UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL SUPLEMENTAÇÃO DE BOVINOS NA ESTAÇÃO DA SECA MARCIELE NEVES CARLOTO Revisão de literatura apresentada como parte das exigências da disciplina Seminário I do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal. CAMPO GRANDE - MS MAIO 2008

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA ANIMAL SUPLEMENTAÇÃO DE BOVINOS NA ESTAÇÃO DA SECA MARCIELE NEVES CARLOTO Eng. Agrônoma Orientadora: Profª. Dr. Valéria Pacheco Batista Euclides Revisão de literatura apresentada como parte das exigências da disciplina Seminário I do Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal. CAMPO GRANDE - MS MAIO - 2008 2

SUPLEMENTAÇÃO DE BOVINOS NA ESTAÇÃO DA SECA RESUMO: O animal em pastagem de baixa qualidade não consegue alcançar sua demanda em nutrientes para manter uma curva crescente de crescimento. Tal condição pode acarretar em um retardamento na idade de abate, na parição da primeira cria, uma diminuição da fertilidade e na condição geral do rebanho. Portanto, maior precocidade dos sistemas de produção animal em pasto só será alcançada se houver um ajuste nutricional entre a curva sazonal de oferta das pastagens com a curva crescente de demanda do animal por nutrientes. E isto só será possível por meio do uso da suplementação alimentar. A manipulação nutricional através da suplementação representa uma forma de, por meio de estímulo a atividade microbiana ruminal, proporcionar uma otimização do desempenho animal em pastejo. O nível de manipulação vai estar relacionado, basicamente, ao nível de desempenho projetado para os animais. Em sistemas mais conservadores (mantença ou ganhos de peso de aproximadamente 500g por animal. dia) a suplementação pode ser feita em uma escala micro (ambiente ruminal), explorando mais o efeito aditivo dos suplementos sobre digestibilidade e consumo. Em sistemas mais dinâmicos (terminação) a suplementação é feita em uma escala macro microorganismos e animal, permitindo um efeito de substituição controlado (em função do % peso vivo). Objetivou-se com este trabalho fazer uma revisão de literatura sobre o uso da suplementação na época da seca na nutrição de bovinos em pastagens tropicais. Palavras-chave: desempenho animal, nutrição de bovinos, suplementos SUPPLEMENTATION OF CATTLE DUNING DRY SEASON ABSTRACT: The animal raised in low quality pasture does not reach its demand in nutrients to keep an increasing curve of growth. This condition can result in a delay in age at slaughter, the birth of the first creates, a declining fertility and the general condition of the herd. Therefore, a greater precocity on grass animal production system will only be reached with nutritional adjustments between the seasonal curve of pastures offering and the increasing curve of the animal nutrients demand. It will only be possible by using supplementary alimentation. The nutritional manipulation through 3

supplementation represents a way to, by means of stimulating the rumen microbial activity, provide a better animal performance in pasture. The manipulation level is related, basically, to the type of projected performance for the animals. In more conservatives systems (maintenance or profits of weight of approximately 500g for animal a day) the supplementation can be made in a micron scale (rumen environment), exploring the additive effect of the supplements on digestibility and consumption. In more dynamic systems (termination) the supplementation is made in a macro microorganisms and animal scale, allowing a controlled effect of substitution (by the percentage of live weight). The objective of this work is to make a review of literature on the use of supplementation in the dry season in nutrition of cattle in tropical pastures. Keywords: animal performance, nutrition of cattle, supplements Introdução Com clima favorável e abundância territorial e de vegetação, o Brasil é líder em produção de carne no mundo. Porém, a pecuária brasileira enfrenta a sazonalidade de produção das plantas forrageiras e deficiências nutricionais da pastagem, base do sistema de criação. De modo geral, há excesso de produção no período das águas e escassez na seca. Assim, a aplicação de tecnologias que otimizem o desempenho animal é fundamental para a conquista do mercado de forma sustentável e competitiva. Em um programa de produção contínua de carne, torna-se essencial eliminar as fases negativas de desenvolvimento, proporcionando condições ao animal para se desenvolver normalmente, durante todo o ano, a fim de que se alcancem condições de abate, peso e, ou, terminação, mais precocemente. Para isto, faz-se necessário manter o suprimento de alimento em equilíbrio com os requerimentos dos animais. Uma das formas de se complementar o eventual déficit de proteína e energia que as pastagens apresentam durante o ano é por intermédio da suplementação. Esta é feita principalmente com alimentos concentrados ou com volumosos de boa qualidade. No 4

