IMUNOISTOQUÍMICA COMO DIAGNÓSTICO DEFINITIVO DE ADENOCARCINOMA BRONQUÍOLO-ALVEOLAR MUCINOSO EM CÃO RELATO DE CASO

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1 IMUNOISTOQUÍMICA COMO DIAGNÓSTICO DEFINITIVO DE ADENOCARCINOMA BRONQUÍOLO-ALVEOLAR MUCINOSO EM CÃO RELATO DE CASO Lara Roberta Silva Jácomo FERREIRA 1 ; Aline Vanessa Estrela DANTAS 2 ; Severiana Cândida Mendonça Cunha CARNEIRO 3 1. Acadêmica em Medicina Veterinária na Escola de Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Goiás: laraaroberta@hotmail.com 2. Acadêmica em Medicina Veterinária na Escola de Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Goiás 3.Pesquisadora Doutora do Hospital Veterinário da Universidade Federal de Goiás Resumo As neoplasias pulmonares primárias possuem baixa incidência em cães, em contra partida, os pulmões são locais comuns de metástases em pequenos animais. A maioria dos tumores pulmonares primários são malignos e o tipo histológico mais comum em cães é o adenocarcinoma. Entre os sinais clínicos destacam-se tosse estridente e improdutiva com evolução crônica, dispnéia, taquipnéia e cianose. A avaliação do histórico, do exame físico e radiográfico permite sugerir o diagnóstico de lesão neoplásica pulmonar, mas o diagnóstico definitivo é feito por meio de avaliações histopatológicas e imunoistoquímicas. O tratamento mais eficaz é a ressecção cirúrgica, na qual todo o lobo pulmonar acometido deve ser removido. Estima-se o prognóstico para os tumores pulmonares primários levando em consideração fatores como o tipo neoplásico, confirmado pela imunoistoquímica, o tamanho do tumor, envolvimento de linfonodos torácicos, possibilidade de exérese cirúrgica completa e ausência de metástases. O presente estudo teve como objetivo relatar um caso de adenocarcinoma bronquíolo-alveolar mucinoso em cão confirmado pela avaliação imunoistoquímica. Palavras-chave: câncer, canino, marcadores, primário e pulmão Keywords: cancer, canine, markers, primary and lung Revisão de Literatura As neoplasias pulmonares primárias são incomuns em pequenos animais, representando cerca de 1,2 % de todos os tumores em cães. Entretanto, os pulmões são um dos locais mais comuns de metástases em pequenos animais (SILVA et al., ANAIS 37ºANCLIVEPA p

2 2009). A maioria dos tumores pulmonares primários são malignos (NELSON e COUTO, 2010). Silva et al. (2008) relatam que o tipo histológico mais comum encontrado em cães é o adenocarcinoma. O carcinoma broncoalveolar (CBA), também denominado de bronquíolo-alveolar, é considerado o subtipo histológico maligno mais importante de adenocarcinoma pulmonar (MAEDA et al., 2009). Segundo Silva et al. (2009), a média de idade de cães portadores de neoplasias pulmonares primárias situa-se entre 10 e 11 anos, sem predileção por raça ou sexo. O sinal clínico mais comumente relacionado às neoplasias pulmonares é a tosse estridente e improdutiva com evolução crônica. Radiografias torácicas são importantes no estadiamento clínico, entretanto a tomografia computadorizada permite um estudo mais acurado das lesões em relação ao tamanho, localização, calcificação, número e densidade. O diagnóstico definitivo é feito por meio de avaliações citológicas e histopatológicas (SILVA et al., 2009). Segundo Ramos-Vara et al. (2005), histologicamente, neoplasmas primários de pulmão podem ser confundidos com metástases pulmonares de outras formas de câncer. Assim, a avaliação imunoistoquímica é de grande valor para confirmar a origem pulmonar do tumor, através da identificação de marcadores biológicos diagnósticos e prognósticos (CAPELOZZI, 2009). Quando há suspeita de adenocarcinoma pulmonar, marcadores biológicos como o Fator de Transcrição Tireoidiano 1 positivo (TTF-1+), citoqueratinas AE1/AE3+ e citoqueratina CK7+ indicam tumor pulmonar primário (TRAVIS, 2004). O TTF-1 é uma proteína de ligação ao DNA originalmente identificada em células foliculares da tireoide e posteriormente em pneumócitos. É apontado como um marcador altamente específico em adenocarcinomas pulmonares em humanos e cães (LAU et al., 2002). O tratamento mais eficaz para a neoplasia pulmonar primária é a ressecção cirúrgica, que tem se tornado um procedimento seguro, com baixas taxas de complicações e de mortes pós-operatórias (SILVA et al., 2009). A quimioterapia antineoplásica adjuvante pode melhorar o tempo de sobrevida dos animais (RODASKI et al., 2008). A taxa média de sobrevida é de 12 meses e o prognóstico está relacionado com o tipo neoplásico, possibilidade de exérese cirúrgica completa, ausência de metástases (WILSON e DUNGWORTH, 2002), tamanho do tumor e envolvimento de linfonodos torácicos (SILVA et al., 2009). Descrição do Caso ANAIS 37ºANCLIVEPA p

