PODER JUDICIÁRIO FEDERAL JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO

Transcrição

1 A C Ó R D Ã O 8ª T U R M A RECURSO ORDINÁRIO. REGISTROS DE HORÁRIO. PROVA DA JORNADA DE TRABALHO. INVALIDADE. Registros de horário que não refletem a jornada efetivamente cumprida são imprestáveis à pré-constituição da prova da jornada do empregado. A obrigação imposta ao empregador pelo art. 74, 2º, da CLT, tem como finalidade atestar o horário de trabalho efetivamente prestado; ausente essa finalidade, tornam-se inservíveis. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de RECURSO ORDINÁRIO, interposto em face da sentença de fls , proferida pela M.M. 7ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, em que figuram como partes: CASA BAHIA COMERCIAL LTDA., recorrente e FERNANDO LUIZ DE ALMEIDA FERREIRA, recorrido. Insurge-se a Reclamada em face da r. sentença de primeiro grau que julgou procedentes em parte os pedidos da inicial. Sustenta que não foi considerado pelo Juízo originário a alegação da ré no sentido de que o recorrido registrava corretamente seus cartões de ponto; que a prova oral produzida pelo recorrido não foi capaz de derrubar as assertivas da peça de defesa no particular. Requer, portanto, a reforma da r. sentença para que sejam considerados corretos os horários apontados nos cartões de ponto juntados aos autos. Finalmente, alega que o recorrido não aponta qualquer diferença de horas

2 extras a partir dos controles de ponto, pelo que totalmente improcedente a presente demanda com relação às horas suplementares. 178/180. Depósito recursal e custas recolhidos e comprovados às fls. Contra-razões do reclamante às fls Os autos não foram encaminhados ao douto Ministério Público do Trabalho, em face do Ofício PRT/1ª Região nº 171/06-GAB de 05/05/2006. É o relatório. FUNDAMENTAÇÃO O RECURSO DA RECLAMADA (FLS. 172/177) AS HORAS EXTRAS Insurge-se a Reclamada em face da r. sentença de primeiro grau que julgou procedentes em parte o pedido relativo a horas extras e reflexos. Sustenta que não foi considerado pelo Juízo originário a alegação da ré no sentido de que o recorrido registrava corretamente seus cartões de ponto; que a prova oral produzida não foi capaz de derrubar as assertivas da peça de defesa no particular. O reclamante na inicial, fls. 03, noticia que foi contratado pela Ré na qualidade de ajudante interno, trabalhando de domingo a sexta-feira, das 17:30 às 7:30 h, em média, com folgas aos sábados; que nos meses de janeiro, maio, outubro, novembro e dezembro de cada ano, laborava também cerca de três sábados por mês, das 17:30 às 07:30 h, sempre com intervalo de 01 hora para refeição e descanso. Alega, ainda, que não percebeu corretamente pelas horas extras que excediam a 44ª semanal acrescidas de 50% para os dias úteis e de 100% para os domingos prestados habitualmente

3 Diz, finalmente, que os cartões de ponto não refletem a verdadeira jornada de trabalho, bem como não refletem a correta freqüência, já que o Reclamante não recebia as horas extras integralmente trabalhadas, jamais teve acesso ao resumo mensal do ponto eletrônico e jamais assinou-os, tornando-se destarte documentos unilaterais fabricados pela ré, restando desde já IMPUGNADOS (grifos e destaques do original). A reclamada, em defesa, impugnou tal alegação, noticiando que os registros de ponto do reclamante, foram eletronicamente registrados, através do seu próprio crachá com código de barras, como se depreende dos espelhos dos controles de freqüência acostados, razão pela qual retratam fielmente a jornada de trabalho por ele realizada (fls. 51, grifos do original). Assim se fixou a controvérsia que emana dos autos. No que tange à jornada de trabalho, a partir do que dispõe a CLT, art. 74, e parágrafos, e Orientação Jurisprudencial contida na Súmula nº 338 do E. TST (Resolução 129/2005), extrai-se que cabe ao empregador o ônus quanto à prova do horário em que efetivamente o empregado esteve à sua disposição (empresa com mais de dez empregados), sendo que a não apresentação dos controles horários gera presunção de veracidade da jornada de trabalho informada pelo obreiro. No caso dos autos, foram juntados aos autos os registros de cartões-ponto eletrônicos (fls. 69/122), os quais impugnados pelo reclamante às fls. 03 e 154/155 por não refletirem a jornada efetivamente cumprida. A prova oral produzida foi de sorte a abonar as assertivas da inicial. O preposto da ré, ouvido em depoimento pessoal às fls. 155, confirmou que os empregados não assinam o controle de freqüência. A testemunha arrolada pela ré noticiou que apesar da reclamada possuir controle de entrada e saída por cartão eletrônico, não assinavam ao final do mês qualquer relatório de freqüência, validando a jornada de trabalho. Indicou ainda o depoente que não

4 sabe informar o horário de saída do reclamante, sendo fato usual na empresa a realização de um rodízio para o labor em jornada suplementar (fls. 155). Em face das alegações acima, imprescindível seria a assinatura do empregado nos espelhos de ponto a fim de validar os horários ali registrados. Note-se, ainda, que estando os empregados sujeitos a rodízio para prestação de jornada suplementar, também deveriam ter vindo aos autos as referidas escalas, do que não cuidou a Recorrente. Mantém-se, por conseguinte, a condenação imposta pelo Juízo a quo no particular, observados os parâmetros ali definidos, na forma das razões expendidas às fls. 157/160. Nego provimento. Ante o exposto, nego provimento ao recurso. ACORDAM os Desembargadores que compõem a 8ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, por unanimidade, negar provimento ao recurso. Rio de Janeiro, 30 de setembro de Desembargadora Federal do Trabalho Maria José Aguiar Teixeira Oliveira Relatora c/lmd

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