A CONCEPÇÃO DO BOM PROFESSOR PARA OS BOLSISTAS DO PIBID SUBPROJETO EDUCAÇÃO FÍSICA

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1 A CONCEPÇÃO DO BOM PROFESSOR PARA OS BOLSISTAS DO PIBID SUBPROJETO EDUCAÇÃO FÍSICA Fernanda Rabelo PRAZERES, Renato ROCHA, Virgínia Mara Próspero da CUNHA Universidade de Taubaté Mestrado Profissional em Educação Eixo 01: Formação inicial de professores da educação básica Agência Financiadora: CAPES 1. Introdução O Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) tem como ideal melhorar a qualidade da educação básica, possibilitando a preparação dos alunos dos cursos de licenciaturas que, futuramente, assumirão a responsabilidade da docência nas escolas públicas e privadas. Para isso, os alunos dos cursos de licenciatura participam de ações nas escolas públicas, sob a supervisão de professores da própria escola que dão suporte, orientam e auxiliam na formação do futuro professor. Na Universidade estudada, o projeto do PIBID desenvolvido, a cada semestre, propõe que os bolsistas troquem de escola para que possam vivenciar outra realidade, levando-os a conhecer novos ambientes escolares, espaço físico, materiais disponíveis, adaptações necessárias e, principalmente, alunos e corpo docente diversificados. A formação do professor, segundo Cunha (2013), é um continuum iniciado na educação familiar e que perpassa por experiências pessoais, pela vida acadêmica e se intensifica durante as experiências e ação profissional. O indivíduo escolhe a profissão a partir de suas crenças construídas enquanto aluno, criando assim uma identidade do que vem a ser professor, que irá refletir sobre a forma como buscará os conhecimentos necessários para o seu desenvolvimento profissional. Portanto, esse rodízio entre as escolas faz com que o aluno bolsista entre em contato com outros professores e supervisores e, dessa forma, vivencie outras formas de atuação docente (re)construindo sua concepção do que é preciso para ser um bom professor. Ou seja, a formação do professor, nessa lógica do PIBID, corrobora com Tardif (2002) quando afirma que esta é constituída por uma gama de saberes influenciada por 100

2 seu local de atuação, como e onde se formou, materiais e instrumentos de trabalho e suas experiências e relações interpessoais. Buscando conhecer os alunos bolsistas do PIBID de um subprojeto de Educação Física, o objetivo deste estudo foi identificar a visão dos mesmos sobre as características de um bom professor a partir de suas crenças e experiências na formação inicial e na vivência no programa. 2. O bom professor Atualmente, a discussão sobre a função do professor perpassa por diversos âmbitos, porém é de consenso a sua responsabilidade pelo processo de ensino e aprendizagem dos alunos nas escolas. Para lecionar na Educação Básica, os professores devem ser licenciados na disciplina ou nível de ensino escolhido, frequentando um curso de nível superior. Para Canário (2001), a formação inicial constitui o ponto de partida para a formação continuada, mas que, embora seja constituída por uma hierarquização de saberes científicos, pedagógicos e práticos, a formação docente se dá, principalmente, na inserção no ambiente escolar, pois ao ingressar na escola o professor irá pôr em prática os conhecimentos adquiridos e ao mesmo tempo refletir sobre suas ações, gerando adaptações e novos saberes que farão parte de um constante replanejamento do que ensinar e como ensinar. Segundo Freire (1996), para ensinar é preciso aprender, considerando que durante o processo de ensino o professor aprende, pois este processo não se resume apenas em transferir os conhecimentos, mas sim possibilitar meios para sua construção. Nesse sentido, de acordo com o autor, para ensinar o educador deve estimular a curiosidade e a criticidade de seus educandos, deve indagar-se e pesquisar para compreender aquilo que ainda não conhece, precisa respeitar os conhecimentos dos educandos aproveitando a experiência destes ao ensinar e discutir os conteúdos, fazer o que se fala, sendo um exemplo para os alunos em suas atitudes e ações. Precisa aceitar o risco e rejeitar qualquer possibilidade de discriminação, deve refletir sobre sua prática e por fim, reconhecer sua identidade cultural, bem como, de seus educandos (FREIRE, 1996). 101

