André Pontes SILVA 1 Regina Célia Aragão da SILVA 2 Vera Lucia de Faveri Fernandes SILVA 3. Saúde, Batatais, v. 6, n. 1, p , jan/jun.

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Transcrição:

Os principais aspectos do Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação nas atividades da vida diária de uma criança em fase de crescimento: um consenso científico 37 André Pontes SILVA 1 Regina Célia Aragão da SILVA 2 Vera Lucia de Faveri Fernandes SILVA 3 Resumo: O Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação (TDC) é caracterizado pela dificuldade que uma criança apresenta no momento de realizar algum movimento corporal durante as Atividades da Vida Diária (AVD); essa disfunção motora compromete também o desenvolvimento cognitivo e intelectual do individuo. Dessa forma, o TDC é alvo de estudo tanto na área da saúde quanto na da educação. Como o assunto é extremamente importante e existe uma escassez de informações sobre o tema no Brasil, o presente estudo servirá de veículo para expor algumas dificuldades que os portadores de TDC sofrem. Tal exposição poderá estimular o combate ao TDC, sua prevenção e seu tratamento. Como objetivo, este artigo pretende divulgar os principais aspectos do TDC, despertar a atenção para o assunto e estimular a intervenção daqueles que participam da rotina do portador. A vigência das manifestações do TDC dificuldade nas atividades escolares e da vida diária, exclusão, por inabilidade, dos jogos e brincadeiras, frustração relacionada à comparação com os demais colegas da mesma idade, embaraços durante as atividades de higiene e automanutenção como um todo mostra a falta de assistência para com esses indivíduos. Portanto, o estudo apresenta recomendações e ideias para lidar com situações em que o TDC é notado. A partir de discussão e revisão da literatura, evidenciou-se que o TDC é um assunto que merece mais atenção para especulações no Brasil, a fim de se encontrarem as principais causas e tratamentos. Os portadores de TDC, que hoje passam despercebidos e sofrem sequelas, poderiam ter sua situação revertida, com o treinamento de movimentos específicos e complexos, acompanhados de uma boa alimentação. O objetivo de divulgação das principais dificuldades motoras foi alcançado, entretanto os demais objetivos propostos na introdução não foram atingidos, pois, para tanto, seria necessária a participação de muitos outros fatores que são citados no trabalho. Palavras-chave: Atividades da Vida Diária. Coordenação Motora. Descoordenação Motora. Disfunção Motora. Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação. 1 André Pontes Silva. Graduado em Educação Física pelo Claretiano Centro Universitário. Cineantropometrista titulado pela International Society for the Advancement of Kinanthropometry (ISAK). Qualificado em Avaliação Física Funcional e Genética pela Federação Internacional de Educação Física (FIEP). Capacitado em APH, Resgate e Socorro pela Emergencia1, com aperfeiçoamento em Dislexia pelo Centro Educacional de Desenvolvimento Profissional (CEDEP). E-mail: <vozandrepontes@gmail.com>. 2 Regina Célia Aragão da Silva. Doutoranda em Educação Física pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), campus de Rio Claro, Mestra em Ciências na área de Engenharia Biomédica pela mesma instituição. Especialista em Educação Física Escolar e Licenciada em Educação Física pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Atualmente é docente nos cursos de Pós-graduação e Graduação no Claretiano Centro Universitário. E-mail: <reginasilva@claretiano.edu.br>. 3 Vera Lucia de Faveri Fernandes e Silva. Mestranda em Educação pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), campus de Rio Claro. Especialista em Educação Infantil e em Educação a Distância: Planejamento, Implantação e Gestão pelo Claretiano Centro Universitário. Licenciada em Pedagogia pela Faculdade de Educação de Guaratinguetá e Letras pela Universidade Metodista de São Paulo. Atualmente é docente nos cursos de Pós-graduação e Graduação no Claretiano Centro Universitário. E-mail: <verasilva@claretiano.edu.br>.