entanto, é importante ajustar os níveis de energia e proteína do suplemento em relação à forragem. Diante disso, objetivou-se discorrer sobre o uso da suplementação na época da seca na nutrição de bovinos em pastagens tropicais. A Suplementação como Estratégia de Manejo de Pastagem Em estudo com sete espécies forrageiras para o manejo na forma de feno em pé, Euclides et al. (1990) observaram que B. decumbens, B. humidicola e o capim estrela africana (Cynodon plectostachyum) destacaram-se como as mais promissoras para a utilização neste sistema de manejo, com produções de 2.875; 2.847 e 1889 Kg de matéria seca verde (MSV)/ha, respectivamente. Segundo Euclides et al. (1990) janeiro é a melhor época de vedação das pastagens de capim Braquiária, enquanto as de capim Estrela podem ser vedadas em janeiro ou fevereiro. No Brasil central, existem dois períodos distintos em relação à qualidade das pastagens: período das águas, em que ocorre maior concentração de nutrientes na planta, e período seco, em que há redução do conteúdo de nutrientes e disponibilidade de forragem (80% da disponibilidade total no período das águas e 20% no período seco). Segundo Poppi & McLennan (1995), as flutuações estacionais na disponibilidade e qualidade das pastagens resultam na elevada idade ao abate dos animais. O animal em pastejo pode afetar a taxa de acúmulo de forragem pela remoção de partes da planta, por outros prejuízos físicos diretos às plantas ou ao solo, ou pela reciclagem de nutrientes através de suas fezes e urina. Em contrapartida, o animal em pastejo pode ser afetado pela quantidade de forragem consumida e pelo seu valor nutritivo. Como conseqüência da íntima interdependência entre os estádios de produção, 5

decisões de manejo que melhorem a eficiência em um deles podem reduzí-la em outro estádio e vice-versa. A essência do manejo de áreas de pastagens é, portanto, atingir um balanço harmônico entre as eficiências de crescimento de forragem, consumo de forragem e conversão animal (Hodgson, 1990). Os resultados de análise de elementos minerais das principais forrageiras analisadas na Embrapa Gado de Corte encontram-se resumidos na Tabela 1. São teores médios da composição química nos períodos seco e chuvoso. TABELA 1. Concentração média estacional de elementos minerais em diferentes espécies cultivadas na Embrapa Gado de Corte, relativa aos anos de 1987 a 1991. Espécie Ca (%) P (%) Mg (%) S (%) K (%) forrageira Água Seca Água Seca Água Seca Água Seca Água Seca B. brizantha 0,29 0,40 0,13 0,11 0,29 0,37 0,14 0,12 1,86 1,16 B. decumbens 0,26 0,33 0,13 0,09 0,26 0,26 0,13 0,12 1,74 1,15 B. humidicula 0,30 0,26 0,14 0,11 0,20 0,25 n.d. n.d. 0,76 0,30 Colonião 0,26 0,46 0,17 0,12 0,22 0,29 0,17 0,16 1,74 1,30 Tobiatão 0,27 0,40 0,14 0,10 0,19 0,22 0,15 1,13 1,68 1,29 Tanzânia 0,30 0,43 0,15 0,11 0,24 0,28 0,15 0,13 1,66 1,22 Espécie Fe (mg/kg) Mg (mg/kg) Zn (mg/kg) Cu (mg/kg) Na (mg/kg) forrageira Água Seca Água Seca Água Seca Água Seca Água Seca B. brizantha 406 n.d. 107 n.d. 20 25 6 6 58 43 B. decumbens 223 251 189 201 21 20 5,4 5,2 97 89 B. humidicula 441 160 265 222 27 29 3,8 2,7 2465 1214 Colonião 281 446 102 203 22 24 8,9 8,5 99 96 Tobiatão 960 1929 142 157 18 17 9,7 8,7 46 57 Tanzânia 200 570 145 267 16 15 6,8 6,8 79 94 n.d não determinado FONTE: Moraes (2001) A necessidade de atingir ou manter um determinado nível de desempenho animal (ganho de peso, produção de leite, etc.) é o fator determinante da demanda por alimento dentro de um sistema de produção. Sabe-se que o desempenho animal é função direta do consumo de matéria seca digestível, e que, nesse contexto, 60 a 90% decorrem de 6

