O Teorema da Função Inversa e da Função Implícita



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Universidade Estadual de Maringá - Departamento de Matemática Cálculo Diferencial e Integral: um KIT de Sobrevivência c Publicação eletrônica do KIT http://www.dma.uem.br/kit O Teorema da Função Inversa e da Função Implícita Prof. Doherty Andrade Universidade Estadual de Maringá Departamento de Matemática - 87020-900 Maringá-PR, Brazil Sumário 1. Teorema da Função Inversa 1 2. Teorema da Função Implícita 11 1. Teorema da Função Inversa O Teorema da função Inversa é um importante resultado que trata da possibilidade de inverter uma função, mesmo que localmente. O teorema também fala das propriedades de diferenciabilidade da inversa. O Teorema da Função Inversa diz basicamente que se f (x 0 ) é invertível, então f é invertível numa vizinhança de x 0. Este critério usa o determinante da matriz Jacobiana da função, como veremos mais adiante. Antes de enunciarmos este importante teorema vamos precisar de alguns conceitos.

2 Prof. Doherty Andrade Denição 1 Seja U R m um aberto. Dizemos que f : U R m R n é de classe C 1 em U se as derivadas parciais f i x j, i = 1, 2,..., n e j = 1, 2,..., m existem e são contínuas em U. Denição 2 Sejam U e V abertos do R n e f : U V uma bijeção. Dizemos que f é um difeomorsmo se f e f 1 são diferenciáveis. Dizemos que f é um difeomorsmo de classe C 1 se f e f 1 são de classe C 1. Dois fatos óbvios: A composta de difeormorsmos é um difeomorsmo. A inversa de um difeomorsmo é um difeomorsmo. Notemos que se f : U V é um difeomorsmo, então f (x) : R n R n, é um isomorsmo, para todo x U e [f (x)] 1 = ( f 1) (f(x)). De fato, Id U (x) = f 1 f(x) segue que h = (f 1 ) (f(x)).f (x)h, isto é, [f (x)] 1 = ( f 1) (f(x)). Denição 3 Seja U R n um aberto e f : U R n uma aplicação. Dizemos que f é um difeomorsmo local se para cada x U, existe um aberto V x x e um aberto W f(x) tal que f : V x W f(x) seja um difeomorsmo. Um difeomorsmo local é de classe C 1 quando f : V x W f(x) for de classe c 1 para cada x U.

c KIT - Cálculo Diferencial e Integral 3 Para a demonstração do Teorema da função inversa vamos precisar do seguinte teorema sobre ponto xo. É o teorema do ponto xo de Banach ou o princípio da contração. Sejam (M, d) e (N, d 1 ) dois espaços métricos. Uma aplicação f : M N é dita uma contração se existe 0 k < 1 tal que d 1 (f(x), f(y)) kd(x, y), x, y M. É fácil ver que toda contração é uniformemente contínua. Teorema 4 Sejam (M, d) um espaço métrico completo e f : M M uma contração. Então, f possui um único ponto xo em M. Além disso, dado x 0 M a sequência denida por x 1 = f(x 0 ), x n+1 = f(x n ), n = 1, 2,... é uma sequência convergente e lim n x n = a é ponto xo de f. Demonstração: se a sequência (x n ) denida acima converge para a M, então como f é contínua temos f(a) = f(lim x n ) = lim f(x n ) = lim x n+1 = a. Provando que a é ponto xo de f. Se f tem dois pontos xos a e b, então temos d(a, b) = d(f(a), f(b)) kd(a, b), o que é absurdo a menos que a = b. Logo, a = b. Resta provar que a sequência (x n ) converge. Notemos que d(x 1, x 2 ) kd(x 0, x 1 ) e que em geral d(x n+1, x n ) k n d(x 1, x 0 ), n

4 Prof. Doherty Andrade N. Segue que para n, p N temos d(x n, x n+p ) d(x n, x n+1 ) + + d(x n+p 1, x n+p ) [k n + k n+1 + + k n+p 1 ]d(x 0, x 1 ) kn 1 k d(x 0, x 1 ). Como lim k n = 0 segue que a sequência é de Cauchy e portanto convergente, o que completa a prova do teorema. Exemplo 5 Seja f : [a, b] [a, b] uma aplicação contínua com derivada tal que sup x [a,b] f (x) < 1. Então, f é uma contração. Este resultado decorre da seguinte desiguadade f(y) f(x) y x sup f (c) k y x. c (a,b) Vamos precisar também dos seguinte fatos: Fato 1: Desigualdade do valor médio: Seja U aberto conexo do R n e f : U R n diferenciável tal que f (x) M, x M, então f(b) f(a) M b a, a, b U. Fato 2: Continuidade da Aplicação matriz Inversa: Se A é invertível e B L(R n ; R n ) tal que B A A 1 < 1, então B é invertível. A aplicação A A 1 é contínua para todo A. Teorema 6 (Função Inversa) Seja W R n um aberto, f : W R n uma aplicação de classe C 1 e a W. Se f (a) é bijetora

