01470 CURRÍCULO ESCOLAR: DESAFIOS E POTENCIALIDADES NA FORMAÇÃO DOS JOVENS Maria Perpétua do Socorro Beserra Soares 1 Eixo Temático: Didática e Prática de Ensino na Relação com a Sociedade Subeixo: Temas emergentes na relação da Didática e da Prática de Ensino com a Sociedade RESUMO O presente texto é parte integrante dos estudos de doutoramento de um Programa de Pós-Graduação em Educação. O artigo emergiu das discussões e reflexões no curso e tem como objetivo discutir as concepções de currículo escolar destacando alguns aspectos relevantes acerca dos desafios e das potencialidades deste para a formação dos jovens na sociedade contemporânea e apresenta como problemática: quais os desafios e as potencialidades do currículo escolar na formação dos jovens? Para a realização desse estudo utilizamos uma pesquisa de cunho bibliográfico. O referencial teórico está fundamentado nos autores: Gimeno Sacristán (1998), Ponce (2009), Chizzotti e Ponce (2012), Arroyo (2013) e Freire (2013). Com base nas análises parciais desta pesquisa podemos considerar que o currículo escolar é um instrumento importante e com potencialidades para contribuir na formação dos jovens, propiciando conhecimentos sólidos, incentivando a produção de saberes, atitudes, respeito à diversidade, preparação para a sua inserção no mundo do trabalho e o desenvolvimento de uma postura crítica acerca dos problemas da sociedade. O currículo escolar é um projeto educativo essencial para potencializar nos jovens a sua autonomia, cultivar o diálogo em sala de aula e em outros contextos, a formação de valores pautados nos princípios de justiça, solidariedade e o respeito aos outros, considerados imprescindíveis à construção de uma sociedade mais democrática e digna. A escola, os professores, os gestores e a família têm como desafios visualizar os jovens como sujeitos sócio-históricos, culturais, de direitos, respeitando as suas singularidades, vivências e os saberes que constroem e levam para as escolas. PALAVRAS-CHAVE: Currículo escolar. Desafios e potencialidades. Formação dos jovens. INTRODUÇÃO O artigo tem como objetivo discutir as concepções de currículo escolar destacando alguns aspectos relevantes acerca dos desafios e das potencialidades deste para a formação dos jovens na sociedade contemporânea e apresenta como problemática: quais os desafios e as potencialidades do currículo na formação dos jovens? 1 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação: Currículo da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo-PUC/SP. Bolsista do CNPq.
01471 CONCEPÇÕES DE CURRÍCULO ESCOLAR O currículo escolar apresenta diversas concepções e na atualidade tornou-se objeto de estudo e análise nos debates acerca das reformas educacionais ocorridas nos últimos anos. Chizzotti e Ponce (2012) entendem o currículo escolar como um instrumento social de responsabilidade coletiva supondo a participação de cada um. Os autores acrescentam que o mesmo objetiva a autonomia do indivíduo na comunidade; a preparação para viver a vida com dignidade e a construção contínua de uma escola que valorize o conhecimento. Vale salientar que qualquer concepção de currículo envolve relação de poder, uma vez que o currículo veicula intencionalidades diversas, disputas. Como uma prática social compreende a participação de gestores, docentes, discentes e a instituição família. Gimeno Sacristán (1998) ressalta a dificuldade de definição válida para o currículo, pois é importante considerar que o currículo deve possibilitar uma visão de cultura, pode ser entendido como um processo historicamente condicionado pertencente a uma dada sociedade permeada por forças dominantes capazes de reproduzir, mas também incorrer sobre essa mesma sociedade, com ideias e práticas que se interagem mutuamente, como também condiciona a profissionalização do docente. O currículo como projeto cultural é flexível e proporciona a intervenção de professores(as). Para a elaboração deste faz-se necessário compreender a realidade dos educandos tendo em vista seus conhecimentos, suas necessidades, seus interesses, principalmente na sociedade da informação, do conhecimento e dos avanços tecnológicos que exige dos jovens habilidades, valores, atitudes, postura crítica em relação aos problemas e aos desafios postos pela sociedade atual marcada pelo processo de globalização que impacta as práticas e políticas educacionais. CURRÍCULO ESCOLAR: ARTICULAÇÃO ENTRE CONHECIMENTO, AUTONOMIA E FORMAÇÃO DOS VALORES DOS JOVENS A escola é um espaço sociocultural que pode contribuir tanto para a transmissão e reprodução quanto à produção do saber. Mas o que a escola pode/deve
01472 oferecer aos jovens? A escola, espaço de relações sociais e humanas, deve garantir aos alunos o acesso aos conhecimentos, habilidades, atitudes, valores e a formação para a cidadania. O currículo escolar abrange todas as atividades desenvolvidas dentro da escola. É um projeto orientador das suas ações com finalidades e intenções e deve ser construído continuamente com a participação ativa de todos os que constituem esta instituição como os educadores, educandos, gestores e a família. Gimeno Sacristán (1998) destaca que o debate sobre o que ensinar centrouse na tradição anglo-saxã acerca do currículo que foi concebido incialmente como fins e conteúdos, posteriormente, foi ampliado. Para o autor, o currículo envolve os grandes questionamentos: que objetivo se pretende atingir, o que ensinar, por que ensinar, para quem são os objetivos, quem tem o melhor acesso às formas legítimas de conhecimento, que processos incidem e transformam as decisões para se chegar à prática, como se transmite a cultura escolar, como inter-relacionar os conteúdos, que recursos e materiais metodológicos ensinar, como organizar os grupos, professores(as), tempos e espaços, quem deve definir o sucesso ou não no ensino e quais as consequências na avaliação, como é possível mudar as práticas escolares referentes a esses temas. A escola, os docentes e os gestores devem perceber os jovens como sujeitos ativos e interativos no processo de construção do conhecimento e da aprendizagem. Para tanto, a escola deve valorizar e respeitar os saberes dos alunos, estimulando-os ao questionamento, a capacidade de pesquisar e a sua preparação para a inserção no mundo do trabalho. Na maioria das vezes, o currículo escolar expressa uma visão restrita de conhecimento, ignorando ou até mesmo desconsiderando outros conhecimentos, interpretações da realidade, de mundo e de sociedade acumulados pelos jovens ao longo das suas existências. Nesse sentido, o desafio da escola e do professor no processo ensino-aprendizagem é criar condições favoráveis e meios adequados para que os alunos se tornem sujeitos ativos na forma de apropriação e produção do saber sistematizado por meio de situações que favoreçam o diálogo entre aluno/aluno/professor/aluno.
