Poder Judiciário TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO Gabinete do Desembargador Federal Geraldo Apoliano RELATÓRIO

Transcrição

1 RELATÓRIO O DESEMBARGADOR FEDERAL GERALDO APOLIANO (RELATOR): Apelação Criminal interposta pela Caixa Econômica Federal CAIXA, com o objetivo de ver reformada a sentença, que absolveu ABELARDO MATOS DE PAIVA DIAS, CARLOS ALBERTO LOPES DA COSTA e ARNALDO DE AZEVEDO LEMOS, com esteio no artigo 386, inciso III, do Código de Processo Penal, da Prática do delito previsto no art. 168, III, do Código Penal. Segundo a Denúncia, os Réus Arnaldo de Azevedo Lemos, Carlos Pereira de Almeida e Abelardo Matos de Paiva Dias enquanto dirigentes da empresa TERRA CIA. DE CRÉDITO IMOBILIÁRIO, apropriaram-se, indevidamente, de créditos hipotecários dados em garantia ao Contrato de Novação e outros Pactos, apresentados consoante a cláusula terceira, alínea "a" do acordo firmado entre a empresa e a CAIXA, durante o período de 1990 e 1995, quando da liquidação dessa empresa como agente financeiro devedor do extinto Banco Nacional de Habitação (BNH), esclarecendo que a prática delitiva estendeu-se para os anos de 1999, 2003 e Sustenta a CAIXA que houve apropriação indébita não dos créditos hipotecários dados em garantia ao Contrato de Novação e outros Pactos, mas sim dos prêmios de seguro habitacional pelos Réus, esclarecendo que os mutuários da empresa, que estava em liquidação judicial à época dos fatos, e cujos imóveis estavam hipotecados, deveriam pagar junto com a prestação do mútuo o prêmio de seguro habitacional, que eram recebidos pela empresa apenas como agente financeira do SFH e depositária da CAIXA nos termos do contrato de novação das dívidas, devendo ela repassar ao banco os valores do prêmio em caso de Morte ou Invalidez Permanente MIP. Afirma que, mesmo ocorrendo eventos MIP, a empresa deixava de repassar à CAIXA o prêmio do seguro habitacional, alegando a existência de pendências que, enquanto não sanadas, inviabilizavam o repasse, porém as supostas pendência não eram confirmadas, tendo os prêmios sido apropriados indevidamente pelos Réus, requerendo reforma da sentença para condenar os Réus ou a aplicação da emendatio ou da mutatio libelli, para a continuidade da

2 ação penal contra os Apelados, desta vez pela apropriação indébita dos pr ^emio de seguro fls. 1700/1718. Contrarrazões de fls. 1773/1779, pugnando a manutenção da sentença absolutória. Oficiando no feito, a douta Procuradoria Regional da República opinou pelo improvimento da Apelação, afirmando não ser o caso de emendatio ou mutatio libelli, salientando quanto a esta que a Súmula nº 452, do STF impede sua adoção em segunda instância, e afirmando que, especificamente no tocante aos prêmios do seguro habitacional, a EXCELSIOR SEGUROS afirmou que não os repassou à empresa dos Apelados, de forma que eles não poderiam se apropriar de valores que nunca chegaram a receber, devendo ser mantida a absolvição fls. 1786/1789. Ao eminente Revisor. É o Relatório.

3 VOTO O DESEMBARGADOR FEDERAL GERALDO APOLIANO (RELATOR): Averbando acendrada vênia aos que perfilham entendimentos dissonantes, penso que a sentença não merece ser reformada. Requer a CAIXA a adoção da emendatio libelli ou da mutatio libelli para a condenação dos Apelantes pela apropriação indébita dos prêmios do seguro habitacional e não dos créditos hipotecários dados em garantia ao Contrato de Novação e outros Pactos, conforme consta na denúncia. Entretanto, entendo a impossibilidade da aplicação de ambos no presente caso. Inaplicável a mutatio libelli, em face do disposto na Súmula nº 453, do Co. Supremo tribunal Federal STF, segundo a qual não se aplica à segunda instância o art. 384 e parágrafo único do Código de Processo Penal, o qual possibilita dar nova definição jurídica ao fato delituoso, em virtude de circunstância elementar não contida, explícita ou implicitamente, na denúncia ou queixa. Com relação à emendatio libelli, também não seria o caso, visto que o Recorrente pretende não a alteração na capitulação jurídica do fato, visto que o crime continuaria o mesmo, no caso, a apropriação indébita prevista no art. 168, III, do Código Penal, restringindo seu pedido à condenação dos Recorrentes pela suposta apropriação indébita dos prêmios do seguro habitacional pagos pela à empresa deles, excluindo-se a questão referente aos créditos hipotecários dados em garantia ao Contrato de Novação e outros Pactos dos mutuários da CAIXA. Passo ao mérito. As provas dos autos encontram-se em sentido contrário ao alegado pela Apelante. De acordo com a sentença, dos documentos acostados aos autos, forma comprovados apenas três casos de indenização de sinistros de Morte ou

