CTA-CONFEDERAÇÃO DASASSOCIAÇÕES ECONÓMICAS DE MOÇAMBIQUE Reflexão depreciação do Metical em relação ao Dólar Norte- Americano, Eduardo Sengo Julho 2015
Uma depreciação do Metical, torna os bens e serviços produzidos em Moçambique mais baratos para o estrangeiro/não residentes, enquanto os produtos produzidos fora de Moçambique ficam mais caros para os nacionais. Quando o câmbio deprecia, como está acontece, os nacionais residentes precisam de mais meticais para comprar um dólar, do que precisavam antes. Portanto, em Junho em média, em Moçambique precisa-se de 38 Mts para comprar 1 dólar; Janeiro precisava-se de apenas 34, em média. Mas, o que estará a causar esta subida do câmbio? Factores deste comportamento cambial podem ser divididos em externos e internos. Nos externos, destaca-se o fortalecimento do dólar norte-americano desde os meados de 2014 devido ao fortalecimento da economia dos Estados Unidos da América e o fim do programa de estímulo à economia por parte do Federal Reserve, o banco central norte-americano. Esta situação, aliada às incertezas de algumas economias mundiais, favoreceu ao fortalecimento do dólar. União Europeia África Subsaariana America Latina Na economia da União Europeia, o Euro caiu em relação ao USD, saindo de 0,72 Euros pagos por cada dólar, para 0,80 (depreciação de 11%) em Dezembro. As estavam ligadas à questão da Grécia. Na Nigéria, o Naira caiu em relação USD, saindo de 165 Naira pagos por cada USD em Outubro de 2014 para 205 (depreciação de 24%) em Fevereiro de As estavam relacionadas com a queda do preço do barril do crude, os ataques terroristas e as eleições presidenciais. As moedas das três maiores economias da África Subsaariana, Nigéria, África do Sul e Angola, depreciaram-se em relação ao USD. Na África do Sul, o Rand caiu em relação USD, saindo de 10,70 Randes pagos por cada USD em Dezembro de 2014 para 12,6 (depreciação de 18%) em Maio de As estavam relacionadas com as constantes manifestações das organizações sindicais, reclamando melhores salários Na América Latina, no Brasil, o Real caiu em relação ao USD, saindo de 2,20 reais pagos por cada dólar em Julho de 2014, para 3,17 (depreciação de 44%) em Junho. As a queda do preço do barril do crude, a desaceleração do crescimento económico e os escandâlos financeiros. Em Angola, o Kwanza caiu em relação USD, saindo de 98 kwanzas em Dezembro de 2014 para 121 (depreciação de 23%) em Junho. As incertezas desta economia estavam ligadas à queda do preço do barril do petróleo. A nível interno, destacam-se três factores primários. O primeiro relaciona-se com a queda da receita das nossas exportações, tanto dos mega-projectos bem como das exportações tradicionais, em parte devido a queda dos respectivos preços no mercado internacional. As exportações constituem a 2
principal fonte de geração de moeda externa de um país, e Moçambique não foge a regra. Enquanto isso, as importações aumentaram. Essa questão levou a corrosão das reservas internacionais. Figura 1: Variação de alguns preços de matérias-primas exportadas por Moçambique, entre Junho de 2014 a Marco de Fonte: FMI, Regional Economic Outlook, O segundo factor foram as tensões devido ao recrudescimento de discurso político radical que gerou incertezas no mercado. Este factor impacta na taxa de cambio pelo facto de adiar as intenções de investimento externo em Moçambique, e/ou aumentar a apetência em repatriar capitais, pressionando a moeda externa disponível no mercado. O terceiro factor que, não tendo sido a causa primária, terá contribuindo para que a depreciação se agudizasse, foi a demora em aprovar o Orçamento de Estado que só foi possível nos finais de Abril. E que, como e sabido, a Balança de Pagamentos de Moçambique e deficitária e uma das formas de financiar esse défice tem sido através dos desembolsos dos parceiros de cooperação, seja na forma de crédito ou donativo. Não havendo orçamento aprovado, não poderia haver desembolsos por parte dos parceiros de cooperação. O orçamento do Estado em 2015 de Moçambique equivale a USD 7 biliões e, a dependência externa do mesmo e de 27%, o equivalente a cerca de USD 1.9 biliões, ou seja, pouco mais que 50% das reservas internacionais de Moçambique. Significa que, de facto, os desembolsos representam uma fonte importante de divisas para a economia de Moçambique. A depreciação do Metical face ao USD tem gerado tensão generalizada no seio da comunidade empresarial. Um dos aspectos a destacar é a necessidade que as empresas