01473 Na concepção freireana o diálogo é este encontro dos homens, mediatizados pelo mundo, para pronunciá-lo, não se esgotando, portanto, na relação eu- tu. (FREIRE, 2013, p.109). O diálogo entre aluno/aluno/professor/aluno envolve uma relação horizontal de respeito e confiança no outro, nos saberes dos educandos. Ponce (2009, p. 6) ao refletir acerca da temática o que a escola tem a oferecer ao jovem expressa o seguinte desejo: 1. um jovem que, na sua vida adulta, seja autogovernante de sua vida em coletividade; 2. uma formação que o prepare para viver e (re)criar a vida com dignidade; 3. uma escola que valorize o conhecimento com estratégia de existência; que seja um espaço de convívio democrático e solidário; e que, por meio de seus educadores, ajude o jovem na construção de sua autonomia. A instituição escolar tem um papel essencial e um grande desafio a enfrentar para conseguir atingir esses objetivos. A formação dos jovens implica não apenas a aquisição de conhecimentos e habilidades, mas também a formação de valores baseados no respeito mútuo, na solidariedade e na coletividade para uma convivência democrática. Os docentes precisam observar mais os jovens na sua condição, conhecer seus anseios, conflitos e seus projetos de vida. Nessa direção, Arroyo (2013, p. 224) faz algumas indagações sobre quem são os adolescentes e jovens que chegam às escolas e afirma que somente mirando esses adolescentes e jovens nesse olhar aberto, entenderemos quem são nas salas de aula: os mesmos vistos como incômodo fora. Na maioria das vezes os jovens e adolescentes são vistos como incômodos, não apenas nas escolas como também nas ruas, manifestações e até mesmo nas famílias. Muitas vezes são objetos de reportagens negativas na mídia e nas ocorrências policiais tidos como indisciplinados, vândalos e violentos. Portanto, é necessário reeducar o nosso olhar na forma de percebê-los e tratá-los, ou seja, reconhecê-los como sujeitos ativos e de direitos e que merecem centralidade nas propostas pedagógica e curricular como os conteúdos das áreas e a diversidade cultural, de gênero, raça, campo e periferia. A escola tem como desafio e potencialidade preparar os jovens para o mundo do trabalho que em nossa sociedade está fortemente associada à questão da sobrevivência. O trabalho faz parte da vida dos educandos desde criança, pois nas camadas populares os jovens colaboram na produção da sobrevivência dos seus familiares desde muito cedo. Dessa forma, a escola não pode desconsiderar as
01474 vivências, experiências,os conhecimentos dos alunos em relação ao trabalho ou o trabalho como forma de exploração do indivíduo. CONSIDERAÇÕES FINAIS Com base nos estudos realizados podemos considerar que o currículo escolar é um instrumento importante e com potencialidades para contribuir na formação dos jovens, propiciando conhecimentos sólidos, incentivando a produção de saberes, atitudes, respeito à diversidade, preparação para a sua inserção no mundo do trabalho e o desenvolvimento de uma postura crítica acerca dos problemas da sociedade. O currículo escolar é um projeto educativo e cultural capaz de potencializar nos jovens a sua autonomia, cultivar o diálogo em sala de aula e em outros contextos, a formação de valores pautados nos princípios de justiça, solidariedade e o respeito aos outros, imprescindíveis à construção de uma sociedade mais democrática e digna. Para tanto, a escola, os professores, gestores e a família têm como desafios visualizar os jovens como sujeitos sócio-históricos, culturais, de direitos, respeitando as suas singularidades, vivências e os saberes que constroem e levam para as escolas. REFERÊNCIAS ARROYO, M. G. Currículo: território em disputa. 5. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013. CHIZZOTTI, A.; PONCE, B. O currículo e os sistemas de ensino. Currículo sem fronteiras. v.12, n.3, 25-36.set/dez.2012. Disponível em: http://www. curriculosemfronteiras.org/vol12iss3articles/chizzotti-ponce.pdf. Acesso em: 16 ago.2013. FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 54 ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2013. GIMENO SACRISTÁN J. O currículo: os conteúdos do ensino ou uma análise prática? In: GIMENO SACRISTÁN, J. PÉREZ GOMÉZ, A. I. (Orgs.). Compreender e transformar o ensino. Porto Alegre: Artmed, 1998. PONCE, B. J. O que a escola tem a oferecer para a formação do jovem? In: RevistaOnda Jovem, nº. 15. jun. 2009.