TUMOR VENÉREO TRANSMISSÍVEL EXTRAGENITAL PRIMÁRIO: CAVIDADE ORAL, NASAL E CUTÂNEO RELATO DE CASO

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1 1 TUMOR VENÉREO TRANSMISSÍVEL EXTRAGENITAL PRIMÁRIO: CAVIDADE ORAL, NASAL E CUTÂNEO RELATO DE CASO Mariana Palma Correa da SILVA 1 ; Celmira CALDERÓN 2 ; Bruna Amaral GUILHERME 3 ; Mariza Fordelone Rosa CRUZ 4 ; Ellen de Souza MARQUEZ 5 ; Camilla Oliveira Rosa ALCALÁ 6 ; André Antunes Salla ROSA 3 1 Estudante de graduação de Medicina Veterinária, Universidade Estadual do Norte do Paraná UENP, marianapalmacs@gmail.com 2 Professora Doutora do Departamento de Patologia Veterinária, Universidade Estadual do Norte do Paraná - UENP 3 Estudante de graduação de Medicina Veterinária, Universidade Estadual do Norte do Paraná - UENP 4 Professora doutora do departamento de Epidemiologia, Universidade Estadual do Norte do Paraná- UENP 5 Professora Doutora do Departamento de Patologia Clínica, Universidade Estadual do Norte do Paraná-UENP 6 Residente Clinica Médica e Cirúrgica de Pequenos Animais, Universidade Estadual do Norte do Paraná-UENP Resumo O tumor venéreo transmissível (TVT) é uma neoplasia de distribuição mundial, que acomete cães independente da raça, idade, sexo. Esta neoplasia é mais frequente em locais onde existe uma grande densidade populacional de animais errantes, e sexualmente ativos. Casos de TVT extragenital vêm sido descritos, e correlacionados a um comportamento biológico mais agressivo. Devido ao crescente número de casos com desenvolvimento em locais atípicos, e podendo estes ser clinicamente confundidos com outras neoplasias, queremos destacar a necessidade de que em regiões endêmicas é importante incluir o TVT ao realizar o diagnóstico diferencial das neoplasias. O objetivo deste trabalho foi relatar 3 casos de TVT extragenital primário observados em tecido cutâneo, cavidade oral e nasal. Palavras-chave: Neoplasia, Citologia, Vincristina, Cães. Keywords: Neoplasia, Cytology, Vincristine, Dogs. Revisão de literatura O Tumor Venéreo Transmissível (TVT) é uma neoplasia contagiosa, transmitida sexualmente, que geralmente acomete a mucosa genital, com neoformações friáveis de superfície sangrante, ulcerada, e semelhante à couve-flor (GANGULY et al, 2013). A transmissão ocorre devido ao transplante de células neoplásicas em contato com qualquer mucosa lesada (AMARAL et al, 2007; ANAIS 37ºANCLIVEPA p.1073

2 2 CHIKWETO et al, 2013). O TVT também se desenvolve sob a forma extragenital, nestes casos a origem pode ser primária ou metastática. Lesões na cavidade oral, nasal, pele e mucosa conjuntival costumam ser neoformações extragenitais primárias, tal fato é relacionado a comportamentos sociais como lamber, cheirar ou devido a mordidas em disputas de território (LIMA et al, 2013). O diagnóstico desta neoplasia, é melhor realizado pelo exame citológico, pois esta técnica produz menos distorção da morfologia das células quando comparada as amostras de biopsia (AMARAL el al 2004). Microscopicamente segundo AMARAL et al. (2007), o TVT pode ser classificado em linfocitóide, plasmocitóide e misto, essa classificação tem o intuito em auxiliar o clínico a prever maior ou menor agressividade do tumor. Descrição do Caso Foram atendidos três casos de TVT extragenital no setor de Clínica Médica de Pequenos Animais da UENP (Universidade Estadual do Norte do Paraná), e em clínicas particulares da região de Bandeirantes, Paraná. Dentre eles dois cães machos errantes, adultos, sem raça definida, não castrados e uma fêmea adulta, não castrada e sem raça definida. Ao exame físico, um dos machos apresentou uma única lesão ulcerada com secreção serosanguinolenta, friável, com bordos espessados em membro pélvico esquerdo medindo 11x10x3,5 cm. O segundo cão macho apresentou lesão na cavidade oral friável e sangrante medindo aproximadamente 3 cm, lesão esta, que se estendia até a cavidade nasal resultando em deformidade e fístula nasal. Por último, o cão fêmea apresentava lesão em face, esta se encontrava ulcerada, com secreção serosanguinolenta e com bordos espessados, acometendo a cavidade oral, grande parte de face direita com extensão para a região cervical do mesmo lado. Para obtenção de diagnóstico dos casos supracitados, foram coletados material para exame citopatológico por punção aspirativa com agulha fina e fragmento da lesão para confirmação do diagnóstico histopatológico estes foram encaminhados para o Serviço de Patologia Veterinária da UENP. O exame citológico ANAIS 37ºANCLIVEPA p.1074

