Cerveja e Risco Cardiovascular



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Transcrição:

Cerveja e Risco Cardiovascular Martin Bobak Departmento de Epidemiologia e Saúde Pública University College London

Antecedentes Muitos estudos referem o efeito cardio protector do consumo moderado de bebidas alcoólicas, especialmente o vinho A cerveja está a tornar-se cada vez mais popular mas só poucos estudos abordam o seu efeito sobre as doenças no coração A comparação entre consumidores de vinho e cerveja pode induzir em erro porque os consumidores de vinho tinto têm, em regra geral, um nível sócio económico mais elevado e menor risco de doenças

Relative risk Consumo de Álcool e Doenças Cardio Vasculares a linha em forma de U ou J 1.1 1 0.9 0.8 0.7 0.6 0.5 None <1 /day 1 /day 2-3 /day 4+ /day From Thun et al, 1997 Alcohol consumption (drinks / day)

Relative risk Relação entre consumo de álcool e mortalidade devido a doenças cardiovasculares em homens e mulheres 1.1 1 0.9 0.8 0.7 0.6 0.5 0.4 None 1-7/w 8-21/w >21/w Alcohol consumption (drinks / week) Non-wine drinkers Wine drinkers

Questões 1. O efeito da cerveja é semelhante ao das outras bebidas alcoólicas, designadamente o vinho? 2. Pode o problema da preferência da bebida ser evitado? 3. Qual a relação entre a cerveja e obesidade ( barriga de cerveja ), já que a obesidade é um factor de risco de doença cardiovascular?

1ª e 2ª Questões Estudo populacional com controlo casuístico a partir do registo MONICA na República Checa, que cobre 6 concelhos daquele país 45 64 anos Casos: todos os enfartes de miocárdio identificados pelo registo MONICA entre Março de 1992 e Junho de 1993 Controlo: amostra aleatória da população sem história de doença cardíaca, examinados em 1992

Metodologia Questionário de auto preenchimento, vigiado por um enfermeiro/a Frequência de consumo da bebida Consumo habitual de cerveja, vinho e bebidas espirituosas durante uma semana Na análise só foram considerados a) os não consumidores de bebidas alcoólicas (abstémios) e b) os consumidores exclusivos de cervejas (não consumidores habituais de bebidas espirituosas ou vinho) Assim, eliminou-se a possibilidade de confusão sobre a preferência da bebida alcoólica.

Validação da ingestão de cerveja Comparação de dois métodos de ingestão de cerveja e álcool em diferentes ocasiões: Ingestão semanal de cerveja (questionário) Ingestão de cerveja nas 24 horas anteriores (entrevista) Avaliação da correlação entre os dois métodos de ingestão

Ingestão média nas 24 horas anteriors (litros) Mean beer intake in 24-h recall (L) Validação do Consumo de Cerveja nas 24 horas anteriores, homens (n=945) 1.4 1.437 1.2 1 0.8 0.788 0.6 0.4 0.2 0.074 0.168 0.393 0 Nondrinkers <1 L 1-3.5 L 3.6-7 L >7 L Weekly intake Ingestão semanal em litros

Ingestão média nas 24 horas anteriors (litros) Mean beer intake in 24-h recall (L) Validação do Consumo de Cerveja nas 24 horas anteriores, mulheres (n=1052) 1 0.8 0.6 0.4 0.2 0 0.308 0.166 0.013 0.086 Non-drinkers <1 L 1-3.5 L >3.5 Weekly intake Ingestão semanal em litros

Taxa de probabilidade Odds ratio Frequência de consumo de cerveja e risco de enfarte de miocárdio em homens Risco relativo ajustado à idade. Índice de confiança de 95% 1.4 1.2 1 0.8 0.6 0.4 0.2 0 Never <1/month <1/ week 2-5/ week ~once a day Twice a day

