Comparando Empresas Melhorando Resultados Dorian L. Bachmann 1 e Jully H. Destefani 2, Bachmann & Associados Paraná Brasil

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Comparando Empresas Melhorando Resultados Dorian L. Bachmann 1 e Jully H. Destefani 2, Bachmann & Associados Paraná Brasil Resumo A elevada competitividade existente na indústria da cerâmica de revestimento exige a adoção de técnicas inovadoras e eficazes também nas atividades de gestão. A Análise Comparativa de Desempenho é uma forma de benchmarking na qual a organização, além de conhecer os melhores resultados alcançados pelos concorrentes, também identifica seu posicionamento em relação às demais empresas do setor nos aspectos avaliados. O trabalho apresenta a metodologia da Análise Comparativa de Desempenho, como praticada pela Bachmann & Associados, na qual são coletadas as mesmas informações de desempenho de diversas empresas de um determinado segmento industrial. Também são mostrados exemplos de resultados informações úteis no estabelecimento de metas de desempenho e para avaliação das estratégias operacional ou gerencial adotadas e de como a indústria de cerâmica de revestimento pode se beneficiar desta técnica que ainda é nova no Brasil. Palavras chave: Análise Comparativa de Desempenho, benchmarking, gestão, cerâmica de revestimento, metas, indicadores. Introdução A indústria brasileira de cerâmica de revestimento passou por um processo de modernização tecnológica que contribuiu para o aumento da produtividade e lhe permitiu acesso a mercados mundiais; entretanto, justamente para poder enfrentar este novo ambiente competitivo em condições de igualdade, precisa prosseguir nos processos de otimização. Esta nova etapa de melhoria irá exigir uma visão mais completa das competências e vantagens dos competidores e, portanto, acesso a muitas informações e técnicas disponíveis apenas fora da empresa. O serviço de Análise Comparativa de Desempenho consiste em selecionar os indicadores mais importantes para a competitividade da indústria, padronizar seu registro e entendimento, coletar dados, fazer as análises técnicas e estatísticas necessárias para garantir a sua consistência e, finalmente, devolver os resultados à empresa que o forneceu, mostrando sua posição em relação à média e aos melhores do setor. Este trabalho pode ser complementado pela disseminação das práticas que têm levado aos melhores resultados. Definição de metas Uma das mais importantes atividades do processo gerencial é estabelecer metas que levem a organização a um patamar superior de desempenho. Metas pouco audaciosas apresentam pouca efetividade para este propósito; por outro lado, metas inatingíveis prejudicam a credibilidade do processo gerencial e acabam desmotivando os colaboradores. 1 Dórian L. Bachmann (dorianb@bachmann.com.br, 41 3321 7835) é diretor da Bachmann & Associados Ltda. Curitiba PR. www.bachmann.com.br. 2 Jully H. Destefani (jully@bachmann.com.br, 41 3321 7835) é gerente de produtos da Bachmann & Associados Ltda. Curitiba PR www.bachmann.com.br. 1

