PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO Seção de Direito Privado 31ª CÂMARA ACÓRDÃO

Transcrição

1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº , da Comarca de Nova Odessa, em que é apelante BANCO BMC S/A sendo apelado MASSA FALIDA DE MIRANDA IND E COM DE ENXOVAIS LTDA. ACORDAM, em 31ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmo. Desembargadores ARMANDO TOLEDO (Presidente) e ANTONIO RIGOLIN. São Paulo, 9 de agosto de PAULO AYROSA RELATOR ASSINATURA ELETRÔNICA

2 Apelação com Revisão Nº Apelante : BANCO BMC S/A Apelada : MASSA FALIDA DE MIRANDA IND. E COM. DE ENXOVAIS LTDA. Comarca: Nova Odessa Vara Única Juíza : Dra. Juliana Ibrahim Guirao Kapor V O T O Nº ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA BUSCA E APREENSÃO FALÊNCIA DA EMPRESA RÉ DECRETADA APÓS O AJUIZAMENTO DA AÇÃO EXTINÇÃO DA AÇÃO IMPERTINÊNCIA CONVERSÃO DA BUSCA E APREENSÃO EM RESTITUIÇÃO (ART. 85 DA LEI DE FALÊNCIAS) SENTENÇA ANULADA RECURSO PROVIDO. Proposta a ação de busca e apreensão antes da decretação da falência da devedora e ainda não efetivada a busca, cabível a conversão da ação em pedido de restituição (art. 85 da Lei nº /05), com fulcro no art. 7º do Decreto-lei 911/69 e em conformidade com o princípio da economia processual. A prematura extinção do feito torna nula a sentença, devendo ser afastada para que outra seja proferida, após regular processamento da ação. BANCO BMC S/A propôs ação de busca e apreensão com pedido de liminar em face de MIRANDA INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE ENXOVAIS LTDA. Decretada a falência da ré, foi o feito suspenso nos termos do art. 99, V, da Lei nº /05, interveio o síndico da massa falida (fls. 57/61) pugnando pela extinção da ação, ante a ausência de pressuposto de desenvolvimento válido e regular do processo. A r. sentença de fls. 64/65, cujo relatório se adota, julgou extinto o processo sem julgamento de mérito, com fundamento no art. 267, VI, do CPC. Voto nº

3 Condenou o autor ao pagamento das custas, despesas processuais e honorários advocatícios da parte adversa, arbitrado em 15% do valor atualizado atribuído à causa. Inconformado, apela o autor almejando a reforma da decisão, alegando, em síntese, que a MM. juíza a quo incorreu em erro material ao julgar extinta o feito, visto que a presente ação foi ajuizada anteriormente à decretação da falência da empresa ré, razão por que cabível, na hipótese dos autos, a conversão da ação em pedido de restituição, devendo ser anulada a sentença, outra devendo ser proferida após o regular processamento do feito (fls. 85/90). A apelada apresentou contrarrazões, batendo-se pela manutenção integral da sentença e improvimento do apelo (fls. 118/121). É O RELATÓRIO. Conheço do recurso e lhe dou provimento. Ajuizada a ação de busca e apreensão em (fls. 02), a falência da empresa ré apenas foi decretada em (fls. 38), tendo sido o feito suspenso com fulcro no art. 99, V, da Lei nº /05. Interveio, em seguida, a massa falida por meio de seu administrador judicial, pugnando pela extinção do feito ante a ausência de pressuposto de desenvolvimento válido e regular do processo ou, alternativamente, pela carência da ação com fulcro no art. 129, III, da Lei nº /05, vez que o contrato celebrado entre as partes é ineficaz em relação à massa falida, tenha ou não o contratante conhecimento do estado de crise econômico-financeira do devedor (fls. 57/61). A MM. juíza a quo, fiando-se na tese da massa falida, julgou extinto o feito com fulcro no art. 267, VI, do CPC (fls. 64/65). Mas sem razão, a meu ver. Com efeito, em hipóteses como a dos presentes autos, em que ajuizada a ação de busca e apreensão antes da decretação da falência da devedora, a ação deve prosseguir contra a massa, representada pelo síndico. Voto nº

4 De outra parte, o pedido de restituição via que o apelante entende adequada ao credor fiduciário é cabível apenas no caso de, à época da abertura da falência, ainda inexistir a ação de busca e apreensão. In casu, como a demanda já havia sido ajuizada antes da decretação da quebra, mas sem que se tenha deferido a liminar de busca e apreensão por força da suspensão do feito a que alude o art. 99, V, da Lei nº /05, nada obstava que a busca e apreensão fosse convertida em pedido de restituição (art. 85 da Lei nº /05), em conformidade com a opinião da douta Procuradora de Justiça, cujo parecer merece ser aqui transcrito: [Como] a ação foi proposta antes da decretação da quebra, não se trata de pedido de restituição. E porque não se trata de pedido de restituição e se mostra inviável o prosseguimento da busca e apreensão, é que entendemos que, respeitado o princípio da economia processual e a instrumentalidade do processo, é possível a adaptação do pedido feito pelo Banco, atendendo-se, com isso, o procedimento próprio que vem disposto no referido artigo 85 e seguintes da lei que, atualmente, regula a falência. Como, aliás, já foi requerido a fls. 46/50 (fls. 128). Frise-se, ademais, que o pleito do autor encontra respaldo no próprio art. 7º, caput, do Decreto-lei 911/69, in verbis: Na falência do devedor alienante, fica assegurado ao credor ou proprietário fiduciário o direito de pedir, na forma prevista na lei, a restituição do bem alienado fiduciariamente. A esse respeito, Theotonio Negrão traz à baila o seguinte entendimento: Se, ao ser decretada a falência do devedor alienante, os bens alienados fiduciariamente já se encontravam na posse do credor, em virtude de medida liminar de busca e apreensão, esta prossegue com o síndico, até final, no juízo em que foi proposta (RTJ 81/620). Se, porém, não foi efetivada a busca, não cabe a conversão desta ação em depósito, e sim em mero pedido de restituição (JTA 48/53, maioria, 106/234) (in Código de Processo Civil e legislação processual em vigor, Ed. Saraiva, 39ª ed., nota 1 ao art. 7º do Decreto-lei 911/69, pág. 1237). Voto nº

5 Posto isto, dou provimento ao apelo a fim de anular a r. decisão recorrida, determinando o retorno dos autos à Vara de origem para regular processamento. PAULO CELSO AYROSA M. ANDRADE Relator Voto nº