A DEFESA NO BRASIL EM 2005 Um breve olhar

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1 A DEFESA NO BRASIL EM 2005 Um breve olhar O ano de 2005 trouxe algumas novidades para a área de Defesa no Brasil, muito embora não cubram todas as nossas necessidades, que são enormes, representam em alguns casos avanços e retrocessos numa área tão vital para o país. Num acordo existente entre os exércitos do Brasil e Argentina, o resultado inicial é a parceria para a produção de uma VIATURA LEVE DE EMPREGO GERAL AEROTRANSPORTÁVEL (VtrLEmpGeAetrnp), cujo primeiro protótipo está sendo concluído no Brasil e efetuará os primeiros testes ainda neste ano. Trata-se de um veículo leve tubular 4x4 e 4x2 para se empregado por unidades de deslocamento rápido, com capacidade aerotransportada por aviões e helicópteros, armado com metralhadoras 7,62 ou 12,7 mm, além de mísseis anticarro, com tripulação de três homens, podendo transportar 450 kg de carga. Está equipado com um motor diesel MWM, turbo, em linha, 120 CV, podendo alcançar velocidade máxima de 120 km/h, construído com peças da indústria automotiva existente nos dois países. Primeiro protótipo da VIATURA LEVE DE EMPREGO GERAL AEROTRANSPORTÁVEL, produção conjunta Brasil/Argentina. (Crédito da foto: coleção do autor)

2 Atualmente existe a necessidade em substituir os nossos antiquados blindados sobre rodas EE-9 Cascavel e EE-11 Urutu, muito embora exista um programa de repotencialização realizado por empresas particulares no Arsenal de Guerra de São Paulo, ele é paliativo, apenas prolongando a vida útil destes veículos produzidos na década de 80, alguns sendo empregado pelas Forças de Paz brasileiras que estão operando no Haiti desde 2004, onde incorporamos um na verão ambulância e outro com lâmina tipo buldozer frontal, para remoção de obstáculos em ruas. Tivemos também de improvisar rapidamente uma pequena blindagem adicional que está sendo acoplada a algumas viaturas Land Rover no Haiti, numa parceria entre o Centro de Avaliações do Exército CAEx e a CENTIGON BLINDAGENS DO BRASIL LTDA, de Barueri, SP. Land Rover 110 com blindagem adicional para as tropas brasileiras no Haiti. (Foto: Centigon) Uma tentativa foi a realização de uma concorrência pública para que empresas nacionais e estrangeiras apresentassem uma proposta para a criação de um novo veículo 6x6 que poderia vir a equipar as unidades mecanizadas. Aberta a licitação esta causou uma grande frustração, visto que nenhuma empresa estrangeira apareceu e somente duas nacionais apresentaram suas propostas, mas devido à eterna falta de verbas, esta foi suspensa, ficando para o ano de 2006 uma nova, onde se pensa em produzir um protótipo e se der uma pré-série, mas vamos aguardar com cautela os acontecimentos. Outras também foram tentadas, anteriormente, inclusive uma que denominou o veículo de URUTU III, onde foram apresentadas fotos e maquetes, mas também não foi adiante. Sem dúvida a grande meta para 2006 será a Nova Família de Blindados sobre Rodas. EE-11 Urutu do Exército Brasileiro em operações na Força de Paz no Haiti. (Crédito da foto: Exército Brasileiro) e maquete na escala 1:8 mostrando como seria o URUTU III, versão derivada do antigo Urutu EE-11 só que com suspensão independente nas seis rodas, eliminando desta forma a suspensão boomerang, apresentado pela Commando Veículos Especiais Ltda, em Brasília, DF, em maio de (Foto: Coleção do autor)