variação do consumo, enquanto 10 a 40% advêm de flutuações na digestibilidade (Mertens, 1994). Nota-se, portanto, que a contribuição relativa do consumo de MS para o desempenho animal é, em média, três vezes aquela da digestibilidade. A demanda é função direta no nível de produtividade (produção animal/ha) que se tem como meta. Se, por um lado, o desempenho individual é altamente influenciado pelo consumo, a produção por unidade de área também é função da lotação, isto é, o número de animais por unidade de área. Portanto, o consumo está sob forte influência da oferta de forragem (Kg MS/Kg P.V.). Quando a forragem é o único alimento disponível para os animais em pastejo, esta deve fornecer energia, proteína, vitaminas e minerais necessários para o atendimento dos requerimentos de mantença e de produção. Considerando que os teores destes compostos estão em níveis adequados, a produção animal será função do consumo de energia digestível (ED), uma vez que é alta a correlação entre o consumo de forragem e o ganho de peso. Assim, a quantidade de alimento que um bovino consome é o fator mais importante a controlar a produção de animais mantidos em pastagens (Minson, 1990, citado por Reis et al., 1997). Dados sobre o valor nutritivo de forrageiras tropicais evidenciam diminuição acentuada de proteína bruta (PB), diminuição na digestibilidade, por fatores físicos e morfofisiológicos - aumento de lignina entre as células, dificultando o ataque de microrganismos do rúmen, diminuição da proporção de estruturas anatômicas mais digestíveis, em contrapartida, aumento de CHOS estruturais: celulose, hemicelulose, pouco digestíveis, diminuição no consumo de forragem. (Gomide & Queiroz, 1994). Este último item é influenciado por inúmeros fatores destacando-se aqueles relacionados à qualidade, à disponibilidade de forragem (Hodson,1990). 7

De acordo com os dados de Nunes (1980), a quantidade de forragem remanescente de período de crescimento anterior é função do número de animais/área. Como pode ser visto na Tabela 2. TABELA 2. Variação na disponibilidade de forragem (Kg MS/ha) entre o início e o final do período seco, e ganho de peso (g/ cab. dia) em pastagens de B. humidicola e B. ruziziensis. A maior disponibilidade de forragem no período seco, apesar de sua baixa qualidade, resultou em melhor desempenho animal, demonstrando a importância do ajuste na taxa de lotação em função da quantidade de forragem disponível (Nunes, 1980). Uma estratégia de suplementação adequada seria aquela destinada a maximizar o consumo e a digestibilidade da forragem disponível (Cardoso, 1997). Suplementação Se o objetivo da suplementação é fechar as lacunas deixadas pela curva sazonal de crescimento das forrageiras, a estação do ano mais adequada para o seu uso seria a da seca. Na região Centro-Oeste, esta época ocorre entre os meses de junho à setembro, 8

quando os pastos estão maduros, com baixo crescimento (aproximadamente 15 e 25% do crescimento anual para os Panicum e Braquiárias, respectivamente) e baixos teores de nutrientes (PB). De todos os nutrientes, nitrogênio é mais limitante, e conseqüentemente, o de maior prioridade para suplementação. Sua participação na dieta do animal é fundamental para manter o crescimento normal das bactérias ruminais. A população de bactérias no rúmen afeta diretamente a digestibilidade e o consumo (THIAGO, 1999). A manipulação nutricional via suplementos, deve atender aos requerimentos nutricionais dos microorganismos ruminais e dos bovinos propriamente ditos. Condições favoráveis a proliferação de microorganismos (bactérias, protozoários e fungos) são fundamentais para que os ruminantes se utilizem da fração não-solúvel (fibras) das pastagens. Quando os teores de PB das forrageiras estão abaixo de 7% (base na MS), o primeiro objetivo da suplementação seria atender à demanda das bactérias ruminais por nitrogênio. O suprimento de nitrogênio vai possibilitar que essas bactérias possam extrair energia da forragem ingerida pelo animal, através do processo de digestão. Esse suprimento pode ser feito via fontes protéicas de alta degradabilidade no rúmen (alta PDR), tais como a mistura uréia + sulfato de amônio (85% e 15%, respectivamente). Um ponto fundamental no processo de suplementação, e talvez mais importante no sistema, é a disponibilidade de MS ao longo do período de suplementação. É preciso garantir massa disponível (vedação do pasto) para o consumo. Em muitos sistemas de produção de ruminantes que tem como base o uso de pastagens, nutrientes suplementares são necessários para obter níveis aceitáveis de desempenho animal (Reis et al., 1997). A condição básica para se promover à suplementação é que haja elevada disponibilidade de massa forrageira na pastagem, 9

