SARCOMA ANAPLÁSICO COM CÉLULAS GIGANTES EM CANINO DOMÉSTICO ANAPLASIC SARCOMA WITH GIANT CELLS IN DOMESTIC CANINE

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1 SARCOMA ANAPLÁSICO COM CÉLULAS GIGANTES EM CANINO DOMÉSTICO ANAPLASIC SARCOMA WITH GIANT CELLS IN DOMESTIC CANINE Amanda Ponchet BORGES¹, Jussara Sampaio QUINTELA 1, Jordana de Oliveira TALEIRES 1, Maiara Pinheiro VIEIRA², Bruna Pinto COUTINHO 2, Daniel de Araújo VIANA 3 1 Estudante de graduação em Medicina Veterinária da Universidade Estadual do Ceará (UECE) 2 Médico (a) Veterinário (a) do Hospital Veterinário da UECE 3 Professor da Faculdade de Veterinária da UECE Resumo O objetivo deste trabalho é descrever um caso atípico de sarcoma anaplásico com células gigantes em um paciente canino. Uma cadela doméstica, 10 anos de idade, Rottweiler, foi atentida com histórico de ferida no membro torácico esquerdo. Ao exame físico foram observados dispneia, apatia e a presença de uma lesão ulcerada em região de coxins de membro torácico. A terapêutica recomendada foi a cirurgia de amputação alta com desarticulação escapular do membro acometido. Após a cirurgia, o exame histopatológico apresentou uma extensa lesão tumoral ulcerada no coxim palmar, além de outros três nódulos de mesmo aspecto distribuídos pelo tecido subcutâneo da peça. Durante esse procedimento, a superfície ao corte se mostrou compacta e brancacenta com áreas de necrose e hemorragia. O resultado da biópsia foi compatível com sarcoma anaplásico com células gigantes. Após uma semana surgiram novos tumores, a paciente foi então encaminhada para avaliação e tratamento oncológicos, entretanto a proprietária não teve como levar o animal e após 3 semanas, a mesma optou pela eutanásia da cadela. O sarcoma anaplásico com células gigantes é uma neoplasia rara, havendo poucos relatos semelhantes na literatura. Apresenta rápida proliferação e o tratamento consiste em excisão cirúrgica radical e quimioterapia, com ou sem radioterapia. Palavras-chaves: Histiocitoma, cão, sarcoma, células gigantes. Keywords: Histiocytoma, dog, sarcoma, giant cells. Revisão De Literatura: Anais do 38º CBA, p.1681

2 Sarcoma de tecidos moles são neoplasias malignas com diferentes padrões morfológicos da linhagem mesenquimal (ETTINGER, 2003). Fibrossarcoma, tumor de bainha de nervo periférico, mixossarcoma, lipossarcoma, leiomiossarcoma, rabdomiossarcoma, histiocitoma fibroso maligno (HFM) e sarcoma indiferenciado são alguns exemplos de neoplasias inseridas nesse grupo (SILVEIRA et al, 2012). O sarcoma anaplásico com células gigantes, também chamado de histiocitoma fibroso maligno, é dito como sendo incomum em gatos e rara em cães, representando 0,34% de todos os tumores caninos (WATERS et al, 1994; PESSOA, 2008). Corresponde a uma neoplasia de aspecto mesenquimal fusiforme, com padrão pleomorfico. Em menos de 10% dos casos, o histiocitoma fibroso maligno apresenta o aspecto clássico de sarcoma de células gigantes, representado por células de tamanho muito grande, com núcleos uni e multilobados e citoplasma abundante. A membrana nuclear é espessa e o tumor, em geral, é muito celular, anaplásico e com colágeno discreto (DELEPINE, 2001). A forma clínica da doença pode se apresentar como nódulos firmes, solitários ou múltiplos, ocorrendo principalmente nos membros dos animais. A dor e edema do membro afetado são os principais sinais apresentados pelo animal (DELEPINE e DELEPINE, 2001). Aproximadamente 90% dos histiocitomas fibrosos malignos são tumores de alto grau de malignidade. É descrito como sendo localmente invasivo, contudo a formação de metástases é infrequente (GEISER et al, 1979). Como diagnóstico diferencial tem-se os tumores de células histiocíticas, como o histiocitoma cutâneo benigno. O diagnóstico do histiocitoma fibroso maligno baseiase na existência de áreas de células anaplásicas ou de mitose atípica que poderia passar despercebida (DELEPINE, 2001). O tratamento envolve a excisão cirúrgica radical ou amputação do membro acometido. O prognóstico é reservado, pelo fato de que esses tumores são localmente invasivos, com recorrência frequente, e raramente podem causar metástase, em especial nos casos que apresentam uma alta porcentagem de células gigantes (RASKIN, 2012). O presente estudo objetivou relatar um caso atípico de sarcoma anaplásico com células gigantes em um canino doméstico. Anais do 38º CBA, p.1682

