PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia. Neoplasia mamária: Relato de caso. Fabrieli Tatiane Lusa

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Transcrição:

PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia. Neoplasia mamária: Relato de caso Fabrieli Tatiane Lusa Médica Veterinária. Pós-graduanda em Clínica Médica e Cirúrgica de Pequenos Animais (UNIGRAN/QUALITTAS). Resumo As glândulas mamárias são os locais mais afetados pelas neoplasias em fêmeas caninas, sendo raras naquelas com menos de 2 anos de idade. As fêmeas caninas geralmente apresentam 5 pares de glândulas mamárias, em contrapartida, as gatas possuem 4 pares. Dados como idade, histórico reprodutivo, presença de aumento de volume de mamas e linfonodos regionais, atuam como base para o diagnóstico de neoplasia mamária. Para definir uma opção de tratamento é necessário considerar o estágio em que o tumor se encontra, entre elas é possível escolher entre excisão cirúrgica, quimioterapia, radioterapia ou até mesmo combinar os tratamentos, no entanto a intervenção cirúrgica é o tratamento de escolha para as neoplasias mamárias. Palavras-chave: glândula mamária, neoplasia mamária, mastectomia.

Mammary neoplasia: Case report Abstract The mammary glands are the sites most affected by cancer in female dogs and is rare in those younger than 2 years of age. The female dogs usually have 5 pairs of mammary glands, however, the cats have 4 pairs. Data such as age, reproductive history, presence of swelling of the breasts and regional lymph nodes, act as the basis for the diagnosis of breast cancer. To define a treatment option should consider the stage where the tumor is between them is possible to choose between surgical excision, chemotherapy, radiotherapy or even combine the treatments, but surgery is the treatment of choice for neoplasms breast. Keywords: mammary gland, mammary neoplasia, mastectomy. 1. Relato de caso Fora atendida uma fêmea canina, sem raça definida (SRD), de 4 anos de idade e pesando 20, 628kg. O proprietário relatou que há cinco meses havia notado um aumento de volume nas glândulas mamárias, de crescimento rápido. Afirmou ter feito apenas uma única aplicação de hormônio contraceptivo ao longo da vida da paciente e que seu ciclo estral ocorria normalmente. Ao exame clínico aferiu-se parâmetros fisiológicos de frequência cardíaca e respiratória, temperatura retal de 38ºC, mucosas normocoradas e emagrecimento, que conforme o proprietário há 15 dias havia percebido tal alteração. Duas grandes massas neoplásicas, de consistência firme, sem ulceração, medindo 16cm e 12cm 1 (figura 1), localizadas nas glândulas mamárias abdominal caudal direita e inguinal esquerda, respectivamente, foram observadas. 1 Medida baseada no comprimento do eixo maior das massas tumorais.

Figura 1 Massas neoplásicas nas glândulas mamárias abdominal caudal direita e inguinal esquerda., em fêmea canina. Prosseguindo com o atendimento, realizou-se radiografia de tórax e posteriormente, mastectomia simples das glândulas mamárias abdominal caudal direita e inguinal esquerda (figura 2). Figura 8 Imagem do procedimento cirúrgico em uma fêmea canina, para exérese de massas neoplásicas, onde se preservou as glândulas mamárias abdominais craniais, abdominal caudal esquerda e inguinais.

No pós-operatório, a paciente recebeu flunixina meglumina 2 (1mg/kg), uma vez ao dia (SID), por via subcutânea (SC). Como a mesma recebeu alta no mesmo dia da intervenção cirúrgica, recomendou-se ao proprietário que a terapia com flunixina meglumina, na mesma dosagem, permanecesse por mais dois dias Decorridos 14 dias da cirurgia, a paciente retornou para a remoção das suturas cutâneas. Foi possível observar uma excelente cicatrização (figura 3) na área onde se realizou a excisão das massas neoplásicas. Procedeu-se então, a alta médica da paciente, sendo recomendado ao proprietário que a mesma retornasse semestralmente para avaliação. Figura 3 Cicatrização de procedimento cirúrgico em uma fêmea canina. 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS As glândulas mamárias são os locais mais afetados pelas neoplasias em cadelas (JOHNSTON, 1998). As neoplasias mamárias são raras em cadelas com 2 Jofadel Indústria Farmacêutica S/A Varginha/MG

