FÍSTULA INFRAORBITÁRIA EM CÃO RELATO DE CASO INFRA-ORBITAL FISTULA IN DOG - CASE REPORT

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1 FÍSTULA INFRAORBITÁRIA EM CÃO RELATO DE CASO INFRA-ORBITAL FISTULA IN DOG - CASE REPORT Patrícia Lorena da Silva Neves GUIMARÃES 1 ; Thaís Rosa da SILVA 2 ; Karine Kelly Gonçalves QUEIROZ 2 ; Kelly Carolina Assis ARANTES 2 ; Isabella Andrade AMORIM 2 ; Andressa Mendes do CARMO 2 ; Christie Erley Teixeira de OLIVEIRA 2 1Pesquisadora Doutora do Hospital Veterinário da Universidade Federal de Goiás, patricialorena2@hotmail 2Acadêmica em Medicina Veterinária na Escola de Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Goiás Resumo A fístula infraorbitária, ou também conhecida como fistula do carniceiro é uma lesão comum em cães, que frequentemente ocorre no quarto dentre pré-molar superior, podendo levar a formação de um abscesso. As causas mais comuns desse tipo de fístula em cães são: doenças periodontais avançadas, fraturas, traumas dentários, neoplasias maxilares, lesões periapicais e iatrogênicas. Esse trabalho teve como objetivo relatar um caso de fístula infraorbitária que ocorreu no Hospital Veterinário da Universidade Federal de Goiás enfatizando suas características clínicas, métodos diagnósticos e terapêuticos utilizados. Palavras-chave: abscesso periapical, cavidade oral, odontologia veterinária, periodontite. Keywords: periapical abscess, oral cavity, veterinary dentistry, periodontitis. Introdução: Dentre as diferentes espécies de animais, os cães apresentam 42 dentes permanentes e o quarto dente pré-molar, popularmente denominado "dente carniceiro", é um dos principais dentes, sendo responsável por rasgar os alimentos (GIOSO, 2007). O quarto pré-molar possui importante papel na alimentação dos carnívoros, porém na presença da doença periodontal não tratada, pode evoluir para uma lesão perio-endodôntica, causando lesão periapical, posteriormente ocorre a formação de um granuloma provocando a contaminação do recesso maxilar próximo, ocorrendo seu rompimento na região ventro/medial do canto do olho (região infraorbitária), nos Anais do 38º CBA, p.2358

2 cães, essa síndrome é conhecida como Fístula do Carniceiro (LEON-ROMAN e GIOSO, 2002), ou fístula infraorbitária. O comprometimento da dentina e polpa dentária podem ocorrer de forma intencional ou acidental durante os procedimentos odontológicos veterinários, correspondendo às lesões iatrogênicas. Um exemplo disso é o calor gerado durante o preparo de uma cavidade dentária (restauração) ou pelo emprego incorreto do ultrassom odontológico, podendo causar lesão térmica à polpa, com consequente fistulação (GIOSO, 2003). Essa lesão promove dor e sinais clínicos muitas vezes imperceptíveis pelos tutores dos animais e pelo clínico geral, sendo tratada por longos períodos somente com a administração de antibióticos, não removendo o agente desencadeante (ROZA, 2004; GIOSO, 2007). O sinal clínico mais evidente dessa afecção oral é o aumento de volume e fistulação cutânea na região infraorbitária, drenando quantidades variáveis de sangue e pus (SANTOS, 2007). Outros sinais não tão aparentes são dor à percussão dentária e maxilar, fricção do focinho no chão ou com as patas, apatia, anorexia, fratura da coroa dentária, periodontite, escurecimento dental, sialorréia e febre (GORREL, 2004; PACHALY, 2006; GIOSO, 2007). Outros dentes podem ter seu sistema endodôntico afetado por estarem próximos do local de infecção, podendo desenvolver a mesma afecção. O recesso maxilar relativo aos demais dentes pode também ser afetado, podendo dar origem à comunicação com a passagem nasal, ocorrendo descarga nasal crônica (HOLMSTROM, 1992). Em felinos, a ocorrência de fístula infraorbitária não é comum, estando associada, na maioria das vezes, ao dente canino. Nesses pacientes, o saco conjuntival pode ser afetado pela fístula (HOLMSTROM, 1992). O objetivo desse trabalho foi relatar um caso de um animal que apresentava fístula infraorbitária crônica, ressaltando como foram realizados os procedimentos de diagnóstico, tratamento e sua evolução clínica. Descrição do caso: Foi atendido pelo Serviço Odontológico do Hospital Veterinário da Universidade Federal de Goiás uma cadela, sem raça definida, pesando 10 kg. Durante a anamnese a tutora relatou que o animal apresentava secreção purulenta Anais do 38º CBA, p.2359