c KIT - Cálculo Diferencial e Integral 5 e b = f(a), então a) existem abertos U a e V b do R n tal que f : U V é bijetora. b) g : V U é de classe C 1, g = f 1. Em outras palavras, f é um difeomorsmo local de classe C 1. Demonstração: Seja f (a) = A e λ tal que 2λ A 1 = 1. (1.1) Como f é contínua em a, existe uma bola aberta U de centro em a tal que f (x) A < λ, x U. (1.2) Seja y R n e φ(x) = x + A 1 (y f(x)), x U. (1.3) Note que Além disso, Logo, isto é, f(x) = y φ(x) = x. φ (x) = I A 1 f (x) = A 1 [A f (x)]. φ (x) = A 1 A f (x) < 1 2λ λ = 1 2, φ (x) < 1 2. (1.4)

6 Prof. Doherty Andrade Tomemos x 1 e x 2 na bola U e h(t) = φ((1 t)x 1 +tx 2 ). Então, h (t) = φ ((1 t)x 1 + tx 2 ).(x 2 x 1 ). Logo, por (1.4) temos h (t) = φ ((1 t)x 1 + tx 2 ). x 2 x 1 < 1 2 x 2 x 1. Agora usando a desigualdade do valor médio, concluímos que φ(x 2 ) φ(x 1 ) < 1 2 x 2 x 1. (1.5) Assim, φ é uma contração sobre a bola U. Como φ(u) U e φ : U U é uma contração, então φ tem um único ponto xo x U. Segue que y = f(x) para no máximo um x U. Assim, f : U f(u) é bijetora. Seja g = f 1. Agora mostraremos que V = f(u) é aberto. Seja y 0 = f(x 0 ) U. Seja B 1 a bola aberta de centro x 0 e raio r > 0 tal que B 1 U. Tomemos y tal que y y 0 < λr, provaremos que y pertence a V. Assim, da denição de φ, veja (1.3), temos φ(x 0 ) x 0 = A 1 (y y 0 ) < A 1 λr = r 2. Se x B 1, segue de (1.5) que φ(x) x 0 φ(x) φ(x 0 ) + φ(x 0 ) x 0 1 2 x x 0 + r 2 < r 2 + r 2 = r.

c KIT - Cálculo Diferencial e Integral 7 Segue que φ(x) B 1 B 1. Assim, φ : B 1 B 1 é uma contração e como B 1 é um espaço métrico completo, temos que φ tem um único ponto xo x B 1. Para este x, f(x) = y e assim y f(b 1 ) f(u) = V. Logo, V é aberto, pois y é ponto interior de V. Isto prova a parte a) do teorema. Para a parte b) do teorema, que g é de classe C 1, tomemos U = B e V = f(b). Seja y V e y + k V. Então, existe x B e x + h B tal que f(x) = y e f(x + h) = y + k. Da denição (1.3) de φ, temos φ(x + h) φ(x) = h + A 1 [f(x) f(x + h)] = h A 1 k. Por (1.5) temos h A 1 k 1 2 h. Logo, isto é, Ou seja, h A 1 k 1 2 h, A 1 k 1 2 h. A 1 k 1 2 h. Logo, h 2 A 1. k = k λ. (1.6)

8 Prof. Doherty Andrade Agora vamos usar o seguinte que a se A é invertível e B L(R n ; R n ) tal que B A A 1 < 1, então B é invertível. A aplicação A A 1 é contínua para todo A. Em (1.1) e (1.2) temos que f (x) A A 1 < 1 2 < 1, e assim f (x) tem uma inversa T. Como g(y + k) g(y) T k = h T k = T [f(x + h) f(x) f (x)h] De (1.6) temos que 1 k 1 λ h. g(y + k) g(y) T k k T λ. f(x + h) f(x) f (x)h (1.7). h De (1.6) temos que quando k 0, h 0 também. Logo, o lado direito de (1.7) vai para zero e portanto o lado esquerdo de (1.7) vai para zero. Segue da denição de derivada que g (y) = T = [f (x)] 1. Temos que g é contínua em V, pois g é diferenciável. Como g (y) = T = [f (g(y))] 1 temos que g é contínua, pois f, g e A A 1 são contínuas.

