BASES TEÓRICAS NA ABORDAGEM DE PESQUISAS ENVOLVENDO PRÁTICAS EDUCOMUNICATIVAS. Eliana Nagamini. Modalidade: COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA

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Ar t e-e d u c a ç ã o

Transcrição:

BASES TEÓRICAS NA ABORDAGEM DE PESQUISAS ENVOLVENDO PRÁTICAS EDUCOMUNICATIVAS Eliana Nagamini Modalidade: COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA

Resumo O objetivo deste trabalho é analisar as bases teóricas das práticas educomunicativas, utilizadas em pesquisas na interface Comunicação e Educação, apresentadas no Congresso de Ciências da Comunicação, de 2016. Autores como Freire, Soares, Citelli, Martin-Barbero, Orozco Gómez são referências para os estudos sobre a Educomunicação. A circulação de informações e mensagens, propiciada pelos novos meios de comunicação, abriu novos espaços de aprendizagem criando outros modos de aprender e ensinar, que não se restringem à instituição escolar, nem às linguagens institucionalmente escolares. Nesse contexto, as práticas educomunicativas podem apontar caminhos para compreendermos o ecossistema comunicativo a que estamos imersos, pois operam com uma visão dialógica para as múltiplas mediações, princípio fundamental para o processo de ensino-aprendizagem; e, além disso, abre-se para a diversidade de linguagens, sobretudo a midiática. Palavras-chave: práticas educomunicativas; práticas pedagógicas; diálogo; linguagens. Introdução As pesquisas com bases teóricas na Educomunicação têm contribuído para repensarmos o lugar dos sujeitos no processo de ensino-aprendizagem. Segundo Citelli e Costa, é possível conceber a Educomunicação como uma área que busca pensar, pesquisar, pensar, trabalhar a educação formal, informal e não formal no interior do ecossistema comunicativo. (2011, p. 8). A circulação de informações e mensagens, propiciada pelos novos meios de comunicação, abriu novos espaços de aprendizagem criando outros modos de aprender e ensinar, que não se restringem à instituição escolar. A interface Comunicação e Educação aponta caminhos para compreendermos as transformações que vem ocorrendo no cenário contemporâneo, pois a comunicação deixa de ser algo tão somente midiático, com função instrumental, e passa a integrar as dinâmicas formativas, com tudo o que possa ser carreado para o termo, envolvendo desde os planos de aprendizagem (como ver televisão, cinema, ler o jornal, a revista; a realização de programas na área audiovisual, da internet), de agudização da consciência ante a produção de mensagens pelos veículos, de posicionamento perante um mundo fortemente editado pelo complexo industrial dos meios de comunicação (CITELLI, COSTA, 2011, p.8). A Educomunicação, para Soares (2011), deve ser concebida como um campo de mediações, cuja comunicação de massa representaria o eixo que atravessa as novas condições da sociedade de pensar e organizar (2011, p. 16). Ou seja, há um

