4., ESTADO DA PARAÍBA 41214' ire orug..,ffrim.717 npip Apelação Criminal n 200.2006.026331-2/002 8a Vara Criminal tox/trans João Pessoa PB. Relator : O Exmo. Des. José Martinho Lisboa Apelante : Raimundo Nonato Ribeiro Nascimento Advogado : Filipe Freire Apelada : A Justiça Pública 111 SUBSTÂNCIA ENTORPECENTE. LEI DE TÓXICOS. CRACK. TRÁFICO. CORRUPÇÃO ATIVA. DROGA APREENDIDA. QUANTIDA- DE DESPROPORCIONAL PARA CONSUMO INDIVIDUAL. FLAGRANTE NO MOMENTO DA VENDA E ENTREGA. TESTEMUNHOS DE POLICIAIS. PROVA PERICIAL POSITIVA. CONFISSÕES EXTRAJUDICIAIS. AUTORIA E MATERIALIDADE COMPROVADAS PARA OS DOIS DELITOS. CONDENAÇÃO. APELO. PEDIDO DE ABSOLVIÇÃO. IMPOSSIBILIDA- DE. Aumento de pena. Concurso eventual de pessoas. Revogação. Novatio legis in mellius. Tese não alegada no apelo. Efeito devolutivo da apelação. Reconhecimento de ofício. Reforma do julgado. Afastamento da majorante. Efeito extensivo ao co-réu. Provimento parcial da apelação. - Se os agentes são flagrados, no momento da negociação, constatando-se a entrega e pagamento da substância, com cerca de 1/2 kg (meio quilograma) de crack, para fins de comercialização, tem-se como consumado o delito previsto no art. 12 da Lei n 6.368/76. - O testemunho de policiais é prova hábil para embasar a condenação, mormente quando a defesa não produz provas hábeis a refutar a acusação. A causa de aumento de pena do concurso e- ventual de pessoas, art. 18, III, da antiga Lei de Tóxico, foi revogada pela Lei 11.343/06, e, em face da novatio legis in mellius, pode o juízo reconhecer de ofício, inclusive com efeito extensivo ao réu cujo recurso não foi recebido por intempestividade. Vistos, relatados e discutidos estes autos acima identificados:
- ESTADO DA PARAIBA 2 Acordam os Desembargadores Integrantes da Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, à unanimidade, em dar provimento parcial ao recurso apelatório, em harmonia com o parecer ministerial. Na 8a Vara Criminal da Comarca de João Pessoa, Francisco Flávio Pereira, Raimundo Nonato Ribeiro Nascimento e João André costa da Silva, já qualificados, foram denunciados como incursos nas sanções dos arts. 12 e 14 da Lei n 6.368/76 e ainda, art. 333 do CP, porque, no dia 09 de setembro de 2006, por volta das 14:h0Omin, foram presos em flagrante delito, por estarem praticando tráfico de substância entorpecente (cocaína), ocasião em que foi oferecida a quantia de R$ 20.000,00 aos policiais para serem soltos. Ultimada a instrução criminal, a MM. Juíza a quo, julgando parcialmente procedente a denúncia, condenou os acusados Francisco Flávio Pereira, vulgo "Cabecinha" e Raimundo Nonato Ribeiro Nascimento, nas penas dos art. 12 da Lei 6.368/76, desclassificando o delito de associação para o tráfico para a causa de aumento de pena de concurso eventual de pessoas, art. 18, III, da Lei de Tóxicos, e condenou Francisco Flávio também no crime do art. 333 do CP, (corrupção ativa), absolvendo, ao final, o denunciado João André Costa da Silva, de todas as acusações, nos termos do art. 386, VI, do CPP. Na fixação da pena, a magistrada aplicou ao sentenciado Francisco Flávio, a pena-base de três anos de reclusão e cinqüenta dias-multa, pelo delito de corrupção ativa, e seis anos de reclusão e sessenta dias-multa, pelo crime de tráfico de substância entorpecente, majorando somente em relação ao segundo delito, em razão da causa de aumento de pena prevista no art. 18, III, da Lei de Tóxicos, e elevando-a em 1/3, para fixá-la em oito anos de reclusão e 80 dias-multa, em definitivo à falta de outras causas de aumento ou diminuição de pena. Quanto ao segundo sentenciado, o Raimundo Nonato, na fixação da pena a magistrada aplicou a pena-base de seis anos de reclusão e sessenta dias-multa, pelo crime de tráfico de substância entorpecente, majorando-a em razão da causa de aumento de pena prevista no art. 18, III, da Lei de Tóxicos (concurso eventual de agentes), em 1/3, para estabelecê-la em