38 The main aspects of the Developmental Coordination Disorder in the activities of the daily life of a child in the growth phase: a scientific consensus André Pontes SILVA Regina Célia Aragão da SILVA Vera Lucia de Faveri Fernandes SILVA Abstract: Developmental Coordination Disorder (DCD) is characterized by the difficulty that a child presents when performing some body movement during the Activities of Daily Living (ADL); this motor dysfunction also impairs the cognitive and intellectual development of the individual, in this way, the DCD is the subject of study in the areas of health and education, respectively. As the subject is extremely important and there is a shortage of information on the subject in Brazil, the present study will serve as a vehicle to expose some difficulties that sufferers of DCD suffer, such exposure may stimulate the fight against DCD, prevention and treatment. As an objective, this article intends to disclose the main aspects of DCD, to raise attention to the subject and to stimulate the intervention of those who participate in the routine of the bearer. The validity of the DCD manifestations: difficulties in school activities and daily life, exclusion due to inability in games and games, frustration related to the comparison with others of the same age, embarrassment during hygiene activities and selfmaintenance as a whole, shows the lack Assistance to these individuals. Therefore, the study presents recommendations and ideas to deal with situations where the DCD is noticed, from the discussion and revision of the literature it was evidenced that the DCD is a subject that deserves more attention for speculations in Brazil, in order to find the main causes and treatments, therefore, the patients of DCD go unnoticed and suffer sequels that can be reversed with the training of specific and complex movements, accompanied by a good diet. The objective of disclosure of the main motor difficulties was reached, however the other objectives proposed in the introduction were not reached, for that, it is necessary the participation of many other factors that are mentioned below. Keywords: Activities of Daily Life. Motor Coordination. Motor Descoordination. Motor Dysfunction. Developmental Coordination Disorder.

39 1. INTRODUÇÃO Em fase de crescimento e desenvolvimento, uma criança que se enquadra no tema desta pesquisa pode apresentar dificuldades na realização de algumas atividades da vida diária (AVD). Essa disfunção, que é observada nos movimentos finos que exigem coordenação motora hábil e propriocepção, é chamada de transtorno do desenvolvimento da coordenação (TDC). Quando se fala em TDC, a discussão é delicada, pois essa temática envolve tanto a áreas da saúde quanto a da educação. Na esfera educacional, a literatura mostra que crianças com TDC têm dificuldades com leitura, escrita e raciocínio matemático. No campo da saúde, são notados alguns problemas de esquema corporal, falta de equilíbrio e coordenação, dificuldades com a orientação espacial e temporal, entre outros, o que prejudica significativamente o sucesso escolar, profissional, pessoal e social da criança ou do indivíduo em questão (FILIPCIC; OZBIC, 2008 apud PULZI; RODRIGUES, 2015, p. 438). Verificando que no Brasil os estudos publicados sobre o assunto em discussão são escassos, fica visível a importância desta pesquisa para especulação do tema em questão. Evidenciado o aumento dos problemas causados pelo TDC, nota-se uma grande necessidade da intervenção inteligente do professor de Educação Física em parceria com a família do aluno; esse trabalho em equipe (responsável mais professor) para o desenvolvimento da criança em questão pode provocar um salto na qualidade de vida ao longo da fase de crescimento. Nesse sentido, o presente estudo servirá de veículo para expor os embaraços e as complicações que o TDC promove; tal exposição poderá estimular a colaboração dos pais e a autonomia do professor como agente autossuficiente para fazer da Educação Física na escola não só uma disciplina com caráter esportivo, lúdico e cooperativo, mas também uma ferramenta crucial a ser usada na prevenção e tratamento do TDC. O presente artigo pretende divulgar as dificuldades mais recorrentes que uma criança com TDC manifesta nas atividades escolares e da vida diária, despertar a atenção dos professores e responsáveis para o monitoramento dos movimentos da criança durante tais atividades e, por fim, estimular a autonomia e o interesse dos pais e professores para cuidar e intervir nos casos que serão encontrados após esta explanação. 2. METODOLOGIA Este estudo foi elaborado a partir de revisões bibliográficas de artigos científicos publicados nas bases de dados SCIELO, Google Acadêmico, PUBMED e Revistas do Claretiano Centro Universitário. Para a pesquisa, foram utilizadas palavras-chave relacionadas ao tema. Em um primeiro momento, foi pesquisada a expressão Coordenação Motora em duas das bases de dados citadas; a partir dos artigos encontrados, identificou-se o termo Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação, e, então, foi adotada a sigla (TDC). Em seguida, usando a sigla TDC e as palavras-chave Dificuldade motora infantil, Desenvolvimento Motor, Desenvolvimento da coordenação, Descoordenação Motora, Habilidade Motora, Capacidade Motora, Capacidade Funcional e Educação Especial para pesquisa, foram encontrados mais artigos atraentes, que levaram à escolha do tema e à adoção da sigla AVD para se referir às Atividades da Vida Diária. O critério utilizado para download dos artigos foi a leitura dos resumos e introduções; já o critério para fichamento de parágrafos foi a visualização das palavras que estavam relacionadas às utilizadas para pesquisa. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na literatura que envolve as áreas da saúde e educação, existe uma síndrome chamada Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação (TDC), que caracteriza os movimentos desajeitados de uma criança ao realizar simples atividades de automanutenção, movimentos funcionais do corpo e, até mesmo, quando se nota a disgrafia 4 e o bloqueio na compreensão da linguagem (TONIOLO; CAPELLINI, 2010, p. 110; MIRABELLA et al., 2017, p. 1). 4 Caligrafia deficiente (COELHO, 2012 apud FRANCESCHINI et al., 2015, p. 101).

