Poder Judiciário Tribunal de Justiça da Paraíba Gabinete Des. Carlos Martins Beltrão Filho ACÓRDÃO APELAÇÃO CRIMINAL No. 200.2008.032784-0/001 ia Vara Criminal da Comarca da Capital RELATOR: Marcos William de Oliveira, Juiz de Direito convocado para substituir o Desembargador Carlos Martins Beltrão Filho APELANTE: Hermance Ferreira da Costa ADVOGADO: Tiago Sobral Pereira Filho (OAB/PB 6.656) APELADO: Justiça Pública APELAÇÃO CRIMINAL. CRIME DE TRÂNSITO. EMBRIAGUEZ AO VOLANTE. CONDENAÇÃO. IRRESIGNAÇÃO. PLEITO ABSOLUTÓRIO. AUSÊNCIA DE ASSINATURA NO TESTE DO BAFÔMETRO. IRRELEVÂNCIA. COMPROVAÇÃO POR OUTROS MEIOS DE PROVA. ASSINATURA DE DUAS TESTEMUNHAS. CONFISSÃO DO ACUSAD DE QUE HAVIA INGERIDO BEBIDA ALCOOLICA. DECOTE DA PENA DE SUSPENSÃO NA CNH. NECESSIDADE DA HABILITAÇÃO EM RAZÃO DA PROFISSÃO. IMPOSSIBILIDADE. REDUÇÃO NO QUANTUM DO TEMPO DA SUSPENSÃO. NÃO ACOLHIMENTO. MAGISTRADO QUE ATENDEU OS PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE. DESPROVIMENTO DO RECURSO. 1. "A ausência de assinatura do examinado no teste de bafômetro pode ser suprida pela firma de duas testemunhas, desde que haja, no exame, identificação do nome do examinado e do seu RG ou CNH". 2. Não há que se falar em decote da pena de suspensão se ela é cumulativa e não alternativa ou facultativa, não podendo deixar de ser imposta. 3. Tendo o magistrado aplicado a pena de suspensão da CNH para dirigir, em observância
aos princípios da proporcionalidade e razoabilidade, nenhum alteração há que ser feita. VISTOS, relatados e discutidos estes autos de apelação criminal, acima identificados, ACORDA a Egrégia Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, à unanimidade, em negar provimento ao recurso. RELATÓRIO Hermance Ferreira da Costa foi denunciado perante a 8a Vara Criminal da Comarca da Capital, acusado de, no dia 23/08/2008, pela madrugada, na BR-230, nas proximidades do Hospital de Trauma, nesta cidade, haver sido preso em flagrante com sintomas de embriaguez. A Denúncia foi recebida em 19/06/2009 (fls. 49) e, na mesma oportunidade, o representante do Ministério Público fez a proposta de suspensão do processo, que foi aceita pelo acusado. Havendo notícias de que o réu havia sido denunciado pela prática, em tese, de novo crime, idêntico ao apurado nestes autos, a juíza atuante no feito, revogou o benefício (fls. 58-59). Às fls. 75, o processo foi redistribuído para ia Vara Criminal em razão das alterações na Lei de Organização Judiciária do Estado. Defesa preliminar apresentada (fls. 81-82). O feito foi instruído com inquirição de testemunhas e interrogatório do acusado, conforme se depreende do Termo de Audiência de fls. 120. Apresentadas as alegações finais pelas partes (fls. 125-128 e 131-133), o juiz julgou procedente a de núncia e condenou o acusado, Hermance Ferreira da Costa, nas penas do art. 306 da Lei no 9.503/97, aplicando uma pena final de 1 (um) ano e 2 (dois) meses de detenção, a ser cumprida em regime aberto. Em atenção aos ditames do art. 44 do CP, substituiu a pena privativa de liberdade por 2 (duas) restritivas de direito, nas modalidades a serem estabelecidas pelo juízo das execuções. Além da pena privativa de liberdade, o tipo penal que restou o acusado condenado prevê, ainda, pena pecuniária, que foi fixada em 10 (dez) dias multa, a base de 1/30 do salário mínimo vigente à época dos fatos e suspensão da habilitação que foi fixada em 6 (seis) meses. 2
