Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro Terceira Câmara Criminal Recurso em Sentido Estrito Nº 0036963-85.2012.8.19.0000 Recorrente: Arinaldo Alves Ferraz Recorrido: Ministério Público Relator: Desembargador Paulo Rangel RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. DECISÃO QUE DENEGOU A ORDEM NO HABEAS CORPUS EM QUE FIGURAVA COMO AUTORIDADE COATORA O DELEGADO DE POLÍCIA DA DELEGACIA DE ROUBOS E FURTOS DO RIO DE JANEIRO. PRETENSÃO DE RECONHECIMENTO DA NULIDADE DA BUSCA E APREENSÃO E, POR DERIVAÇÃO, DE TODO O PROCEDIMENTO INVESTIGATÓRIO. IMPOSSIBILIDADE. O ingresso no imóvel foi franqueado pelo possuidor indireto, sendo, portanto, autorizado por quem de direito. O imóvel estava vazio, não havendo violação da intimidade e da vida privada de qualquer pessoa. Quanto à apreensão das caixas contendo os documentos, impõe concluir que não ocorreu qualquer ilegalidade, uma vez que, sendo autorizado o ingresso no imóvel, em se tratando de corpo de delito de prováveis crimes está autorizada a apreensão dos objetos. CONHEÇO DO RECURSO E, NO NEGO-LHE PROVIMENTO. Visto, relatados e discutidos estes autos de Recurso em Sentido Estrito nº 0036963-85.2012.8.19.0000, em é Recorrente Arinaldo Alves Ferraz e Recorrido Ministério Público
ACORDAM os Desembargadores da Terceira Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro em, por unanimidade de votos, em negar provimento, nos termos do voto do Desembargador Relator. RELATÓRIO Trata-se de Recurso em Sentido Estrito interposto pelo recorrente Arinaldo Alves Ferraz em face da decisão de fls. 166, a qual denegou a ordem no Habeas Corpus em que figurava como autoridade coatora o Delegado de Polícia da Delegacia de Roubos e Furtos do Rio de Janeiro. O recorrente interpôs o presente recurso visando o reconhecimento da nulidade da busca e apreensão e, por derivação, de todo o procedimento investigatório, com posterior arquivamento do Inquérito Policial em razão da nulidade integral das provas. Razões oferecidas às fls. 213/222. A Defesa Técnica argumente, em síntese, que ocorreu uma invasão do domicílio, vez que a entrada dos policiais no estabelecimento não foi autorizada nem pelo possuidor direto, nem mesmo por mandado judicial. Aduz que a autorização para ingresso no imóvel no qual foram obtidos os documentos foi conferida por Leonardo dos Santos Aquino, terceiro estranho, e não pelos possuidores diretos. Afirmam, ainda, que na operação policial foram encontradas e apreendidas ilegalmente, 16 (dezesseis) caixas
contendo documentos, sendo que apenas 8 (oito) foram devolvidas até a presente data. Contrarrazões, às fls. 224/226, nas quais pugna o Ministério Público pelo desprovimento do recurso, alegando, para tanto, que a par de escorada nos atos normativos mencionados à fl. 148 e na autorização do possuidor do imóvel, deparou não só com os instrumentos como também com os produtos dos prováveis crimes, o que, por evidente, impunha a apreensão do material. Parecer Ministerial da lavra da ilustre Procuradora de Justiça, Dra. Kátia Aguiar Marques Selles Porto, no qual opina pelo desprovimento do recurso. É o breve relatório. VOTO Presentes os requisitos de admissibilidade, conheço do presente recurso. O recorrente alega patente ilegalidade na ação policial, eis que o ingresso no imóvel se deu sem ordem judicial, por autorização do Sr. Leonardo dos Santos Aquino, esposo da proprietária do imóvel em questão, sendo este, portanto, terceiro estranho à relação jurídica. É cediço que as buscas domiciliares serão executadas de dia, salvo se o morador consentir que se realizem à noite, e, antes de penetrarem na casa, os executores mostrarão e lerão o mandado ao morador, ou a quem o represente, intimando-o, em seguida, a abrir a porta.
Extrai-se do termo de declarações do Sr. Leonardo dos Santos Aquino que (...) Que ao ser perguntado se possuía um imóvel cobertura no Recreio dos Bandeirantes, informou que sim e que esta/em nome sua esposa; Que por haver denúncia; a cerca de que nesta cobertura estariam guardados documentos que comprovariam as práticas ilícitas, os policiais solicitaram se o declarante poderia leva-los até o local; Que se prontificou de imediato, avisando aos policiais que o imóvel se encontrava totalmente vazio em função de estar à venda para saldar uma dívida; Que na Av. José Américo de Almeida n 688 cobertura Recreio dos Bandeirantes - RJ o declarante franqueou a entrada dos policiais a fim de verificarem tal denúncia; Que conforme havia declarado, o imóvel estava realmente vazio; Que os policias observaram haver algumas caixas de papelão, algumas lacradas e outras abertas, e ao ser perguntado a cerca da propriedade, declarou desconhecer a origem (...) No caso concreto, contudo, o ingresso no imóvel foi franqueado pelo possuidor indireto, sendo, portanto, autorizado por quem de direito. Consoante bem laçado parecer ministerial, não vislumbro qualquer ilegalidade na busca e apreensão realizada no imóvel em questão, eis que (...) a entrada no imóvel foi autorizada por quem de direito, uma vez que, segundo informado pela Autoridade Policial, a transferência do direito real sobre o imóvel era uma forma de garantia da dívida, que, acaso não adimplida, poderia gerar a concreta perda da propriedade do devedor em prol do credor (...).
Registre-se, outrossim, que o imóvel estava vazio, não havendo violação da intimidade e da vida privada de qualquer pessoa que porventura fosse o possuidor direto. Neste ponto, importante transcrever importante trecho do livro do eminente Constitucionalista ALEXANDRE DE MORAES 1 : (...) A inviabilidade domiciliar constitui uma das mais antigas e importantes garantias individuais de uma Sociedade Civilizada, pois engloba a tutela da intimidade, da vida privada, da honra, bem como a proteção individual e familiar do sossego e tranquilidade, que não podem ceder salvo excepcionalmente à persecução penal ou tributária do Estado (...) Quanto à apreensão das caixas contendo os documentos, impõe concluir que não ocorreu qualquer ilegalidade, uma vez que, sendo autorizado o ingresso no imóvel que estava vazio, em se tratando de corpo de delito de prováveis crimes está autorizada a apreensão dos objetos. Vejamos o depoimento prestado pelo Sr. Leonardo Santos Aquino em sede policial. (...) Que em função da denúncia, fraude que envolve e por negar a propriedade destes, os policiais solicitaram que o declarante acompanhasse os mesmos até a delegacia juntamente com tais documentos para apreciação do delegado, que assim se prontificou (...) 1 MORAES. Alexandre de. Direito Constitucional. 27. ed. São Paulo: Atlas, 2011; p. 59.
Por tais razões, CONHEÇO DO RECURSO E, NO NEGO- LHE PROVIMENTO. Rio de Janeiro, 24 de setembro de 2013. PAULO RANGEL DESEMBARGADOR RELATOR