40 No início do século XX, o deficit motor já era alvo de observação em crianças e adolescentes; entre os anos de 1926 e 1960, vários nomes foram atribuídos àquelas disfunções motoras, dificuldades de aprendizagem etc. A manifestação dos movimentos desajeitados por algum tempo foi chamada de dispraxia infantil e, em alguns casos observados, foi confundida com a síndrome de Wilians-Beuren 5 (GOMEZ; SIRIGU, 2015). Em 1994, após uma reunião internacional que aconteceu em Londres e Ontário com o objetivo de adotar uma terminologia oficial para ser utilizada como referência a essas disfunções motoras, o termo TDC (DCD), Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação (Developmental Coordination Disorder), foi aceito na literatura para facilitar o diálogo entre as áreas da saúde e educação. Em 2006, o consenso de Leed, em Londres, após observar a aceitação com grande número de estudos publicados usando a sigla TDC, reforçou a sustentação do termo utilizado por pesquisadores e clínicos internacionais, e até então a sigla vigente predomina na literatura ao se referir ao transtorno do desenvolvimento da coordenação (ZWICKER et al., 2012 apud PULZI; RODRIGUES, 2015, p. 436; SUGDEN, 2006 apud GOMEZ; SIRIGU 2015). O termo Atividades da Vida Diária (AVD) diz respeito aos movimentos que um indivíduo realiza com o objetivo de alterar algo em determinado momento, como [...]as tarefas que uma pessoa precisa realizar para cuidar de si, tais como tomar banho, vestir-se, ir ao banheiro, andar, comer, passar da cama para a cadeira, mover-se na cama e ter continências urinária e fecal (COSTA et al., 2006, p. 44), os cuidados de automanutenção, higiene e outros caracterizam as AVD. Segundo Bishop (2010 apud GOMEZ; SIRIGU 2015), quando se fala em distúrbios do desenvolvimento, o TDC é um dos menos estudados e compreendidos. Araújo (2010 apud PULZI; RODRIGUES, 2015, p. 434) afirma que o termo TDC ainda é pouco estudado no Brasil, e crianças com problemas de coordenação motora não têm diagnóstico formal nem assistência especializada, embora seja pensado que cerca de 6% das crianças sofram esse transtorno (KAGERER et al. 2006, p. 623, tradução nossa). Pelo fato dessa escassez de estudos e assistência especializada sobre o TDC, temos então um problema colossal no que se refere ao futuro pessoal, profissional, acadêmico e social das crianças portadoras de TDC. Uma revisão de literatura entre os anos de 2002 e 2012 (PULZI; RODRIGUES, 2015, p. 434) cita algumas dificuldades causadas pelo TDC nas AVD; entre elas, destacam-se os atos de vestir-se, despir- -se, amarrar cadarços de sapatos, abotoar a camisa etc. O mesmo estudo aponta também as dificuldades nas atividades lúdicas, como saltos ou dribles com uma bola ; por sua vez, Castelnau et al. (2007) concluíram que os portadores de TDC têm dificuldade em realizar as atividades de sincronização. Essas circunstâncias estimulam a exclusão social dentro e fora do ambiente escolar, uma vez que crianças com tais dificuldades motoras são menos habilidosas, e, infelizmente, os menos habilidosos são deixados de lado na formação de uma equipe, time, grupo ou caravana. Outra questão importante apontada pela literatura diz que crianças com dificuldades motoras apresentam baixos níveis de aptidão física relacionada à saúde em vários componentes, entre eles, a resistência cardiorrespiratória (CAIRNEY et al., 2007 apud SANTOS et al., 2012, p. 749). Isso levanta a seguinte reflexão: imagine uma criança com a resistência cardiorrespiratória comprometida, vivenciando uma situação na qual é necessário subir uma escada para chegar ao segundo andar de uma residência; ou mesmo correr mais rápido para alcançar a bola de futebol durante