Perspectivas Econômicas Pesquisa Macroeconômica Itaú Unibanco Outubro, 2016
Roteiro Internacional China mais estável, mas riscos globais aumentaram A atividade na China e as taxas de juros baixas nas economias desenvolvidas sustentam um ambiente externo favorável para os ativos de mercados emergentes. Mas os riscos para a economia global aumentaram. Os principais riscos são: (1) eleições nos EUA; (2) reação do mercado ao provável aumento dos juros pelo Fed, o banco central dos EUA, em dezembro; e (3) questões políticas e financeiras na Europa. Brasil Começam as reformas Em outubro, a Câmara dos Deputados deve votar o ajuste estrutural do teto de gastos. Na sequência, o governo deve enviar ao Congresso uma proposta de reforma da Previdência. Mantivemos nossa projeção de resultado primário em -2,6% do PIB para 2016, e em -2,2% do PIB para 2017. Os indicadores antecedentes sugerem uma variação positiva do PIB a partir do quarto trimestre. A despeito de uma queda na produção industrial em agosto, devemos continuar a observar alta na produção nos próximos meses, consistente com um ajuste cíclico nos estoques. Para a frente, esperamos que a flexibilização na política monetária e as reformas fiscais propiciem um crescimento mais robusto da economia. Mantivemos nossa projeção de queda de 3,2% do PIB em 2016, e de crescimento de 2,0% em 2017. Reduzimos a projeção para a inflação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para este ano de 7,2% para 7,0%. O comportamento mais benigno dos preços da alimentação na margem reforça a nossa avaliação de altas moderadas até o fim do ano. A conjuntura econômica parece madura para o início da flexibilização monetária. As projeções de inflação do Banco Central (BC) são consistentes com esse cenário. Mantemos nosso cenário de corte total de 0,75 ponto percentual na taxa Selic neste ano, começando com uma redução de 0,25 p.p. em outubro. 2
Economia global: nossas projeções 2013 2014 2015 2016 2017 Mundo 3,4 3,4 3,1 3,1 3,5 EUA 1,5 2,4 2,4 1,5 2,2 Zona do Euro -0,4 0,9 1,5 1,5 1,3 Japão 1,4 0,0 0,5 0,6 0,7 China 7,8 7,3 6,9 6,6 6,3 3 Fonte: Itaú Unibanco, Haver Analytics
1T13 2T13 3T13 4T13 1T14 2T14 3T14 4T14 1T15 2T15 3T15 4T15 1T16 2T16 3T16 4T16 1T17 2T17 3T17 4T17 China: estabilidade deve se estender até 2017 Na China, a estabilidade recente tende a se estender para 2017, uma vez que a transição política favorece estímulos ao crescimento e o mercado imobiliário deixou de ser um risco. Os dados recentes indicam crescimento mais estável. Revisamos para cima nossas projeções de crescimento do PIB para 2016 (de 6,5% para 6,6%) e 2017 (de 6,0% para 6,3%). Crescimento do PIB %, anualizado 9.0% 8.5% 8.0% 7.5% 7.0% 6.5% 6.0% 5.5% 5.0% 4.5% 4.0% 7.3% 6.9% 6.6% 6.3% Trimestral Anual 4 Fonte: Itaú Unibanco, NBS, CEIC
1Q14 2Q14 3Q14 4Q14 1Q15 2Q15 3Q15 4Q15 1Q16 2Q16 3Q16 4Q16 1Q17 2Q17 3Q17 4Q17 EUA: foco primeiro nas eleições, depois no Fed O Comitê de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) do Fed manteve a taxa de juros dos Fed Funds inalterada em setembro, mas sinalizou que um aumento é provável antes do fim do ano. Entendemos que as condições econômicas e financeiras devem permitir um aumento dos juros, mas provavelmente apenas em dezembro. No curto prazo, as eleições são um foco de risco maior do que o Fed. Uma vitória de Hillary Clinton é o cenário base, mas a corrida presidencial tem sido disputada e sujeita a viradas. Sob a hipótese básica de vitória de Hillary, estimamos o crescimento do PIB dos EUA em 1,5%, em 2016, e 2,2%, em 2017 Vantagem de Clinton nas pesquisas Diferença média em p.p. 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 últimas 12 pesquisas 0 mai-16 jun-16 jul-16 ago-16 set-16 Crescimento do PIB %, anualizado 5.5% 4.5% 3.5% 2.5% 1.5% 0.5% -0.5% -1.5% -2.5% QoQ 2.6% 1.5% Annual 2.2% 5 Fonte: Itaú Unibanco, Pesquisas de intenção de voto, Haver Analytics