contexto constituído por várias mediações, seja em espaços escolares ou não. As linguagens midiáticas invadem nosso cotidiano e medeiam nossa percepção do mundo. Nesta perspectiva, as práticas educomunicativas podem apontar caminhos para compreendermos o ecossistema comunicativo a que estamos imersos. Nesse contexto, perguntamos: quais os princípios teóricos que norteiam as práticas comunicativas para que o processo de ensino-aprendizagem ocorra de forma efetiva? Nossa hipótese é que as práticas educomunicativas estão apoiadas na compreensão das linguagens midiáticas que levam os sujeitos a uma maior compreensão do que seja o mundo editado e depreenda os posicionamentos ideológicos implícitos nas diversas mensagens. Desse modo, o objetivo deste trabalho é analisar os princípios teóricos que norteiam o conceito de práticas educomunicativas, que foram utilizados em experiências realizadas nos diferentes níveis de ensino da educação formal (básico, superior, extensão), a fim de apontar a articulação entre práticas pedagógicas e o campo da comunicação. Para este estudo, selecionamos artigos científicos, apresentados no Intercom em 2016, que continham em sua proposta pesquisas na interface Comunicação e Educação com ênfase nas práticas educomunicativas. A justificativa para esse recorte é a abrangência do evento em âmbito nacional e a temática adotada. O Intercom Nacional é um congresso realizado um vez por ano, no mês de setembro, pela Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação e reúne pesquisadores de todo Brasil. O evento contribui não apenas para o debate, mas também para a divulgação científica e formação acadêmica de futuros profissionais. A proposta temática do congresso, em 2016, realizado em São Paulo, Comunicação e Educação: caminhos integrados para um mundo em transformação, contou com a presença de Guilhermo Orozco Gómez, na conferência de abertura, pesquisador de referência nos estudos da interface Comunicação e Educação e, sobretudo, para a Educomunicação. Consideramos, em vista disso, a importância do aprofundamento teórico sobre os princípios que norteiam as práticas educomunicativas apresentadas nessa ocasião. Práticas educomunicativas: pesquisa científica e prática Selecionamos cinco artigos apresentados no Intercom 2016, são eles: a) O Uso de Práticas Educomunicativas em Sala de Aula: Um Olhar para o Componente Curricular de Protagonismo Juvenil ; autora: Jackellyne de Fátima Tavares Bezerra (PB); b) Práticas Educomunicativas da Educação Infantil na Rede Municipal de Ensino de São Paulo ; autora: Maria Salete Prado Soares (SP); c) Educomunicação e Práticas Pedagógico-Comunicacionais da Avaliação Formativa no Ensino Básico; autora: Luci Ferraz de Mello (SP); d) Polivoz; uma experiência de webradialismo com práticas educomunicativas em ambiente formal de ensino para o fortalecimento do jornalismo, autores: Andrea Trigueiro, Davi Saboya Barreto, Milena Cavalcanti Lira, Rossini Pereira Gomes e Jeffe Fernando de Amorim Barbosa (PE); e) Extensão Universitária como Prática Educomunicativa: Contribuições para a Flexibilização de Projetos Pedagógicos ; autora: Juliane Martins (PR). Os três primeiros versam sobre pesquisas na educação básica, o quarto trata do ensino superior e, por fim, a extensão universitária no quinto artigo. As pesquisas são

indicativas de que a Educomunicação se estende pelos vários níveis de ensino, na educação formal, cujas discussões apontam a importância das práticas educomunicativas para a constituição de um ecossistema comunicativo no contexto pedagógico. Vale ressaltar que as práticas educomunicativas também estão presentes em espaços não formais de educação, como por exemplo, no setor de saúde, porém não será nosso foco neste momento. A experiência com práticas educomunicativas relatada por Bezerra (2016) enfatizam a construção de um processo democrático no desenvolvimento das tarefas pedagógicas. A partir da disciplina Protagonismo Juvenil, inserida no programa curricular do Ginásio Experimental Municipal Severino Pereira da Silva (Taquaritinga do Norte PE), foi proposta a produção de vídeos pelos alunos, com base em pautas selecionadas por eles e debatidas com a mediação do professor. O aspecto que diferencia as atividades é o fato de ter como pressuposto a participação democrática, contribuindo para a construção do protagonismo juvenil. A produção midiática revela o cotidiano pedagógico, já que é resultado de trabalhos interdisciplinares, em que a linguagem audiovisual expressa a maneira como os jovens percebem e se apropriam desse cotidiano. Ecossistema comunicativo é um conceito fundamental nessa pesquisa, visto que além da recepção e produção em linguagem midiática, desenvolve-se a partir de ações democráticas nas decisões tomadas coletivamente. Para Soares (2016), ao resgatar o Programa Nas Ondas do Rádio, também mostra a importância das linguagens da mídia para a formação de professores de educação infantil. Segundo a pesquisadora, há grande interesse em planejar estratégias pedagógicas com HQ, fanzine, jornal, por exemplo. Ainda que com outras expressões, notamos que o fazer, o saber fazer, isto é, conhecer linguagens em seus aspectos estruturais, de organização e produção de sentidos é essencial para uma proposta pedagógica. E, ainda que Soares utilize a expressão práticas expressivo-comunicativas, não descaracteriza o fato de também salientar a importância das linguagens e do processo democrático para a constituição do ecossistema comunicativo. Mello (2016) nomeia as práticas como práticas pedagógico-comunicacionais. A pesquisadora analisa projetos desenvolvidos no Laboratório de Informática Educativa da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo (SME-SP). Os preceitos teóricos partem de uma visão educomunicativa, pois para ela, A Educomunicação tem como principal objetivo a promoção da transformação social e para tanto, os especialistas no tema atuam a partir da instauração de ecossistemas educomunicativos em espaços educacionais, promovendo a identificação, planejamento, implementação e avaliação de práticas pedagógico-comunicacionais que fomentem uma participação mais plena e ativa de toda a comunidade educativa. Trata-se de práticas educativas mediadas por tecnologias da comunicação, desenvolvidas por meio de uma pedagogia de projetos transdisciplinares, capazes de estimular uma troca reflexiva consistente, de forma a favorecer a estruturação de saberes ligados a conteúdos específicos.