3 Cunha (1995) ao estudar a prática do bom professor, destacou que a concepção do bom professor depende da ideia que se tem de quem é o professor e qual a sua função, além da pessoa que o define (aluno, direção, os próprios professores, entre outros). Assim, verificou que os bons professores foram influenciados por seus ex professores e acabaram por reproduzir as atitudes que consideraram corretas. Indica que boa parte dos saberes necessários à docência foi construído a partir da prática cotidiana. O bom professor gosta de ensinar, se identifica com a disciplina que atua e por isso sente prazer ao estudar e ao construir o conhecimento junto com os alunos. O bom professor contextualiza a aula, incentiva a participação do aluno, variando os estímulos e recursos pedagógicos e possui habilidades ao tratar, tanto o conteúdo, quanto os alunos. Perrenoud (2000) descreve as dez competências necessárias para ensinar e, consequentemente, tornar-se um bom professor. São elas: organizar e orientar as aprendizagens, administrar os avanços na aprendizagem, verificar e adequar às necessidades de cada aluno, buscando uma aprendizagem ótima conforme sua situação, despertar nos alunos o desejo de aprender e participar das ações escolares, trabalhar em equipe, colaborar com a administração escolar, participando de suas ações, acessar e envolver os pais, usar as diversas ferramentas tecnológicas que possam contribuir com o ensino, enfrentar os problemas da profissão que porventura surjam com responsabilidade, solidariedade e justiça, e finalmente, administrar sua formação continuada. Para Tardif (2002), a formação do professor é constituída por uma gama de saberes influenciada por seu local de atuação, como e onde se formou, materiais e instrumentos de trabalho e suas experiências e relações interpessoais. São os seguintes saberes: saberes pessoais do professor; saberes advindos da formação escolar (acumulados durante o ensino fundamental e médio); saberes adquiridos na formação profissional (no curso superior); saberes provenientes dos instrumentos e materiais didáticos utilizados na escola em que atua e, saberes constituídos a partir da experiência com os alunos, na escola e com a equipe escolar (demais professores, coordenador, diretor...). A junção destes saberes contribui para a formação de um bom professor. Complementando e reforçando as ideias acima, Nóvoa (2009) afirma que para o bom professor é preciso: conhecimento, cultura profissional, tato pedagógico, trabalhar em equipe e compromisso social. O conhecimento advém da formação inicial e contínua, mas principalmente do conhecimento obtido a partir da experiência prática, dentro da escola. A cultura profissional reforça a importância dos professores mais experientes auxiliarem na formação dos professores iniciantes. O tato pedagógico refere-se às 102

4 dimensões pessoais dentro na profissão, buscando desenvolver a comunicação, a relação com os outros e a auto-reflexão. Trabalhar em equipe seria de grande relevância para o desenvolvimento tanto profissional quanto para os projetos educativos na escola. O compromisso social consiste em saber se comunicar com o público, bem como engajar-se com as questões que envolvem a educação. 3. Procedimentos metodológicos A amostra para este estudo foi constituída por 20 alunos participantes do PIBID de um dos subprojetos de Educação Física de uma Universidade, situada na região metropolitana do Vale do Paraíba São Paulo. Como parte das ações do PIBID, foi solicitado aos alunos que além das atividades com seu supervisor, também tivessem contato, observassem e participassem das aulas de outros professores de Educação Física em cada unidade escolar para que, a partir disso, pudessem construir a ideia do bom professor. Ao longo dos encontros semanais com os alunos e o coordenador do subprojeto, foram realizadas discussões sobre o assunto e, no final do ano letivo, foi entregue um questionário com uma questão aberta (Para você, quais são as características de um bom professor?) para que os bolsistas pudessem refletir sobre o assunto. Os dados obtidos foram analisados com base na análise de conteúdo, por meio da análise temática, buscando compreender a concepção dos alunos sobre as características de um bom professor de Educação Física. 4. Resultados e discussão Pensando no percurso de um professor (da formação inicial até a atuação na escola), a concepção do bom professor pode variar conforme seu papel. Isto pode ser exemplificado, no estudo de Cunha (1995, p. 158) em que os alunos do ensino médio consideravam o bom professor aquele que é intelectualmente capaz e afetivamente maduro. 103

5 Nesse estudo, o foco foi a concepção do bom professor a partir da visão de alunos do ensino superior do curso de licenciatura em Educação Física que participam do PIBID. Em cada escola frequentada, os alunos, além de observarem e participarem das aulas com outros professores, também desenvolviam atividades como docentes (tendo o respaldo do supervisor). Portanto, a concepção aqui apresentada é de alunos em formação docente, mas que tiveram a oportunidade de vivenciar as facilidades e as dificuldades do professor na escola. De acordo com os dados obtidos, quando perguntado quais seriam as características de um bom professor, três categorias foram as que mais se destacaram (Tabela-1). Tabela 1- Categorias quanto ao tema Características do bom professor Categorias: Características do bom professor 1. Saber ensinar 2. Bom convívio 3. Responsabilidade A categoria saber ensinar esteve presente na resposta de todos os alunos, considerando que para ensinar é preciso dominar o conteúdo, pois ensinar não se restringe em apenas passar o conhecimento, e sim criar meios para que seja construído (FREIRE, 1996). É preciso que o professor saiba adequar o conteúdo à condição de cada turma ou aluno para que todos possam participar. Nesse sentido, Galvão (2002) observou em uma boa professora a diversificação dos conteúdos aplicados e a participação de todos os alunos, pois da forma como eles eram aplicados, meninos e meninas participavam efetivamente das aulas. Destacou também a preocupação da professora em abordar os conteúdos em diferentes dimensões (conceitual, procedimental e atitudinal), dessa forma atingindo todos os alunos e despertando a curiosidade e o querer aprender cada vez mais. A categoria bom convívio vai ao encontro ao que Freire (1996) se refere ao respeito para com os alunos e Cunha (1995) sobre a habilidade ao tratar os alunos. Para Perrenoud (2000), um bom convívio é preciso para conhecer e despertar o interesse nos alunos e principalmente para trabalhar em equipe. Nóvoa (2009) também indica a 104

6 TARDIF, Maurice; LESSARD, Claude. O trabalho docente: elementos para uma teoria da docência como profissão de interações humanas. Petrópolis: Vozes,