Lógica e Metodologia Jurídica

Documentos relacionados
Lógica e Metodologia Jurídica

Lógica e Metodologia Jurídica

Lógica e Metodologia Jurídica

Lógica e Metodologia Jurídica

Lógica e Metodologia Jurídica

3.3 Cálculo proposicional clássico

Dedução Natural e Sistema Axiomático Pa(Capítulo 6)

Lógica. Cálculo Proposicional. Introdução

Cálculo proposicional

NHI Lógica Básica (Lógica Clássica de Primeira Ordem)

Vimos que a todo o argumento corresponde uma estrutura. Por exemplo ao argumento. Se a Lua é cúbica, então os humanos voam.

01/09/2014. Capítulo 1. A linguagem da Lógica Proposicional

Alfabeto da Lógica Proposicional

LÓGICA PROPOSICIONAL

Lógica Proposicional. Prof. Dr. Silvio do Lago Pereira. Departamento de Tecnologia da Informação Faculdade de Tecnologia de São Paulo

Lógica Formal. Matemática Discreta. Prof Marcelo Maraschin de Souza

Cálculo proposicional

Fundamentos de Lógica Lógica Proposicional

Lógica Proposicional (Consequência lógica / Dedução formal)

Lógica Proposicional Parte II. Raquel de Souza Francisco Bravo 25 de outubro de 2016

Lógica Proposicional

Lógica. Professor Mauro Cesar Scheer

LÓGICA I ANDRÉ PONTES

01/09/2014. Capítulo 3. Propriedades semânticas da Lógica Proposicional

MD Lógica de Proposições Quantificadas Cálculo de Predicados 1

Lógica Matemática. Prof. Gerson Pastre de Oliveira

Sistema dedutivo. Sistema dedutivo

Inteligência Artificial IA II. LÓGICA DE PREDICADOS PARA REPRESENTAÇÃO DO CONHECIMENTO

Resumo de Filosofia. Preposição frase declarativa com um certo valor de verdade

LÓGICA I. André Pontes

2 Lógica Fuzzy. 2 Lógica Fuzzy. Sintaxe da linguagem

Introdução à Lógica Computacional. Circuitos: Maps de Karnaugh Lógica Proposicional: Prova por Refutação

Lógica Computacional

LÓGICA MATEMÁTICA. Quando a precedência não estiver explicitada através de parênteses, a ordem é a seguinte: RELEMBRANDO 23/02/2016

Lógica. Fernando Fontes. Universidade do Minho. Fernando Fontes (Universidade do Minho) Lógica 1 / 65

3.4 Fundamentos de lógica paraconsistente

Aula 3: Linguagem Proposicional

Fundamentos de Lógica Matemática

Lógica para computação

Dedução Natural LÓGICA APLICADA A COMPUTAÇÃO. Professor: Rosalvo Ferreira de Oliveira Neto

Lógica para computação

Introdução à Lógica Matemática

LÓGICA PROPOSICIONAL

Exemplo 7 1 I. p q: Se o time joga bem, então o time ganha o campeonato. q s: Se o time ganha o campeonato então. s: Os torcedores não estão felizes.

Prof. João Giardulli. Unidade III LÓGICA

Lógica para Computação

Lógica Matemática UNIDADE II. Professora: M. Sc. Juciara do Nascimento César

Fundamentos da Computação 1. Introdução a Argumentos

3 Cálculo Proposicional

Introdução à Logica Computacional. Aula: Lógica Proposicional -Sintaxe e Representação

Aprendendo. Raciocínio. Lógico

Conhecimento e Raciocínio Lógica Proposicional

Lógica Proposicional Parte 2

Métodos de Verificação

Lógica Computacional

Cálculo de Predicados

INF 1771 Inteligência Artificial

JOÃO NUNES de SOUZA. LÓGICA para CIÊNCIA da COMPUTAÇÃO. Uma introdução concisa

Fundamentos de Lógica Matemática

Lógica Computacional

Introdução ao Curso. Área de Teoria DCC/UFMG 2019/01. Introdução à Lógica Computacional Introdução ao Curso Área de Teoria DCC/UFMG /01 1 / 22

Lógica Proposicional. Prof. Dr. Silvio do Lago Pereira. Departamento de Tecnologia da Informação Faculdade de Tecnologia de São Paulo

Lógica proposicional

4 AULA. Regras de Inferência e Regras de Equivalência LIVRO. META: Introduzir algumas regras de inferência e algumas regras de equivalência.

n. 11 Argumentos e Regras de Inferência

Lógica Proposicional (cont.)

