EDUCAÇÃO INCLUSIVA: CONCEPÇÕES DOS PARTICIPANTES DO CURSO DE ATENDIMENTO EDUCACIONAL ESPECIALIZADO PARA ALUNOS SURDOS INTRODUÇÃO SILVA, Duarte Araújo Silva; DUARTE, Ana Beatriz da Silva. Esse trabalho apresenta dados de uma pesquisa realizada no Curso de Aperfeiçoamento em Educação Especial e Atendimento Educacional Especializado para Pessoas Surdas, desenvolvido pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU) por meio do Centro de Ensino, Pesquisa, Extensão e Atendimento em Educação Especial (CEPAE) e constitui-se como uma vertente da rede de formação continuada à distância de professores em Educação Especial do Ministério da Educação (MEC) e Secretaria de Educação Especial (SEESP), em parceria com a Universidade Aberta do Brasil (UAB). Tem como objetivo identificar a influência de um curso de extensão no processo de formação continuada de professores acerca das concepções de Educação Inclusiva. O presente estudo pretende, portanto, identificar as concepções de Educação Inclusiva dos professores cursistas da primeira turma, formada em 2010, e discutir a influência de processos formativos, como esse curso, na reconstrução das concepções dos professores no início e final do curso. O Curso Básico de Aperfeiçoamento em Educação Especial e Atendimento Educacional Especializado para Pessoas Surdas tinha o objetivo de oferecer formação continuada à distância, via web, para educadores que atendiam ou pretendiam atender alunos surdos na modalidade de Atendimento Educacional Especializado. A forma de interação e comunicação entre tutores e alunos foi efetivada, exclusivamente, no Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) Moodle. Rodrigues (2005) citando Boaventura Sousa Santos ao falar de um metadireito que é o direito de ter direitos diz que todos temos direito a ser iguais quando a diferença nos diminui e todos temos o direito a ser diferentes quando a igualdade nos descaracteriza. Desta forma, a Educação Inclusiva tem respaldo científico desde sua origem, que vem sendo debatida e determinada por cientistas sociais há anos. A escolha do termo Necessidades Educacionais Especiais (NEE) reflete o fato de que os educandos com deficiência ou com dificuldades de aprendizagem podem apresentar necessidades educacionais de gravidades distintas em diferentes momentos. Esta nova terminologia, NEE, propõe que o principal objetivo das mudanças é educar os educandos com necessidades educacionais especiais na escola regular de maneira que foque a homogeneidade em termos de igualdade social. A finalidade do esforço é a educação desses educandos. É, antes de tudo, o tipo de escola, sua flexibilidade curricular e a capacidade dos professores para conduzir o processo de ensino com educandos heterogêneos
que permitirão que um educando, mesmo com NEE graves e permanentes, possa ser escolarizado numa classe comum, com apoios científicos, sociais e estruturais para o professor e para o próprio educando. Desta forma, a inclusão busca a convivência e a aprendizagem em grupo delineando-as como o melhor meio de beneficiar a todos, não somente as crianças rotuladas como diferentes. METODOLOGIA A busca pela compreensão das concepções de Educação Inclusiva presentes nas práticas exercidas em escolas públicas impulsionou o desenvolvimento desta pesquisa que teve como premissa identificar, discutir e analisar as concepções iniciais e finais, de professores participantes de um Curso de Aperfeiçoamento em Educação Especial e Atendimento Educacional Especializado para Pessoas Surdas. Coletamos os dados sobre a aprendizagem das (os) cursistas nos questionários respondidos por eles no início e final do curso. Entre os temas abordados estão: Introdução à Educação à Distância; Marcos Legais e Políticos da Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva; Atendimento Educacional Especializado para Alunos Surdos; Noções Básicas de Libras e Noções Básicas de Português como Segunda Língua. Inscreveram-se no curso 300 pessoas, mas optamos por trabalhar com dados de duas turmas, num total de 51 alunos. Desses, apenas 33 sujeitos responderam à pergunta inicial e 23 responderam à pergunta final. As variáveis apresentadas pelo grupo de inscritos no curso de formação são as seguintes: sobre a última formação 14 possuem graduação; 18 especialização e um possui mestrado. O ano de conclusão do último nível acadêmico varia do ano 2000 a 2009. Questionamos se os cursistas realizaram algum curso de formação continuada nos últimos cinco anos e 24 afirmaram que sim e nove não haviam participado de nenhum até o presente curso. Vale mencionar que destes 24 sujeitos que participaram de outros cursos de formação continuada, 16 estão relacionados à área de Educação Especial. Assim, consideramos que a maior parte dos sujeitos analisados estão em processo de formação continuada na área de Educação Especial. RESULTADOS No início do curso, os alunos tinham que responder um questionário sobre alguns temas relacionados à Educação Especial, entre eles, tinham que conceituar Educação Inclusiva. E ao final do curso de aperfeiçoamento retomamos a pergunta, questionando novamente sobre como os cursistas estariam entendendo a Educação Inclusiva, após estudos, participação em fóruns, discussões e debates sobre o tema. Utilizamos as respostas dos cursistas para análises e reflexões da presente pesquisa. Dos 51 alunos das duas turmas pesquisadas, apenas 33 sujeitos responderam à pergunta inicial e desses somente 23 responderam à pergunta final. Ao analisarmos as respostas dos cursistas, detectamos que a maioria menciona que a Educação Inclusiva é uma lei que garante o direito a todos à Educação, como demonstra a seguinte afirmação: Educação Inclusiva é a nova política da Educação Especial que contempla a Educação para todos, com garantias de acesso na escola pública com qualidade e aprendizagem. (Sujeito 24) Encontramos também cinco sujeitos que mencionam que a Educação Inclusiva como uma Educação que deve contemplar e respeitar as diferenças entre os alunos: 2