3 Um cão, da raça Yorkshire Terrier, macho, com 12 anos, foi a uma consulta veterinária de rotina, uma vez que faz acompanhamento regular, a cada seis meses, por ser cardiopata. Foram solicitados exames complementares como hemograma e radiografia de tórax. Ao exame radiográfico foi observada uma estrutura radiopaca (3,26 x 3,03 cm) na região de mediastino, entre o primeiro e terceiro espaços intercostais. A tutora optou em nada fazer. Após dois meses, em uma nova consulta, foi relatado que o cão apresentava tosse improdutiva, principalmente durante a noite, com evolução crônica. Radiografias torácicas foram realizadas e a massa havia aumentado suas dimensões (3,78 x 3,37 cm). No mês seguinte foi realizada a tomografia computadorizada da região torácica, constatando a presença de formação na região ventrolateral esquerda do mediastino cranial. Foi sugerida a punção biópsia aspirativa guiada por ultrassonografia, mas a tutora não quis, preferindo acompanhar por imagem o crescimento e no decorrer de seis meses foram realizadas mais quatro radiografias de tórax. Diante do crescimento da massa (5,35 x 4,86 cm), o tratamento cirúrgico foi consentido pela tutora. Realizou-se toracotomia, foi observada a massa no lobo pulmonar cranial esquerdo e fez-se a lobectomia de acordo com Fossum (2002). O laudo histopatológico foi de adenocarcinoma pulmonar papilífero mucinoso. A avaliação imunoistoquímica foi realizada com o intuito de se estabelecer o diagnóstico definitivo da neoplasia, valores prognósticos e preditivos. As lâminas foram coradas com 3,3-diaminobenzidina e hematoxilina. As células neoplásicas foram positivas para os marcadores AE1AE3, TTF1 - e 34BE12 favorecendo o diagnóstico de carcinoma bronquíolo-alveolar, subtipo histológico mais importante de adenocarcinoma. O paciente continua sob segmento e após dois meses da cirurgia se encontra bem e não apresenta sinais de metástases ou recidiva. Discussão O cão do caso relatado, inicialmente não apresentou sinais clínicos e o tumor pulmonar primário foi um achado radiográfico acidental, corroborando com o que foi relatado por Sales et al. (2005). Entretanto, posteriormente, a tutora informou que o cão passou a apresentar tosse improdutiva com evolução crônica, em acordo com LUIS et al. (2005), que relataram a tosse como sinal comumente observada em animais acometidos com carcinoma bronquíolo-alveolar. ANAIS 37ºANCLIVEPA p