definitivo no patamar de oito anos de reclusão e 80 dias-multa, à falta de outras causas de aumento ou diminuição de pena. Inconformados, os réus apelaram. Todavia, a apelação do réu Francisco Flávio Pereira foi protocolada a destempo, conforme despacho de fl. 302 dos autos. Nos arrazoádos do recurso do réu Raimundo Nonato Ribeiro Nascimento, fls. 298/303, o apelante suplica pela absolvição, alegando, basicamente, que a prova testemunhal, notadamente por ser composta, apenas, de policiais, não é suficiente para embasar a condenação. Nas contra-razões de fls. 305/306, o Ministério Público argumenta, em síntese, serem insofismáveis a autoria e a materialidade do fato delituoso na exordial acusatória, pugnando pela manutenção do decisum. g»,&74-45
,)'*? 44,, 3 + +4, ESTADO DA PARAÍBA Jum " Nesta instância, a douta Procuradoria de Justiça, em parecer da lavra do Exmo. Dr. Wandilson Lopes de Lima, Procurador de Justiça, opinou pelo provimento parcial do apelo (fls. 326/328). Exmo. Des. Revisor. Conclusos os autos, lancei relatório, encaminhando-os ao É o relatório. 11 VOTO Narra a peça acusatória que, no dia 09 de junho de 2006, por volta das 14:h00min, nesta Capital, a polícia civil recebeu a informação do GINTEL serviço de inteligência da Secretaria de Segurança Pública, de que haveria a entrega de cocaína, nas imediações do Hotel Tambaú e, na ocasião, policiais do GOE, após constatarem a negociata, deram voz de prisão aos três denunciados, ocasião em que foi oferecida a quantia de R$ 20.000,00 aos policiais para serem soltos. Segundo os relatos, os acusados Francisco Flávio Pereira e Raimundo Nonato Ribeiro Nascimento chegaram ao local em um veículo Celta, com branca, placa MNO-8209-PB e, minutos depois, chegou o terceiro denunciado numa moto Yamaha, placa MNJ-9527/PB, o qual recebeu a cocaína apreendida, fazendo, na ocasião, o pagamento de R$ 5.000,00. 111 A materialidade do delito de tóxico restou devidamente comprovada pelo auto de prisão em flagrante, auto de apreensão e apresentação dos veículos e outros objetos, bem como de 500 gramas da substância entorpecente, fl. 17, laudo de constatação e exame químico toxicológico, este último à fl. 63, confirmando a composição do entorpecente (cocaína), enquanto que, em relação ao crime de corrupção ativa, a materialidade está provada pelos depoimentos testemunhais em juízo e na esfera policial, tudo corroborado nas confissões extrajudiciais, por ocasião do interrogatório no flagrante. No tocante à autoria, melhor sorte não assiste ao apelante. Preso em flagrante delito (fls. 07/12), juntamente com os outros dois acusados, confessou a posse da droga apreendida para fins de mercância, a qual foi entregue na transação pelo valor de R$ 5.000,00. Em juízo (fls. 146/147), o sentenciado Raimundo Nonato Ribeiro Nascimento, negou peremptoriamente a autoria do crime de tráfico de entorpecente, alegando sequer saber o porquê da imputação atribuída à sua pessoa, pelo contrário, apresentou o velho argumento de que teria sido torturado quando da abordagem policial, tese que ficou peremptoriamente afastada diante do laudo de ofensa física do Instituto de Polícia Cientifica, fl. 21. //1/16 U
- ESTADO DA PARAÍBA.r4 4 Quanto às provas para condenação, o conjunto probatório é robusto e aponta para os réus condenados as práticas delitivas.vejamos, no caso, os depoimentos dos policiais militares que efetuaram a prisão em flagrante dos acusados. "QUE a equipe deixou os ocupantes dos veículos indiciados pelo delegado do GOE à vontade para fazerem a transação; que foi visto os ocupantes do veículo passando um pacote, metade de um tablete, para o motoqueiro; Que, também foi visto o moto queiro repassar aos ocupantes do celta um pacote; Que, feita a abordagem, foi encontrado com moto queiro, em uma pochete que conduzia, salvo engano, 11 o pacote contendo meio quilo de crack, no formato de tablete; Que, no carro, em cima do painel, o depoente