ACÓRDÃO 9a Turma PROCESSO: 00185-2007-043-01-00-0 RTOrd SEGURO DE VIDA EM GRUPO. CONTRATAÇÃO DE EMPRESA SEGURADORA. NÃO CUMPRIMENTO DAS OBRIGAÇÕES POR PARTE DA EMPREGADORA-ESTIPULANTE. EFEITOS. Todo e qualquer seguro contratado há de ter fonte de custeio. Deixando o empregador de cumprir com essa obrigação passou a ser responsável pela indenização que o empregado deixou de perceber da seguradora, em razão do inadimplemento, nos termos do art. 129 do CCB/2002. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de recurso ordinário em que são partes: TELSUL SERVIÇOS S.A., como Recorrente, e JUSSARA CAMPOS NEVES, como Recorrida. A r. sentença de fls. 173/175, proferida pelo MM. Juízo da 43ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, da lavra da Exmº Juíza Cláudia de Abreu lima Pisco, julgou extinta a Reclamação em face da 2a Ré -UNIBANCO AIG SEGUROS E PREVIDÊNCIA S.A., em face da incompetência absoluta ratione materiae e julgou procedentes os pedidos formulados na petição inicial, em face da 1a Ré - TELSUL SERVIÇOS S.A., condenando-a na quitação de seguro de vida no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais) e na indenização por danos morais, no valor de R$ 1. 500,00 (mil e quinhentos reais). 20506 1
Inconformada a Reclamada interpõe recurso ordinário (fls. 176/179), requerendo a reforma da decisão alegando, em síntese, que preencheu todos os dados e cumpriu com todas as suas obrigações quanto ao cadastramento e custeio do seguro de vida em grupo previsto na norma coletiva da categoria. Aduz, que tendo sido diligente e tendo cumprido com suas obrigações não é cabível sua condenação na quitação do seguro de vida, tampouco na indenização por danos morais. Assevera, ainda, que não há caracterização e prova de que que a Autora tenha sofrido violação de alguns dos bens jurídicos contemplados no art. 5, inciso X, da CRFB/88, o que afasta, também por esse motivo, a condenação em questão. Custas e depósito recursal às fls. 180 e 181 pela Ré. primeiro grau. Contra-razões às fls. 186/198, pela manutenção da decisão de Deixo de encaminhar os autos ao douto Ministério Público do Trabalho, pois não configurada qualquer das hipóteses previstas no artigo 85, I, do Regimento Interno, do E. Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região. É o relatório. DO CONHECIMENTO Conheço do recurso ordinário interposto pela Primeira Reclamada (Telsul), por preenchidos os pressupostos de admissibilidade. DO MÉRITO DO SEGURO DE VIDA Sustenta a Reclamada ser incabível a condenação na quitação do 20506 2
seguro de vida, no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), estabelecido em face do ex-empregado, Sr. Cesar Neves, contratado em 1/10/2005 e falecido em 24/10/2005, cuja beneficiária é a Reclamante, Sra. Jussara Campos Neves, nos termos da apólice de fls. 137/170. Alega que cumpriu todas as normas e obrigações sejam as fixadas no acordo coletivo de fls. 22/31, especificamente cláusula vigésima, que constituiu a obrigação de se pactuar para os empregados da Reclamada o seguro de vida, sejam àquelas regras contratuais firmadas entre a empresa e a seguradora, conforme apólice No. 22.347, fls. 137/170. termos: A cláusula coletiva (vigésima) de fl. 26 está vazada nos seguintes A EMPRESA fará um seguro de vida e acidentes em grupo, ou suportará os ônus decorrentes, em favor de seus EMPREGADOS, tendo como beneficiários os próprios EMPREGADOS ou aqueles beneficiários indicados legalmente junto ao INSS, observando-se as seguintes coberturas mínimas: R$ 9.000,00 (nove mil reais) em caso de morte por qualquer causa; R$ 9.000,00 (nove mil reais) em caso de invalidez total ou parcial por acidentes; R$ 4.500,00 (quatro mil e quinhentos reais ) em caso de morte do cônjuge do segurado, qualquer que seja a causa; R$ 900,00 (novecentos reais) em caso de morte do filho (a) do segurado, qualquer que seja a causa. Para filhos menores de 14 anos, restringe-se ao reembolso das despesas com funeral; h (sem grifos no original) Segundo as regras contratuais firmadas entre a estipulante (1a 20506 3
Reclamada Telsul) e a seguradora, (2a Reclamada AGI Seguros), fls. 137/170, cláusula 11 (PAGAMENTO DO PRÊMIO), era da Recorrente a obrigação de custeio regular do seguro, sem o qual os beneficiários estariam descobertos das indenizações contradas. Versa na cláusula em questão os seguintes termos, in verbis litteris: Para garantir seu direito à cobertura, o Estipulante deverá efetuar o pagamento do Prêmio do Seguro até a data de vencimento. O prêmio do seguro poderá ser pago à vista ou em parcelas durante o período de vigência da apólice. A cobrança do prêmio do seguro será feita por meio de ficha de compensação. (...omissis...) Decorrida a data estabelecida para pagamento do prêmio, sem que tenha sido quitado o respectivo documento de cobrança, a cobertura será automaticamente suspensa e, em ocorrendo um evento coberto pela apólice, o segurado ou beneficiário ficarão sem direito de receber indenização. Após o evento mórbido a Reclamante dirigiu-se à Telsul e deu início aos procedimentos necessários à percepção do seguro de vida., fato incontroverso nos autos. A Recorrente, por sua vez, alega que cumpriu com todas as sua obrigações frente a AIG Seguradora obtendo, contudo, negativa na quitação da indenização. A empresa de seguros enviou para Recorrente o documento de fl. 65 com a seguinte resposta: Recebemos os documentos onde está sendo pleiteado o pagamento de indenização referente à garantia de Morte Natural (MN). Entretanto, 20506 4