Inconformado, o acusado interpôs recurso de apelação buscando sua absolvição, sob a alegação de que não há provas da materialidade, já que não assinou o exame de barômetro; o decote da pena de suspensão da habilitação, já que é proprietário de um Pet-Shop, necessitando usar o veículo para atender os clientes e, alternativamente, pela redução da pena de suspensão da habilitação (fls. 147-148; 157-160). Em contrarrazões, o representante do Ministério Público pugnou pela manutenção da decisão (fls. 163-166). A Procuradoria-Geral de Justiça opinou pelo desprovimento do recurso (fls. 169-172). É o que cabe relatar. VOTO O recurso é tempestivo e estão presentes os demais pressupostos de admissibilidade. BARÔMETRO - DA AUSÊNCIA DE ASSINATURA NO TESTE DO Nas razões apelatórias, o recorrente alega que "a prova trazida aos autos, acostada às fls. 12, não prova a materialidade que pretende a Promotoria de Justiça. Haja vista, que sequer existe assina tra do denunciado, apenas o preenchimento do nome do mesmo em "letras garrafais", como s vislumbra dos autos". O pedido não deve ser acolhido. O fato do resultado do teste do bafômetro não estar assinado pelo acusado,em nada modifica a situação do infrator, posto que ali consignado que Hermance se negou a firmá-lo. Quando da prolação da sentença (fls. 137), o magistrado já se pronunciou a respeito, colacionando, inclusive, uma jurisprudência do Tribunal do Rio Grande do Sul, com o seguinte teor: "A ausência de assinatura do examinado no teste de bafômetro pode ser suprida pela firma de duas testemunhas, desde que haja, no exame, identificação do nome do examinado e do seu RG ou CNH". Há outras decisões no mesmo sentido: "APELAÇÃO CRIMINAL. CRIME DE TRÂNSITO. CONDUÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR SOB 3
EMBRIAGUEZ (ART. 306 DO CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO. LEI N. 9.503/97). RECURSO DEFENSIVO. PLEITO ABSOLUTÓRIO. ALEGADA INSUFICIÊNCIA PROBATÓRIA. MATERIALIDADE E AUTORIA DEVIDAMENTE COMPROVADAS. CONFISSÃO DO ACUSADO ALIADA AO EXAME TÉCNICO ESPECÍFICO (BAFÔMETRO). AUSÊNCIA DE ASSINATURA DO EXAMINADO SUPRIDA POR DUAS TESTEMUNHAS. TESTE VÁLIDO A AFERIR A CONCENTRAÇÃO DE ÁLCOOL POR LITRO DE AR EXPELIDO DOS PULMÕES. CONJUNTO PROBATÓRIO SÓLIDO PARA A PROLAÇÃO DO ÉDITO CONDENATÓRIO. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. 1. Havendo a confissão e realizado o teste de bafômetro, com resultado acima do legalmente permitido, a condenação pela prática do crime de embriaguez ao volante é medida imperativa. 2. Muito embora não esteja aposta a assinatura do examinado no teste de alcoolemia, este é plenamente válido, haja vista que foi presenciado por mais duas testemunhas além do agente de trânsito que efetuou, as quais exararam suas firmas no referido documento. 