LINFOMA LINFOBLÁSTICO EM FELINO DOMÉSTICO LYMPHOBLASTIC LYMPHOMA IN DOMESTIC FELINE

Transcrição

1 LINFOMA LINFOBLÁSTICO EM FELINO DOMÉSTICO LYMPHOBLASTIC LYMPHOMA IN DOMESTIC FELINE Jussara Sampaio QUINTELA¹, Reginaldo Pereira de Souza FILHO², Bruna Pinto COUTINHO 2, Jordana de Oliveira TALEIRES³, Amanda Ponchet BORGES³ 1 Estudante de graduação em Medicina Veterinária da Universidade Estadual do Ceará (UECE) 2 Médico (a) Veterinário (a) do Hospital Veterinário da UECE 3 Estudante de graduação em Medicina Veterinária, Universidade Estadual do Ceará Resumo: O objetivo desse trabalho é descrever um caso atípico de linfoma mediastínico envolvendo o pericárdio de um paciente felino. Um gato doméstico, 2 anos, sem raça definida (SRD), foi atendido apresentando inapetência, anorexia, emagrecimento e dificuldade respiratória. Ao exame físico foi observado dispneia, cianose e apatia. A radiografia torácica mostrou uma massa radiopaca, ocupando quase toda região intratorácica. Com base nos resultados dos exames o paciente foi encaminhado para toracotomia exploratória e excisão da massa. Durante a cirurgia, observou-se que o pericárdio e o coração encontravam-se envoltos pelo tumor. Devido impossibilidade de remoção completa, foram coletados fragmentos da massa para exame histopatológico. O resultado da biópsia foi compatível com linfoma linfoblástico. Com esse resultado, foi sugerido tratamento quimioterápico, entretanto o proprietário optou pela eutanásia e realização de necropsia. O exame necroscópico revelou espessamento do pericárdio e efusão pericárdica, ocasionados pela invasão tumoral. O linfoma linfoblástico é uma forma agressiva de neoplasia, com proliferação rápida, cujo tratamento consiste em quimioterapia e remoção cirúrgica de massas solitárias. Sua forma intratorácica envolvendo o coração, é considerada rara, havendo poucos relatos semelhantes na literatura. Palavras-chaves: Dispneia, linfoma mediastínico, pericárdio, radiografia, tórax. Keywords: Dyspnea, mediastinal lymphoma, pericardium, radiography, chest. Revisão de Literatura: Linfoma é uma neoplasia originária de tecidos linfóides, caracterizada pela proliferação clonal descontrolada de linfócitos, podendo de acordo com sua localização anatômica e critérios histológicos, ser classificado como multicêntrico, mediastínico, entérico, esplênico e extranodal (JONES et al, 2000). Anais do 38º CBA, p.0872

2 Nos felinos o linfoma é a neoplasia mais frequente. Há alguns anos, a maioria dos casos de linfomas eram observados em gatos virêmicos, sendo o vírus da leucemia felina (FELV) considerado principal causador desse tumor. Porém, os casos de linfoma felino continuaram a crescer, mesmo após redução no número de portadores de FELV. Recentemente, menos de ¼ dos casos de linfoma encontravam-se associados ao FELV (VAIL, 2007). O vírus da imunodeficiência felina (FIV) também foi correlacionado ao surgimento desses tumores (NELSON E COLTO, 2015). A forma mediastínica de linfoma é mais observada em felinos jovens, na faixa de 2 anos. Fatores genéticos podem contribuir para essa apresentação em gatos das raças siamês e oriental (LOUWERENS et al, 2005). Neoplasias que acometem o coração são infrequentes em animais, podendo afetar o pericárdio, miocárdio ou a base cardíaca. O linfoma, só é considerado como cardíaco primário (extranodal) se não houver acometimento de outros órgãos ou tecidos linfoides (ANAI et al, 2013). Felinos com linfoma mediastínico apresentam principalmente dispneia, em consequência do espaço tomado pela massa no tórax e/ou devido a efusão pleural (VAIL, 2007; MELO E MARTINS, 2009). O diagnóstico pode ser obtido por meio de citologia, porém, o definitivo é através da histopatologia. A radiografia pode auxiliar no diagnóstico e na classificação do linfoma (ZARDO, 2011). A escolha do tratamento varia com o tipo de linfoma, sendo a quimioterapia o de primeira escolha no caso de linfoma sistêmico, e para as formas localizadas, a cirurgia associada ou não a quimioterapia e radioterapia (NELSON E COUTO, 2015). O objetivo desse trabalho é descrever um caso raro de linfoma linfoblástico mediastínico e que acometeu todo o pericárdio do paciente felino. Relato de Caso: Um felino doméstico, 2 anos de idade, SRD, foi atendido com histórico de emagrecimento, inapetência e dificuldade respiratória. Ao exame físico notou-se baixo escore corporal, avaliado em 2/5, cianose, apatia e dispneia. Diante do quadro clínico, foi realizada toracocentese na tentativa de melhorar a dispnéia, considerando uma possível efusão pleural. Entretanto, não foi drenado nenhum conteúdo. O felino foi então encaminhado para realização de radiografia torácica. Neste exame foi observada uma grande massa radiopaca, de contorno Anais do 38º CBA, p.0873