Lógica Formal. Matemática Discreta. Prof. Vilson Heck Junior

Sistemas Inteligentes

Fundamentos de Lógica Matemática

Lógica Proposicional e Dedução Natural 1/48. Douglas O. Cardoso docardoso.github.io

Lógica Proposicional Métodos de Validação de Fórmulas. José Gustavo de Souza Paiva. Introdução

Matemática Régis Cortes. Lógica matemática

Lógica Proposicional Propriedades Semânticas

SCC Capítulo 2 Lógica de Predicados

Lógica Computacional DCC/FCUP 2017/18

Unidade II LÓGICA. Profa. Adriane Paulieli Colossetti

Lógica Computacional

impossível conclusão falso premissas verdadeiro

Lógica Proposicional Parte I. Raquel de Souza Francisco Bravo 11 de outubro de 2016

Como primeira e indispensável parte da Lógica Matemática temos o Cálculo Proporcional ou Cálculo Sentencial ou ainda Cálculo das Sentenças.

Sumário. Os Enigmas de Sherazade I Ele fala a verdade ou mente? I I Um truque com os números... 14

Prof. Tiago Semprebom, Dr. Eng. 09 de abril de 2013

Fórmulas da lógica proposicional

Unidade II. A notação de que a proposição P (p, q, r,...) implica a proposição Q (p, q, r,...) por:

Lógica Proposicional Semântica e Tabelas Verdade

Resumo aula. Conceituação; Origem; Lógica de programação; Argumentos; Lógica simbólica; Dedutivos; Indutivos;

n. 6 Equivalências Lógicas logicamente equivalente a uma proposição Q (p, q, r, ), se as tabelas-verdade destas duas proposições são idênticas.

Técnicas de Inteligência Artificial

Lógica Proposicional

Lógica Texto 11. Texto 11. Tautologias. 1 Comportamento de um enunciado 2. 2 Classificação dos enunciados Exercícios...

UNIP Ciência da Computação Prof. Gerson Pastre de Oliveira

n. 18 ALGUNS TERMOS...

Regras de Inferência. Matemática Discreta. Profa. Sheila Morais de Almeida DAINF-UTFPR-PG. março

Fundamentos da Computação 1. Aula 03

Introdução à Logica Computacional. Aula: Lógica Proposicional - Sintaxe e Representação

Matemática Computacional. Introdução

n. 5 Implicações Lógicas Def.: Diz-se que uma proposição P (p, q, r, ) implica V V V V F F F V V F F V

Relações semânticas entre os conectivos da Lógica Proposicional(Capítulo 5)

Lógica e Matemática Discreta

Transcrição:

Lógica e Metodologia Jurídica Argumentos e Lógica Proposicional Prof. Juliano Souza de Albuquerque Maranhão julianomaranhao@gmail.com

Quais sentenças abaixo são argumentos? 1. Bruxas são feitas de madeira. Madeira flutua. Então as bruxas flutuam. 2. Na hora do almoço o céu ficou nublado. Então, choveu. 3 O metal dilatou porque foi aquecido 4. O Prof. deu todas as aulas usando terno. Hoje ele dará aula. Então ele usará terno. 5. A calçada está molhada. A chuva molha a calçada. Então choveu.

Argumento Sequência de sentenças......uma das quais se afirma verdadeira (conclusão) e... as demais (premissas) são oferecidas como razões para acreditar na verdade da conclusão

Argumento e verdade Qual a relação entre verdade e a qualidade dos argumentos? Premissas verdadeiras, conclusão verdadeira Os homens são mamíferos Os mamíferos são mortais Os homens são mortais Todos os homens são mortais Sócrates é homem Sócrates é mortal Premissas falsas, conclusão verdadeira Todos os homens são abelhas As abelhas são mamíferos Os homens são mamíferos Todo jurista com mais de 90 anos foi filósofo Miguel Reale foi jurista com mais de 90 Miguel Reale foi filósofo

Argumento e verdade Qual a relação entre verdade e a qualidade dos argumentos? Premissas verdadeiras, conclusão verdadeira Alguns juristas escreveram muitos livros Pontes de Miranda foi um jurista Pontes escreveu muitos livros É um bom argumento? Argumentos não são verdadeiros nem falsos, mas bons ou ruins, convincentes ou não convincentes, válidos ou inválidos Em que medida a conclusão é suportada pelas premissas?