têm de fazer face as obrigações financeiras com o exterior, seja devido a importação de mercadorias ou amortização de empréstimos. Os processos de importação de mercadorias, geralmente, levam entre um a três meses, dependendo do tipo. Se assumir-se um mês, significa que essa empresa iniciou o processo de importação e Maio, quando a taxa de cambio MT/USD estava a 36 e, actualmente, a taxa de cambio està em 39. No acto do desembaraço aduaneiro, essa empresa precisara pagar 3 MT adicionais em cada unidade de dólar; ou seja, se tinha que pagar USD 100,000.00 para o desembaraço aduaneiro, ao invés de pagar 3,6 milhões de MT, devera pagar 3,9 milhões de MT, mais 300,000.00 MT adicionais. O mesmo acontece nas amortizações de empréstimos. Este ponto torna-se cada 3
importante dado que a divida privada externa em Moçambique tem estado a crescer nos últimos três anos. Face a esta situação, no Primeiro Trimestre, o Banco de Moçambique interviu no Mercado Cambial, com 400 Milhões de Dólares Norte-Americanos, valor superior ao disponibilizado em períodos homólogos em toda história do Banco de Moçambique. Contudo, o comportamento cambial não se alterou. Na fase actual em que se encontra a nossa economia, para além de alavancar somente as receitas de exportadores que não usam muitos insumos importados na sua produção, ela diminui significativamente o valor de moeda externa disponível, uma vez que o exportador necessitará de menos dólares para fazer face às despesas que possui em moeda nacional (pagamento de impostos, pagamentos de salários aos trabalhadores nacionais e outras despesas denominadas em moeda nacional). A depreciação do metical não atrai imediatamente a entrada de divisas no País, porque o nosso país não possui liquidez razoável de activos líquidos transaccionados no mercado de capitais que sejam apetecíveis ao investidor estrangeiro. E, ainda, o País não é, tipicamente, exportador de produtos manufacturados ou processados que constitui uma das vias de aproveitamento da depreciação cambial. Assim, apesar desta depreciação, pouca ou quase nenhuma demanda externa será atraída para Moçambique. A depreciação do Metical está, obrigar, também, à reconfigurações nas contas das empresas registadas em Moçambique, uma vez que têm de reclassificar o seu Activo e Passivo, de modo a reflectir o valor real dos itens inscritos no Balanço e Mapa de Resultados. Esta situação aumenta a apetência aa constituição de depósitos em moeda externa, particularmente o USD, como atesta a analise de dados na figura 2. Figura 2: Evolução dos depósitos em moeda externa de dentro dos depósitos totais. Fonte: Dados extraídos de www.bancomoc.mz em 30 de Junho, A figura 2 mostra que a depreciação do Metical iniciou em Novembro e, numa altura em que os depósitos em moeda externa estavam a reduzir. Nos finais de Janeiro, os depóstios em moeda externa como dar indicações de aumentar, numa altura em que a depreciação cambial ia assumindo novas proporções. De Fevereiro a Abril, os depósitos em moeda externa aceleraram o seu crescimento, período de pico da depreciação cambial. Ou seja, à medida que o Metical se deprecia em 4
relação ao USD, os depósitos em moeda estrangeira esta a aumentar. Este pode ser um sinal de especulação ou de perspectivas negativas face ao comportamento do Metical a curto e médio prazos. Face a estas evidências, as autoridades competentes podiam actuar em duas frentes: 1. Uma política de comunicação, baseada em perspectivas de curto e médio prazos. O objectivo desta seria reduzir as incertezas/tensões do mercado. Os agentes económicos não sabem o que, realmente, esta a acontecer, avaliar pelo comportamento. A única certeza que têm é de que o USD está forte e que o metical está derrapar. Nesse caso, agem dentro das suas certezas, procurando a posse do USD, aumentando a constituição de depósitos em moeda externa. Tanto o Ministério de Economia e Finanças (MEF), assim como o Banco de Moçambique devem pautar por uma política mais comunicativa. Por exemplo, O MEF pode dar informação sobre o programa de desembolsos dos parceiros de cooperação, transmitindo, deste modo, confiança de entrada de divisas no mercado; 2. Em situação de maior apetência na constituição de depósitos em moeda externa, o que pressiona o mercado cambial, o Banco de Moçambique, por sua vez, poderia introduzir um modelo transitório de restrição de depósitos em moeda externa, seja por via legal ou prudencial. Moçambique não seria o primeiro país onde isto acontece. 5