1Q12 2Q12 3Q12 4Q12 1Q13 2Q13 3Q13 4Q13 1Q14 2Q14 3Q14 4Q14 1Q15 2Q15 3Q15 4Q15 1Q16 2Q16 3Q16 4Q16 1Q17 2Q17 3Q17 4Q17 Europa: riscos políticos e financeiros Riscos políticos estão se acumulando na Europa, com incertezas sobre o cenário político em países como Reino Unido, Espanha e Itália. Enquanto isso, o sistema financeiro europeu continua sob pressão. As ações dos bancos estão próximas de seus níveis historicamente mais baixos. O setor financeiro enfrenta desafios relacionados ao lento crescimento econômico, taxas de juros negativas ou muito baixas e, em alguns casos, modelos de negócios ultrapassados e riscos relacionados a litígios Mantemos nossa projeção do PIB da zona do euro em 1,5% e 1,3%, respectivamente, para 2016 e 2017. Índice de valor dos bancos da Zona do Euro Índice 180 Crescimento do PIB (Zona do euro) % 2.5% 160 2.0% 1.5% 1.6% 1.5% 1.3% 140 1.0% 0.9% 120 0.5% 100 0.0% 80-0.5% 60 jan-14 set-14 mai-15 jan-16 set-16-1.0% Trimestral Anual 6 Fonte: Itaú Unibanco, Bloomberg, Haver Analytics, Eurostat
LatAm: México se descola da América do Sul A maioria das moedas latino-americanas continua com bom desempenho no ano, mas a valorização deverá perder força com a elevação dos juros pelo Fed. O peso colombiano nos parece o mais sensível a esse movimento. Em contrapartida, o peso mexicano poderá se valorizar substancialmente se Donald Trump for derrotado nas eleições presidenciais americanas. Continuamos projetando recuperação econômica em 2017, liderada por Argentina e Brasil. Taxa de câmbio Variação anual, moeda local por dólar 60% 50% 40% 30% 20% 2015 2016p 2017p 10% 00% -10% -20% -30% BRL CLP COP MXN PEN 7 Fonte: Itaú Unibanco, Bloomberg, Haver Analytics
LatAm: nossas projeções Peru Mexico 2014 2015 2016 2017 2014 2015 2016 2017 PIB - % 2.4 3.3 3.8 4.0 PIB - % 2.1 2.5 2.1 2.4 PEN / USD (Dez) 2.98 3.41 3.35 3.40 MXN / USD (Dez) 14.7 17.2 17.5 17.5 Taxa de juros - (Dez) - % 3.50 3.75 4.25 4.25 Taxa de juros - (Dez) - % 3.00 3.25 5.00 5.00 IPC 3.2 4.4 2.8 2.5 IPC 4.1 2.1 3.0 3.0 Colombia Chile 2014 2015 2016 2017 2014 2015 2016 2017 PIB - % 4.6 3.1 2.0 2.7 PIB - % 1.9 2.1 1.5 2.0 COP / USD (Dez) 2377 3175 3050 3150 CLP / USD (Dez) 606 709 685 695 Taxa de juros - (Dez) - % 4.50 5.75 7.75 6.00 Taxa de juros - (Dez) - % 3.00 3.50 3.50 3.00 IPC 3.7 6.8 6.3 4.0 IPC 4.6 4.4 3.3 3.0 Argentina 2014 2015 2016 2017 PIB - % -2.6 1.9-1.8 3.0 ARS / USD (Dez) 8.6 13.0 16.0 18.7 Lebac 35 d (Dez) - % - 33.0 25.0 20.0 IPC - % (Buenos Aires) 38.0 26.9 41.0 20.0 8 Fonte: Itaú Unibanco
Brasil: o que esperamos no curto prazo? 2013 2014 2015 2016 2017 Atividade econômica PIB (%) 3,0 0,1-3,8-3,2 2,0 Desemprego (%) Dezembro (PNAD cont.) 6,8 7,0 10,0 12,5 12,2 Inflação IPCA (%) 5,9 6,4 10,7 7,0 4,8 Política monetária Taxa SELIC (%) 10,00 11,75 14,25 13,50 10,00 Fiscal Superávit primário (% PIB) 1,8-0,6-1,9-2,6-2,2 Balança de pagamentos Câmbio (fim de período) 2,36 2,66 3,96 3,25 3,50 Conta corrente (% PIB) -3,0-4,3-3,3-1,2-1,7 9 Fonte: Itaú Unibanco, Bloomberg, BCB, IBGE
Brasil: começam as reformas A partir de outubro, várias incertezas referentes ao cenário doméstico devem começar a se dissipar. A Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que estabelece um teto para o crescimento dos gastos públicos deve ser votada na Câmara dos Deputados este mês. A reforma, se aprovada, representará uma mudança estrutural na economia brasileira. Com o teto, se alguma despesa tiver aumentos reais, terá de ser compensada por quedas reais em outras despesas. Ao possibilitar uma perspectiva mais benigna para a trajetória do gasto, a reforma reverteria gradualmente o desequilíbrio fiscal estrutural Despesa primária do Governo Central % do PIB 20% 19% 18% 17% 16% 15% 14% 13% 1998 2001 2004 2007 2010 2013 2016 Resultado primario consolidado % do PIB 5% 4% 3% 2% 1% 0% -1% -2% -3% -4% ago-04 ago-06 ago-08 ago-10 ago-12 ago-14 ago-16 10 Fonte: Itaú Unibanco, IBGE