idade inferior a 2 anos, aumentando a incidência aos 6 anos, tendo pico aos 10 anos e a partir desta idade, começa a diminuir e praticamente inexistem após os 12 anos (CARVALHO, 2006). Já nas gatas, tem-se um aumento bastante significativo após os 6 anos de idade e pico por volta dos 10 e 11 anos naquelas inteiras, reduzindo a incidência após este período (JOHNSTON, 1998). Para Johnston (1998), Fossum et al. (2005) e Carvalho (2006), as raças Poodle, Daschund, Samoieda, Cocker Spaniel, Labrador são aquelas nas quais se tem mais freqüência de neoplasias mamárias, enquanto que cadelas sem raça definida (SRD), Boxer e Chihuahuas apresentam riscos reduzidos. As neoplasias mamárias em fêmeas caninas têm ampla variação histológica (BENTUBO et al., 2006). Os autores Knapp et al. (2004) e Fossum et al. (2005), explicam que os tumores benignos das cadelas geralmente são classificados como mistos, adenomas ou mesenquimatosos mistos, representando 50% de todos os tumores, já os malignos têm sua maioria como carcinomas, ocorrendo também sarcomas, com um percentual inferior a 5%. O tamanho das massas tumorais pode variar de milímetros a centímetros, tendo as glândulas mamárias caudais como o local mais comum de desenvolvimento. A predisposição genética e a dieta parecem ter influência no desenvolvimento das neoplasias mamárias em fêmeas caninas (CAVALCANTI; CASSALI, 2006). Acredita-se que o estrógeno aumente a atividade mitótica no epitélio mamário, aumentando o risco de desenvolvimento das neoplasias mamárias, porém é possível que sozinhos os hormônios não tenham capacidade para desencadear o processo de desenvolvimento dos tumores, portanto se não iniciam esse evento, pelo menos ajudam a mantê-los (CARVALHO, 2006). A explicação de Knapp et a. (2004) diz qm efeito protetor pode ser conseguido com a ovário-histerectomia (OSH), no entanto, Carvalho (2006) relata que quando realizada antes do primeiro estro, o risco de desenvolver neoplasia mamária em cadelas é de 0,5%, 8% após o primeiro estro e 26%

quando a OSH é feita após 2 ou mais estros. Quando a fêmea já completou 2 anos e meio de idade, não é beneficiada pelo efeito profilático de tal procedimento, pois as glândulas mamárias já completaram seu desenvolvimento. 2.2 ANATOMIA DAS GLÂNDULAS MAMÁRIAS Conforme os autores Cavalcanti e Cassali (2006), as glândulas mamárias iniciam seu desenvolvimento na fase embrionária que segue, de forma lenta, até o período pré-púbere, tendo sua maturação e início de atividade no período inicial da gestação. As fêmeas caninas geralmente apresentam 5 pares de glândulas mamárias (HARVEY, 2005), sendo nomeadas no sentido craniocaudal como torácicas craniais e torácicas caudais, abdominais craniais e abdominais caudais e por fim, as inguinais (CAVALCANTI, CASSALI, 2006). As gatas apresentam 4 pares de glândulas mamárias (HARVEY, 2005). Para Carvalho (2006), nas cadelas, as glândulas mamárias torácicas são as menos acometidas pelas neoplasias mamárias. As glândulas mamárias abdominais e inguinais têm maior atividade proliferativa em relação ao estrógeno, sendo aquelas onde 60% dos tumores mamários se localizam, porém, Johnston (1998) alerta que nas gatas os quatro pares apresentam o mesmo risco. Os linfonodos regionais são responsáveis pela drenagem linfática das glândulas mamárias nas cadelas. As glândulas mamárias inguinais, abdominais caudais e 30% das abdominais craniais são drenadas pelos linfonodos inguinais superficiais, por sua vez, as glândulas mamárias torácicas craniais, torácicas caudais e 70% das abdominais craniais, são drenadas pelos linfonodos axilares (CAVALCANTI; CASSALI, 2006). Para Carvalho (2006), através da circulação linfática, as metástases ocorrem primeiramente nos linfonodos regionais e pela via hematógena