Taxa de probabilidade Odds ratio Frequência de consumo de cerveja e risco de enfarte de miocárdio em homens Risco relativo completamente ajustado 1.4 1.2 1 0.8 0.6 0.4 0.2 0 Never <1/month <1/ week 2-5/ week ~once a day Twice a day * Ajustado p/ idade, tabaco, proporção cintura-anca, educação, alto colesterol e antecedentes de diabetes

Taxa de probabilidade Odds ratio 1.4 1.2 Ingestão semanal de cerveja e enfartes do miocárdio em homens Risco relativo ajustado à idade 1 0.8 0.6 0.4 0.2 0 <0.5L 0.5-4 L 4-9 L 9+ L

Taxa de probabilidade Odds ratio Frequência de consumo de cerveja e enfartes do miocárdio em mulheres Risco relativo ajustado à idade 1.4 1.2 1 0.8 0.6 0.4 0.2 0 Never <1/month <1/ week 2-5/ week ~once a day Twice a day

Odds ratio Ingestão semanal de cerveja e enfarte de miocárdio em mulheres Risco relativo ajustado à idade 1.4 1.2 1 0.8 0.6 0.4 0.2 0 <0.5L 0.5-4 L 4-9 L 9+ L

3ª Questão Há relação entre cerveja e obesidade (barriga de cerveja)? Estudo transversal 6 Concelhos da República Checa Amostragem aleatória de 891 homens e 1098 mulheres com idades entre os 25 e os 64 anos Quantidade de cerveja ingerida medida por questionário Excluídos os consumidores de vinho e bebidas espirituosas Índices de obesidade medidos num clínica Abdominal (proporção cintura-anca PCA) Geral (índice de massa corporal)

Valor mediano de PCA por grupo de ingestão de cerveja - homens (comparação com abstémicos) 0.05 0.04 0.03 0.02 0.01 0-0.01 Nondrinkers <1 L/d 1-3.5 L/d 3.6-7 L/d >7 L/d Age-adj. Multivariate* Linear trend: age-adj. p=0.001; multivariate p=0.143 * Ajustado p/ idade, tabaco, proporção cintura-anca, educação, alto colesterol e antecedentes de diabetes

Valor mediano de PCA por grupo de ingestão de cerveja mulheres (comparação com abstémicos ) 0.03 0.02 0.01 0-0.01-0.02-0.03 Non-drinkers <1 L/d 1-3.5 L/d 3.6-7 L/d Age-adj. Multivariate* Linear trend: age-adj. p=0.813; multivariate p=0.938 * Ajustado p/ idade, tabaco, proporção cintura-anca, educação, alto colesterol e antecedentes de diabetes

Valor mediano de massa corporal por grupo de consumo - homens (comparação com abstémicos) 0.5 0.25 0-0.25-0.5 Nondrinkers <1 L/d 1-3.5 L/d 3.6-7 L/d >7 L/d Age-adj. Multivariate* Linear trend: age-adj. p=0.831; multivariate p=0.891 * Ajustado p/ idade, tabaco, proporção cintura-anca, educação, alto colesterol e antecedentes de diabetes

2 Valor mediano de massa corporal por grupo de consumo - mulheres (comparação com abstémicos) 1 0-1 -2 Non-drinkers <1 L/d 1-3.5 L/d 3.6-7 L/d Age-adj. Multivariate* Linear trend: age-adj. p=0.030; multivariate p=0.098 * Ajustado p/ idade, tabaco, proporção cintura-anca, educação, alto colesterol e antecedentes de diabetes

Conclusões O consumo moderado de cerveja está associado à redução do risco de enfarte cardíaco O consumo moderado de cerveja não está associado à cerveja, abdominal ou geral Neste estudo eliminou-se a variável do tipo de bebida alcoólica preferida Resultados semelhantes aos verificados nesta população foram revelados na Baviera e no País de Gales (regiões onde também se consome cerveja regularmente) O efeito protector da cerveja em relação a ataques cardíacos é provavelmente devido ao etanol, mais do que a outras substâncias

Percentage change in biomarkers associated with intake of 30 g of alcohol a day (from Rimm et al, BMJ 1999; 319: 1523-28)