Saída: Alteração da taxa de câmbio (antecipada pelos especuladores)
CHOQUE INFLACIONÁRIO EXTERNO R = SP*/P Desemprego + Excedente Inflação + Excedente.F E EE Inflação + défice Desemprego + Défice EI O D
Que mecanismos levam de volta a economia a E? Na hipótese de câmbios fixos, P terá de aumentar => Preços e salários flexíveis à subida: 1º Mecanismo: desemprego inferior à taxa natural => subida de salários => subida dos preços => aumento de P. 2º Mecanismo: excedente da BC => compra de moeda estrangeira => venda de moeda nacional => expansão da oferta monetária => diminuição das taxas de juro => aumento da despesa => aumento de P Hip: as autoridades respeitam as regras do jogo.
Existe assimetria entre as duas situações: É mais fácil dar resposta ao choque inflacionário externo. Todavia, as autoridades podem dar prioridade à estabilidade de preços (baixa inflação): O 2º mecanismo é impedido de funcionar. O 1º funciona o que também não é desejado. Saída: Revalorizaçãoda moeda (antecipada pelos especuladores).
Factores de instabilidade: -A nível intrínseco: predomínio do equilíbrio interno face ao externo; - A nível extrínseco: a política monetária e cambial americana, prosseguida ao longo dos anos 60; - Mudança das condições económicas na viragem da década de 50 para 60.
A era de Bretton-Woods pode dividir-se em dois subperíodos: - O período de escassez de dólares (1944 1958); - O período de excesso de dólares (1959-1971). No primeiro período os EUA deveriam oferecer a liquidez necessária ao funcionamento do sistema: - Plano Marshall; - IDE americano; - Despesas com tropas no exterior; - Guerra da Coreia
O que se passou: -A reconstrução foi relativamente rápida (1957); - Os bancos centrais europeus prosseguiram uma política de reconstituição de reservas => saídas de ouro dos EUA; - A BP americana degradou-se; - Os EUA passaram de credores a devedores no FMI; - O preço do ouro subiu no mercado não-oficial => Os EUA pressionados a vender ouro; - Forma-se o pool do ouro para ajudar os americanos (R.Unido, Fraça, RFA, Itália, Bélgica, Holanda e Suiça) => 50%/50%.
-A situação deteriorou-se a nível internacional; - Sucederam-se desvalorizações (franco) e revalorizações (marco); - Tentativa de criar um novo activo monetário internacional para substituir o dólar (Direito de Saque Especial DSE); - As saídas de dólares para o exterior acentuam-se na sequência da descida das taxas de juro; 15 de Agosto de 1971: Nixon suspende unilateralmente a convertibilidade-ouro do dólar; impõe uma sobretaxa de 10% às importações; reduz em 10% os donativos ao exterior FIM PRÁTICO DE BRETTON-WOODS
ACORDOS DO SMITHSONIAN INSTITUTE (18/12/1971) Realizados após um período de flutuação escontrolada. Tentativa de salvar o sistema de Bretton-Woods. 1. A onça de ouro passa para 38 US$; mantem-se a inconvertibilidade do dólar; 2. Procede-se a uma revalorização das outras moedas face ao dólar (em média ponderada de 12%); 3. Alargam-se as margens de flutuação para +(-) 2,25% SERPENTE MONETÁRIA EUROPEIA
A SERPENTE MONETÁRIA O que foi: acordo que visava limitar as flutuações das moedas europeias entre si em resultado das respectivas flutuações face ao dólar. Margem máxima de flutuação: 2,25% Resultados: Muito poucos - A serpente termina em 1973; - O preço do ouro aumenta para 42,22 US$; - O preço do ouro ultrapassa os 100 US$ em Maio de 1973; - Tenta-se desmonetarizar o ouro; - o DSE é definido por um cabaz de 16 divisas.
CRISE ECONÓMICA DE 1973-75 DETONADOR: Aumento do preço do petróleo
Ainda as razões do esgotamento de Bretton-Woods: A estabilidade do sistema ficou a dever-se a duas razões fundamentais: - limitada mobilidade internacional de capitais (permitiu suavizar o trade-off entre objectivos internos e externos); - ambiente favorável ao crescimento (reconstrução do pós-guerra;
Sobre a mobilidade de capitais: Era afectada pelas restrições à actividade bancária internacional herdadas da crise dos anos 30; Os mercados de títulos internacionais ainda não haviam recuperado; O ambiente era favorável à eficácia dos controlos dando margem de manobra aos governantes.