uma partida para que foi convidado a participar com os colegas; ou até mesmo uma situação de urgência, em que há necessidade de se livrar de algum imprevisto perigoso, como fugir de um cachorro bravo; como seriam tais situações? Outra situação de exemplo que demanda a capacidade cardiorrespiratória no que se refere a esforço físico funcional é citada por Missiuna et al. (2004 apud PULZI; RODRIGUES, 2015, p. 439), quando afirmam que [...]para as crianças que têm dificuldades de coordenação, a participação em atividades escolares que exijam um componente motor requer um grande esforço e, muitas vezes, não há sucesso, suscitando então o sentimento de impotência, frustração e constrangimento em relação aos demais. Será que essa criança em questão voltará a ser convidada para participar de uma brincadeira ou um jogo? E, se for escolhida, existirá ânimo suficiente para se juntar novamente aos demais? A autonomia e o conhecimento do professor, especialmente do professor de Educação Física, é muito importante nesse momento. Segundo Clark et al. (2005 apud PULZI; RODRIGUES, 2015, 5 Patologia cromossômica que leva ao distúrbio cognitivo e motor (TEIXEIRA et al., 2010, p. 2016).

p. 440), os professores de Educação Física podem considerar-se colaboradores essenciais na identificação do TDC, pois são treinados para observar e avaliar o movimento. Fica claro que cabe também a esse profissional orientar os familiares responsáveis e observar os alunos no intuito de detectar alterações e disfunções motoras, e, assim, junto aos pais ou responsáveis, fazer uma intervenção inteligente, objetivando o melhor desenvolvimento possível da criança com TDC. Maggi et al. (2014) diz que essas alterações já são detectáveis na idade pré-escolar e, por consequência da não identificação ou intervenção, o TDC é considerado um dos distúrbios mais comuns em crianças na idade escolar (WILSON, 2009 apud PULZI; RODRIGUES, 2015, p. 438). Crianças com TDC possuem dificuldades em realizar atividades de automanutenção, como se vestir, higiene pessoal e alimentação, quando comparadas a crianças de mesma faixa etária (TONIO- LO; CAPELLINI, 2010, p. 110). Por se referir às atividades de automanutenção, este ponto vem a ser um dos mais preocupantes sobre o tema: sabendo-se que os movimentos utilizados para efetuar a higiene pessoal são solicitados frequentemente, seja na escola, em casa ou em uma viagem, talvez essa seja uma das mais importantes características que uma criança precisa ter para não perder a autonomia durante e após a fase de crescimento. Como o assunto aponta para a criança em fase de desenvolvimento, essa evolução provavelmente ficará comprometida, já que a frustração da criança portadora de TDC é aguçada em todas as vezes que ela é comparada com as outras crianças da mesma idade. Tal frustração irá limitar a participação da criança em atividades coletivas e relações interpessoais que exigem comunicação. Sabe-se que, como qualquer outra condição, a habilidade de se comunicar também precisa ser praticada, e, visto que crianças com TDC podem deixar de praticá-la, isso irá gerar precocemente a inatividade e o desprazer pelo exercício físico e pela participação nos esportes, que necessita também de diálogos e interações. Dessa forma, aquela criança portadora de TDC, que posteriormente poderia vir a ter um estilo de vida ativo, agora fica em estado de inatividade, como mostra o estudo de Cairney et al. (2007 apud SANTOS et al., 2012, p. 749) quando afirma que as crianças com dificuldades motoras tendem a adotar um estilo de vida pouco ativo, cujo impacto tem implicações profundas para o comportamento, a qualidade de vida e a saúde em geral até a idade adulta (ZWICKER