A MÚSICA COMO EVIDÊNCIA NA REDAÇÃO DO ENEM Odair José Silva dos Santos Nataly Lemes Valdez Ricardo Schwaab 1. Introdução A produção textual, seja texto dissertativo ou outra modalidade, pode ser caracterizada como uma das principais portas de entrada no Ensino Superior atualmente, o que concretiza a necessidade de se pensar essa prática no âmbito escolar (e fora dele). Nessa perspectiva, a proposta de projeto aqui delineada visa a pensar um dos itens que compõe o texto dissertativo-argumentativo: a evidência. Para discutir e desenvolver essa proposta, trabalharemos com a canção como evidência para que o aluno tenha instaurado as condições iniciais de produção textual, ao passo que julgamos que ela possa ser um ótimo recurso a ser utilizado pelos alunos na prática textual. Assim, descrevemos, a seguir, a proposta de projeto. 2. Objetivos A fim de atender as expectativas de produção textual, por meio de reflexões usando canções, delineiam-se para esta proposta os seguintes objetivos: desenvolver práticas textuais, a partir do tipo dissertativo-argumentativo, nas aulas de Língua Portuguesa; aprimorar o uso de evidências nos textos dissertativo-argumentativos; trabalhar com a canção como evidência textual. 3. Pressupostos teóricos e metodológicos As diretrizes curriculares de língua portuguesa no estado do Paraná, bem como seu ensino, ao longo da última década, tem sido objeto de reflexão e transformação por parte dos docentes desse sistema de ensino. A implementação de tais políticas curriculares para o ensino médio público visa a atender as demandas de uma paginas.ufrgs.br/revistabemlegal REVISTA BEM LEGAL Porto Alegre v. 6 nº 2 2016 429
sociedade em constante transformação, que reflete em múltiplos contextos sua multiplicidade e contradições. Partindo desse pressuposto, e, conforme o que preconiza as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná - Língua Portuguesa DCE (2008), o professor de língua portuguesa, ao oportunizar que o aluno reflita sobre as temáticas de sua sociedade por meio dos gêneros textuais argumentativos, contribui para a formação de um cidadão crítico. Nesse sentido, Koch e Elias (2008, p. 102) afirmam que os indivíduos desenvolvem uma competência metagenérica que lhes possibilita interagir de forma conveniente, na medida em que se envolvem nas diversas práticas sociais. Portanto, as práticas de escrita de textos argumentativos permitem ao estudante constituir uma nova prática social. Travaglia, Araújo e Alvim (2007, p. 56) defendem o ensino de língua portuguesa como um recurso de que o aluno se servirá para se situar no convívio social e para adquirir conhecimentos que lhe permitam viver mais conscientemente dentro do mundo. O projeto é elaborado para uma duração prevista de 10 aulas, contendo 2h/a cada, porém pode ser adaptado conforme a realidade de cada turma. 1 ETAPA Definir, apresentar e discutir com os alunos sobre a evidência. Sugestão: escolher um tema que já tenha sido trabalhado em sala de aula e propor que os alunos levantem exemplos de diferentes naturezas e áreas do conhecimento (fato histórico, filme, obra literária, canções, dados de pesquisas, relato de autoridades/citações, etc.) e, dessa forma, caracterizar a evidência. 2 ETAPA Os alunos são convidados a refletir sobre os 10 últimos temas do ENEM. Nesse momento o professor poderá levar os temas e discutir com os alunos que argumentos paginas.ufrgs.br/revistabemlegal REVISTA BEM LEGAL Porto Alegre v. 6 nº 2 2016 430
e evidências poderiam ser usados dentro de cada tema. Essa atividade pode ser em grupos. 3 ETAPA A partir dos últimos 10 temas do ENEM, solicitar aos alunos uma pesquisa de qual (quais) canções poderiam servir como exemplo na confecção de um possível texto dissertativo-argumentativo. 4 ETAPA Com a pesquisa realizada, a tarefa é discutir, no âmbito da turma, todos os temas e canções. Essa atividade pode ser feita na sequência dos temas, onde cada aluno pode apresentar brevemente o que pesquisou e, ao fim de cada tema, provocar um debate. Na sequência apresentamos um quadro que pode também ser trabalhado pelo professor. Ano Tema Canção 2015 A persistência da violência contra a mulher Geni e Zepelim Chico na sociedade brasileira Buarque de Holanda; Maria da Vila Matilde ( Porque se a da Penha é brava, imagine a da Vila Matilde ) Elza Soares; 2014 Publicidade infantil em questão no Brasil Consumo Plebe Rude 2013 Efeitos da implantação da Lei Seca no Brasil Dezesseis Legião Urbana; O dia que não terminou Detonautas Roque Club paginas.ufrgs.br/revistabemlegal REVISTA BEM LEGAL Porto Alegre v. 6 nº 2 2016 431