mesmo sendo de baixa qualidade. Neste caso, o consumo, a digestão, absorção ou metabolismo estão sendo adversamente influenciados por uma deficiência nutricional. Normalmente, a ingestão de suplementos altera a quantidade de forragem consumida, a direção e a extensão da mudança são dependentes da qualidade da forragem e do tipo de suplemento. Em geral, suplementos ricos em proteínas vão aumentar o consumo e digestibilidade de forragem de baixa qualidade. Por outro lado, suplementos com altos níveis de energia geralmente diminuem o consumo de forragem e podem reduzir também a sua digestibilidade. A depressão no consumo de forragem vai ser mais pronunciada com forragem mais madura e menos palatável, e dependente da quantidade de suplemento fornecido e de sua concentração energética (Cardoso, 1997). Para Reis et al. (1997), a suplementação dos animais em pastejo pode ser realizada com vários objetivos; como corrigir a deficiência de nutrientes da forragem; aumentar a capacidade de suporte das pastagens; fornecer aditivos; fornecer medicamentos; auxiliar no manejo das pastagens. A partir daí, pode-se esperar um desempenho animal satisfatório, reflexo dessa estratégia, que sem dúvida pode aumentar a taxa de ganho de peso, produção de leite, e qualidade da carcaça. Relação entre suplementação, consumo de forragem e desempenho animal Segundo REIS et al. (1997), muitas vezes o consumo do suplemento resulta em diminuição na ingestão de forragem. Tal fato é devido ao efeito de substituição, no qual a redução no consumo de forragem é expressa como uma proporção da quantidade do alimento alternativo consumido. Assim, o coeficiente de substituição pode ser definido como: 10

Coeficiente de substituição = Decréscimo no consumo de forragem/ Qualidade de suplemento consumido Há que se considerar que, quanto melhor for a qualidade da forragem, maior será o coeficiente de substituição pelo suplemento. Nesta situação, o coeficiente de substituição pode refletir a manutenção de um consumo de energia constante, ou a diminuição da digestão da fibra. Pequenas quantidades de N prontamente solúveis podem aumentar a digestão da forragem de baixa qualidade e, em alguns casos, o seu consumo. Em trabalho de Minson (1990) citado por Reis et al. (1997), altos coeficientes de substituição foram encontrados quando grande quantidade de milho moído foi fornecido a novilhas recebendo diferentes tipos de forragens. Contudo, quando a dieta continha menos de 33% de milho, o coeficiente de substituição variou de 0,03 a 0,66. Para REIS et al. (1997), essa diminuição no consumo de forragem pôr animais em pastejo é semelhante ao ocorrido com aqueles confinados, em resposta à suplementação energética, e está associado a uma progressiva diminuição no tempo de pastejo e tamanho do bocado, com o aumento do nível de suplementação. Em função do valor nutritivo da forragem disponível e dos tipos de suplementos avaliados, provavelmente ocorre efeito substitutivo, ou seja, diminuição no consumo de forragem em resposta ao fornecimento de suplementos. Suplementação Energética Segundo Reis et al. (1997), na utilização de concentrados para suplementação de animais mantidos em pastagens, deve-se considerar que a composição química do suplemento tem influência direta na digestibilidade e no consumo de forragens de baixo valor nutritivo. 11

Nas pastagens com baixa disponibilidade de forragem, a suplementação energética obviamente resultará em maior resposta animal, particularmente se o suplemento é rico em fibra de alta digestibilidade. Ao contrário, se há oferta de forragem em abundância, ocorrerá resposta somente se a forragem for de baixo valor nutritivo, uma vez que ocorre alto nível de substituição. As fontes de energia suplementar são extremamente variadas e incluem grãos, fontes de fibra rapidamente digestíveis, fontes ricas em açúcar (melaço) e forragens de alta qualidade (Haddad & Castro, 1998). Suplementos energéticos fornecidos sozinhos têm um menor potencial de ganho de peso comparado à suplementação protéica e uso de ionóforos. Outra desvantagem é que eles precisam ser oferecidos no mínimo em dias alternados, sendo melhor o fornecimento diário. Além disso, contém menos de 20% de proteína bruta e são consumidos em grande quantidade comparativamente a suplementos ricos em proteína, uma vez que o requerimento desta precisa ser suprido. Sendo assim, suplementos energéticos provavelmente não vão ser oferecidos quando suplementos ricos em proteína permitirem desempenho aceitável (Gill & Lusby, 1998; Lusby,1998 e Sprinkle, 1998, citados por Haddad & Castro, 1998). A suplementação energética muitas vezes é antieconômica, portanto, pode ocorrer indiretamente por meio do fornecimento de proteína. Esse tipo de suplementação aumenta a digestibilidade de forragens de baixa qualidade e também o seu consumo, resultando em maior ingestão de energia digestível (Reis et al., 1997). Os dados da Tabela 3, referente ao estudo conduzido por Vilela et al. (1980), para avaliar os efeitos da suplementação sobre a produção de leite de vacas mantidas em pastagens de capim gordura (Melinis minutiflora), mostraram aumento na produção de leite em resposta ao fornecimento dos suplementos concentrados. Apesar de não 12