Educação Inclusiva trata-se da Educação como direito também para as pessoas com necessidades especiais, tal direito abrange desde a matrícula na rede regular de ensino (acesso) e acompanhamento do educando para que o mesmo se desenvolva respeitando suas limitações, como linguagem, acessibilidade, mobilidade com recursos materiais e humanos que favoreçam a aprendizagem do aluno. (Sujeito 25) Encontramos também nas respostas de seis sujeitos que mencionam que a Educação Inclusiva consiste em incluir todas as pessoas na escola: É incluir o aluno no meio escolar participando de tudo da escola. (Sujeito 1) Vale mencionar que oito sujeitos não conseguiram conceitualizar Educação Inclusiva. Percebemos que os sujeitos pesquisados possuíam no início do curso concepções diferenciadas de Educação Inclusiva, mas, em linhas gerais, a consideravam como uma oportunidade para que todas as pessoas tivessem acesso à Educação. Infelizmente sabemos que muitas vezes essas concepções não são concretizadas por meio de práticas includentes e dialógicas nas escolas, pelo contrário, nos deparamos na maioria das vezes com profissionais que ao se depararem com a necessidade de inclusão dentro da sua sala, se negam a desenvolverem estudos e acolher da melhor forma esses alunos. Ao analisarmos os registros dos sujeitos feitos no último dia de encontro, conseguimos identificar três grupos, conforme abaixo: 1- Educação Inclusiva como um ensino para todos: Educação Inclusiva é a Educação feita onde todos têm direito a ela, sem restrição a raça, cor ou algum tipo de deficiência. (Sujeito 2) A Educação Inclusiva é uma modalidade de ensino que atende a todos. (Sujeito 5) 2 - Educação Inclusiva como escola para alunos com deficiência, diferenças ou necessidades especiais: Eu sei que a Educação Inclusiva implica um ensino adaptado às diferenças e necessidades individuais de cada aluno e que os educadores (todos os membros da equipe escolar) estejam preparados para atuarem de forma competente junto aos alunos inseridos. (Sujeito 3) A Educação Inclusiva entende o processo de inclusão dos portadores de necessidades especiais ou de distúrbios de aprendizagem na rede comum de ensino em todos os seus graus, da Educação Infantil ao Ensino Superior. (Sujeito 14) 3
Encontramos também cinco sujeitos que não conceituaram Educação Inclusiva, mas destacaram a questão da formação dos profissionais para atuarem na área, como demonstra o depoimento a seguir: Exige uma grande demanda de recursos, profissionais e comprometimento dos mesmos, além de um trabalho de troca para o sucesso da prática pedagógica. (Sujeito 19) Nessa perspectiva, Gotti (1988) destaca que a universidade, além de proporcionar cursos de aperfeiçoamento e de pós-graduação, deve envolver-se em pesquisas sobre o ensino aos portadores de necessidades especiais, desenvolvendo instrumentos e recursos que facilitem a vida dessas pessoas. Apesar de a necessidade de preparação adequada dos agentes educacionais estar preconizada na Declaração de Salamanca (BRASIL, 1994) e na atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação (BRASIL, 1996) como fator fundamental para a mudança em direção às escolas integradoras, o que tem acontecido nos cursos de formação docente, em termos gerais, é a ênfase dada aos aspectos teóricos, com currículos distanciados da prática pedagógica, não proporcionando, por conseguinte, a capacitação necessária aos profissionais para o trabalho com a diversidade dos educandos. DISCUSSÃO No contexto de mudança em que vive a educação em nosso país em busca de nossas formas de educação escolar com alternativas menos exclusivistas e com reconhecimento da Educação Inclusiva como política educacional do país, ressaltamos a partir doss resultados encontrados em nosso trabalho que precisamos avançar em nossas concepções de Educação Inclusiva. Vale destacar que as reflexões e diálogos que construímos com os cursistas, nos mostraram que a Educação Inclusiva deve ser compreendida como uma política educacional em que todos os alunos tenham acesso e permaneçam na escola com sucesso no processo aprendizagem. Para torna-se inclusiva é preciso que a escola reestruture seu currículo no que diz respeito à formação de professores, projeto político-pedagógico, recursos didáticos, metodologia, estratégias de ensino e avaliação. Sobretudo, percebemos nos diálogos tecidos nesse trabalho que estamos caminhando gradativamente em direção a uma Educação Inclusiva, em busca de uma educação mais democrática e menos excludente. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: BRASIL (1994). Declaração de Salamanca e linha de ação sobre necessidades educativas especiais. Brasília: CORDE. BRASIL (1996). Ministério da Educação e do Desporto Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília, DF. GOTTI, M. O. (1998). Integração e inclusão: nova perspectiva sobre a prática da educação especial. Em M. Marquenzine (Org.), Perspectivas multidisciplinares em educação especial (pp.365-372). Londrina: Ed. UEL. 4
RODRIGUES, Davi; KREBS, Ruy; FREITAS, Soraia (orgs) Educação Inclusiva e Necessidades Educacionais Especiais. Santa Maria, Ed. UFSM, 2005. 5