3 do lado direito da face há mais de um ano, a qual era drenada a partir de uma lesão nessa região, que após uso de medicações antibióticas havia melhora, porém recidivava frequentemente após a interrupção da medicação. Durante o exame físico o animal se mostrou em alerta, com mucosas normocoradas, tempo de preenchimento capilar menor que 2 segundos e sistemas cardiovascular e respiratório normais. No exame especifico da cavidade oral notouse intensa halitose e a presença de fístula infraorbitária do lado direito da face, com ausência se periodontite, porém com acentuado acúmulo de cálculo dentário sobre apenas o dente quarto pré-molar superior direito. Foram requeridos pela Médica Veterinária exames pré-operatórios, como hemograma e bioquímica. Após avaliação dos resultados do exame o animal foi encaminhado para o centro cirúrgico para realização de radiografia intra-oral da região maxilar direita em três posições utilizando a técnica do uso de cone de guta percha introduzido na fístula para avaliar o local alcançado pelo mesmo. Resultados e Discussão: No caso descrito houve a presença de uma fístula infraorbitária na região da face direito, oriunda de um abscesso periapical no dente quarto pré-molar superior direito, que segundo Bolson e Pachaly (2004) por ser um dente muito utilizado pelo cão, torna-se mais predisposto a afecções como fratura dental com ou sem exposição pulpar, lesão periapical e doença periodontal, podendo evoluir para fístula infraorbitária. No momento do exame físico específico da cavidade oral não foi possível identificar em qual dente apresentava o abcesso periapical que fistulou para a região infraorbitária. Após os exames pré-operatórios o animal foi encaminhado para o centro cirúrgico sendo possível remover o cálculo dentário acumulado, e observouse a presença de fratura coronária no dente quarto pré-molar superior direito com exposição pulpar, a qual provocou a formação de abscesso na raiz dentária, originando, consequentemente, a fístula infraorbitária. Aylon (2008) e Roza (2004) afirmaram que pela localização da lesão dentária, torna-se imprescindível a realização de exame radiográfico, pois o fato da lesão não estar macroscopicamente perceptível, não significa que endodonticamente não esteja se desenvolvendo e que as técnicas intraorais, feitas com raios-x odontológico específico, são preferíveis às extraorais comuns, devido à obtenção de Anais do 38º CBA, p.2360

4 melhor qualidade de imagem, sem sobreposições. No caso descrito nesse trabalho houve a utilização de um cone de guta percha inserido na fístula, que promoveu a identificação da origem da fístula periapical na radiografia, proporcionando um diagnóstico correto. Gioso (2007) descreveu que mesmo existindo tratamento endodôntico e cirurgias periodontais que se preocupam com a manutenção do quarto pré-molar superior no caso de fístulas, elas por sua vez necessitam de um acompanhamento clínico e radiográfico em um período de tempo predeterminado pelo cirurgião, precisando o paciente passar por uma nova anestesia o que eleva ainda mais o custo do tratamento. Por esse motivo, a exodontia é um dos tratamentos mais realizados, com maior chance de sucesso, resolução imediata e menor custo. Corroborando com a literatura, no caso descrito o tratamento realizado foi a exodontia e o paciente apresentou melhora clínica significativa. Roza (2004) e Gioso (2007) afirmaram que o tratamento deve ser feito eliminado o elemento dentário que ocasionou a fístula e que muitos tutores de animais tratam por muito tempo com medicamentos sem eliminar o elemento dentário, e isso foi observado nesse caso, pois a tutora relatou durante a consulta que já havia realizado vários tratamentos com antibióticos anteriores à realização da exodontia para solucionar o caso e que nenhum demostrou eficácia, isso ressalta a importância de um atendimento especializado para diagnosticar precocemente a afecção, para que o tratamento ocorra de maneira eficaz gerando um melhor prognóstico. Conclusão: Pode se concluir, portanto que alterações no quarto pré-molar de cães é a causa mais frequente de fístula infraorbitária e que essa afecção pode cursar com intenso desconforto, prejudicando o bem-estar do animal. Um correto diagnóstico deve ser realizado evitando assim o uso indiscriminado de medicamentos prejudicando a saúde do animal. Por ser radiopaco, o uso do cone de guta percha introduzido na fístula constitui uma técnica favorável para identificar radiograficamente qual dente está acometido com o abcesso periapical. O diagnóstico correto e precoce é fundamental para que ocorra sucesso no tratamento e melhore o prognóstico do paciente. Anais do 38º CBA, p.2361

5 Referências Bibliográficas: AYLON, E. G. Lesão periapical do quarto pré-molar superior esquerdo com formação de fístula: relato de caso.monografia (Especialização em Odontologia Veterinária) - Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais de São Paulo - ANCLIVEPA SP, São Paulo, BOLSON, J. E.; PACHALY, J. R. Fístula oronasal em cães. Revisão de Literatura. Arquivos de Ciências Veterinárias e Zoologia, UNIPAR, 2004 v.7, n.1, p GIOSO, M. A. Odontologia Veterinária: para o clinico de pequenos animais 2ed., São Paulo, Minha Editora, p GIOSO, M. A. Endodontia. In: Odontologia para o Clínico de Pequenos Animais. 2. edição. São Paulo: Manole, 2003, 202 p. GORREL, C. Veterinary dentistry for the general practitioner. Philadelphia: W.B. Saunders, 2004, p HOLMSTROM; Feline Endodontics. In: Harvey, C.E.; The Veterinary Clinics of North America Small Animal Practice, Filadélfia, 1992, v.22, n.6, p LEON-ROMAN, M. A.; GIOSO, M. A. Tratamento de canal convencional: opção à extração de dentes afetados endodonticamente. Clínica Veterinária, 2002.v. 40, p PACHALY, J. R. Odontoestomatologia em animais selvagens. In: CUBAS, Z. S.; SILVA, J. C. R.; CATÃODIAS, Z. S. Tratado de animais selvagens. São Paulo: Roca, cap.64, ROZA, M. R. Cirurgia Dentária e da Cavidade Oral. In Odontologia de Pequenos Animais, Rio de Janeiro, 2004, p SANTOS, I. C. Doença periodontal em cães. Monografia (Especialização em Clínica Médica de Pequenos Animais) Universidade Castelo Branco, São Paulo f. Anais do 38º CBA, p.2362