A pouco e pouco as coisas mudaram: A restauração da convertibilidade para as transacções correntes abriu a porta aos fluxos de capitais; Os mercados de títulos reabriram; O mercado dos eurodólares nascia, Os bancos recuperaram os seus negócios internacionais; As reservas de ouro dos EUA começaram a diminuir; Os constrangimentos da BP começaram a apertar.
Sobre o crescimento: A recessão e a guerra abriram espaços para taxas de crescimento elevadas na Europa e no Japão; O ambiente era propício à inovação e modernização de estruturas; As políticas económicas orientaram-se no sentido do crescimento e sem grandes restrições orçamentais; Só no final dos anos 50 as coisas começaram a mudar: - o dinamismo abrandou; - o welfare state começou a pesar; - os desequilibrios externos evidenciaram-se; - guerra do Vietname nos EUA
As mudanças nas condições económicas determinaram o esgotamento de Bretton-Woods: O aumento da mobilidade de capitais; Perda de confiança nas autoridades relativamente aos compromissos cambiais; A incapacidade de proceder aos ajustamentos cambiais permitidos; A recusa em alterar o preço do ouro O sistema cresceu rígido e minado.
CÂMBIOS FLEXÍVEIS: O QUE SE ESPERAVA? 1. Determinação da taxa de câmbio pelo mercado; 2. Apagamento dos bancos centrais: intervenções menos necessárias uma vez que o mercado se encarregaria de ajustar as taxas de câmbio aos níveis de equilibrio; 3. A taxa de câmbio torna-se o principal instrumento de ajustamento; 4. Estabilização da especulação; 5. Autonomia das políticas monetárias; insularização das economias domésticas, 6. Melhor compatibilização dos objectivos particulares decada país.
O QUE SE VERIFICOU DE FACTO? 1. Grande volatilidade das taxas de câmbio; 2. Intervenções frequentes e diversificadas dos bancos centrais; 3. Variações indesejadas do stock de moeda com endogeneização da oferta de moeda; 4. Intervenções não esterilizadoras: reconstituição da relação quantitativa: X (±) B (±) R (±) M (±) P (±) M (±)
O modelo pressupõe: - Um forte conjunto de hipóteses sobre as relações entre massa monetária e preços e entre variação de preços e comércio externo. Donde, Intervenções não anunciadas dos bancos centrais Variações indesejadas do stock de moeda Ex: Acordo do Louvre (1985): Intervenções dos B. Centrais para fazer baixar o dólar.
Intervenção esterilizadora: -Implica que as variações líquidas de reservas em resultado das intervenções sejam estritamente compensadas por variações em sentido inverso das contrapartidas internas de modo qua a base monetária não sofra alterações: R (±) //(Est.)// P (±) As esterilizações não são neutras: não substituibilidade dos activos; prémio de risco; impactos na taxa de câmbio.
5. Especulação desestabilizadora A especulação teve efeitos amplificadores dos desequilíbrios contribuindo para a desestabilização. Os efeitos autocorrectores não se verificaram. 6. As taxas de câmbio tiveram comportamentos erráticos e não tiveram um papel de ajustamento externo
1976: Conferência de Kingston (Jamaica) Institucionalização do sistema de câmbios flexíveis (Managed float) (1979):Sistema monetário europeu (câmbios fixos) Zonas-alvo (Target Zones): Tentativa de encontrar um nível de equilibrio para a taxa de câmbio em torno do qual se estabelecem margens de flutuação (A partir dos acordos do Plaza (1985) e do Louvre (1987)) Williamson, Mackinnon.
A Conferência do Hotel Plaza: Tentativa de se criar um princípio de Zonas-Alvo; Acordo sobre a necessidade de um mecanismo de intervenção conjunto; Ruptura com o benign neglect dos EUA; Coordenação das políticas económicas (redução dos défices americanos; relançamento no Japão e nos EUA); Acordo sobre a variação dos câmbios (controle da depreciação do dólar); O retorno aos câmbios fixos fica em aberto.