Fundamentos seguem favoráveis para o crescimento Confiança aumenta, estoques recuam. Em setembro, permaneceu a tendência de aumento da confiança entre os grandes setores da atividade econômica e consumidores. Ademais, os estoques no setor tiveram queda acentuada. Ambos os resultados sugerem alta da produção industrial em setembro, dando sequência à tendência de recuperação na indústria. Tendência de alta na produção industrial deve continuar a despeito da contração em agosto. A produção industrial recuou 3,8% em agosto, ante julho, após ajuste sazonal. Estoques Excessivo insuficiente (p.p.) Produção industrial Índice com ajuste sazonal, 2012=100 25 20 15 10 5 0-5 set-06 set-08 set-10 set-12 set-14 set-16 108 104 100 96 92 88 84 80 ago-06 ago-08 ago-10 ago-12 ago-14 ago-16 11
Difusão segue apontando crescimento à frente mar-03 mar-05 mar-07 mar-09 mar-11 mar-13 mar-15 mar-17 2013.I 2013.II 2013.III 2013.IV 2014.I 2014.II 2014.III 2014.IV 2015.I 2015.II 2015.III 2015.IV 2016.I 2016.II 2016.III 2016.IV 2017.I 2017.II 2017.III 2017.IV Difusão do crescimento segue indicando crescimento no quarto trimestre. Nosso índice de difusão tem apresentado elevada volatilidade nos últimos meses, comportamento típico de pontos de inflexão da economia. Entretanto, a tendência é de alta. Em agosto, a difusão deve alcançar cerca de 54% (média móvel de três meses). O indicador segue sugerindo uma alta do PIB no quarto trimestre deste ano. Mantivemos nossas projeções para o PIB para 2016 e 2017. Esperamos que o PIB volte a crescer no quarto trimestre. Os indicadores antecedentes sugerem também nova alta no primeiro trimestre do próximo ano, em linha com nosso cenário. Índice de difusão Crescimento trimestral do PIB 80% 72% 64% 56% 48% 40% 32% 24% 16% Índice de difusão (12m, t-2) ìndice de difusão (3m, t-2) Crescimento PIB (12m) (dir.) 9% 7% 5% 3% 1% -1% -3% -5% -7% 2.5% 2.0% 1.5% 1.0% 0.5% 0.0% -0.5% -1.0% -1.5% -2.0% -2.5% Realizado Projeção -1.0% -2.3% -0.4% -1.3% 0.2% - 0.5% -0.6% 0.9% 12
Tendência persistente de alta no desemprego Em agosto, a taxa de desemprego nacional atingiu 11,8%. Em dados dessazonalizados, a taxa passou de 11,4% para 11,7% (nosso ajuste), 21ᵃ alta consecutiva. As defasagens com que o mercado de trabalho reage à atividade econômica devem fazer com que o desemprego siga em alta até o segundo trimestre do próximo ano. Mantivemos nossa projeção de 12,5% para o fim deste ano, e de 12,2% para dezembro de 2017. Taxa de desemprego %, com ajuste sazonal Criação de emprego formal (CAGED) Milhares, com ajuste sazonal 13 12.5 300 12 11.7 12.2 200 11 10 100 9 0 8 7 6-100 -200-103 5 dez-12 dez-13 dez-14 dez-15 dez-16 dez-17-300 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016 13 Fonte: IBGE, Itaú Unibanco, FGV
Câmbio estável em meio a incertezas Taxa de câmbio flutuou em torno dos 3,25 reais por dólar ao longo de boa parte do mês de setembro. Mantivemos as nossas projeções de taxa de câmbio em 3,25 reais por dólar, ao fim de 2016, e 3,50 reais por dólar, ao fim de 2017. Esses valores são compatíveis com um cenário de déficit em conta corrente crescente nos próximos anos, mas ainda em patamares sustentáveis. A aprovação das reformas fiscais e um aumento gradual dos juros nos EUA são condições necessárias para evitar uma desvalorização do real. Existem, no entanto, incertezas acerca do volume de dólares advindos da repatriação e seu potencial efeito na taxa de câmbio. Taxa de Câmbio BRL/USD, final de período Déficit em conta corrente % PIB, anual 4.50 3% 4.00 3.50 3.00 2.50 3.26 3.25 3.50 2% 1% 0% -1% -2% -3% -1.6% -1.2% -1.7% 2.00-4% 1.50 dez-12 dez-13 dez-14 dez-15 dez-16 dez-17-5% 14 Fonte: Itaú Unibanco, BCB