3 Com as novas missões que estão sendo atribuídas ao Exército Brasileiro, uma delas é a Garantia da Lei e da Ordem (GLO), com a criação de unidades especializadas para atuarem como força policial, em situações extremas devido aos narcotraficantes e o crime organizado que assola o país. Estas unidades terão de ser equipadas com veículos especiais. Existem no país diversas empresas que possuem capacidade para a produção seriada de diversos modelos, algumas inclusive já estão exportando veículos deste tipo para países do norte da África e da própria América do Sul. Veículo para operações especiais de polícia proposto pelo fabricante AVIBRÁS, e denominado BOPE (Batalhão de Operações Especiais), construído sobre chassis alemão UNIMOG (Crédito da foto: Avibrás - Coleção do autor) e à direita Veículo blindado para uso policial, construído sobre chassi de caminhão Ford Cargo x4 produzido pela Centicon Blindagens do Brasil Ltda, com diversas versões como canhão de água, comando e transporte de pessoal, etc. Diversos destes veículos estão sendo exportados. (Crédito das foto: Centigon Coleção autor) Outro fator preocupante é o fato da LAND ROVER ter encerrado a produção do DEFENDER no Brasil, que passará a se importado a partir de 2006, onerando em muito a manutenção das 750 unidades adquiridas pelo Exército, Marinha e Aeronáutica, nos últimos anos, num contrato de R$ ,00 (oitenta e quatro milhões de reais), mostrando o grande risco ao se depender de material importado, gerado pela falta de uma política que garanta e estimule a produção nacional por empresas nacionais, muito embora existam no país jipes nacionais que não ficam atrás deste modelo, 100% Made in Brazil. O curioso é que o Diário Oficial da União n 251 de 30 de dezembro de 2005 publicou o Extrato de Dispensa de Licitação nº 170/2005, processo 227/2005 DLog, cujo objeto é a aquisição de viatura de transporte não especializado no valor de R$ ,34 tendo como contratada a Ford Motor Company Brasil Ltda, subsidiária da FORD americana, proprietária Land Rover na Inglaterra e responsável pela produção no Brasil, elevando assim o valor total dos contratos desde 2002 para aproximadamente R$ ,00... Land Rover 90 da Aeronáutica em Natal RN. (Foto: Roberto Bertazzo)

4 Uma notícia interessante e que pode ser o início de uma valorização da indústria nacional foi o fato do Exército Brasileiro, ter adquirido oito jipes AGRALE MARRUÁ AM-2 e que provavelmente irão equipar a 6ª Brigada Infantaria Blindada, de Santa Maria, e o 8 Esquadrão de Cavalaria Mecanizado, sediados respectivamente em Santa Maria e Porto Alegre, RS. Este mesmo jipe foi homologado pelo Exército e Marinha da Argentina. O CAEx, no Rio de Janeiro, está efetuando testes de homologação na versão ¾ toneladas do MARRUÁ, o mais novo membro da família, que poderá estar finalizado no final de março próximo. Jipe Marruá ¾ tonelada que encontra-se em testes de avaliação no CAEx, no Rio de Janeiro. (Crédito da foto: Agrale) Estamos também vivenciando uma grave crise financeira na maior empresa estatal, pertencente ao Exército, que é a IMBEL Indústria de Material Bélico do Brasil, responsável pela produção de munições, armas leves e sistemas de comunicações. Trata-se de uma empresa estratégica que precisa ser preservada para garantir sua produção, que praticamente é toda absorvida pelo Exército, como forma a se evitar uma dependência completa do exterior. No final de 2005 foi injetado recursos que não resolvem definitivamente o problema, mas dá uma sobrevida até que se encontre um solução definitiva. Como fruto de nossa capacidade industrial, o Arsenal de Guerra do Rio de Janeiro AGR está produzindo em série além dos morteiros de alma lisa de 81 mm, os Morteiros Pesados Raiados de 120 mm, auto rebocáveis, em suas dependências e com grande capacidade para exportação, sendo que a IMBEL desenvolve e produz a munição que inclui três tipos: CONVENCIONAL, de 13kgf, alcance mínimo de 500 metros e máximo de 6650 metros; PRÉ-RAIADA, de 15,7kgf, alcance mínimo 1200 metros e máximo de metros; PRÉ-RAIADA COM PROPULSÃO ADICION AL, de 15,7kgf, alcance mínimo de metros e máximo de metros. Sem dúvida esta arma dará ao Exército Brasileiro uma alta mobilidade, um notável ganho em simplicidade e rapidez nas suas operações. Sua produção já ultrapassou a casa das cem unidades.

5 Morteiro Pesado Raiado de 120 mm produzido no Arsenal de Guerra do Rio de Janeiro em testes de tiro com munições de exercício na Marambaia, RJ. (Crédito da foto: autor) Também no apagar das luzes de 2005 foi autorizada a compra na AVIBRÁS de sete veículos blindados AV-VBL 4x4, que serão usados na área de telemática em brigadas do Exército, numa versão similar às que foram exportadas para a Malásia. AV-VBL do Exército da Malásia. Versão similar será usada pelo Exército Brasileiro. (Foto: autor) A empresa MECTRON Engenharia, Indústria e Comércio Ltda, de São José dos Campos ao que tudo indica terá recursos suficientes para fazer a pré-produção de cinqüenta mísseis superfície-superfície anticarro portátil MSS 1.2. cujo projeto já se estende por vinte anos, desde os tempos da extinta Órbita Sistemas Aeroespaciais S/A e que acabou sendo desenvolvido em parceria com o IPD Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento do Exército, agora absorvido pelo CAEx. Míssil portátil anticarro superfície-superfície MSS.1 2. desenvolvido pelo CAEx e Mectron (Foto: Mectron)