c KIT - Cálculo Diferencial e Integral 9 Exemplo 7 A hipótese f é C 1 não pode ser retirada. Considere a seguinte função f(x) = { x 2 + x2 sin( 1 ), se x 0, x 0, se x = 0. Temos que f é diferenciável e sua derivada é dada por 1 f (x) = 2 + 2x sin(1 x ) cos(1 ), se x 0, x 1, se x = 0. 2 Se f fosse invertível numa vizinhança de x 0 = 0, então f seria injetora nessa vizinhança. Como f (0) = 1 2 > 0, f seria crescente. Mas isto é impossível, pois em todo vizinhança de x 0, f muda de sinal. Corolário 8 Seja U R n um aberto e f : U R n aplicação de classe C 1. Se f (x) : R n R n é invertível para todo x U, então f é um difeomorsmo de classe C 1. Observação 9 Escrevendo y = f(x) em coordenadas y i = f i (x 1, x 2,..., x n ), i = 1, 2,..., n o sistema pode ser resolvido para x = x 1,..., x n em termos de y 1, y 2,..., y n se x e y estiverem restritos a abertos adequados a e b. As soluções são únicas e continuamente diferenciáveis. Exemplo 10

10 Prof. Doherty Andrade a: Seja F (x, y) = (exp(x) cos(y), exp(x) sin(y)) de classe C 1. Temos que [ ] exp(x) cos(y) exp(x) sin(y) F (x, y) = exp(x) sin(y) exp(x) cos(y) O determinante de F (x, y) é igual a exp(2x) 0 para todo (x, y) R 2. Pelo Teorema da Função Inversa, dado (x 0, y 0 ) existe um aberto U (x 0, y 0 ) e um aberto V F (x 0, y 0 ) tal que F : U V é um difeomorsmo. Note que F não é bijetora, pois F (0, 0) = F (0, 2π). b: Seja U = {(r, θ); r > 0 e 0 < θ < 2π} aberto do R 2. Seja F (r, θ) = (r cos(θ), r sin(θ)), com (r, θ) U. Como F é de classe C 1 e F (r, θ) = 0 segue que F é localmente um difeo de classe C 1. c: Seja U R 2 aberto e f : U R tal que f (a, b) 0. Então, y F : U R 2 dada por (x, y) = (x, f(x, y)) é de classe C 1 e é um difeo local em (a, b). Basta calcular a derivada de F, temos que 1 0 F (x, y) = det f f = f (a, b) 0. (a, b) (a, b) y x y Pelo Teorema da função inversa, existem abertos U 0 e U 1 tal que F : U 0 U 1 é um difeomorsmo de classe C 1. d: F (x, y) = (exp(x) + exp(y), exp(x) + exp( y)).

c KIT - Cálculo Diferencial e Integral 11 e: Perto de quais pontos (x, y) podemos resolver x e y em função de u e v, onde x 4 + y 4 = u, x cos(x) + sin(y) = v(x, y)? f: Sejam x, y e z dados em coordenadas esféricas, x(ρ, φ, θ) = ρ sin(φ) cos(θ) y(ρ, φ, θ) = ρ sin(φ) sin(θ) z(ρ, φ, θ) = ρ cos(φ), perto de que quais pontos podemos resolver o sistema acima para ρ, θ e φ em função de x, y e z? 2. Teorema da Função Implícita É uma consequência do Teorema da Função Inversa. Suponha que seja dado a relação F (x, y) = 0. Então, para cada valor de x pode existir um ou mais valores de y que satisfaz a equação (ou pode não existir). Se I = (x 0 h, x 0 + h) é um intervalo tal que para cada x I existe extamente um y satisfazendo a equação, então dizemos que F (x, y) = 0 dene y como uma função de x implicitamente sobre I. Um teorema de função implícita é um teorema que determina condições sob as quais uma relação como F (x, y) = 0 dene y como função de x ou x como função de y. A solução é local no sentido que o tamanho do intervalo I pode ser menor do que o domínio da relação F.

12 Prof. Doherty Andrade O Exemplo mais simples de um teorema de função implícita arma que se F é diferenciável e se P é um ponto em que F y não se anula, então é possível expressar y como função de x em uma região contendo este ponto. Teorema 11 Seuponha que F, F x e F y são contínuas soobre um subconjunto aberto A do R 2 contendo o ponto P = (x 0, y 0 ). Suponha que F (x 0, y 0 ) = 0, F y (x 0, y 0 ) 0. Então, existem números h e k que determinam um retângulo R contido em A tal que para cada x em I = {x; x x 0 < h} existe um único número y em J = {y; y y 0 < k} que satisfaz a equação F (x, y) = 0. A totalidade dos pontos (x, y) formam uma função f cujo domínio contém I e cujo imagem está em J. b) A função f e suas derivadas são contínuas em I. Demonstração: Para x xo no retângulo R considere a aplicação T x y = y F (x, y) F y (x 0, y 0 ) que leva um ponto y de J em R 1. Vamos mostrar que para h e k sucientemente pequenos a aplicação leva J em J e tem um ponto xo. Isto é, existe um y tal que T x y = y ou em outras palavras, existe um y tal que F (x, y) = 0. Para fazer isto, primeiro reescrevemos a aplicação T x : T x y = y 0 c(x x 0 ) ψ(x, y), onde c = F x(x 0, y 0 ) F y (x 0, y 0 )