E acrescenta que a Educomunicação defende a adoção de práticas participativas estruturadas no protagonismo desses atores, para que a concretização da transformação das relações nos espaços educativos, entre alunos e professores, para um modelo horizontal (MELLO, 2016, p.4). Ou seja, para o desenvolvimento das atividades, os jovens participam ativamente expondo suas expectativas, buscando compreender o universo ao seu redor, por isso a questão temática é muito importante na medida em que reconhece o contexto dos jovens e suas inquietações; além disso, a interação professor-aluno ocorre de maneira mais efetiva com o exercício da escuta do outro. Práticas educomunicativas, práticas expressivas-comunicacionais, práticas pedagógico-comunicacionais, para além da mera nomenclatura temos dois componentes que se interligam da Comunicação para a Educação. São práticas que permitem o diálogo entre educação / pedagógico com a comunicação, por meio de estratégias democráticas e participativas, que permitem a manifestação dos jovens, isto é, a construção do protagonismo expresso na apropriação das linguagens midiáticas, tanto do ponto de vista da recepção quanto da produção. É nesse contexto, do ecossistema comunicativo, que Trigueiro, Barreto, Lira, Gomes e Barbosa (2016) apresentam a experiência sobre webradiojornalismo. Também como processo de formação de profissionais em jornalismo, as práticas educomunicativas mostram de que maneira a participação democrática contribui para a construção da consciência sobre as relações interpessoais. A proposta de fazer com que todos os alunos vivenciassem diferentes papeis no processo de realização das tarefas permitiu o exercício de escuta e principalmente de diálogo com o outro. Com essa perspectiva, práticas educomunicativas aplicadas em cursos de extensão dão continuidade à natureza democrática da Educomunicação. Martins defende que Ao assumir a universidade como um espaço aberto e democrático, deve estar acessível a qualquer pessoa. O desafio é como possibilitar essa inserção para além daqueles que conquistam uma vaga em seus departamentos, laboratórios e salas de aula. O ensino superior tem uma responsabilidade diante da sociedade, pois o conhecimento que detém precisa ser compartilhado (2016, p.3). Martins (2016) aponta iniciativas em cursos de extensão universitária, como os da Universidade Federal do Rio de Janeiro, da Universidade Federal da Bahia, da Universidade Federal de Alagoas, da Universidade Federal de Pelotas e da Universidade Federal do Cariri, que já possuem um caminho com propostas a partir de práticas educomunicativas. Porém, ela destaca que a proposta precisará de uma construção conjunta entre todos os envolvidos e, principalmente, entender afinal o que é a extensão universitária. Com essa apresentação inicial, avança-se para a possibilidade de aproximar a extensão universitária da prática educomunicativa, porque ambas convergem para os pressupostos