Argumentos dedutivos Relação de suporte Bruxas são feitas de madeira. Madeira flutua. Então as bruxas flutuam. Se algo é de madeira, então flutua. Bruxa é de madeira. Então bruxa flutua. Conclusão implícita nas premissas: Dada a verdade das premissas, é impossível que a conclusão seja falsa. (se conclusão fosse falsa, entraria em contradição com as premissas)

Argumentos indutivos Relação de suporte O Prof. deu todas as aulas usando terno. Hoje ele dará aula. Então ele usará terno. João tem 90 anos e tem artrite. Logo ele não correrá a São Silvestre. Premissas são evidências (mais fortes ou mais fracas) para a conclusão: Dada a verdade das premissas, é mais ou menos improvável que a conclusão seja falsa. (se conclusão fosse falsa, entraria em contradição com as premissas)

Relação de Suporte Argumentos abdutivos Observo que a calçada está molhada Sempre que chove a calçada fica molhada Logo choveu Premissas tornam plausível uma hipótese: Falsidade da conclusão não é impossível nem improvável, mas elimina uma explicação plausível para as premissas Qual a melhor explicação? Candidatos A) Choveu C) A calçada foi lavada D) Explosão de um caminhão pipa

Argumentos Dedutivos Validade: uma dedução é válida quando não for possível que a conclusão seja falsa dada a verdade das premissas Em virtude da forma (lógicas extensionais) A ou B, não A, logo B João vai ao cinema ou ao teatro. João não vai ao teatro Logo vai ao cinema Em virtude do conteúdo (lógicas intensionais) Se A, então A é possível No Japão as ondas alcançaram 800km/h. Logo é possível que as ondas alcancem 800km/h. Se A não é possível, então não A é necessário Se A é obrigatório, então é permitido

Lógica dedutiva Validade: uma dedução é válida quando não for possível que a conclusão seja falsa dada a verdade das premissas Validade é uma função da verdade das premissas e da conclusão. (semântica) Premissas e conclusões são sentenças com determinada estrutura. (sintaxe) A relação entre a estrutura das sentenças guarda paralelo com a relação entre suas condições de verdade.

Argumento do Ateu Se Deus quisesse evitar o mal e fosse incapaz de conseguilo, então seria impotente. Se fosse capaz de evitar o mal e não quisesse fazê-lo, então seria malevolente. Se o mal existe, então Deus não pode ou não quer impedi-lo. O mal existe. Se Deus existe, então não é impotente nem malevolente. Portanto Deus não existe.

Argumento do Ateu Se Deus quisesse evitar o mal e fosse incapaz de evitar o mal, então seria impotente. Se fosse capaz de evitar o mal e não quisesse evitar o mal, então seria malevolente. Se o mal existe, então Deus não pode evitar o mal ou não quer evitar o mal. O mal existe. Se Deus existe, então Deus não é impotente e Deus não é malevolente. Portanto Deus não existe.

Argumento do Ateu Q: Deus quer evitar o mal C: Deus é capaz de evitar o mal I: Deus é impotente M: Deus é malevolente E: O mal existe D: Deus existe Q ~C I C ~Q M E ~Q ~C E D ~I ~M ~D

Lógica dedutiva Frege: o valor semântico das sentenças é uma função do valor semântico de suas partes constitutivas Estrutura das sentenças: relação entre sujeito e predicado Sócrates é Homem. Hs O valor semântico de Sócrates é sua referência: Sócrates O valor semântico do predicado Homem é a sua extensão: o conjunto de todos os homens A sentença é verdadeira se Sócrates estiver incluído no conjunto de todos os homens

Lógica dedutiva Abstraindo da estrutura de cada proposição (sujeito e predicado), qual o significado de sentenças que compõem diferentes proposições por conectivos: Se...então, e, ou, não, se e somente se...,,, ~, Uma sentença tem valor semântico se pode ser verdadeira ou falsa O valor semântico de uma sentença é sua verdade ou falsidade. Ele é uma função do valor semântico de suas partes

Linguagem Proposicional (LP) 1) Símbolos de LP: Letras proposicionais: p 1,p 2,..., q 1,...r 1... Conectivos:,,, ~ para representar conjunção para representar disjunção Para representar implicação ~ para representar negação Usarei letras iniciais do alfabeto na metalinguagem para falar sobre esquemas arbitrários de fórmulas 2) Fórmulas bem formadas da linguagem LP i) Toda letra proposicional está em LP (p i,q i,r i LP) ii) Se a LP, então ~a LP iii) Se a, b LP, então a b, a b, a b LP iv) LP é o menor conjunto que satisfaz essas cláusulas

Semântica de LP Chamarei de função de valoração a função que me leva das fórmulas de LP ao valor de verdade ou falsidade, i.e. : LP {1, 0} 1= verdadeiro 0= falso Essa função satisfaz as seguintes cláusulas: (a b)= 1 sse (a)=1 e (b)=1 (a b)= 0 sse (a)=0 e (b)=0 (a b)=0 sse (a)=1 e (b)=0 (~a)=0 sse (a)=1 Com ela posso construir as seguintes matrizes para LP