registrarem diferenças estatisticamente significativas, esses autores observaram que o fornecimento do concentrado protéico (farelo de soja) não afetou o consumo de forragem, porém o fornecimento de milho desintegrado com palha e sabugo (MDPS) ou MDPS (80,0%) associado ao FS (20%) apresentou menor consumo de forragem. TABELA 3. Efeitos da suplementação sobre o desenvolvimento de vacas mantidas em pastagens de capim gordura. Suplementação Protéica O valor nutritivo das gramíneas tropicais durante o período de seca é baixo. Na maioria das vezes, os teores de PB não atingem o valor mínimo de 7%. Esse valor mínimo seria convertido em nitrogênio, por um valor estipulado (Fator = 6,25), resultando em aproximadamente 1% de nitrogênio na dieta. Quantidades de N abaixo desse valor limitam a atividade dos microrganismos celulotíticos do rúmen. Esse fato afeta a digestibilidade e o consumo da forragem, acarretando assim, baixos valores de ganho de peso dos animais (Reis et al.,1997, Paulino et al., 1982). Os mesmos autores verificaram que a síntese microbiana é de grande importância para animais alimentados com forragens de baixo valor nutritivo, devendo-se considerar que a sua síntese é determinada, predominantemente, pela disponibilidade de energia oriunda da digestão da forragem e do conteúdo de N degradável. A proteína microbiana 13

é sintetizada pelos microrganismos do rúmen a partir de aminoácidos e da amônia liberada no rúmen pela degradação da PB da forragem e daquela oriunda da saliva. Paulino et al. (1982) considerou que durante a estação seca o rebanho bovino alimenta-se das sobras de verão, caracterizadas por um elevado teor de fibra bruta e alta deficiência em proteína, energia, mineral e vitaminas. Com o uso de suplementos protéicos, haverá melhora no consumo e na digestibilidade do pasto seco. Associados a taxas de lotação adequadas, torna possível a exploração de vasta quantidade de forragem fibrosa de baixa aceitação, as quais normalmente são desperdiçadas durante ou ao final de cada estação seca. Segundo Cardoso (1997) a degradabilidade, ou seja, as fontes de proteína e suas combinações, além da quantidade a ser fornecida, também têm importância na formulação de suplemento para animais em pastejo. Entretanto, nem sempre proteína sobrepassante é limitante. A proteína microbiana é que será a limitante quando houver deficiência de proteína degradável no rúmen. Para Reis et al. (1997), a utilização de fontes de proteínas de baixa degradabilidade é adequada quando a disponibilidade de forragem é alta, mas com baixo conteúdo de PB (menor do que 7,0%). Da mesma forma, quando os animais estão com deficiência energética, devido à falta de forragem ou porque a exigência excede o nível de consumo de energia, o uso de proteínas bypass é recomendado. Como foi dito anteriormente, o fornecimento de proteína suplementar em dietas de baixa qualidade aumenta a atividade microbiana, a taxa de fermentação e a taxa de passagem da digesta através do trato digestivo e, desse modo, aumenta o consumo voluntário e a digestibilidade de forragem, além da produção de ácidos graxos voláteis pela digestão da fração fibrosa, incrementando energia para a dieta do animal em pastejo. Isto foi demonstrado por Lusby et al. (1998), citados por Haddad & Castro 14