Os métodos mais comuns para estabelecer metas são: Repetição de valores obtidos no passado; Projeção de tendências históricas; Decisão arbitrária; Uso de referenciais teóricos (6 Sigma, defeito zero, etc.); Escolha de valor necessário para atingir outras metas; Benchmarking. Repetição de valores obtidos no passado Este método, muito seguro para o administrador, supõe que a simples repetição dos resultados alcançados anteriormente indica competência gerencial. Embora isto raramente seja verdade, em situações de crise a simples preservação da capacidade ou eficiência produtiva pode realmente ser uma meta desafiadora. Projeção de tendências históricas Nesta abordagem é analisada a evolução histórica do indicador e a meta é escolhida levando em conta, principalmente, a tendência identificada. Assim, se historicamente uma determinada linha de produção tem conseguido um aumento de produtividade de 6% ao ano, projeta se para o período seguinte este mesmo crescimento. Decisão arbitrária A chamada decisão arbitrária, ou aquela que é estabelecida pelo gerente sem maiores explicações, freqüentemente decorre de processos decisórios que consideram os métodos já citados e incluem alguma intuição. Muitas vezes ocorre de uma meta ser vista como arbitrária simplesmente por que não houve uma comunicação eficiente para que a equipe soubesse a origem da mesma. Mas é clássica a decisão de cortar 10% dos custos e aumentar as vendas em valor semelhante apenas por que a direção assim o deseja. De qualquer modo, devemos ser cautelosos em criticar uma meta estabelecida ou tida como arbitrária. Uso de referenciais teóricos Algumas metodologias de gestão como: 6 Sigma, Defeito Zero ou Emissão Zero, definem um objetivo de médio ou longo prazo que impõe metas bastantes exigentes para o curto prazo. Tais metas, por se basearem em um arcabouço teórico e serem acompanhadas de programas de trabalho já testados, têm uma significativa distinção em relação às metodologias antes citadas. Valor necessário para atingir outras metas Muitas vezes metas setoriais são estabelecidas, com maior ou menor base técnica, tendo como requisito atender outras metas negociadas. Assim é que se uma unidade de negócio precisa atingir uma determinada rentabilidade, isto pode ser feito aumentando a receita ou reduzindo os custos, em uma infinidade de combinações possíveis. Nestes casos costumam ser estabelecidas metas que desafiam cada área conforme seu potencial de obter o resultado necessário. Benchmarking O processo de benchmarking (ref. 1) busca identificar o melhor resultado alcançado em determinada atividade, por empresa do mesmo segmento ou de outro que execute operação semelhante. Assim, a gestão do estoque de produto final de uma fábrica de papel pode tomar como referência, ou benchmark, a sistemática de estocagem de uma fábrica de azulejos. Mas um detalhe, que muitas vezes é ignorado, é que o benchmark por exemplo, dois dias de produção em estoque não deve ser, automaticamente, tomado como meta. Esta deve ser estabelecida tomando se o benchmark como referência, mas selecionada em função das particularidades da organização e do grau de afastamento atual em relação ao benchmark. Uma das vantagens do benchmarking, nos aspectos motivacionais e comportamentais, é saber que determinada meta estabelecida já foi alcançada ou superada por outra organização e é, portanto, factível. Por exemplo, se estivermos gerenciando uma fábrica em que o consumo de energia para produzir 1m 2 de revestimento é superior a 23.000 kcal/m 2, reduzir o consumo pode 2

parecer uma meta inatingível. Entretanto, quando se têm em mãos o estudo (ref. 2) de onde foram retirados os dados para o gráfico a seguir, percebe se que isto já vem sendo conseguido, na Espanha, desde 1993. Consumo de energia na fabricação de cerâmica de revestimento Figura 1 Ter uma meta audaciosa, porém possível, é de grande ajuda na gestão eficaz. De fato, segundo Balm (ref. 3), benchmarking é a atividade contínua de comparação dos próprios processos, produtos e serviços com a atividade similar mais conhecida de modo que metas desafiadoras, porém factíveis, sejam estabelecidas e um curso de ação realista seja implementado, a fim de tornar e continuar sendo eficientemente o melhor dos melhores em um prazo razoável. A Análise Comparativa de Desempenho ACD A Análise Comparativa de Desempenho é uma forma eficaz de se fazer benchmarking, pois busca informações não apenas dos melhores, mas da maior quantidade possível de concorrentes. Assim, além de informar quais são os resultados obtidos pelos melhores concorrentes (benchmarks), a ACD também mostra a posição em relação às demais organizações, permitindo identificar as oportunidades de melhoria com maior potencial de ganho. Estas informações melhoram significativamente a qualidade das decisões tomadas. Afinal, pode não ser conveniente perseguir um resultado específico alcançado por um competidor que escolheu uma estratégia competitiva diferente e que está muito afastado da média dos concorrentes. Resumindo, a ACD consiste em levantar os resultados de performance de determinada atividade ou operação, em um conjunto de organizações de um mesmo segmento, e destacar a posição daquela na qual estamos interessados em identificar a posição no ambiente competitivo. Metodologia Na prática existem várias maneiras de se fazer uma análise comparativa de desempenho. Como referência apresentamos, a seguir, as etapas da metodologia praticada pela Bachmann & Associados: 1 Análise do negócio e do processo do cliente Consiste em conhecer o negócio e o processo de produção a comparar, de modo a poder selecionar os parâmetros que devem ser considerados no estudo. 3