chegam aos pulmões. Os locais com menor frequência de serem acometidos por elas são as glândulas adrenais, rins, coração, fígado, baço, cérebro e ossos. 2.3 ACHADOS CLÍNICOS, DIAGNÓSTICO E DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Os autores Bentubo et al. (2006), descrevem que os animais acometidos apresentam sinais característicos de inflamação como dor, calor e intenso eritema e edema em um ou mais membros, devido o comprometimento dos linfonodos ilíacos superficiais e poplíteos. Para Cavalcanti e Cassali (2006), caso haja metástases, sinais como tosse e claudicação podem estar presentes. Características como rápido crescimento, infiltração em tecidos vizinhos e freqüente ulceração, são indicativos de que se trata de uma neoplasia mamária maligna, enquanto que crescimento lento e expansivo, área circunscrita e massa que não adere aos tecidos adjacentes sugerem neoplasias mamárias benignas (CARVALHO, 2006). Dados como idade, histórico reprodutivo, presença de aumento de volume de mamas e linfonodos regionais, atuam como base para o diagnóstico de neoplasia mamária (CAVALCANTI;CASSALI, 2006). No momento do exame clínico, toda a cadeia mamária deve ser palpada, pois essa técnica ajuda a identificar outros possíveis nódulos mamários acompanhando o tumor primário (KNAPP et al., 2004). Devido a probabilidade de se encontrar metástase, provocada por neoplasia mamária, nos pulmões, uma radiografia torácica deve ser realizada antes da intervenção cirúrgica (HARVEY, 2005). Nas radiografias torácicas é importante avaliar a existência de metástases pulmonares, uma vez que 25 a 50% das fêmeas caninas apresentam metástases torácicas. Nas radiografias abdominais deve-se ficar atento para o aumento de tamanho do linfonodo ilíaco, quando houver tumores caudais (FOSSUM et al., 2005).

Conforme Fossum et al. (2005), a neoplasia mamária deve ser diferenciada de hipertrofia mamária, resultante da estimulação com progesterona exógena ou endógena, principalmente em gatas que não foram submetidas a OSH, entre 2 a 4 semanas após o estro. Nas fêmeas caninas deve-se diferenciar mastite que ocorre após o estro, parto ou falsa prenhez de neoplasias mamárias. 2.4 TRATAMENTO Carvalho (2006) explica que para definir uma opção de tratamento é necessário considerar o estágio em que o tumor se encontra. Entre elas é possível escolher entre excisão cirúrgica, quimioterapia, radioterapia ou até mesmo combinar os tratamentos. A intervenção cirúrgica é o tratamento de escolha para as neoplasias mamárias, porém a técnica utilizada dependerá de fatores como tamanho da neoplasia, localização e drenagem linfática (CAVALCANTI; CASSALI, 2006). Para Fossum et al. (2005), a lumpectomia é utilizada quando o tumor tem menos de 5mm, encapsulado, não invasivo e está na periferia da glândula mamária. A mastectomia simples é escolhida nos casos em que o tumor acomete a área central ou grande parte da glândula mamária. Já para Carvalho (2006), a mastectomia regional é utilizada quando é necessário remover a glândula mamária afetada e também as adjacentes. Ao ser necessário fazer a excisão das glândulas mamárias homolaterais, opta-se pela mastectomia unilateral e pela mastectomia bilateral quando a excisão se estende para ambas as cadeias mamárias. A radioterapia é indicada para o tratamento de carcinomas inflamatórios (CAVALCANTI;CASSALI, 2006), pois a intervenção cirúrgica não é recomendada, dada a possibilidade de aumentar os riscos de disseminação do tumor. A quimioterapia tem apresentado bons resultados, empregando protocolos que combinam doxorrubicina e ciclofosfamida ou cisplatina como único agente (BENTUBO et al., 2006).