3 Relato de Caso: Foi atendida no Hospital Veterinário da Universidade Estadual do Ceará (HV-UECE) uma cadela, da raça Rottweiler, 10 anos de idade, pesando 30 kg, com histórico de lesão ulcerada em membro torácico esquerdo com evolução de 6 meses. Ao exame físico notou-se uma massa ulcerada, situada em região palmar do membro torácico esquerdo, de aproximadamente 5 cm de diâmetro. O membro continha também outros nódulos subcutâneos de tamanhos diferentes, não ulcerados, situados em topografia de úmero. O animal apresentava-se hipocorado e dispneico. Foram então solicitados exames hematológicos, citologia aspirativa da massa, ecocardiograma, rx de tórax e eletrocardiograma. A citologia apresentou resultado sugestivo de neoplasia maligna de origem mesenquimal. Diante do resultado obtido e do grau de comprometimento do membro do animal, optou-se pelo tratamento cirúrgico. O animal foi então encaminhado para a realização de amputação alta, com escapulectomia do membro acometido. Para o pós-operatório foram prescritos meloxicam 2mg, 1 comprimido (SID), por quatro dias; marbofloxacina 82,5 mg, ½ comprimido (SID), por 20 dias; gabapentina 108mg, 1 cápsula (TID), por 45 dias. A peça foi encaminhada para histopatologia. Ao exame macroscópico pode-se observar extensa lesão tumoral ulcerada destruindo quase que na totalidade o coxim palmar. Ao corte a superfície apresentava-se compacta e brancacenta, com extensas áreas de necrose e hemorragia. Haviam ainda outros três nódulos de mesmo aspecto distribuídos pelo tecido subcutâneo da peça. Na microscopia, foram observados diferentes padrões celulares compostos por células arredondadas, poligonais de citoplasma amplo e volumosos núcleos de cromatina grosseira com nucléolos múltiplos e evidentes. Grande quantidade de células gigantes uni ou multilobuladas e extensas áreas de necrose e hemorragia foram também observadas. Os achados foram compatíveis com sarcoma anaplásico de células gigantes, caracterizada como neoplasia maligna pouco diferenciada. Nesse momento a paciente foi encaminhada para acompanhamento oncológico. Após duas semanas, foi observado o surgimento de outro nódulo ulcerado, dessa vez no membro pélvico direito, com rápido agravamento do quadro clinico do animal, nesse momento a proprietária relatou que não teve condições de levar o paciente para avaliação oncológica. Aproximadamente um mês após a cirurgia a cadela apresentou prostação, anorexia, dificuldade na evacuação e agravo da dispneia. Anais do 38º CBA, p.1683