3 arredondado que ocupava quase toda a região torácica, dificultand a visualização dos demais órgãos. O paciente foi então encaminhado para cirurgia, visando a excisão da massa. Nesse momento, foi realizada uma toracotomia estrernal exploratória, seguida de dissecção romba da massa, separando-a e excisando-a das demais estruturas intratorácicas, não havendo acometimento dos lobos pulmonares. Durante esse procedimento, percebeu-se que o pericárdio e o coração encontravamse completamemte envoltos pela massa, o que não possibilitou a total ressecção da mesma, optando-se então pela excisão parcial do tumor. Por fim, a cavidade torácica foi lavada com solução de cloreto de sódio a 0,9% e em seguida implantouse um tubo torácico para drenagem. O material coletado foi submetido ao exame histopatológico, apresentando o seguinte resultado: Linfoma de células intermediárias, de alto grau (linfoma linfoblástico de Kiel). Diante do resultado obtido, foi sugerido ao proprietário tratamento quimioterápico, entretanto o mesmo optou pela eutanásia do paciente. À necropsia foi observada presença de tumor aderido à parede do tórax e pericário, ocupando toda a cavidade torácica, comprimindo o coração. O mesmo encontrava-se com efusão pericárdica. Não foi observada infiltração tumoral nos demais órgãos. Discussão: Linfomas intratorácicos comumente se originam no timo e linfonodos mediastínicos. Embora de incidência comum em felinos, sua presença nos tecidos cardíacos é rara (ANAI et al, 2013). Linfomas mediastinicos têm maior incidência em gatos jovens, entre 1 e 2 anos (LOUWERENS et al, 2005). Dado compatível com o gato em questão, que possuía 2 anos. Neste caso, foi observada uma massa, aderida ao pericárdio, já espessado pelo tumor, assemelhando-se a casos de linfoma primário de pericárdio (ANAI et al, 2013). Entretanto, neste caso, não se pode considerar como primário de pericárdio, pois o mesmo não se restringia ao coração. Estudos mostraram a associação dos vírus na etiologia dos tumores, sendo o FIV e o FELV os principais associados à neoplasias nos felinos, principalmente no linfoma mediastinico e/ou em localização cardíaca (DALEK, 2009). Em 2014, um estudo demosntrou que 87% dos felinos eram FELV negativos, contrastando com dados de casos já relatados (FABRIZIO et al, 2014). O paciente do presente estudo tembém foi diagnosticado FELV negativo. Anais do 38º CBA, p.0874