O autor Johnston (1998), alerta que para os felinos são defendidas a prática da mastectomia unilateral e dissecção em bloco e considerando que quase todos os tumores mamários felinos são pobres em receptores, a OSH não é indicada. Para Harvey (2005), a OSH pode ser realizada no momento da mastectomia, no entanto, antes devem ser removidos os tumores mamários que venham a ter extensão através da linha média. 2.4.1 TÉCNICA CIRÚRGICA A anestesia geral é menos estressante para o paciente, mesmo quando pequenos nódulos são removidos. O paciente é posicionado em decúbito dorsal, com os membros torácicos fixados cranialmente e os membros pélvicos caudalmente. Procede-se com a tricotomia do abdômen ventral, tórax caudal e áreas inguinais e após, realiza-se a anti-sepsia dessa região (FOSSUM et al., 2005). Inicia-se a intervenção com uma incisão elíptica ao redor da glândula mamária que sofrerá excisão, com o mínimo de 1cm do tumor e posteriormente, estendendo-a até a parede abdominal (HARVEY, 2005; FOSSUM et al., 2005). Para Harvey (2005) é necessário estabelecer um plano de dissecção, para que seja feita a remoção do segmento cutâneo e tecidos mamários que por ventura tenham sofrido invasão pelo tumor. A dissecção deve ser profunda, diretamente sobre o músculo peitoral ou sobre a fáscia reta cranial, e Fossum et al. (2005) alertam que esta deve seguir até que se encontre os vasos epigástricos superficiais craniais e caudais, os quais devem ser isolados e ligados. As glândulas mamárias que estão na região abdominal e inguinal são pouco aderidas, portanto podem ser excisadas através de um tampão, porém o mesmo não ocorre na região torácica, onde se faz necessário uma dissecção

com tesoura para remover as glândulas mamárias acometidas (HARVEY, 2005). Após a excisão das massas tumorais, divulsiona-se as bordas do ferimento, preparando-o para as suturas (FOSSUM et al., 2005), sendo mais utilizada a aproximação das bordas cutâneas com pontos subcutâneos no padrão interrompido, feitos com fio categut cromado e para a sutura de pele é possível utilizar o mesmo padrão com fio inabsorvível mononáilon 2-0 ou 3-0 (HARVEY, 2005). 2.4.2 PÓS-OPERATÓRIO, COMPLICAÇÕES E PROGNÓSTICO Os autores Fossum et al. (2005) explicam que analgésicos e terapia de suporte devem ser administrados quando necessários e ainda recomendam que quando se faz o uso de bandagens, estas devem ser mantidas secas e trocadas diariamente nos primeiros 2 dias. As ataduras são removidas de 5 a 7 dias após a cirurgia e as suturas entre 7 a 10 dias. As complicações pós-operatórias mais comuns são: a formação de seroma, principalmente na virilha, que pode ser tratado com compressas úmidas e mornas; deiscência de ferimentos, que caso não sejam muito grandes, podem cicatrizar por 2ª intenção; edema de membros pélvicos, podendo ser em apenas um ou ambos, devido a interrupção temporária da drenagem linfática causada pela remoção dos vasos linfáticos e linfonodos, o que pode ser tratado com compressas mornas e diuréticos, além de exercícios moderados (HARVEY, 2005). Dor, hemorragia, infecção e recorrência tumoral também podem acontecer. Pacientes com tumores malignos devem ser reavaliados a cada 3 meses (FOSSUM et al., 2005). Para Carvalho (2006), o prognóstico em cães depende de fatores como tipo histológico do tumor, grau de invasão e diferenciação, envolvimento de linfonodos, presença de ulcerações e atividade dos receptores hormonais.