et al. 2009, p. 7, tradução nossa). Consequentemente, essa inatividade parcial influi negativamente no desenvolvimento cognitivo, na adoção de novas experiências e na socialização da criança, pois o movimento é essencial para o desenvolvimento das crianças, permitindo as interações em ambientes sociais e físicos e favorecendo a aquisição de diferentes tipos de experiências (DECONINCK et al. 2006 apud PULZI; RODRIGUES, 2015, p. 433). O estudo afirma também que crianças com indicativo de TDC podem apresentar comorbidades frequentes, tais como síndrome de Asperger 6, transtorno do deficit de atenção e hiperatividade, problemas estes que estão diretamente ligados aos conflitos cognitivos e à redução da saúde mental no final da adolescência (HARROWELL et al., 2017, [n.p.]). Outras adversidades em tarefas de automanutenção nas AVD são expostas em uma revisão de literatura entre os anos de 2002 e 2012, na qual Pulzi e Rodrigues (2015, p. 434) afirmam que os portadores de TDC apresentam disfunções motoras na hora de vestir-se, despir-se, amarrar cadarços de sapatos, abotoar a camisa e realizar outras AVD, uma vez que a habilidade de processar informações visuais também é notavelmente comprometida nesses indivíduos (WOOD et al., 2017, p. 2). Novamente, a perda de autonomia é evidenciada em crianças com TDC, que, nesse caso, precisam sempre ter alguém por perto para auxiliar em tarefas e atividades que outras crianças da mesma faixa etária conseguem realizar sozinhas. Ao se notar isso, o sentimento de inferioridade fará parte da rotina desses indivíduos, o que levará a autoestima a um quadro de instabilidade e declínio progressivo; dessa forma, a criança não terá ânimo para realizar as demais tarefas e atividades, sejam elas escolares ou não, e uma criança sem ânimo pode ter problemas para evoluir de modo geral. Os autores Pulzi e Rodrigues, (2015, p. 434) apontam ainda o fato de essas crianças manifestarem também dificuldades nas atividades lúdicas, como saltos ou dribles com uma bola, atividades que, por sua vez, fariam parte dos momentos de descontração e ludicidade da criança. Sem descontração, não só a criança com TDC, mas todas as crianças em fase em desenvolvimento ficam isoladas e antissociais, como afirmam Santos e Vieira, (2013, p. 234), quando dizem que tais limitações, a curto e longo prazo, interferem na qualidade da vida das crianças em questão. 41 6 Prejuízos na interação social (KLIM, 2006, p. 58).

42 No contexto escolar, crianças com dificuldades motoras são excluídas por seus colegas de brincadeiras e jogos, por não apresentarem competências suficientes nos movimentos motores (SANTOS; VIEIRA, 2013, p. 234 240). Os autores citados realizaram seu estudo em Maringá, PR, onde 581 crianças com idades entre sete e dez anos foram investigadas; mostrou-se que 6% dos analisados apresentavam TDC, os quais, entre as disfunções motoras, demonstraram maiores dificuldades para a habilidade com bola. Kagerer et al. (2004) afirmam que os portadores de TDC apresentam resistência à concentração, mas quando a atingem, dificilmente perdem o foco do que está sendo realizado. Quando se fala em jogar com os colegas, logo se imagina futebol, basquetebol, handebol e outros esportes e brincadeiras que envolvem uma bola; sendo assim, como ficaria o caso de uma criança com TDC que é deixada de lado pelos colegas por não ser tão apta quanto às demais da sua idade? Santos e Vieira, (2013, p. 235) afirmam que a disfunção motora [...] tem sido relatada pela literatura, com estimativa de 2 a 19% pelos países, causando uma preocupação mundial quanto à qualidade dos serviços oferecidos a essas crianças ; isso mostra que crianças com TDC são deixadas de lado ou são