encontrou a quantia de cinco mil reais, em cinco pacotes de um mil, enrolados num plástico; que o depoente reconhece o moto queiro na pessoa de João André Costa da Silva, presente neste ato (apontando para ele), Que os ocupantes do celta eram Francisco Flávio e Raimundo Nonato... Que depois de prestado depoimento perante autoridade policial, em conversa com o depoente 'em of', o moto queiro João André informou que tinha ido para aquele local não sabia para quê -, a mando de uma mulher; que, afirmou ainda que.. foi essa tal mulher que repassou o dinheiro pa- 11/ ra entregar ao pessoal do celta... Que, Francisco não falou absolutamente nada sobre a droga apreendida, sequer o endereço ele forneceu; Que, o que Francisco fez foi tentar subornar a polícia, com o valor inicial de seis mil reais; que em seguida subiu a proposta para dez e acabou em vinte mil reais... Que a transação se deu em frente à D1ATUR, Delegacia de Turismo..." (Vitor Prado Freire fl. 197/198). tf... QUE, no dia do fato, estava de plantão, quando por volta do meio-dia o delegado do GOE repassou informes de que haveria uma transação de drogas, nas proximidades do Hotel Tambaú, nesta Capital; que, o WEL- Gerência de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública tinha passado as informações para o delegado do GOE;... Que, em seguida, colocaram roupas descaracterizadas e se dirigiram ao local; que ficaram em campana até às 14:00 horas, quando começou a transação;... Que foi determinado pela autoridade policial que a equipe deveria espeçar o momento da T
vs:1, 5 45: ESTADO DA PARAÍBA,, transação para que fosse feita a abordagem; que o celta chegou e dobrou numa esquina, imediações da feirinha de Tambaú, momento em que a moto chegou e parou do lado do veículo celta; que, conversaram poucos segundos; que, o motoqueíro entregou um pacote a um dos ocupantes do celta, que por sua vez recebeu e repassou outro pacote para o motoqueiro, ou seja, houve uma troca de pacotes; que, nesse exato momento, foi feita a abordagem...que, no veículo, foi apreendido o valor de cinco mil reais; que, com o moto queiro, foi encontrada a droga; Que o moto queiro foi rel iconhecido na pessoa de João André (apontou para ele); Que Francisco Flávio estava na direção do celta e como passageiro, Raimundo; Que já na base do GOE, conversando com João André e ele informou que estava nas i- mediações do Rangel, qando uma amiga da namorada dele pediu para ele pegar uma encomenda nas imediações do Hotel Tambaú, dando dinheiro para tanto e informando as características da pessoa com quem deveria pegar a encomenda; Que João André afirmou que desconhecia qual seria a 'encomenda' que deveria receber;... Que Francisco começou a oferecer propina para ser liberado, no valor inicial de cinco mil reais, depois dez e, finalmen-,. te, vinte mil reais;... que na medida que se a- proximava da Secretaria de Segurança Pública 110 o acusado Francisco ficava mais nervoso e aumentava a proposta..." (Valdênio Mendes Duarte fl. 199/200). O apelante não arrolou testemunhas de defesa no processo, nem apresentou provas para refutar os depoimentos testemunhais e demais provas produzidas no inquérito e na instrução processual, consequentemente, devem prevalecer as provas materiais e testemunhai á produzidas pela acusação, notadamente porque as alegações apresentadas pelos policiais militares, além de terem sido seguras e coerentes, guardam sintonia com os demais elementos de convicção contidos nos autos. Alias, sobre o testemunho de militares, a jurisprudência é remansosa e pacífica em admiti-lo no processo embasando juízo condenatório, notadamente quando seguro e coerente com os 'demais elementos de provas, principalmente confissões extrajudiciais, provas periciais, apreensões e outras, nesse sentido: "O testemunho de policial, mesmo participante de diligência do flagrante, quando coerente e seguro, é tão,valioso como qualquer outro". (RT-595/423).