6 Já na área relacionada com a Força Aérea Brasileira FAB, as grandes novidades foram: o cancelamento do PROGRAMA FX e no seu lugar a aquisição de 10 (dez) aviões Mirage 2000 C e 02 (dois) B, usados, oriundos da Força Aérea Francesa, cujas entregas começam em 2006 e terminam em Comparados ao MIRAGE III EBR, os MIRAGE 2000, sem dúvida alguma, nos transportam dos anos 60 para os anos 80, trazendo inovações e uma melhor capacidade dissuasória, podendo ser até integrado aos novos aviões de alerta Embraer R-99, como feito na Grécia. Pode não ter sido o melhor negócio, mas foi um bom negócio, até porque poderemos no futuro adquirir outros a preços razoáveis até que possamos ressuscitar o Programa FX. Impressão artística mostrando o futuro Mirage 2000C da FAB. (Foto: Roberto P. Bertazzo) O mais marcante foi o fato dos Estados Unidos terem cancelado a compra dos aviões Embraer 145 versão Aerial Common Sensor ACS para o US Army e US Navy ganha pelo consórcio Lockheed/Embraer para a aquisição seis a sete aviões. O motivo da suspensão foi o fato de acharem o avião pequeno demais, isto depois de terem feito todo o processo licitatório, muito embora a decisão final tenha deixado no ar uma grande frustração, ganhou, mas não levou. Esta atitude inviabilizou a construção de uma fábrica da Embraer naquele país e a obrigou a rever sua metas para a área de defesa, cuja meta era chegar até 2010 com 20% de sua produção voltada para aquele segmento. Impressão artística dos futuros Embraer ACS 145 do U.S.Army e U.S. Navy. (Foto: Embraer)

7 Na área naval, a MARINHA DO BRASIL, além da lenta continuidade ao desenvolvimento do futuro Submarino Nuclear, devido à eterna falta de recursos, conseguiu uma grande proeza no hemisfério sul, onde pela primeira vez, um submarino de toneladas, no caso o TIMBIRA S-32, Classe TUPI, IKL-209, incorporado à esquadra em 16 de dezembro de 1996, foi retirado da água a partir da condição de flutuação e colocado no interior de uma oficina, no Arsenal de Guerra do Rio de Janeiro, em maio de O sucesso foi conseguido graças à parceria entre Marinha, Iniciativa Privada e Universidade, num trabalho fabuloso que ajudará muito a manutenção e o desenvolvimento da Tecnologia Militar Nacional. O Submarino TIMBIRA S-32 sendo transportado para a oficina no Arsenal de Guerra do Rio de Janeiro em 30 de Maio de (Crédito da foto: MARINHA DO BRASIL) Outro ponto extremamente positivo foi a aprovação pelo MINISTÉRIO DA DEFESA, da POLÍTICA NACIONAL DA INDÚSTRIA DE DEFESA PNID (Portaria Normativa 899/MD, de 19 de Julho de 2005) que visa revitalizar um setor que se encontra em crise aguda, desde a segunda metade dos anos 90, e longe de conseguir recuperar os anos dourados das décadas de 70 e 80, onde provou ser possível repotenciar, manutenir, adaptar e criar soluções brasileiras que poderiam nos ter dado uma grande independência em diversas áreas dentro das Forças Armadas. O objetivo maior da PNID é o FORTALECIMENTO DA BASE INDUSTRIAL DE DEFESA BRASILEIRA, visando à diminuição progressiva da dependência externa em produtos estratégicos de defesa, desenvolvendo-os e produzindo-os internamente, buscando uma melhoria da qualidade tecnológica dos produtos estratégicos na área, através da ampliação da capacidade de aquisição de produtos de defesa produzidos pela indústria nacional que possam atender às Forças Armadas.

8 Mas para que isto ocorra será necessária uma conscientização de toda a sociedade quanto à necessidade do País dispor de uma forte Base Industrial de Defesa, calcado no Decreto nº 5.484, de 30 de Junho de 2005 que criou a POLÍTICA DE DEFESA NACIONAL e dentre suas orientações estratégicas podemos citar O fortalecimento da capacitação do País no campo da defesa é essencial e deve ser obtido com o envolvimento permanente dos setores governamental, industrial e acadêmico, voltados à produção científica e tecnológica e para a inovação. O desenvolvimento da indústria de defesa, incluindo o domínio de tecnologia de uso dual, é fundamental para alcançar o abastecimento seguro e previsível de materiais e serviços de defesa. Não se pode esquecer a vontade política e uma visão estratégica de longo prazo, que até o momento nos tem faltado, mas como disse um antigo dirigente da indústria de defesa brasileira: O desejo de ter um equipamento brasileiro deve ser dos brasileiros e não dos fabricantes mundiais.