c KIT - Cálculo Diferencial e Integral 13 ψ(x, y) = que 1 F y (x 0, y 0 ) [F (x, y) F x(x 0, y 0 )(x x 0 ) F y (x 0, y 0 )(y y 0 )]. Como F (x 0, y 0 ) = 0 vemos que ψ(x 0, y 0 ). ψ x (x 0, y 0 ) = 0, ψ y (x 0, y 0 ) = 0. Como ψ x e ψ y são contínuas podemos tomar k tão pequeno tal para todo (x, y) no quadrado ψ x (x, y) < 1 2, ψ y(x, y) < 1 2 S = {(x, y); x x 0 k e y y 0 k}. Agora espandimos ψ(x, y) em série de Taylor em S em torno do ponto (x 0, y 0 ): (ζ, η) S. ψ(x, y) = ψ x (ζ, η)(x x 0 ) + ψ y ζ, η)(y y 0 ), Portanto, para h k temos a estimativa no retângulo R ψ(x, y) h 2 + k 2. A seguir vamos mostrar que se reduzirmos h e k sucientemente a aplicação T x aplica o intervalo J em J. Temos T x y y 0 c(x x 0 ) + ψ(x, y) c h + h 2 + k 2 = (1 2 +c) h + h 2. Escolhendo h sucientemente pequeno, então T x y aplica J em J para cada x em I. A aplicação T x é uma contração, de fato, pelo Teorema do valor médio T x y 1 T x y 2 = ψ(x, y 1 ) ψ(x, y 2 ) 1 2 y 1 y 2.

14 Prof. Doherty Andrade Aplicando o teorema da contração e para cada x I xo, existe um único y em J tal que F (x, y) = 0. Isto é, y é uma função de x para (x, y) R. Teorema 12 (Teorema da Função Implícita- caso especial) Seja F : R n+1 R função de classe C 1. Um ponto do R n+1 será denotado por (x, z), onde x R n e z R. Suponha que F (x 0, z 0 ) = 0 e F z (x 0, y 0 ) 0. Então, existe uma bola aberta B R n contendo x 0 e uma vizinhança V de z 0 tal que z = g(x), para uma única função g de classe C 1 em B e que satisfaz F (x, g(x)) = 0. Além disso, Exemplo 13 F g x = i, i = 1, 2,..., n. x i F z a) Perto de quais pontos a superfície x 3 + 2y 2 + 8xz 2 3z 3 y = 1 pode ser representada como gráco de uma função diferenciável z = k(x, y)? Dena F (x, y, z) = x 3 + 2y 2 + 8xz 2 3z 3 y 1. Vamos determinar pontos (x 0, y 0, z 0 ) tais que F (x 0, y 0, z 0 ) 0. Como z F z (x 0, y 0, z 0 ) = z 0 (16x 0 9y 0 z 0 ) = 0, se z 0 = 0 ou 16x 0 9y 0 z 0 = 0, segue que fora destes pontos z = k(x, y) é diferenciável e z x = F x F z = 3x2 + 8z 2 16xz 9yz

c KIT - Cálculo Diferencial e Integral 15 e z y = F y 6y 3z3 = F z 16xz 9yz. Teorema 14 (Função Implícita) Seja F : R k R m uma função de classe C 1. Suponha que F (x 0, y 0 ) = 0 e [ ] F det y (x 0, y 0 ) 0. R m Então, existe um aberto W R k e φ : W R k função de classe C 1 tais que a) x 0 W e φ(x 0 ) = y 0. b) F (x, φ(x)) = 0, x W. Demonstração: Seja g : R k R m R k R m denida por g(x, y) = (x, f(x, y)). Então g é de classe C 1 e a matriz jacobiana tem determinante em (x 0, y 0 ) não nulo, e g (z 0 ) = [ I k 0 F x (x 0, y 0 ) F y (x 0, y 0 ) det g (x 0, y 0 ) = det F y (x 0, y 0 ) 0. Segue do Teorema da Função Inversa que existe U R k R m vizinhança aberta de (x 0, y 0 ) tal que V = g(u) é aberto e g : U V é difeomorsmo de classe C 1. Se denotarmos por (x, y) = g(x, y) para (x, y) U, então (x, y) = g 1 (x, y). ],

16 Prof. Doherty Andrade Como x = x temos que y = F (x, y) se, e somente se, y = g 1 (x, y). Em particular, F (x, y) = 0 y = g 1 (x, 0) e concluímos a prova denotando φ(x) = g 1 (x, 0) para todo x W = U R k. Referências [1] W. Rudin, Principles of Mathemacal Analysis. MacGraw- Hill, 1989.