(1998), usando farelo de algodão e farelo de soja que estimulam a digestão da forragem no rúmen, alcançando assim os requerimentos de energia, e aumentando o consumo voluntário. A ilustração da tabela 4, onde vacas consumindo adequada proteína digeriram a forragem mais rapidamente e consumiram mais forragem que vacas alimentadas com mesma quantidade de um suplemento à mesma energia suplementar, porém, sem proteína. Estes resultados mostram redução na perda de peso e melhora na taxa de concepção. TABELA 4 - Desempenho de vacas alimentadas no inverno com 2 níveis de proteína. Suplementação Mineral Em levantamento feito por Tokarnia et al. (2000), verifica-se que os primeiros estudos sobre deficiências minerais em bovinos no Brasil foram conduzidos na década de 40, em Minas Gerais (Gióvine, 1943; Menicucci, 1943), deficiência de iodo em Minas Gerais (Megale, 1943), deficiência de cobalto em São Paulo (Correa, 1955, 1957), deficiência de cobre no Piauí (Tokarnia et al., 1960). Neste levantamento estes autores mostram que até 1976 já haviam sido diagnosticadas as deficiências de P, Co, Cu, I, distribuídas pelo Brasil. Estes mesmos autores mostraram que a partir da década de 70 e 80 novos trabalhos de pesquisas foram feitos e constataram que a deficiência de fósforo é a mais importante em bovinos no Brasil, seguidas de cobre e cobalto. Além destas foram 15

diagnosticadas as deficiências de sódio (Souza et al., 1985), zinco (Souza et al., 1982), selênio (Moraes, 1986; Lucci et al. 1984). A deficiência de Mn foi constatada raramente, mas houve verificações de levados valores com risco de toxidez (Brum et al. 1987, Pott et al., 1987, 1989). E para o elemento ferro os níveis encontrados também foram elevados (Fichtner et al., 1987, Brum et al. 1987, Pott et al., 1987, 1989). A suplementação mineral pode ser feita por métodos indiretos como uso de fertilizantes minerais, mudança de ph do solo e o estímulo do crescimento de determinadas espécies forrageiras. O aumento do ph do solo influencia a absorção de minerais pela planta provocando deficiências de Cu e Co e excesso de Se e Mo. A fertilização das pastagens aumenta a produção de matéria seca, além de aumentar os minerais nas forrageiras, entretanto está relacionada à forma química do elemento e tipo de solo, entre outros fatores. O método mais eficiente de fornecer minerais para bovinos é através de suplementos minerais combinados com concentrados, se assegura maior exatidão na quantidade a ser ingerida diariamente. Mas, para bovinos em pastejo nem sempre isto é possível, sendo mais utilizado para bovinos de leite ou por meio do uso de misturas múltiplas para gado de corte, que vem aumentado nos últimos anos, principalmente na época da seca. A produção nacional de ortofosfato bicálcio, segundo informações obtidas junto aos produtores de ácido fosfórico, é da ordem de 430 mil toneladas anuais, sendo este produto aceito como o componente mais importante na suplementação mineral, com 24% de cálcio (Ca) e 18% de fósforo (P). Considerando-se que 30% desse montante se destinam à fabricação de rações para aves e suínos e 70% seriam utilizados na suplementação de bovinos de corte e leite, chega-se ao total de 80 mil toneladas de P, que anualmente são fornecidos ao total de 24 milhões de cabeças de bovinos, que consomem o mínimo de 6 g de P/dia (Tosi, 1997). 16

Características de um Bom Suplemento Mineral * O suplemento (mistura final) deve conter de 6 a 8% de fósforo (mínimo). * A relação Ca/P não deve ser superior a 2:1. * O suplemento deve conter proporção significante do requerimento em microelementos. * O suplemento deve ser composto por fontes de alto valor para os animais, não conter elementos prejudiciais e/ou tóxicos (flúor, vanádio, cádmio, etc.). * Sua formulação deve propiciar consumos adequados ao requerimento. Suplementos Múltiplos Bovinos mantidos em pastagens de gramíneas tropicais, especialmente durante a época seca, devido à estacionalidade de produção das pastagens, com redução quantitativa e qualitativa da forragem, geralmente sofrem de carências múltiplas, envolvendo proteínas, energia, minerais e vitaminas. Assim sendo, a melhoria da produtividade na criação a pasto presume a utilização de elementos de natureza múltipla, com associação de fontes de nitrogênio solúvel (uréia), minerais, fontes naturais de proteína, energia e vitaminas e aditivos, visando o ganho de peso dos bovinos, durante a época seca, a custos acessíveis ao criador (Paulino & Ruas, 1988). O objetivo básico dos suplementos múltiplos é estimular o consumo e digestão da forragem básica (o pasto seco) e, assim, permitir aos animais satisfazerem suas exigências e não o atendimento direto (efeito substitutivo) das exigências dos animais via suplemento (Paulino et al., 1995a). 17