Inflação melhor na margem Reduzimos a projeção para a inflação medida pelo IPCA deste ano de 7,2% para 7,0%, em razão dos resultados mais favoráveis na margem. Para 2017, mantivemos a projeção de recuo da inflação para 4,8%. Os preços dos alimentos mostraram um comportamento mais benigno no último mês, o que reforça a nossa avaliação de altas moderadas até o fim do ano. O nível elevado de ociosidade da economia também tende a contribuir para uma queda maior da inflação mais adiante, mas a questão fiscal segue como um fator de risco importante. Decomposição IPCA Variação em 12 meses 20% 18% 16% 14% 12% 10% 8% 6% 4% 2% IPCA Livres (76%) Administrados (24%) 18.1% 10.7% 8.5% 7.0% projeção 4.8% 0% dez-11 dez-12 dez-13 dez-14 dez-15 dez-16 dez-17 15 Fonte: Itaú Unibanco, IBGE
Política monetária: terreno preparado para cortes de juros A conjuntura econômica parece madura para o início da flexibilização monetária. A atividade econômica segue em recessão. A inflação corrente vem apresentando uma trajetória mais clara de queda, refletindo a demanda fraca, o maior equilíbrio entre preços relativos e o fim do choque dos preços de alimentos. As expectativas de inflação de curto prazo continuam convergindo, enquanto, para prazos mais longos, já se encontram na meta. O corte em outubro não é totalmente garantido, uma vez que as autoridades estarão monitorando o avanço do ajuste fiscal. Mantemos nosso cenário de corte total de 0,75 p.p. na taxa Selic neste ano, começando com uma redução de 0,25 p.p. em outubro. Projetamos que o ciclo continuará em 2017 ao ritmo de 0,50 p.p. por reunião, até a taxa Selic atingir 10,00%. 15% Selic % p.a. 14% 13% 13.49% 13.50% 12% 11% 10% 9% 10.00% 10.69% 8% 7% 2008 2010 2011 2013 2014 2016 2017 Projeção equipe econômica Itaú Apreçamento da SELIC implícito na curva de DI futuro 16 Fonte: Itaú Unibanco, Bloomberg
Conclusão Internacional China mais estável, mas riscos globais aumentaram A atividade na China e as taxas de juros baixas nas economias desenvolvidas sustentam um ambiente externo favorável para os ativos de mercados emergentes. Mas os riscos para a economia global aumentaram. Os principais riscos são: (1) eleições nos EUA; (2) reação do mercado ao provável aumento dos juros pelo Fed, o banco central dos EUA, em dezembro; e (3) questões políticas e financeiras na Europa. Brasil Começam as reformas Em outubro, a Câmara dos Deputados deve votar o ajuste estrutural do teto de gastos. Na sequência, o governo deve enviar ao Congresso uma proposta de reforma da Previdência. Mantivemos nossa projeção de resultado primário em -2,6% do PIB para 2016, e em -2,2% do PIB para 2017. Os indicadores antecedentes sugerem uma variação positiva do PIB a partir do quarto trimestre. A despeito de uma queda na produção industrial em agosto, devemos continuar a observar alta na produção nos próximos meses, consistente com um ajuste cíclico nos estoques. Para a frente, esperamos que a flexibilização na política monetária e as reformas fiscais propiciem um crescimento mais robusto da economia. Mantivemos nossa projeção de queda de 3,2% do PIB em 2016, e de crescimento de 2,0% em 2017. Reduzimos a projeção para a inflação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para este ano de 7,2% para 7,0%. O comportamento mais benigno dos preços da alimentação na margem reforça a nossa avaliação de altas moderadas até o fim do ano. A conjuntura econômica parece madura para o início da flexibilização monetária. As projeções de inflação do Banco Central (BC) são consistentes com esse cenário. Mantemos nosso cenário de corte total de 0,75 ponto percentual na taxa Selic neste ano, começando com uma redução de 0,25 p.p. em outubro. 17
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