de intervenção social, interação dialógica e formação cidadã, de forma a se contribuir com essas discussões (MARTINS, 2016, p. 4). Práticas educomunicativas: linguagens e processos formativos Para Libâneo, a prática pedagógica é resultado de reflexões da Pedagogia. Trata-se de uma orientação para a prática educativa, uma direção de sentido das práticas de formação humana a partir de objetivos e valores necessários à humanização as pessoas numa sociedade concreta (2012, p. 38). As ações são concebidas com o planejamento do fazer a partir de reflexões sobre as razões pelas quais são feitas, isto é, para quais finalidades socais e políticas são realizadas e que modelo social projeta-se no desenvolvimento dessas práticas. Franco ressalta que as práticas pedagógicas são práticas que se organizam intencionalmente para atender a determinadas expectativas educacionais solicitadas/requeridas por uma dada comunidade social. Nesse sentido, elas enfrentam, em sua construção, um dilema essencial: sua representatividade e seu valor advêm de pactos sociais, de negociações e deliberações com um coletivo (2012, p. 173). Isto é, enquanto prática social, a prática pedagógica precisa efetivamente dialogar com o contexto (FREIRE, 2014) em que se processam as atividades de ensino-aprendizagem. Daí decorre que as práticas pedagógicas, ainda que tenham que seguir parâmetros previamente determinados, necessitam de flexibilidade a fim de atender as demandas da comunidade social. Por isso, as práticas educomunicativas, na medida em que medeiam e também são mediadas pelas linguagens midiáticas respondem às demandas do cenário contemporâneo, cuja comunicação no panorama da desterritorialização e descentralização do saber, conforme defende Martin-Barbero (2011) adquire importância para a constituição de um novo sensorium. Martin-Barbero, ao refletir sobre os desafios da escola, salienta que antes os jovens iam à escola aprender a ler e a escrever. Agora, chegam à escola com novas linguagens, novos modos de ler e escrever que a escola não quer acolher. Não sabe, não entende, é outra coisa. O problema básico da escola é abrir-se para novas linguagens. (FÍGARO e BACCEGA, 2011, 208). Orozco Gómez também aponta a questão da linguagem como um dos desafios da escola, visto que os meios de comunicação articulam as linguagens visuais e verbais, por meio da tecnologia. Para ele, a vinculação que deve se estabelecer entre comunicação, educação e novas tecnologias comporta uma dupla dimensão. Por uma parte, as novas tecnologias devem se articular como suporte de uma comunicação educativa mais diversificada, através do

aproveitamento de variadas linguagens, formatações e canais de produção e circulação de novos conhecimentos. Por outra parte, as novas tecnologias devem constituir-se também em objetos de análise e estudo, através de processos de pesquisas dos seus efeitos, usos e representações culturais. Sobretudo, através do planejamento de estratégias de educação dos usuários que tenham como objetivo formar interlocutores capacitados para uma recepção e produção comunicativa ao mesmo tempo múltipla, seletiva e crítica (2011, p.159). Com essa perspectiva, na visão de Orozco Gómez, as práticas educomunicativas devem voltar-se para uma série de estratégias que permitam a nossas sociedades aproveitar o potencial da tecnologia para nossos próprios fins e de acordo com as nossas peculiaridades culturais, científicas e tecnológicas (OROZCO GÓMEZ, 2011, p. 160-161). Abrir-se para diversidade de linguagens significa, como defende Martin- Barbero (2011), levar temas de interesse dos jovens para o debate no contexto escolar que nem sempre estão presentes nos livros, nos jornais, nas revistas, mas podem estar, por exemplo na televisão. Esta poderia mostrar-se para a escola como uma chave do aprendizado de toda sofisticação que hoje passa pela experimentação audiovisual (FÍGARO e BACCEGA, 2011, p.209). Nas pesquisas selecionadas para este trabalho, vimos que as práticas educomunicativas operam não apenas com a televisão, mas com recepção e a produção de linguagens midiáticas, a partir principalmente do universo dos jovens, suas experiências e inquietações. Considerações finais As práticas educomunicativas expressas nos artigos selecionados apontam fatores fundamentais para compreendermos essas práticas e aplicá-las efetivamente: - reconhecimento da existência de um ecossistema comunicativo (MARTIN- BARBERO, CITELLI, SOARES) no espaço escolar; - ações que incentivem a participação e a colaboração (SOARES); - planejamento de estratégias que favoreçam o processo de empoderamento dos sujeitos envolvidos no processo, com base em relações dialógicas (SOARES, FREIRE); - existência de múltiplas mediações, seja no cotidiano escolar nas relações professor-aluno, seja na leitura e elaboração de produtos midiáticos voltados para as diferentes linguagens dos meios de comunicação (MARTIN-BARBERO; OROZCO GÓMEZ; CITELLI). As novas tecnologias invadem cada vez mais nosso cotidiano, determinando e impondo outros comportamentos frente às transformações de nossas relações com o tempo e o espaço. Citelli (2015, p. 3), citando Harmut Rosa, aponta fatores que indicam tais transformações: a rapidez dos sistemas e processos tecnológicos, manifestados em áreas de transporte, comunicação e produção, a aceleração das mudanças sociais, identificáveis nos âmbitos da cultura, das instituições e das