4 Apesar de as radiografias torácicas serem importantes no estadiamento clínico (LUÍS et al., 2005), a tomografia computadorizada (TC) permite um estudo mais acurado das lesões em relação ao tamanho, localização, calcificação, número e densidade (SILVA et al., 2009). Entretanto, neste caso a TC não se mostrou efetiva, pois o laudo veio como uma massa no mediastino e não no parênquima pulmonar, pouco contribuindo para o direcionamento da conduta cirúrgica. O tratamento instituído neste caso foi a excisão cirúrgica, corroborando com POLTON et al. (2008), pois relataram que cães submetidos à excisão cirúrgica do tumor pulmonar primário possuem uma sobrevida maior quando comparados com os cães não submetidos ao tratamento cirúrgico. Após a cirurgia, foi indicada a quimioterapia adjuvante, mas a tutora optou em não fazer, contrariando Rodaski et al. (2008) que relataram que a quimioterapia prolonga a sobrevida do paciente após cirurgia, atuando no controle das recidivas ou na progressão das micrometástases. O pulmão é um dos principais sítios de metástases de neoplasmas não pulmonares, tornando-se muitas vezes complicado distinguir tumores pulmonares primários de metástases (RAMOS-VARA et al., 2005). Assim, exames como a imunoistoquímica são importantes para comprovação da origem primária pulmonar, estabelecimento do diagnóstico definitivo e prognóstico. Estudos apontam o TTF-1 como um marcador altamente específico em adenocarcinomas pulmonares em humanos e cães (LAU et al., 2002, RAMOS-VARA et al., 2005). Em acordo com esses autores, neste caso as células neoplásicas imunoexpressaram o TTF-1, confirmando o diagnóstico de adenocarcinoma bronquíolo-alveolar. Conclusão Apesar de ser raro, o tumor pulmonar primário acomete os cães e pode ocasionalmente promover metástases à distância, sendo importante causa de óbito. Portanto, a escolha certa e precoce dos exames de auxílio diagnóstico é fundamental para esclarecer os casos e indicar o prognóstico. No planejamento terapêutico é importante a escolha da conduta mais eficaz, segura e com baixas taxas de complicações para a neoplasia pulmonar primária. Referências Bibliográficas ANAIS 37ºANCLIVEPA p

5 CAPELOZZI, V.L. Papel da imuno-histoquímica no diagnóstico do câncer de pulmão. Jornal Brasileiro de Pneumologia, Brasília, v. 35, n. 4, p , FOSSUM, T.W. Cirurgia do sistema respiratório inferior: pulmões e parede torácica. In: FOSSUM, T.W. (Ed). Cirurgia de pequenos animais. São Paulo: Roca, p LAU, S.K. et al. Thyroid transcription factor-1: a review. Applied Immunohistochemistry & Molecular Morphology, v.10, n.2, p , LUÍS, J. P. S.; PONTES, J. V.; CARVALHO, A. P. Neoplasias primárias do pulmão em canídeos a propósito de três casos submetidos a cirurgia. Revista Portuguesa de Ciências Veterinárias, v. 100, n , p , MAEDA, T. Y.; CAPONE, D.; VAZ, L. C.; JANSEN, J. M. Carcinoma bronquioloalveolar. Pulmão RJ, v. 4, n. 1, p , NELSON, R. W.; COUTO, C. G. Fundamentos de medicina interna de pequenos animais. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010, p POLTON, G. A.; BREARLEY, M. J.; POWELL, S. M.; BURTON, C. A. Impact of primary tumour stage on survival in dogs with solitary lung tumours. Journal of Small Animal Practice, v. 49, n. 2, p , RAMOS-VARA, J.A. et al. Usefulness of thyroid transcription factor-1 immunohistochemical staining in the differential diagnosis of primary pulmonary tumors of dogs. Veterinary Pathology, v.42, n.3, p , RODASKI, S.; NARDI, A. B.; PIEKARZ, C. H. Quimioterapia antineoplásica. In: DALECK, C. R. et al. Oncologia em cães e gatos. 1 edição. São Paulo: Roca, 2008, cap 9, p SALES, J. P.; PONTES, J. V.; CARVALHO, A. P. Neoplasias primárias do pulmão em canídeos a propósito de três casos submetidos à cirurgia. Revista Portuguesa de Ciências Veterinária, v.100, p , SILVA, M. C.V.; DE NARDI, A. B.; RODASKI, S. Neoplasias do Sistema Respiratório. In: DALECK, C. R et al. Oncologia em Cães e Gatos. 1 ed. São Paulo: Roca, p TRAVIS W.D.; World Health Organization; International Agency for Research on Cancer; International Association for the Study of Lung Cancer; International Academy of Pathology; et al. Pathology and genetics of tumours of the lung, pleura, thymus, and heart. Lyon: IARC Press, ANAIS 37ºANCLIVEPA p

6 WILSON, D. W.; DUNGWORTH, D. L. Tumors of the respiratory tract. In: MEUTEN, D. J. (Ed.). Tumors in domestic animals. 4. ed. Iowa: Blackwell Publishing Company, p ANAIS 37ºANCLIVEPA p