3 3 revelou presença de células redondas ou ovais, apresentando vacúolos citoplasmáticos compatíveis com o padrão citomorfológico plasmocitóide, segundo a classificação de Amaral et al (2007). O exame histopatológico confirmou o diagnóstico de TVT. Os tratamentos foram realizados com sulfato de vincristina, via intravenosa, na dose de 0,75 mg/m 2 a cada 7 dias, ambos os machos apresentaram regressão total do tumor em 6 sessões, porém a fêmea veio a óbito antes do inicio do tratamento. A última sessão de quimioterapia foi realizada após a completa cicatrização cutânea. Nos dois casos os animais foram semanalmente avaliados pelo hemograma, para analisar a possibilidade de leucopenia. Discussão Os animais que não possuem lesão em mucosa genital, sugerem transmissão a partir do hábito de socialização dos animais, como lamber, cheirar e morder (LIMA et al, 2013). Em regiões endêmicas é importante incluir o TVT como diagnóstico diferencial nos casos onde se observa lesões cutâneas nodulares e múltiplas (SOUZA, 2011; LIMA et al, 2013), espirros, epistaxe, halitose, deformação facial, fístula oronasal e linfadenopatia submandibular (SOUZA, 2011).O diagnóstico pode ser realizado pelo exame histopatológico, porém o citológico é o mais indicado, devido a rapidez e confiabilidade como diagnóstico de triagem, auxiliando na diferenciação de outras neoplasias como osteossarcoma, condrossarcoma e linfoma na cavidade nasal; epulis e fibrossarcoma na cavidade oral; linfoma e mastocitomana na pele; de neoplasia mamária ou cutânea quando o neoformação se encontra na mama. O TVT já foi anteriormente relacionado à maior possibilidade de desenvolver metástases e apresentar comportamento biológico mais agressivo nos casos extragenitais ou quando classificados como plasmocitóides (AMARAL, 2007), portanto sugerimos que investigar metástases e realizar a avaliação microscópica para confirmação de ausência de células neoplásicas antes da alta do animal, deve ser considerado um procedimento de rotina. Huppes et al (2014) relatam que em torno de 48% dos animais que desenvolvem TVT genital têm a regressão total com até 4 sessões ou menos, ANAIS 37ºANCLIVEPA p.1075

4 4 contudo, de acordo com alguns autores, o TVT em localizações extragenitais, apresenta maior resistência ao tratamento quimioterápico quando comparado a forma genital, (AMARAL et al., 2007; FILGUEIRA, 2010; FERNANDES et al, 2013), A terapia convencional com o sulfato de vincristina, é eficaz em 90% dos casos, contudo, casos extragenitais têm apresentado um comportamento mais agressivo sendo algumas vezes necessário um maior número de sessões de quimioterapia, ou em situações mais graves, pode ser relacionado a casos de resistência à quimioterapia convencional, ou, ao óbito do animal (FLORENTINO, 2007; FERNANDES et al, 2013). Conclusão Apesar do TVT se desenvolver em sítios extragenitais, relatos de TVT extragenitais primários ainda são poucos, a descrição da localização, bem como determinar a classificação citomorfológica desses casos, avaliar o comportamento biológico e a resposta ao tratamento convencional contribuem com futuras abordagens terapêuticas e novas pesquisas sobre o tema. Referências AMARAL, A. S., GASPAR, L. F. J.; SILVA, S. B.; ROCHA, N. S. Cytological diagnostic of transmissible venereal tumor in the Botucatu region. Revista portuguesa de ciências veterinárias, v.99, n.551, p , AMARAL, A. S.; BASSANI-SILVA, S.; FERREIRA, I.; FONSECA, L. S. ANDRADE, F. H. E.; GASPAR, L. F. J.; ROCHA, N. S. Cytomorphological characterization of transmissible canine venereal tumor. Revista portuguesa de ciências veterinárias, v. 102, n , p , CHIKWETO, A.; KUMTHEKAR, S.; LARKIN, H.; DEALLIE, C.; TIWARI, K. P.; SHARMA, R. N.; BHAIVAT, M. I. Genital and Extragenital Canine Transmissible Venereal Tumor in Dogs in Grenada, West Indies. Open Journal of Veterinary Medicine, v.3, p , ANAIS 37ºANCLIVEPA p.1076

5 5 FERNANDES, C.P.M.; GASPAR, L. F. J.; MEINERZ, A. R. M.; GRECCO, F. B.; NOBRE, M. O.; CLEFF, M. B. Tumor venéreo transmissível canino com metástase encefálica. Ciências Agrárias, Londrina, PR, v. 34, n. 6, p , FILGUEIRA, K. D. Tumor venéreo transmissível canino com localização primária e única em cavidade oral. Acta Scientiae Veterinariae, v. 38, n.1, p , FLORENTINO, K. C.; NICACIO, F. D.; BATISTA, J. C.; COSTA, J. L. O.; BISSOLI, E. D A. G. Tumor venéreo transmissível cutâneo canino - relato de caso. Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária, Garça, SP, n 9, GANGULY, B., U. DAS and A. K. DAS. Canine transmissible venereal tumour: a review. Veterinary and Comparative Oncology, v.14, n.1, p.1-12, HUPPES, R. R.; SILVA, C. G.; USCATEGUI, R. A. R.; DE NARDI, A. B.; SOUZA, F. W.; TINUCCI COSTA, M.; AMORIM, R. L.; PAZZINI, J. M.; FARIA, J. L. M.. Tumor venéreo transmissível (TVT): estudo retrospectivo de 144 casos. Ars veterinaria, Jaboticabal, SP, v.30, n.1, p.13-18, LIMA, T.B, MARINHO, MARINHO, P. V. T.; LIRA, R. N.; JARK, P. C.; MELO, J. F.P.; OLIVEIRA, L. C. R. Apresentação atípica de tumor venéreo transmissível cutâneo em um cão. Veterinária e Zootecnia, v.20, n.1, p.57-61, ANAIS 37ºANCLIVEPA p.1077