relações pessoais, a dinamização nos ritmos de vida. Nesse contexto acelerado da vida contemporânea, convivemos com várias mensagens que circulam com diferentes linguagens e ganham força simbólica ao se encarnarem materialmente nos compósitos de signos que serão expressos (CITELLI, 2014, p. 3) e, nessa perspectiva, as práticas educomunicativas, por meio da presença das linguagens midiáticas no contexto escolar, devido ao seu potencial mediador, são pertinentes. Ademais, vale ressaltar que, como nos aponta Fígaro (2011, p. 96), os professores também são mediadores, do mesmo modo constituem e podem ter o poder de constituir, de dar ao discurso essa força de ser um mediador diferenciado, porque nele há potencial para isso, para planejar e orientar práticas educomunicativas. Referências bibliográficas BEZERRA, Jackellyne de Fátima Tavares. O Uso de Práticas Educomunicativas em Sala de Aula: Um Olhar para o Componente Curricular de Protagonismo Juvenil. In: Anais do XXXIX Congresso Brasileira de Ciências da Comunicação, 5 a 9 de setembro de 2016, E [recurso eletrônico] Comunicação e Educação: caminhos integrados para um mundo em transformação/organizado por Marialva Carlos Barbosa, Maria do Carmo Silva Barbosa, Margarida Maria Krohling Kunsh e Roseli Fígaro (Intercom/ECA/SP). São Paulo, 2016. CITELLI, Adilson e COSTA, Maria Cristina Castilho. Apresentação. In: Educomunicação. Construindo uma nova área de conhecimento. São Paulo: Paulinas, 2011. CITELLI, Adilson. Educomunicação: em torno da técnica e da cultura. In: Anais do XXXVII Congresso Brasileira de Ciências da Comunicação, 1 a 4 de setembro de 2014, E [recurso eletrônico] Comunicação e Educação: caminhos integrados para um mundo em transformação/organizado por Marialva Carlos Barbosa, Maria do Carmo Silva Barbosa, Ariane Carla Pereira Fernandes e Marcio Ronaldo Santos Fernandes (Intercom/Unicentro/UDC/Unila/PTI). São Paulo, 2014.. Comunicação e Educação: o problema da aceleração temporal. In: Anais do XXXVIII Congresso Brasileira de Ciências da Comunicação, 4 a 7 de setembro de 2015, E [recurso eletrônico] Comunicação e Educação: caminhos integrados para um mundo em transformação/organizado por Marialva Carlos Barbosa, Maria do Carmo Silva Barbosa, Cristina Rego Monteiro da Luz e Amaury Fernandes (Intercom/UFRJ). São Paulo, 2015. FÍGARO, Roseli e BACCEGA, Maria Aparecida. Sujeito, comunicação e cultura: Jésus Martin-Barbero. In: Educomunicação. Construindo uma nova área de conhecimento. São Paulo: Paulinas, 2011. FÍGARO, Roseli. Estudos de recepção para a crítica da comunicação. In: Educomunicação. Construindo uma nova área de conhecimento. São Paulo: Paulinas, 2011.

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