De acordo com Paulino & Ruas (1988), resultado de pesquisa tem mostrado que suplementos múltiplos contendo de 4 a 5% de mistura mineral e 4 a 5% de uréia, fornecidos a vontade, permitem o controle de consumo pelo próprio animal, a 2 kg/animal.dia, possibilitando ganho de peso moderado sem provocar intoxicação nos animais. Entretanto, a palatabilidade de outros componentes do suplemento pode afetar o consumo. Os custos requeridos com transporte e distribuição de suplementos para bovinos de corte em pastejo são bastante expressivos. Pesquisas têm demonstrado que os animais não precisam receber suplementos diariamente. Dias alternados, ou três vezes por semana, não alteram o desempenho dos animais. Por isso, pode- se usar o sal como um regulador de consumo. Suplementação na Seca A disponibilidade e a qualidade das forrageiras variam durante o ano. À medida que a planta floresce e entra em maturação há um declínio na qualidade, provocada pela movimentação dos açúcares solúveis (glicose, frutose, sacarose, amido e outros) do caule e folhas para as inflorescências e sementes, pelo aumento do teor de fibras e pela queda na proporção folha/caule. Outros fatores que estão associados à queda na qualidade são a diluição dos nutrientes no volume de massa produzida ao mesmo tempo em que as plantas têm menor capacidade de absorver os minerais do solo. O maior problema no período da seca é o baixo desempenho dos bovinos em pastejo. As vacas de cria não recuperam a condição corporal necessária para manter o ciclo reprodutivo e as demais categorias animais apresentam baixas taxas de ganho de peso. O baixo teor de proteína é o fator limitante das pastagens nesta época do ano, e 18

sua correção, normalmente, resulta em aumento no consumo e digestibilidade da pastagem. Essa correção pode ser feita na base de NNP (uréia), mas melhores desempenhos, só serão alcançados com o uso também de proteínas verdadeiras (farelo de soja, algodão etc.). Níveis de substituição da proteína verdadeira pelo NNP em até 25%, aparentemente, não afetam o desempenho animal. Formulações As formulações devem observar a integração dos sistemas animal, planta e o tipo de manejo, como o ponto de partida para a manipulação nutricional de qualquer rebanho: Demanda nutricional dos animais Quantidade e qualidade da forrageira a ser utilizada O tipo de desempenho projetado para os animais A disponibilidade de alimentos a serem utilizados nos suplementos e seu custo A demanda nutricional vai ser reflexo direto do tipo animal e do desempenho animal desejado. Leva-se em conta o peso do animal, a categoria (vaca, bezerro, novilho (a)), a raça, a idade, e a sua estrutura geral. Nesse caso é necessário buscar as exigências nutricionais em tabelas específicas para isso. O National Research Council (NRC), por exemplo, fornece tabelas com várias exigências animais considerando tais características, mostrando o peso vivo animal; o ganho de peso pretendido; consumo de matéria seca total; exigências protéicas, energéticas e minerais entre outros. A quantidade e qualidade da forragem presente no pasto é ponto chave na formulação do suplemento. Essa tecnologia de produção exige a máxima disponibilidade de MS para atender a demanda do animal. É importante lembrar aqui, que o consumo total de MS deverá ser bastante estimulado pelo consumo do 19

suplemento. A qualidade, da forrageira por sua vez, é na maioria do caso baixa, com muita fibra. Nesse caso o suplemento fará com que a digestão da fração digestível seja estimulada e a fração indigestível excretada nas fezes com maior rapidez, facilitando o esvaziamento do trato digestivo e aumentando o consumo. Deve haver ao longo do período de suplementação suficiente disponibilidade de matéria seca para suprir os animais. Deve ser observada a área de pasto disponível, o tipo de forrageira a ser utilizada e sua produção no início da suplementação e o número de animais a serem suplementados. Como a suplementação ocorre, normalmente, nos períodos de seca, é importante assegurar essa disponibilidade de massa, mesmo que seja prejudicada um pouco a qualidade forrageira (a qualidade passará a ser suprida em parte pelo suplemento). Para isso a técnica de vedação de pastos é muito apropriada, a forragem é acumulada no período de crescimento para uso na época seca. A vedação é feita, normalmente, no final do período das águas para que se garanta massa de forragem na seca. A escolha da forrageira deve observar alguns requisitos, mas de forma geral a escolha se baseia em espécies que apresentem menor grau de diferenciação morfológica (maior relação folha/caule) e perdas de valor nutritivo. Espécies com crescimento prostrado (estolonífero) ou decumbente, tais como gramíneas do gênero Brachiaria, Cynodon e Digitaria, se adequam bem a esse tipo de manejo. O uso de gramíneas de hábito de crescimento cespitoso (touceiras) como dos gêneros Panicum, apesar de não serem muito indicadas, pode ser utilizada desde que seja possível um maior controle sobre o grau de diferenciação dessas gramíneas (época de vedação). O ajuste na lotação vai depender de quanto de forragem será disponibilizada para cada animal. A disponibilidade no período de suplementação deve ser superior ao nível de consumo dos animais. É recomendado que a disponibilidade de forragem seja de 2 a 20