2 Escolha dos indicadores Nesta etapa é feita a seleção dos parâmetros de desempenho que melhor refletem a performance do negócio ou do processo, levando em conta a estratégia da organização. 3 Padronização dos indicadores Esta é, possivelmente, a etapa mais complexa do trabalho. Consiste em consensar, entre os participantes, a forma de cálculo dos indicadores. Isto é feito por meio de um documento denominado Identidade do Indicador, que descreve as características, critérios de coleta, unidade de medida e outros aspectos importantes da métrica. O risco de conclusões erradas pelo uso de informações não comparáveis, comum nos esforços de benchmarking, se reduz muito quando se usa esta metodologia. Por exemplo, a Disponibilidade Mecânica indicador tradicionalmente usado na atividade de manutenção em algumas empresas é calculada tomando se a fração do tempo que o equipamento esteve disponível para a produção em relação ao tempo total, enquanto em outras o cálculo é baseado nas horas programadas para seu uso. 4 Coleta e recebimento dos dados A coleta dos dados é feita com formulários ou questionários criados com técnicas de pesquisa, para reduzir as chances de erro no preenchimento, gerando informações confiáveis para a próxima etapa. 5 Análise de consistência Os dados recebidos são submetidos, antes de sua utilização, a testes de consistência em 3 níveis: Com outros dados da mesma empresa. O objetivo é verificar se os valores são compatíveis com o histórico e com os demais dados fornecidos. Com o processo usado. Nesta etapa é verificado se os dados apresentam comportamento lógico quanto aos aspectos relacionados ao processo de produção utilizado. Com todo o grupo de dados semelhantes. Consiste na verificação, através de ferramentas estatísticas, de valores atípicos em relação ao grupo de dados disponíveis. Caso algum valor apresente comportamento anormal, em qualquer dos testes descritos, é feita uma confirmação junto à pessoa que forneceu o dado, de modo a reduzir o risco de incluir erros de coleta ou transcrição nas etapas posteriores. 6 Análise e consolidação dos dados Na seqüência, os dados são agrupados em conjuntos comparáveis. Por exemplo, separando as fábricas que usam processo por via seca e úmida. Finalmente é feito o trabalho estatístico, que compreende as seguintes etapas: Análise estatística Através de cálculos são levantadas as principais estatísticas (médias, dispersão, tendências) dos dados da amostra. Análise comparativa Neste momento os dados de cada empresa voltam a ser tratados individualmente e são comparados com a amostra. Em alguns casos, os resultados são separados em grupos de desempenho, como segue: Grupo A (20% de melhor desempenho da amostra) Grupo B (50% da amostra que apresenta desempenho intermediário) Grupo C (30% de pior desempenho da amostra) Também é feita a determinação das diferenças ou gaps de desempenho em relação aos melhores resultados disponíveis. Quando pertinente, os ganhos potenciais são traduzidos em unidades monetárias ou de energia, para dar maior incentivo na busca das melhorias. 4

7 Formatação Os resultados são consolidados em um relatório onde cada empresa, unidade fabril ou linha de produção é apresentada com um código, para preservar o sigilo quanto à origem das informações. Para evidenciar os pontos de ganho e tornar a informação mais clara para as pessoas dos diversos níveis da organização, os resultados são apresentados em forma gráfica. Um exemplo real (ref. 4) aparece na figura 2, onde o resultado de uma máquina é comparado ao de outras vinte e sete, divididas em 3 grupos de desempenho. A figura aponta o grupo de desempenho da máquina e também mostra a perda de produção em relação ao resultado que corresponde a média dos 20% melhores resultados da amostra. Rendimento de máquina de papel Figura 2 Utilização De posse das informações, os administradores podem identificar as maiores oportunidades e estabelecer metas realistas, com a certeza de que aí existe espaço para ganhos. Também podem contratar consultorias focadas na solução dos problemas identificados e, através da repetição periódica do estudo, avaliar o progresso que vêm obtendo em seus esforços de melhoria. Muitas empresas iniciam seus processos de busca de produtividade e aumento de eficiência via investimentos e trocas de tecnologia, ignorando os grandes ganhos possíveis pela adoção das chamadas melhores práticas. Alguns estudos de ACD podem incluir a coleta das práticas que supostamente contribuem para os melhores resultados, oferecendo, portanto, um elemento adicional para a gestão. Por exemplo, uma empresa que tem resultados excepcionais na manutenção pode imputar tais resultados à adoção da Manutenção Produtiva Total TPM, enquanto outra pode fazer uso da chamada Manutenção Baseada na Confiabilidade RCM. Mas, naturalmente, a empresa só irá se beneficiar do estudo se realmente fizer uso dos resultados para estabelecer metas mais ousadas, com a certeza de que são factíveis, e montar um plano de ação para alcançá las. Isto exigirá: Participação gerencial Comprometimento Entendimento das metas e estratégias corporativas Foco Esforço e perseverança 5