2012 O movimento imigratório para o Brasil no século XXI Sonho imigrante Milton Nascimento; Ave sonora João Chagas Leite 2011 Viver em rede no século XXI Admirável chip novo Pitty; 2010 O trabalho na construção da dignidade humana Marvin Titãs; Fé na luta Gabriel, o pensador. 2009 Valorização do Idoso A terceira idade Leci Brandão, 2008 A máquina de chuva da Amazônia Asa Branca Luiz Gonzaga; 2007 O desafio de conviver com a diferença Zé do Caroço Leci Brandão 2006 O poder de transformação da leitura Dom Quixote Engenheiros do Havaí; Quadro 1: Temas e canções Fonte: Elaboração dos autores 5 ETAPA Após os debates dos temas, somadas às discussões das canções, solicitase a escrita aos alunos. Aqui o professor pode usar de diferentes procedimentos; uma sugestão seria fazer por ordem de tema, onde há a sequência: debate escrita correção do texto reescrita; ou ainda: todos os debates escolha de um tema escrita correção do texto reescrita. A respeito da etapa de correção, partimos do pressuposto por Ruiz (2001, p. 15) de que O que dá certo numa correção é o tipo de leitura que o professor faz da produção. Para a autora, o estilo tradicional de correção, que não toma o texto todo como uma unidade de sentido, e, por outro lado, atém-se em marcar de vermelho erros pontuais (ortografia e pontuação, por exemplo), paginas.ufrgs.br/revistabemlegal REVISTA BEM LEGAL Porto Alegre v. 6 nº 2 2016 432
para assim devolvê-lo ao aluno, interrompendo o processo nesta etapa, não promove uma interferência positiva no processo de aquisição de escrita pelo aluno. A quantidade de textos a serem produzidos pelos alunos pode variar de acordo com o tempo de que o professor dispõe para aplicação do projeto, o que salientamos é a necessidade de participação dos alunos na pesquisa e debate, bem como de o professor como mediador e possibilitador do momento de escrita e reescrita, uma vez que partimos de uma visão de escrita como trabalho, como construção, dentro de um modelo que admite etapas [...]. Assim, a revisão não é apenas uma das fases de produção de um texto, mas, sobretudo, aquela que demonstra esse caráter processual da escrita (RUIZ, 2001, p. 35). paginas.ufrgs.br/revistabemlegal REVISTA BEM LEGAL Porto Alegre v. 6 nº 2 2016 433
Referências KOCH, Ingedore Villaça; ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender: os sentidos do texto. 2. Ed. São Paulo: Contexto, 2008. PARANÁ (Estado). Secretaria de Estado da Educação do Paraná. Departamento de Educação Básica. Diretrizes curriculares da educação básica: língua portuguesa - DCE. Curitiba: 2008. RUIZ, Eliana Maria Severino Donaio. Como se corrige redação na escola. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2001. TRAVAGLIA, Luiz Carlos; ARAÚJO, Maria Helena Santos; ALVIM, Maria Teonila de Faria. Metodologia e prática de ensino da Língua Portuguesa. 4. ed. Uberlândia: EDUFU, 2007. paginas.ufrgs.br/revistabemlegal REVISTA BEM LEGAL Porto Alegre v. 6 nº 2 2016 434
Odair José Silva dos Santos Doutorando em Letras pela Universidade de Caxias do Sul - UCS - (Bolsista Capes - Prosup/Taxa), Mestre em Letras, Cultura e Regionalidade pela UCS (2014), especialista em Língua Portuguesa pelo Centro Universitário Barão de Mauá (2012) e graduado em Letras - Língua Portuguesa, Espanhola e respectivas literaturas - pela Universidade da Região da Campanha - URCAMP (2010). Atualmente é membro convidado do GTLex da ANPOLL; é professor da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE) nas áreas de Língua e Literatura; tem investigações e interesse nas seguintes áreas: Lexicologia, Música, Estudos do Texto, Produção e Efeitos de Sentido. Nataly Lemes Valdez Pedagoga e especialista em Docência do Ensino Superior, Centro Universitário Dinâmica das Cataratas - UDC. Atualmente, é estudante de Letras Português/Espanhol, na Universidade Estadual do Oeste do Paraná - Unioeste, campus de Foz do Iguaçu. Tem interesses nos estudos de gêneros discursivos, análise de discurso, linguística textual e Pedagogia Histórico-Crítica. Ata profissionalmente na rede estadual de ensino do estado do Paraná, ministra aulas de filosofia e sociologia no curso pré-vestibular da Unioeste, campus de Foz do Iguaçu. Possui experiência como pedagoga em contexto não escolar (ONG). paginas.ufrgs.br/revistabemlegal REVISTA BEM LEGAL Porto Alegre v. 6 nº 2 2016 435
Ricardo Schwaab É estudante de Letras Português/Inglês, na Universidade Estadual do Oeste do Paraná - Unioeste, campus de Foz do Iguaçu. É professor de redação no Curso Pré-vestibular da Unioeste, além de participar como pesquisador do Observatório Léxico-Semântico do Português Lex-Sem. Tem interesse nos estudos de gêneros discursivos, linguística textual e aspectos semânticos da língua. paginas.ufrgs.br/revistabemlegal REVISTA BEM LEGAL Porto Alegre v. 6 nº 2 2016 436