tratadas como se não apresentassem alterações e disfunções motoras. Provavelmente, essas disfunções motoras, esses problemas supracitados, essas dificuldades e exclusões expressadas representam um dos motivos que explica por que definha cada vez mais o desenvolvimento escolar, pessoal e social das crianças em discussão. A análise de Galvão et al. (2014), que teve como objeto de estudo 34 crianças com TDC, por meio de perguntas às mães e aos responsáveis, expôs várias complicações que as crianças apresentaram nas AVD, atividades lúdicas e escolares, entre elas: dificuldades em escovar os dentes, desenhar, pintar, segurar uma tesoura, pular corda, jogar peteca e jogar bola. Para lidar com o TDC, é necessário estudar o caso e ter atenção dobrada com os portadores. Nesse sentido, existe o risco de se perder a paciência com aqueles que manifestam disfunções motores, pois [...] o nível de assistência e tempo fornecido a crianças com TDC em tarefas rotineiras geralmente é maior do que o fornecido a crianças com desenvolvimento típico da mesma idade (SUMMERS et al., 2008 apud GALVÃO et al., 2014). A autora em questão ressalta ainda que apesar da constatação de dificuldades na realização das AVD e no brincar, estas não necessariamente eram vistas como um problema ou seja, um transtorno que é alvo de discussões internacionais nas áreas da saúde e educação, e que cresce cada dia ainda é visto por muitos como algo normal, que não merece intervenção; por que isso acontece? Talvez por falta de propagação dos principais aspectos negativos e das complicações que o TDC promove a curto e longo prazo. Outras limitações semelhantes são evidenciadas por Santos e Vieira, (2013, p. 234), que, em seu estudo, afirmam que as crianças com TDC, quando comparadas às outras da mesma faixa etária, manifestam certo declínio nas experiências motoras simples, como jogos, brincadeiras do cotidiano e, até mesmo, em atividades desenvolvidas nas aulas de Educação Física na escola. Dentro dessa mesma perspectiva, Debrabant et al. (2013) certificam que os portadores de TDC também apresentam menor vantagem de tempo de reação. A literatura menciona frequentemente essa questão 7, porque, ao se deparar com um(a) portador(a) de TDC, sem perceber, as pessoas tendem a fazer comparações entre a criança com disfunções motoras e a criança sem disfunções motoras, comparação equivocada que afasta a aplicação da devida atenção que a criança com TDC merece. Como o TDC interfere nas AVD e nas atividades escolares, os profissionais das áreas de educação e saúde precisam estar sempre atentos e preparados para investigar, perceber e tratar de maneira inteligente as alterações de coordenação motora fina e global, para, assim, minimizar o impacto do TDC e promover mais qualidade de vida aos portadores da disfunção (TONIOLO; CA- PELLINI, 2010, p. 114). Outro ponto importante é destacado por Santos et al., (2012, p. 754) quando se referem às crianças com TDC, que apresentam níveis inferiores no desempenho da aptidão física nos componentes físicos que envolvem potência/força explosiva e resistência muscular ; por sua vez, esses mecanismos são solicitados a todo momento nas atividades que exigem os movimentos funcionais do corpo humano, como o ato de sentar e levantar, andar e correr, subir e descer escadas, andar de bicicleta ou patins, enfim, tudo que uma criança faz ou precisa fazer ao longo de um dia, depende de desses componentes físicos. Segundo Pulzi e Rodrigues (2015, p. 433), a inter-relação entre ação, percepção e cognição é exigida quando exploramos e monitoramos um ambiente, quando resolvemos problemas, quando ex- 7 Ato de comparar as crianças com e sem TDC, levando em consideração a idade.