esclarecemos que o nome do senhor Cezar Neves, não foi localizado nas relações de vidas seguradas pela apólice supracitada, nos meses de Maio, Junho, Julho, Agosto, Setembro e Outubro de 2005, caracterizando que não foram recolhidos os respectivos prêmios mensais e, consequentemente, inelegibilidade à cobertura do seguro. (sem grifos no original). A Recorrente, ante as informações passadas pela seguradora, redarguiu - doc. fl. 69 - informando que o fato de não se ter localizado o nome do de cujus nas planilhas de Maio, Junho, Julho, Agosto, Setembro e Outubro de 2005, se deu porque o mesmo fora admitido apenas em 1/10/2005. Contudo, a AIG Seguros manteve seu posicionamento quanto ao não pagamento da indenização. Data venia, mas mesmo que pudéssemos considerar a exigência da Seguradora como sendo exorbitante, face o acima descrito, o fato é que para todo e qualquer seguro contratado há de se ter fonte de custeio, o que não é diferente no caso em questão. Com isso, mesmo considerando que o autor tenha sido admitido na empresa em outubro de 2005, a Recorrente, por obrigação contratual firmada com a seguradora deveria ter quitado o prêmio mensal, que é fonte de custeio do seguro contratado, nos termos fixados na cláusula 11 de fls. 147/148. Não há nos autos prova nesse sentido. Veja-se que a apólice a qual estava vinculado o trabalhador (fl. 137) foi pactuada com a Seguradora em 1/5/2005. Caberia a Ré comprovar que no interregno da admissão do obreiro 1/10/2005 até o desfecho da relação com sua morte, em 24/10/2005, a situação perante a Seguradora estava regular. Essa obrigação foi pactuada na norma coletiva acima transcrita, onde ficou claro que a ausência de seguro de vida responsabilizaria a empresa com o ônus decorrente disso. Ora, se a empresa desrespeitou as regras contratuais fixadas com a 20506 5
AIG Seguros, deixando de quitar a tempo e modo, os prêmios garantidores das indenizações, é responsável pela obrigação, nos termos dos arts. 129 c/c 186 do CCB/2002. Nada obsta, inclusive, que a Reclamada busque no foro competente a indenização que entenda cabível em face da AIG, o que não é possível acolher é o prejuízo do trabalhador beneficiário em razão do desentendimento entre a Ré e a seguradora. Nesse contexto, seja porque a norma coletiva da categoria determina, seja porque é responsável segundo as regras legais acima destacadas, não vejo razão para reformar o sentenciado no particular. Nego provimento. DO DANO MORAL Alega a Reclamada que não há prova nos autos de qualquer violação à imagem, intimidade, vida privada ou honra da autora que dê ensejo à condenação por danos morais. Outrossim, aduz não existir nexo causal entre o fato alegado e qualquer conduta empresarial que importe na sujeição aos efeitos de uma condenação por danos morais. Requer, com esses argumentos, reformar o sentenciado. A Autora desde a data de falecimento do seu marido até a presente não obteve êxito na empresa-recorrente à percepção da indenização que lhe é cabível. São praticamente dois anos de tentativas infrutíferas sem uma informação eficiente por parte da Reclamada a respeito do requerimento. A alegações contidas na petição inicial de que compareceu inúmeras vezes na Ré para tomar parte do andamento do seu pedido e das evasivas da empresa a respeito dos fatos efetivamente ocorridos, não foram contestadas. 20506 6
Essa conduta empresarial, sem dúvida, causou à parte constrangimento, dor, frustração, e outros sentimentos afins, prolongando indefinidamente a busca por uma indenização que a Reclamada já sabia que não seria paga pela empresa Seguradora, porque não tinha cumprido com suas obrigações contratuais. do art. 186 do CCB/2002. Esse silêncio intencional constitui omissão dolosa punível nos termos Assim sendo, entendo que o Juízo a quo andou bem ao decidir pala condenação em danos morais. Nego provimento. CONCLUSÃO Pelo exposto, Reclamada e, no mérito, nego provimento ao apelo. conheço do recurso ordinário interposto pela A C O R D A M os Desembargadores que compõem a 9ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, por unanimidade, conhecer do recurso ordinário interposto pela Reclamada e, no mérito, negar-lhe provimento, nos termos da fundamentação do voto da Exma. Srª. Relatora. Rio de Janeiro, 31 de Março de 2009. Juíza do Trabalho Convocada Claudia De Souza Gomes Freire Relatora 20506 7