MIRAGE 2000 UM BOM NEGÓCIO? Roberto Portella Bertazzo, Bacharel em História pela UFJF e Membro da Sociedade Latino Americana de Historiadores Aeronáuticos (LAAHS) robertobertazzo@hotmail.com A compra de 12 jatos Mirage 2000, da França, por 60 milhões de Euros e mais 20 milhões para armas e equipamentos, desperta a dúvida: terá sido um bom negócio? Serão entregues ao Brasil dez aeronaves monoposto Mirage 2000C, e dois bipostos Mirage 2000B. A França se compromete a entregar dois monopostos e um biposto até dezembro de 2006. Os outros nove seriam entregues até meados de 2008. Impressão artística mostrando o futuro Mirage 2000C da FAB. (Crédito da foto: autor) A compra de ocasião, sem dúvida será um bom negócio, tendo em vista o preço unitário de cada aeronave, mas, é preciso analisar alguns detalhes relativos aos aviões, que ainda não foram informados.
Vários tipos de motores Snecma M-52 equipam os Mirage 2000 franceses. Seria de se esperar que os comprados pelo Brasil venham todos equipados com um só tipo de motor, para facilitar a manutenção e a logística. Com relação aos radares e armamentos, a França opera basicamente três lotes dos Mirage 2000. Todos os monoplaces estão amados com um par de canhões Defa 554 de 30mm e 125 tiros cada um. Os primeiros exemplares do Mirage 2000C entregues ao Armée de l Air estavam equipados com o radar Thomson RDM, que pode localizar um alvo de 5 metros de superfície de reflexão a aproximadamente 80 km e rastreá-lo a 35 km. Sua maior limitação é que equipado com este radar, o míssil de médio alcance do Mirage 2000 é o Super R-530F, com alcance de aproximadamente 40 km, mas que não pode atingir alvos voando a baixa altitude, rente ao solo. (Este radar equipa os Mirage 2000P/D do Peru). Mirage 2000P da Força Aérea Peruana, armado com quatro bombas guiadas por laser da família Whizzard israelense e dois mísseis ar-ar R.550 Magic 2. Até então o único operador deste avião na América Latina. Notar a sonda de reabastecimento em vôo. (Foto: Manuel Carreño - SAORBATS) Já os do segundo lote estão equipados com radar Thomson RDI, com um alcance de aproximadamente 90Km. Estes aviões são compatíveis com os mísseis Super R-530D, guiado por radar com um alcance de aproximadamente 50 km e possui capacidade de destruir alvos voando baixo, rente ao solo. Sua maior limitação está em que só pode travar um alvo de cada vez e tem de iluminá-lo com o radar até que o míssil o destrua. O terceiro lote se trata de uma modernização dos modelos anteriores e foi denominado Mirage 2000-5 que podem ser equipados com o radar Thomson RDY, com alcance de 110 km e capacidade de localizar simultaneamente 24 alvos e atacar simultaneamente 8. Estes aviões levam até quatro mísseis Mica, com alcance de
aproximadamente 40Km mas com guiagem final Infra vermelha ou ativa, que permite que o avião abandone a área após o disparo do míssil. Dois Mirage 2000C da Armée de L Air armados com mísseis Super R-530 e Magic 2. (Foto: Dassault) Mirage 2000-5 de Abu Dhabi. Notar a sonda de reabastecimento em vôo. (Fotos: Dassault)
Sem dúvida o ideal seria a compra de aviões modernizados para o padrão 2000-5, armados com mísseis Micas, que foram inclusive propostos para armar nossos F-5M. Porém, o mais provável é que sejam entregues os aviões equipados com radares RDI. Nesse caso, teria que ser pensada à possibilidade de se adaptar um míssil mais moderno aos aviões. Os mísseis de curto alcance padrão são os Matra Magic 2, mas para a Força Aérea de Abu Dhabi, os Mirage 2000 foram capacitados a disparar os mísseis americanos AIM-9 Sidewinder. Maquete do F-5 armada com mísseis MICA IR/RF, apresentada na FIDAEE 2004. (Foto: autor) Outra dúvida está na compatibilidade dos Mirage 2000 com os aviões de alerta R-99 da FAB. Vale lembrar que a Grécia opera os R-99 (diferentes em alguns aspectos dos brasileiros) e tem como interceptador principal os Mirage 2000EG. Pode-se supor que é possível compatibilizar estes dois aviões. Painel do Mirage 2000 e turbina Snecma M-53. (Fotos: autor)
No cenário Latino Americano, o Peru e a Colômbia empregam bombas guiadas a laser nos seus Mirage 2000, Mirage V e Kfir C-7, tendo a Colômbia empregado estas bombas em situação real de combate contra os grupos terroristas do país. (ver artigo: UMA REALIDADE COLOMBIANA - BOMBAS GUIADAS A LASER NA AMÉRICA DO SUL no link http://www.defesa.ufjf.br/arq/rb%201.htm). No Brasil, apesar do CTA haver desenvolvido e homologado bombas anti-pista, do tipo Durandal e bombas com freio de pára quedas, estes armamentos ainda não fazem parte do inventário da FAB. Bombas Laser também estão ausentes dos nossos arsenais. Até quando? Comparados aos Mirage IIIEBR, os Mirage 2000, sem dúvida alguma, serão uma grande evolução, um salto dos anos 60 para os anos 80. Estes aviões possuem um sistema de comando Fly-by-Wire, motores muito mais potentes e capacidade de reabastecimento em vôo, uma das maiores limitações dos nossos velhos Mirage IIIE. Por um custo relativamente baixo, a Força Aérea Brasileira será equipada com um avião ainda plenamente atualizado tecnologicamente e que nos dará uma boa posição de equilíbrio no cenário regional. Pode não ter sido o melhor negócio, mas foi um bom negócio, inclusive porque poderíamos comprar em boas condições mais aeronaves no futuro, à medida que os Raffale sejam introduzidos no Armée de l Air.