PODER JUDICIÁRIO FEDERAL Justiça do Trabalho - 2ª Região

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1 PROCESSO TRT/SP Nº ª TURMA RECURSO ORDINÁRIO RECORRENTES: 1. ANA FAUSTA DOS SANTOS RODRIGUES 2. CENTRO SALESIANO DE DESENVOLVIMENTO E PROFISSIONAL RECORRIDAS: AS MESMAS ORIGEM: 41ª VARA DO TRABALHO DE SÃO PAULO/SP PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS E RESULTADOS. ENTIDADE FILANTRÓPICA SEM FINALIDADE LUCRATIVA. INCOMPATIBILIDADE. A Participação nos Lucros e Resultados, ainda que prevista em norma coletiva, é incompatível com a natureza jurídica da entidade filantrópica sem finalidade lucrativa, salvo comprovação de desvio de finalidade, ou descumprimento ao disposto no art. 2º, parágrafo 3º, da Lei nº /2000. Recurso da reclamada a que se dá parcial provimento. Inconformadas com a r. sentença de fls. 147/148, complementada com a r. decisão de embargos de declaração de fls. 152, que julgou parcialmente procedente a reclamação trabalhista, interpõem a reclamante às fls. 154/158 e a reclamada às fls. 160/166 recurso ordinário, pleiteando a reforma da decisão. Contrarrazões da reclamante às fls. 171/172. É o relatório.

2 VOTO pressupostos de admissibilidade. Conheço dos recursos, eis que presentes os RECURSO DA RECLAMANTE Estabilidade do membro da CIPA A reclamante pretende a reforma da r. sentença que indeferiu o pedido de reintegração ou indenização pelo período equivalente à estabilidade provisória, por ser membro integrante da CIPA. O inconformismo não prospera. No presente caso, a reclamada contestou o pedido afirmando que encerrou as atividades do setor de gráfica, não fazendo jus à pretendida estabilidade (fls. 134). Convém esclarecer, que o encerramento de setor onde a reclamante laborava, não impede a manutenção da CIPA, pois a atuação desta não se limita a um único setor, alcançando toda a empresa. O item II, da Súmula 339, do C. TST se restringe ao caso de extinção da empresa, não cabendo a aplicação analógica aos casos de extinção do setor de trabalho do cipeiro, não se configurando, por si só, motivo disciplinar, técnico, econômico ou financeiro a rechaçar a estabilidade provisória prevista no art. 10, II, "a" do ADCT. Contudo, in casu, como se verifica no doc. 4 (vol. anexo), a reclamada encerrou suas atividades gráficas, o que resultou no acordo coletivo com a entidade sindical da categoria dos gráficos, ajustando garantias aos empregados demitidos. Frise-se, ainda, que a reclamante não comprovou nos autos, ter sido eleita membro da CIPA, bem como o período do mandato. Por tais fundamentos, mantenho a r. sentença.

3 Indenização por aposentadoria e multa normativa A reclamante pleiteia o pagamento indenização prevista na cláusula 29, bem como a multa normativa prevista na cláusula 84 da CCT. Razão não assiste à recorrente. A cláusula 29 - Indenização por aposentadoria - da CCT 2013/2014 (doc fls. 105) assim dispõe: "Ressalvadas as situações mais favoráveis já existentes, inclusive Planos de complementação de Aposentadoria, aos empregados já aposentados, ou que venham a se aposentar, contanto com mais de 10 (dez) anos ou mais de serviços prestados à mesma empresa, será paga quando do desligamento definitivo e na oportunidade da correspondente rescisão contratual, uma indenização equivalente ao seu último salário nominal". g/n Portanto, a reclamante não faz jus ao pagamento da pretendida indenização por aposentadoria, por não preencher os requisitos da referida cláusula normativa. Por consequência, indevida a multa normativa prevista na cláusula 84 da CCT, em razão de não haver descumprimento da cláusula 29. Mantenho o. r. julgado. RECURSO DA RECLAMADA Participação nos lucros e resultados

4 A reclamada sustenta ser indevido o pagamento da participação nos lucros e resultados, uma vez que a recorrente é uma associação civil sem fins econômicos e lucrativos. Com razão a recorrente. A cláusula 15 da CCT 2013/2014, aplicável à categoria da reclamante, prevê o pagamento de participação nos lucros e resultados (doc fls. 99). Contudo, o 3º, do art. 2º, da Lei de 19 de dezembro de 2000, que dispõe sobre a participação dos trabalhadores nos lucros ou resultados da empresa, estabelece que não se equipara a empresa para fins dessa Lei, a entidade sem fins lucrativos. Com efeito, a reclamada é entidade filantrópica sem finalidade lucrativa, e o pagamento de PLR é incompatível com tal natureza jurídica, ainda que previsto em acordos ou convenções coletivas. Destarte, reformo a r. sentença para excluir da condenação o pagamento de PLR. Por consequência, indevida a multa normativa, pelo descumprimento da cláusula 15, referente à PLR, imposta na r. decisão de embargos de declaração às fls.152. Multa por atraso nos salários A reclamada postula a exclusão da multa normativa relativa ao atraso nos salários, argumentando que o atraso ocorreu em período de grande crise financeira, mas que foi feito acordo para regularização o pagamento dos valores devidos, sendo que a cláusula oitava prevê a isenção da multa quando o atraso se der por razões alheias à vontade do empregador. Sem razão a recorrente. O 4º da cláusula oitava da norma coletiva (doc fls. 97) prevê que "Ocorrendo fatos que, independente da vontade da

5 empresa, impeçam a observância do prazo estipulado, a multa prevista não será aplicada". No entanto, não se aplica no caso em tela, pois como observou o MM. Juízo a quo, as dificuldades financeiras da reclamada em nada lhe favorece, considerando não se tratar de fato independente da vontade da empresa. Sendo assim, mantenho a r. sentença. Em vista do exposto, ACORDAM os Magistrados da 3ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região em conhecer dos recursos ordinários e, no mérito, NEGAR PROVIMENTO ao recurso da reclamante e DAR PROVIMENTO PARCIAL ao recurso da reclamada para excluir da condenação o pagamento de participação nos lucros e resultados, bem como a multa normativa correspondente, nos termos da fundamentação. Para os efeitos legais, mantenho o valor da condenação. NELSON NAZAR Desembargador do Trabalho Relator rf