3. Salienta-se que para a configuração da conduta tipificada no art. 306 do código de trânsito brasileiro é prescindív a exigência de prova da exposição de dano potencial da incolumidade de outrem, bastando apenas que haja a verificação da embriaguez." (TJSC - ACR 2012.007051-6 - Rel. Des. Paulo Roberto Sartorato - DJ: 05/06/2012). DO DESCABIMENTO DA PRETENSÃO DE AFASTAR A CONDENAÇÃO DA SUSPENSÃO DA HABILITAÇÃO PARA DIRIGIR VEÍCULO AUTOMOTOR Não merece prosperar a pretensão da defesa, quando objetiva seja afastada a punição da suspensão da habilitação para dirigir veículo, sob o argumento de que o acusado é proprietário de um Pet-Shop, necessitando usar o veículo para atender os clientes Ora, no caso como dos autos, m que houve a prática do crime tipificado no art. 306 do CTB, a pena de suspensão da habilitação é cumulativa e não alternativa ou facultativa, não podendo deixar de ser imposta. O fato do acusado necessitar dirigir veículo em razão de sua profissão, é que se exigi que conduza seu veículo com um cuidado ainda maior. 4
É de se acentuar que esta pena de suspensão é por demais específica, buscando não só punir com a proibição de direção quem comete um ato de tal gravidade, mas também acautelar a sociedade diante de uma pessoa que conduz seu veículo sem os cuidados necessários, representando perigo para a comunidade. Neste sentido é o entendimento jurisprudencial: "APELAÇÃO CRIMINAL. ART. 306, "CAPUT", DO CTB. CONDENAÇÃO. INSURGÊNCIA DEFENSIVA. INSUFICIÊNCIA PROBATÓRIA. DESCABIMENTO. Evidentemente comprovada a materialidade e autoria descabe falar em absolvição do acusado por insuficiência probatória, diante do seguro depoimento prestado pelo policial militar, corroborado pelo teste de bafômetro. (...) SUSPENSÃO DA HABILITAÇÃO. AFASTAMENTO. DESCABIMENTO. Incabível a não aplicação da suspensão da habilitação, porquanto prevista expressamente no preceito secundário do tipo penal do artigo 306 da Lei 9.503/97, nada mais sendo que decorrência legal da condenação. (...)". (TJRS - Apelação Crime No 70035895754 - Rel. Des. Rosane Ramos de Oliveira Michels D3: 19/01/2012) - DA REDUÇÃO DA PENA DE SUSPENSÃO to S Por fim, na apelação o recorrente pleiteia "que seja n diminuída [sio] o lapso temporal de suspensão da Carteira Nacional de Habilitação CNH". CO "C E (c" O pedido não deve ser acolhido As penas foram dosadas com critério, com substituição da carcerária por restritiva de diretos e multa. Também, a suspensão de dirigir veículo automotor foi devidamente estabelecida, valendo-se o Magistrado sentenciante dos mesmos critérios utilizados para a dosagem da pena principal. Vejamos: "APELAÇÃO CRIMINAL. CONDENAÇÃO POR CONDUÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR EM CONDIÇÃO DE EMBRIAGUEZ. Objetiva a reforma da sentença para redução da pena e do prazo de suspensão de dirigir veículo automotor. Condenação bem lançada. As penas não comportam reparos". (TJSP - APL 0005180-5
27.2007.8.26.0624; Ac. 6115557 - Rel. Des. Aguinaldo de Freitas Filho - DJ: 16/08/2012) Assim, com base em tudo o que foi posto, nego provimento ao recurso, mantendo a sentença em todos os seus termos. É o meu voto. Presidiu ao julgamento, o Desembargador Luiz Sílvio Ramalho Júnior, dele participando, além de mim, Relator, os Desembargadores Joás de Brito Pereira Filho e Arnóbio Alves Teodásio. Presente à sessão de julgamento o Excelentíssimo Senhor Doutor Antônio de Pádua Torres, Procurador de Justiça convocada. Sala de Sessões "Des. Manoel Taigy de Queiroz Mello Filho" da Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, em João Pessoa, aos 25 (vinte e cinco) dia á. mês de setembro do ano de 2012. João Pesso45 e etembro de 2012 e Oliveira t. convocado - lator 6
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