., ' 6 ESTADO DA PARAÍBA l' 441-1. ':`-4 1.,Um TJSP: "Prova criminal. Confissão extrajudicial. Validade, ainda que retratada em Juízo. Harmonia com a prova colhida na instrução. Recurso não provido. Tem valor probante a confissão extrajudicial devidamente testemunhada se não contrariada por outras provas" (JTJ 169/312). Enfim, todas as circunstâncias evidenciam a autoria delituosa por parte do apelante, por ter acondicionado, para fins de comercialização, mais de 1/2 (meio) kg de crack, o que, pela grande quantidade, configura o crime previsto no art. 12 da Lei n 6.368/76. No que diz respeito ao quantum da reprimenda imposta, vejo que a magistrada laborou em erro ao aplicar ao réu a causa de aumento de pena embasada no art. 18, III, da Lei de Tóxicos, pois pelo concurso eventual de pessoas, a pena foi majorada em um terço, não tendo isto sido alegado no recurso apelatório, porém, em face do seu amplo efeito devolutivo, fica permitida a análise da questão jurídica, nesse ponto. O concurso eventual de pessoas, regrado no art. 18, III, da Lei 6.368/76, foi afastado pela Lei 11.343/2006, uma vez que o novo ordenamento jurídico para os delitos de entorpecente revogou a antiga lei de tóxico, e não disciplinou o concurso eventual de agentes. Neste sentido vem julgado reiteradamente o STJ: 010 "PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. ART. 12, CAPUT, C/C ART. 18, IN- CISO III, DA LEI N 6.368/76 (ANTIGA LEI DE TÓXICOS). EMENDATIO LIBELLI (ART. 383, CPP). CRIME EQUIPARADO A HEDIONDO. PROGRESSÃO DE REGIME. POSSIBILIDA- DE. INCONSTITUCIONALIDADE DO 1 DO ART. 2 DA LEI N 8.072/90 DECLARADA PELO STF. CAUSA DE AUMENTO DA AS- SOCIAÇÃO EVENTUAL PARA O TRÁFICO. LEI N 11.343/2006. NOVATIO LEGIS IN MELLIUS. I (...) II (...) III - (...) IV - A Lei n 11.343/2006 (nova Lei de Drogas), a par de ter revogado a Lei n 6.368/76, não prevê, como causa de aumento de pena, a associação eventual para o tráfico. Assim, verificada a novatio legis in mellius, é de ser afastada a aplicação, na hipótese, do art. 18, inciso III, da Lei n 6.368/76. Ordem parcialmente concedida. Habeas corpus concedido de ofício". HC 70413/SP. HABEAS CORPUS (4t, y -411/
... JR), ESTADO DA PARAÍBA 7 I 2006/0252077-0. Ministro Felix Fischer. T5 - quinta turma. Data do julgamento: 24/04/2007. Pelo exposto, dou provimento parcial ao apelo, afastando a causa de aumento de pena do concurso eventual de pessoas, a qual majorou a reprimenda em 1/3, pelo delito de tráfico de drogas, com efeitos extensivos ao réu Francisco Flávio Pereira. 110 Permanecerá integralmente a pena aplicada pelo crime de corrupção ativa, praticado pelo réu Francisco Flávio, que resultou em três anos de reclusão e cinqüenta dias-multa, e no tocante ao delito de tráfico de drogas, com a exclusão da causa de aumento de pena, fica a pena reduzida para seis anos de reclusão e sessenta dias multa. Quanto ao réu Raimundo Nonato, fica reduzida a reprimenda penal para seis anos de reclusão e sessenta dias-multa, pelo mesmo fundamento acima exposto, permanecendo inalterável os demais comandos da sentença. É como voto, em harmonia com o parecer da Procuradoria de Justiça. E com este entendimento, decide a Egrégia Câmara Criminal do Tribunal de Justiça. Presidiu a Sessão o Excelentíssimo Senhor Desembargador Leôncio Teixeira Câmara, e participaram do julgamento os Exmos. Desembargadores José Martinho Lisboa (Relator), Nilo Luís Ramalho Vieira e Antônio Carlos Coelho da Franca. Esteve presente a Exma. Dra. Josélia Alves de Freitas, Procuradora de Justiça. 410 Sala das Sessões "Desembargador Manoel Taigy de Queiroz Melo Filho" da Egrégia Câmara Criminal do Tribunal de Justiça, em João Pessoa, 14 de agosto de 2007. Des. José Martính9/Éisboa RELATOR
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