O processo de benchmarking tem, em geral, 5 fases (ref. 5): planejamento, coleta de dados, análise, adaptação e implementação. A Análise Comparativa de Desempenho contempla as duas primeiras etapas e inicia o processo de análise (figura 3). A partir daí a empresa deve aprofundar a etapa de análise usando o conhecimento de seus técnicos e as peculiaridades de sua situação e estratégia, para estabelecer metas e planos de melhoria adequados para alavancar seus resultados. Implementação Adaptação Análise Coleta de dados Planejamento ACD Figura 3 Fases do Benchmarking Empresa Um risco na aplicação da técnica é buscar a melhoria do resultado dos indicadores e não do processo. Por exemplo, para melhorar a Produtividade por Empregado, simplesmente reduzir o número de colaboradores sem tomar uma ação efetiva no processo que, otimizado, levaria a redução como conseqüência. Benefícios A Análise Comparativa de Desempenho traz as seguintes vantagens principais: Acesso a informações que, de outro modo, não seriam acessíveis; Permite descobrir a verdadeira posição em relação à concorrência, nos diversos aspectos de desempenho; Identifica os pontos fortes e fracos, assim como as oportunidades de melhoria no ambiente competitivo onde se está operando; Legitima as metas de melhoria estabelecidas, pois como são baseadas em resultados efetivamente alcançados por outras organizações, acabam impondo um clima de desafio e motivação às equipes; Melhora a priorização dos recursos, na medida em que são identificados os pontos com maior potencial de ganho e nos quais vale mais a pena investir; O acompanhamento histórico, possível com a realização periódica deste tipo de estudo, mostra a dinâmica do segmento, indicando o ritmo com que os participantes com melhores resultados continuam a melhorar; Reduz a resistência a mudanças e coloca o foco no ambiente externo e na busca de soluções, criando oportunidades para aprender com a experiência dos outros e incentivando a busca das melhores práticas, na indústria ou fora dela; O próprio trabalho de escolha dos indicadores e de levantamento dos dados traz conhecimento sobre o processo interno, ao mesmo tempo em que reforça a cultura de medição do desempenho e da análise crítica dos resultados na organização; 6

Como a referência gerencial é focada nos resultados dos indicadores, a Análise Comparativa de Desempenho é compatível com ferramentas como o Balanced Scorecard (BSC), a Gestão pela Qualidade Total (GQT) e as normas ISO para a qualidade; Por fazer uso de recursos externos, compartilhados entre diversas empresas, tem um custo baixo e claramente identificável. Um benefício adicional, decorrente da padronização no cálculo dos indicadores de desempenho, é a melhora da comunicação no segmento industrial pelo uso de uma linguagem mais uniforme nos congressos, publicações e em outros programas de troca de informações. Conclusões A Análise Comparativa de Desempenho é uma forma prática de se fazer benchmarking, pois além de apontar os referenciais de excelência, indica o posicionamento da organização em relação às demais do segmento. Os trabalhos de escolha dos indicadores para comparação e de levantamento de dados traz conhecimento sobre as operações, ao mesmo tempo em que reforça a cultura de medição do desempenho e da análise crítica dos resultados na organização. A adoção da Análise Comparativa de Desempenho em um segmento como o de cerâmica de revestimento é particularmente atrativo por existirem muitas fábricas e linhas de produção comparáveis e com uma faixa muito ampla de resultados operacionais. Mesmo aquelas empresas consideradas as melhores podem se beneficiar do conhecimento de resultados obtidos por concorrentes em algumas áreas específicas. É, também, um recurso poderoso para apoiar os processos decisórios relacionados à busca de melhores resultados para o negócio e se integra perfeitamente aos processos de gestão fundamentados em qualidade. Portanto, a Análise Comparativa de Desempenho é mais uma ferramenta que pode contribuir para o aumento da produtividade e competitividade da indústria nacional de cerâmica de revestimento. Referências Bibliográficas 1 CAMP, Robert C. Benchmarking: o caminho da qualidade total. São Paulo: Pioneira, 1993. 250p. 2 Abreu, Yolanda Vieira. Estudo comparativo da eficiência energética da indústria da cerâmica de revestimento via úmida no Brasil e na Espanha. Tese de Doutorado. Unicamp. 2003. 3 BALM, Gerald J. Benchmarking: Um guia para o profissional tornar se e continuar sendo o melhor dos melhores, Rio de Janeiro, Qualimark, 2ª edição, 1995. 4 Bachmann & Associados. Análise Comparativa do Desempenho de Fábricas de Papel 2006. Curitiba. 2007. 5 PAGLIUSO, Antônio Tadeu. Benchmarking: relatório do comitê temático. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2005. 7