2,5 vezes o nível de consumo (THIAGO, 1999). A pressão de pastejo, em termos de Kg de MS disponível por 100 kg de peso vivo animal, é de 4% quando se considera um nível de consumo de 2% do peso vivo. Este seria o nível mínimo a ser empregado em boa parte dos sistemas. Pressões de pastejo acima de 4% poderiam disponibilizar uma melhor condição de seleção e maior consumo. Outro passo importante no processo de formulação de suplementos é ter na região disponibilidade de alimentos para serem utilizados. Deve-se ter em mente o custo de aquisição e processamento desses produtos. É necessário ter em mãos a composição nutricional dos alimentos e quanto de nutrientes eles podem suprir os animais e suas respectivas proporções na mistura. Como para as exigências animais, há tabelas de composição de alimentos. Alimentos específicos de uma determinada região podem ser utilizados em substituição de alimentos mais tradicionais em formulações desse tipo e com bons resultados. De forma geral, é fundamental tornar o sistema como um todo sustentável, assegurando o retorno dos investimentos, a melhoria da produção e o bom desempenho da atividade. Considerações Finais Para a exploração de pastagens no período seco, a suplementação representa uma forma de introduzir um novo tipo de manejo a propriedade de modo a otimizar o uso da forragem ao longo do ano disponibilizando nesses períodos críticos um aporte de nitrogênio ao sistema que servirá para estimular o consumo e conseqüentemente aumentar a produção. 21

A utilização da técnica de suplementação alimentar em sistemas de produção animal em pasto, devem, como em qualquer atividade econômica, respeitar uma relação entre custo e benefício que otimize o sistema. Para isso é fundamental o acompanhamento de todas as etapas do processo e que algumas condições sejam estabelecidas. É importante que o uso de suplementos venha a interagir com o pasto de forma aperfeiçoar o uso da pastagem pelos animais (aumento da digestibilidade e consumo). Literatura Citada CARDOSO, E.G. Suplementação de bovinos de Corte em Pastejo (semiconfinamento). In: IV SIMPÓSIO SOBRE PRODUÇÃO ANIMAL, 1996. Confinamento de bovinos. Anais... Piracicaba: FEALD, 1997. EUCLIDES, V.P.B.; VALLE, C.B.; SILVA, J.M.; VIEIRA, A. Avaliação de Forrageiras Tropicais Manejadas para Produção de Feno-em-pé. Pesquisa Agropecuária. Brasileira; Brasília. V. 25, n.3. 1990. p. 393-407. GOMIDE, J.A. e QUEIROZ, D. S. Valor alimentício das Brachiarias In: SIMPÓSIO SOBRE MANEJO DA PASTAGEM. 11.1994, Piracicaba. Anais... Piracicaba. Peixoto, A.M.; Moura, J.C.; Faria, V.P. (ed.). FEALQ. 1994.P. 223-248. HADDAD, C.M. e CASTRO, F.G.F. Suplementação mineral de novilhos precoces Uso de sais proteinados e energéticos na alimentação. In: SIMPÓSIO SOBRE PRODUÇÃO INTENSIVA DE GADO DE CORTE. 1998. Campinas. Anais... Campinas, SP, 29 e 30 de Abril, 1998. HODGSON, J. Grazing management - Science into Practice. Longman Scientific e Technical, 203p. 1990. MERTENS, D.R. Regulation of forage intake. In: G.C. Faheyi; M. Collins; D.R. Mertens e L.E. Moser (ed). Forage Quality Evaluation and Utilization. ASA. CSSA, SSSA, Madison, WI. P. 450-493. 1994. MORAES, S. da S. Importância da suplementação mineral para bovinos de corte / Documentos / Embrapa Gado de Corte, ISSN 1517-3747; 114 - Campo Grande: Embrapa Gado de Corte, 2001. 26 p. NUNES, S.G. Efeito de diferentes cargas animal sobre o ganho de peso e produtividade de pastagens do gênero Brachiaria e Setaria. Campo Grande: EMBRAPA-CNPGC,1980. 31P. 22

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