pressamos ideias e quando nos relacionamos com as pessoas. Santos et al. (2004, apud BELTRAME, 2016) reitera esse argumento, assegurando que quando a criança sai da zona de conforto e enfrenta as dificuldades motoras encontradas, o ato de vivenciar as mais variadas experiências motoras desenvolve uma habilidade fina para determinada situação, e a mediação desse processo pode partir do professor, dos pais ou de ambos. Nakata e Yabe (2001 apud LOPES et al., 2014, p. 160) defendem que as atividades musculares e o treino da coordenação motora devem ser realizadas desde o nascimento, pois o treinamento é um método dinâmico e eficiente para se aplicar naquilo que precisa ser desenvolvido, ou seja, naquilo que precisa ser praticado. Por meio de um ensaio clínico randomizado aplicado em vinte e um portadores de TDC com idade entre seis e oito anos, Wood et al. (2017, p. 2) mostraram que o treinamento progressivo dos movimentos mais comprometidos promove evolução positiva na expressividade, concentração, equilíbrio e realização das AVD. Um trabalho publicado em uma revista americana de pediatria selecionou cento e dezessete crianças portadoras de TDC com idade entre cinco e doze anos, dividiu-os em dois grupos e monitorou-os durante noventa dias. Enquanto um grupo de crianças ingeria ácidos graxos ômega-3, o outro fazia ingestão de placebo; assim, Alexandra e Montgomery (2005) evidenciaram que a suplementação de ômega-3 estimula o desenvolvimento neurológico e psiquiátrico nos portadores de TDC. 4. CONCLUSÃO Com o subsídio da discussão realizada durante o referencial teórico, pode-se afirmar que o TDC é alvo de pesquisa internacional tanto na área da saúde e quanto na da educação. Os estudos sobre essa temática mostram que a criança portadora de TDC: é vítima de exclusão social e frustração; tem dificuldades em realizar as AVD; tem o desenvolvimento cognitivo, intelectual e motor prejudicado; hesita nas relações interpessoais; apresenta limitação em vários aspectos físicos quando comparada às demais da mesma faixa etária; sente-se inferior aos outros; e precisa de auxílio o tempo todo. No caso de exclusão dentro do contexto escolar, o professor, com um bom nível de conhecimento e autonomia, pode promover a inclusão da criança com TDC em todas as atividades escolares, de maneira que esta se desenvolva junto aos demais; dessa forma, o ânimo e a autoestima da criança em questão não seriam mais um problema. Levando em consideração que o professor de Educação Física é treinado para observar e avaliar o movimento humano (CLARK et al., 2005 apud PULZI; RODRIGUES, 2015, p. 440), chamamos a atenção desse profissional para especular essa questão e assim trabalhar no sentido de detectar as principais dificuldades motoras, informar e orientar os pais ou responsáveis sobre os problemas encontrados e usar a criatividade para intervir nas situações quando assim for preciso, já que tais dificuldades motoras são manifestadas também durante as aulas de Educação Física (SANTOS; VIEIRA, 2013, p. 234). Sendo evidenciado o ato de se fazer comparação entre crianças da mesma idade, exposto por Toniolo e Capellini (2010, p. 110), recomenda-se mais cuidado ao administrar uma situação desse nível, uma vez que comparações assim provocam frustração e declínio na autoestima do indivíduo e, por conseguinte, estimulam a inatividade e o isolamento social por diminuição da prática de se comunicar e interagir (CAIRNEY et al., 2007 apud SANTOS et al., 2012, p. 749). Já que existe a possibilidade de se perder a paciência com os portadores de TDC, como relata Summers et al. (2008 apud GALVÃO et al., 2014), essa questão fica a cargo da posição de bom senso daquele que irá lidar com os portadores; logo, pressupõe-se que para estar à frente de um determinado público, é necessária preparação prévia para exercer tal função. Dado que a revisão da literatura expôs as várias dificuldades mais recorrentes que uma criança com TDC apresenta, o objetivo de divulgação destas foi alcançado; todavia, os demais objetivos propostos na introdução necessitam de tempo e vários outros fatores para serem atingidos. Por exemplo, no sentido de despertar a atenção e estimular a intervenção dos professores e responsáveis sobre a criança com TDC, é necessária a propagação dos principais efeitos colaterais que o TDC malcuidado pode gerar ao longo da vida, e se, posteriormente existir tal divulgação, não é possível saber se o problema será/ estará resolvido, pois dependerá também da consciência, aceitação e contribuição dos que recebem as informações. 43