Negação a ~a 0 1 1 0

Conjunção a b a b 1 1 1 1 0 0 0 1 0 0 0 0

Disjunção a b a b 1 1 1 1 0 1 0 1 1 0 0 0

Condicional (implicação material) a b a b 1 1 1 1 0 0 0 1 1 0 0 1

Equivalência (a b b a= def a b ) a b a b b a a b b a b a 1 1 1 1 1 0 1 1 0 0 1 0 0 1 0 0 0 1 0 1

Tautologias a b ~a ~b a b ~b ~a b a (a b) (~b ~a) 1 1 0 0 1 1 1 0 1 1 0 1 1 1 1 0 0 1 0 0 1 0 0 1 1 1 1 1

Forma normal disjuntiva a b c b c a (b c) b a 1 1 1 1 1 1 1 0 1 1 1 0 0 0 0 1 0 1 1 1 0 0 0 0 0 0 0 1 1 0 0 1 1 1 0 0 1 0 1 0

Contradições a b ~a b a (b a) ~a b ((b a) ~a) b a 1 1 0 1 0 0 0 1 1 0 0 0 1 0 0 1 0 0 0 0 1 1 1 0

a contrario a b ~a ~b a b ~a ~b b a (a b) (~a ~b) 1 1 0 0 1 1 1 0 1 1 0 1 0 0 1 0 0 1 0 1 1 0 0 1 1 1 1 1

Argumento Válido a a b b 1 0 Argumento é uma seqüência finita de fórmulas cuja fórmula final chamamos de conclusão e as anteriores de premissas Um argumento é válido se não existe uma valoração na qual as premissas são verdadeiras e a conclusão é falsa.

Testes para argumento válido Seja a 1,a 2... a n um argumento A no qual a 1,a 2... a n-1 são as premissas e a n é a conclusão. Então A é válido se e somente se (a 1 a 2... a n-1 ) a n for uma tautologia. Se um argumento é válido dizemos que a conclusão a n é conseqüência lógica das premissas a 1,a 2... a n o que será denotado por a 1, a 2... a n = a n Seja S um conjunto de fórmulas. Então Cn(S)={a: S = a} é o conjunto das consequências lógicas de S.

Algumas tautologias famosas ((a b) (b c)) (a c) Silogismo (a (a b)) b modus ponens (a b) (~b ~a) ~(a ~a) a ~a ((a b) (a ~b)) ~a ((a b) ~a) b ((a b ((a c) (b c))) c contrapositiva não contradição terceiro excluído reductio ad absurdum silogismo disjuntivo prova por casos (dilema)

Sintaxe Esquemas de Axiomas (Kleene): Implicação: a (b a) (a b) ((a (b c)) (a c)) Conjunção: (a b) a (a b) b a (b (a b)) Disjunção: a (a b) b (a b) (a c) ((b c) ((a b) c))

Sintaxe Negação: ((a b) (a ~b)) ~a Johanssen-Kolmogorov (a ~a) b Brower-Heiting a ~a Regra de Inferência: a, a b/b Relação de dedutibilidade: A -b (i) b é axioma ou b A (ii) b segue de formulas anteriores por aplicação de modus ponens Teorema de dedução: A,b - c se e somente se A -b c Correção e completude: A =b sse A -b

Sintaxe Negação: ((a b) (a ~b)) ~a Johanssen-Kolmogorov (a ~a) b Brower-Heiting a ~a Regra de Inferência: a, a b/b Relação de dedutibilidade: A -b (i) b é axioma ou b A (ii) b segue de formulas anteriores por aplicação de modus ponens Teorema de dedução: A,b - c se e somente se A -b c Correção e completude: A =b sse A -b

Sintaxe Negação: ((a b) (a ~b)) ~a Johanssen-Kolmogorov (a ~a) b Brower-Heiting a ~a Regra de Inferência: a, a b/b Relação de dedutibilidade: A -b (i) b é axioma ou b A (ii) b segue de formulas anteriores por aplicação de modus ponens Teorema de dedução: A,b - c se e somente se A -b c Correção e completude: A =b sse A -b

Argumento do Ateu Q: Deus quer evitar o mal C: Deus é capaz de evitar o mal I: Deus é impotente M: Deus é malevolente E: O mal existe D: Deus existe Q ~C I C ~Q M E ~Q ~C E D ~I ~M ~D

Ela é uma bruxa 1) Se uma mulher queima então é uma bruxa 2) Ela é uma mulher 3) Se algo é feito de madeira então queima 4) Se algo flutua, então é de madeira 5) Patos flutuam 6) Se dois objetos tem o mesmo peso e um deles flutua, então o outro também flutua 7) Ela tem o mesmo peso de um pato 8) Logo, ela é uma bruxa