3. DISCUSSÃO No caso clínico-cirúrgico aqui relatado, a paciente que apresentava neoplasias mamárias, já havia completado 4 anos de idade e não fora submetida a OSH antes do seu primeiro ciclo estral. Conforme os autores Knapp et al. (2004) e Carvalho (2006), o risco de desenvolvimento de neoplasia mamária é de apenas 0,5% quando é realizada OSH antes do primeiro estro e considerando o desenvolvimento completo das glândulas mamárias até os 2 anos e 6 meses de idade. Portanto, a paciente não seria mais beneficiada pelos efeitos profiláticos de tal intervenção cirúrgica. As massas neoplásicas encontravam-se localizadas nas glândulas mamárias abdominais e inguinais, tendo 16cm e 12cm de comprimento, apresentando pele e pêlos nas suas superfícies, estando de acordo com o descrito por Fossum et al. (2005) e Carvalho (2006). Contrariando as afirmações dos autores Bentubo et al. (2006) e Cavalcanti e Cassali (2006), a paciente em questão não apresentava sinais clínicos característicos de inflamação e tão pouco aqueles que caracterizassem alguma metástase, o que ficou comprovado pela radiografia torácica. A intervenção cirúrgica, optando-se pela técnica da mastectomia simples, foi o tratamento escolhido, vindo de acordo com Fossum et al. (2005) e Cavalcanti e Cassali (2006). Posicionou-se a paciente em decúbito dorsal e após preparação para cirurgia asséptica, procedeu-se com incisão elíptica ao redor das glândulas mamárias que sofreriam excisão, juntamente com as neoplasias mamárias e após a excisão, fez-se as suturas de tecido subcutâneo com padrão interrompido e fio categut 2-0 e de pele, no mesmo padrão, com fio mononáilon 2-0, seguindo as recomendações dos autores Harvey (2005) e Fossum et al. (2005). Conforme indicação da literatura consultada, fez-se o uso de um analgésico e anti-inflamatório no período pós-operatório. Não se fez o uso de bandagens, indo contra a indicação de Fossum et al. (2005), o que não acarretou problemas na cicatrização e/ou recuperação da paciente.

Nenhuma das complicações pós-operatórias descritas por Harvey (2005) e Fossum et al. (2005) ocorreram no caso relatado. REFERÊNCIAS BENTUBO et al. Carcinoma inflamatório de mama em cadela relato de caso. Revista Clínica Veterinária, São Paulo: Guará, n. 65, ano 11, p. 40, 42, 44, nov/dez, 2006. CAVALCANTI, M. F.; CASSALI, G. D. Fatores prognósticos no diagnóstico clínico e histopatológico dos tumores de mama em cadelas revisão. Revista Clínica Veterinária, São Paulo:Guará, n. 61, ano 11, p. 56, 57, mar/abr, 2006. CARVALHO, T. B. Neoplasia mamária em cadelas: caracterização histopatológica e expressão de proteínas de estresse (HSP 72). 2006. p.4-7, 9. Disponível em: < http://www.tede.ufv.br/tedesimplificado/tde_arquivos/8/tde-2007-04-17t091437z- 420/Publico/texto%20completo.pdf>. Acesso em: 6 setembro 2008. FOSSUM, T. W. et al. Cirurgia de pequenos animais. 2. ed. São Paulo: Roca, 2005. p.631-633, 635, 636. HARVEY, J. Glândulas mamárias. In: BOJRAB, M. J. et al. Técnicas atuais em cirurgias de pequenos animais. 3. ed. São Paulo: Roca, 2005. p.425, 426, 428, 429. JOHNSTON, S. D. Sistemas reprodutivos. In: SLATTER, D. Manual de cirurgia de pequenos animais. 2. ed. 2. vol. São Paulo: Manole, 1998. p.2575, 2579. KNAPP, D. W. et al. Tumores do sistema urogenital e das glândulas mamárias. In: ETTINGER, S. J.; FELDMAN, E. C. Tratado de medicina interna veterinária. 5. ed. 2. vol. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004. p.577, 578.