44 Como afirmam Pulzi e Rodrigues (2015, p. 433), o tratamento do TDC por meio da prática de movimentos específicos gera melhoras significativas; nessa mesma perspectiva, os autores Deconinck et al. 2006 (apud PULZI; RODRIGUES, 2015, p. 433), e Wood et al. (2017, p. 2) afirmam que o movimento é essencial para se ter uma boa evolução motora. Sabendo então que a suplementação de ômega-3 também contribui para a evolução cognitiva dos portadores (ALEXANDRA; MONTGOMERY, 2005), deduz-se que o ato de praticar determinados movimentos e o cuidado alimentar auxiliam positivamente o desenvolvimento motor, cognitivo e intelectual dessas crianças. Portanto, certifica-se que o treinamento constante e progressivo juntamente com uma boa alimentação são ferramentas importantes para se usar no tratamento/combate do TDC (MILES, 2015). Visto que o TDC ainda é pouco estudado no Brasil e os portadores recebem pouco ou nenhum tratamento, sugerem-se mais pesquisas sobre o tema, pois pouco se sabe sobre sua etiologia (KAGERER et al. 2006, p. 623). Apesar disso, uma revisão sistemática publicada na revista americana Neuroscience & Biobehavioral Reviews sugeriu algumas hipóteses sobre as causas do TDC, entre elas o parto pré-termo e as anormalidades cerebrais congênitas; todavia são hipóteses baseadas em estudos aplicados apenas na população americana (ADAMS et al. 2014). Dessa forma, os métodos de tratamento encontrados na literatura podem ser aplicados e vulgarizados ao máximo. Logo, o presente artigo deixa explícita a necessidade de divulgação, prevenção e tratamento do TDC, a fim de promover mais qualidade de vida e liberdade pessoal, profissional e social aos portadores, e, assim, ajudar a resgatar a autonomia daqueles que a tem perdido, daqueles que estão perdendo, e dos que estão sujeitos a perder. REFERÊNCIAS ADAMS, I. L. J. et al. Compromised motor control in children with DCD: a deficit in the internal model a systematic review. Neuroscience & Biobehavioral Reviews, v. 47, p. 225-244, 2014. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/ pubmed/25193246>. Acesso em: 3 ago. 2017. ALEXANDRA, J.; MONTGOMERY, P. A randomized, controlled trial of dietary supplementation with fatty acids in children with Developmental Coordination Disorder. Pediatrics, v. 115, n. 5, 2005. Disponível em: <http://pediatrics.aappublications. org/content/115/5/1360>. Acesso em: 3 ago. 2017. BELTRAME, T. S. et al. Desenvolvimento motor e autoconceito de escolares com transtorno do desenvolvimento da coordenação. ABRAPEE, Maringá, v. 20, n. 1, 2016 Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/pee/v20n1/2175-3539- pee-20-01-00055.pdf>. Acesso em: 3 ago. 2017. CASTELNAU, P. et al. Developmental Coordination Disorder pertains to a deficit in perceptuo-motor synchronization independent of attentional capacities. Human Movement Science, v. 26, p. 477-490, 2007. Disponível em: <https://www. ncbi.nlm.nih.gov/labs/articles/17475354/>. Acesso em: 3 ago. 2017. COSTA, E. C. et al. Capacidade de idosos da comunidade para desenvolver atividades de vida diária e atividades instrumentais de vida diária. Act. Paul. Enferm., v. 19, n. 1, p. 43-48, 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s0103-21002006000100007&script=sci_abstract&tlng=pt>. Acesso em: 3 ago. 2017. DEBRABANT, J. et al. Neural underpinnings of impaired predictive motor timing in children with Developmental Coordination Disorder. Research in Developmental Disabilities, v. 34, p. 1478-1487, 2013. Disponível em: <https://www. ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23474999>. Acesso em: 3 ago. 2017. FRANCESCHINI, B. T. et al Distúrbios de aprendizagem: disgrafia, dislexia e discalculia. Rev. Educação, Batatais, v. 5, n. 2, p. 95-118, 2015. Disponível em: <http://www.claretianobt.com.br/revista/p7apqhwlf >. Acesso em: 3 ago. 2017. GALVÃO, B. A. P. et al. Percepção materna do desempenho de crianças com Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação. Rev. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 19, n. 3, p. 527-538, 2014. Disponível em: <http://www.revistas.usp.br/rto/article/ viewfile/14023/15841>. Acesso em: 3 ago. 2017. GOMEZ, A.; SIRIGU, A. Developmental Coordination Disorder: core sensori-motor deficits, neurobiology and etiology. Neuropsychologia, v. 79, p. 272-287, 2015. Disponível em: <https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26423663>. Acesso em: 3 ago. 2017.

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