4 Os principais sinais clínicos de animais com neoplasias intratorácicas são cansaço fácil, dispneia, inapetência, anorexia e regurgitação os mais frequentes (VAIL, 2007; FABRIZIO, 2013). O presente animal apresentava-se cianótico e com quatro primeiros dos cinco sintomas aqui apresentados. A radiografia torácica pode ser utilizada para visualizar massas neoplásicas no mediastino e em alguns casos, o deslocamento lateral do coração e efusão pleural (ZARDO, 2011). Neste caso, foi observada uma massa ocupando quase toda cavidade torácica impossibilitando a avaliação das demais estruturas. A citologia da massa ou do fluido pleural pode ser utilizada no diagnóstico, entretanto, a histopatologia é o método de escolha para diagnóstico definitivo, possibilitando a classificação morfológica da neoplasia.(foale E DEMETRIOU, 2011). Atualmente, existem diversas classificações histopatológicas para linfoma em humanos, que são adaptadas para os animais. De acordo com o sistema de classificação Working Formulation, do National Cancer institute, neste caso relatado o tumor foi considerado linfoma linfoblástico de alto grau, indicando tempo de sobrevida curto para o paciente (ARAÚJO et al, 2007). O tratamento indicado nos casos de tumores isolados é a excisão cirúrgica, seguida de quimioterapia (DALEK et al, 2009). Neste caso, optou-se pela cirurgia devido ao tamanho da massa, a qual resultava em intensa dispneia no paciente. Conclusão: Embora a incidência de linfoma intratorácico esteja entre as formas mais comuns de apresentação, o caso relatado é considerado atípico, caracterizando-se por uma massa de tamanho descomunal, que se estendia por todo o tórax, chegando a atingir o coração. Considerando a grande expansão do tumor na cavidade torácica, o estado clínico do animal e o diagnóstico histopatológico de linfoma linfoblástico de alto grau, o prognóstico neste caso era reservado. Portanto, torna-se de extrema importância o diagnóstico precoce dessa enfermidade, aumentando assim as chances de sobrevida do paciente. Os sinais clínicos inespecíficos muitas vezes levam a um diagnóstico equivocado, configurando um maior tempo sem o tratamento específico e diminuindo as chances de sobrevida do animal. Com o diagnóstico precoce, elevam-se as chances de resposta ao tratamento quimioterápico, podendo trazer uma qualidade de vida satisfatória ao animal. Anais do 38º CBA, p.0875

5 Referências: ANAI, L.A. et al. Linfoma cardíaco primário em cão. Semina: Ciências agrárias, Londrina, v.34, n. 5, p , set ARAÚJO, L.H.L. et al. Linfoma Não Hodgkin de alto grau Revisão de Literatura. V.54, n.2, p , jun Disponível em: Acesso em: 02. Set DALEK, C.R.; CALAZANS, S.G.; NARDI, A.B. Linfomas. In: DALEK, C. R.; NARDI, A. B.; RODASKI, S. Oncologia em cães e gatos. São Paulo: Roca, Cap. 31, p FABRIZIO, F. et al. Feline mediastinal lymphoma: a retrospective study of signalment, retroviral status, response to chemotherapy and prognostic indicators. Journal of Feline Medicine and Surgery, v. 16, n. 8, p , FOALE, R.; DEMETRIOU, J. Oncologia em pequenos animais. 1 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, p.224. JONES, T.C. Sistemas hémico e linfático. In: JONES, T. C. Patologia Veterinária. 6 ed. Editora Manole Ltda, Cap 22, p LOUWERENS, M.et al. Feline Lymphoma in the Post Feline Leukemia Virus Era. Journal of veterinary internal medicine, v. 19, n. 3, p , feb MELO, F.A.C; MARTINS, C.S. Efusão pleural em gatos: revisão de literatura e estudo retrospectivo. Medvep: Revista científica de medicina veterinária, v. 7, n. 23, p , NELSON, R.W.; COUTO, C.G. Linfoma. In: NELSON, R. W.; COUTO, C. G. Medicina interna de pequenos animais. 5 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, cap. 77, p VAIL, D.M. Feline lymphoma and lymphoid leucemias. In: WITHROW, S. J.; MACEWEN, E. G. Small animal clinical oncology. 4 ed. Editora W. B Saunders company, Cap 31, p ZARDO, K.M. et al. Aspectos tomográficos e radiográficos de linfoma mediastínico infiltrativo em felino doméstico com paraparesia aguda: relato de caso. Medicina Veterinária. v.5, n.4, p , dez Anais do 38º CBA, p.0876