4 Tendo em vista a recidiva dos tumores malignos e a rápida evolução da doença, a tutora optou pela eutanásia. Discussão: O histiocitoma fibroso maligno é um tumor considerado incomum, acometendo principalmente cães mais velhos e de grande porte (GERMAN, 1994, DELEPINE, 2001; BRAY, 2016). Dado compatível com o cão em questão, da raça Rottweiler, 10 anos de idade. Os tumores podem ocorrer em diferentes órgãos e tecidos, mas possuem predileção pela região dorsal torácica e escapular, o que pode ser demonstrado no presente relato (PESSOA et al, 2008). O HFM possui variados subtipos de populações celulares, sendo composto principalmente de células histióciticas ovais ou poligonais e células tipo fibroblastos. As células histiociticas possuem núcleos vesiculares ovais redondos com granulometria finamente granular e cromatina nuclear, podendo por vezes, se apresentarem como células gigantes uni ou multinucleadas (GLEISER et al, 1979; KIRAN, 2005). Em um mesmo tumor pode-se observar todos os subtipos ou apenas alguns, porém a classificação se dá pela caracteristica predominante do tumor (KIRAN, 2005). No presente relato, foram encontradas células arredondadas, poligonais de citoplasma amplo, semelhantes a histiócitos, e uma alta quantidade de células gigantes uni e multinucleadas, equivalentes aos resultados encontrados na literatura, sendo portando caracterizado como sarcoma anaplásico com células gigantes, ou HFM com variação de células gigantes. Essa neoplasia possui padrão de malignidade, sendo comum as recidivas mesmo após a total excisão dos tumores. Foram relatados casos de recidivas dos tumores após a amputação do membro acometido, sem aparecimento de metástases. De acordo com a literatura, as recidivas parecem ser mais comuns que o surgimento de metástases (GEISER et al, 1979). No caso em questão, o animal foi submetido a amputação do membro acometido, e após uma semana novos nódulos surgiram em outras áreas do paciente, demonstrando compatibilidade com a literatura. O tratamento indicado nestes casos é a excisão cirúrgica radical e ou amputação (PESSOA et al, 2008; RASKIN, 2012). Neste caso, optou-se pela cirurgia de amputação de membro. Conclusão: Anais do 38º CBA, p.1684

5 No caso apresentado, a população celular dos tumores se mostrou bastante pleomórfica, com predominância de células semelhantes a histiócitos, e células de tamanho excessivamente grande com vários núcleos. Com base nesse padrão celular, foi possível caracterizar a neoplasia como histiocitoma fibroso maligno, ou também chamado sarcoma anaplásico com células gigantes. A incidência desse tumor em cães é rara, acometendo principalmente animais mais velhos e de raças grandes. É considerada uma neoplasia localmente invasiva e a recidiva mesmo após total excisão dos tumores é esperada, tendo portanto um prognóstico desfavorável. Referências: BRAY. J. P. Soft tissue sarcoma in the dog part 1: a current review. Journal of Small Animal Practice, Nova Zelandia, ago DELEPINE, F; DELEPINE G. Fibrosarcomas, histiocitomas fibrosos malignos y sarcomas de células gigantes. Editions Scientifiques et Médicales Elsevier SAS, París, v.175, n. 14, p , GLEISER, C. A. et al. Malignant Fibrous Histiocytoma in Dogs and Cats. Veterinary Pathology, n. 16, p , KIRAN, M. M. et al. Malignant fibrous histiocytoma in a dog: a case report. Veterinary Medicine, v.50, n.12, p , PESSOA, M.C.P. et al. Aspectos clínicos, diagnóstico e tratamento dos histiocitomas caninos. Medicina veterinária: Recife, v.2, n.3, p.42-43, set RASKIN, R. E.; MEYER, D. J. Citologia clínica de cães e gatos: atlas colorido e guia de interpretação. Rio de Janeiro: Elsevier, Cap. 3, p. 59. Disponível em: Acesso em: 21. Nov SILVEIRA, M. F. et al. Características epidemiológicas de sarcomas de tecidos moles caninos e felinos: levantamento de 30 anos. Revista acadêmica: ciências agrárias e ambientais, Curitiba, v. 10, n.4, p , out/dez WATERS, C.B. et al. Giant cell variant of malignant fibrous histiocytoma in dogs: 10 cases ( ). Journal of the American Veterinary Medical Association, v.205, n.10, p , Anais do 38º CBA, p.1685