4 Invalidez Permanente, elencados no ofício da CEF (fls. 213/214 e 333/334) e devidamente mencionados na denúncia do MPF: 1. Ano do sinistro 1999 Mutuário José Ossian Leite Nº do contrato Ano do sinistro 2003 Mutuário Milton Rodrigues dos Santos Nº do contrato Ano do sinistro 2005 Mutuário Luiz Ferreira de Souza Nº do contrato Quanto a esses contratos, os únicos comprovados nos autos, as verbas referentes aos prêmios de seguro habitacional não foram transferidas pela Seguradora Excelsior, seguradora responsável pelo pagamento do prêmio, à empresa Terra CCI, conforme depreendo do ofício emitido pela própria Seguradora - fls. 1587/1601. Além disso, as testemunhas indicadas pela defesa foram uníssonas em afirmar que os seguros que quitaram os sinistros de mutuários da empresa Terra CCI ficaram retidos na Excelsior. Desta forma, estando os prêmios retidos na seguradora, não havia como a empresa dos Apelados repassar as quantias referentes ao prêmio do seguro habitacional para a CAIXA. Desta forma, como salientado na sentença, os Réus não agiram de forma dolosa, pelo que não houve a configuração de qualquer crime, seja o descrito no art. 168, 1º, III, do CP, seja a apropriação específica contra o Sistema Financeiro Nacional, tipificado no art. 5º, da Lei 7.492/86, impondo-se o decreto absolutório fls Em face do exposto, nego provimento à Apelação, para manter a absolvição dos Réus, nos termos do disposto no art. 386, inciso III, do Código de Processo Penal. É como voto.

5 APTE ADV/PROC APDO APDO APDO ADV/PROC PARTE A RELATOR : CEF - CAIXA ECONÔMICA FEDERAL : ELIAS MENEZES DE AGUIAR E OUTROS : ABELARDO MATOS DE PAIVA DIAS : CARLOS ALBERTO LOPES DA COSTA : ARNALDO DE AZEVEDO LEMOS : ARNALDO DE AZEVEDO LEMOS JUNIOR : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL : DESEMBARGADOR FEDERAL GERALDO APOLIANO EMENTA PENAL E PROCESSUAL PENAL. EMENDATIO LIBELLI. DESNECESSIDADE. MUTATIO LIBELLI. IMPOSSIBILIDADE SÚMULA Nº 453 DO STF. ART º, III, DO CÓDIGO PENAL. APROPRIAÇÃO INDÉBITA PRATICADA CONTRA A CAIXA ECONÔMICA FEDERAL. APROPRIAÇÃO DO PRÊMIO DE SEGURO HABITACIONAL PAGO PELA SEGURADORA. INOCORRÊNCIA. ABSOLVIÇÃO DOS RÉUS MANTIDA. APELAÇÃO DA CAIXA IMPROVIDA. 1. Inaplicável a mutatio libelli, em face do disposto na Súmula nº 453, do col. STF, segundo a qual não se aplica à segunda instância o art. 384 e parágrafo único do Código de Processo Penal, o qual possibilita dar nova definição jurídica ao fato delituoso, em virtude de circunstância elementar não contida, explícita ou implicitamente, na denúncia ou queixa 2. Apelação Criminal interposta pela Caixa Econômica Federal CAIXA, com o objetivo de ver reformada a sentença, que absolveu os Apelados, administradores da empresa TERRA CIA. DE CRÉDITO IMOBILIÁRIO, da suposta apropriação indébita dos créditos hipotecários dados em garantia ao Contrato de Novação e outros Pactos e dos prêmios de seguro habitacional pagos pelos mutuários da CAIXA, os primeiros como garantia dos imóveis e os segundos em caso de ocorrência dos sinistros Morte e Invalidez Pemanente MIP.

6 3. Impossibilidade de aplicação da emendatio libelli, pois o Recorrente não pretende alterar a capitulação jurídica do fato, mas restringir seu pedido à condenação dos Recorrentes pela suposta apropriação indébita dos prêmios do seguro habitacional pagos pela à empresa deles, excluindo-se a questão referente aos créditos hipotecários dados em garantia ao Contrato de Novação e outros Pactos dos mutuários da CAIXA. 4. Documentos dos autos r prova testemunhal que atestam que as verbas referentes aos prêmios de seguro habitacional não foram transferidas pela Seguradora Excelsior, seguradora responsável pelo pagamento do prêmio, à empresa Terra CCI, conforme Ofício emitido pela própria Seguradora, de forma que estando os prêmios retidos na seguradora, não havia como a empresa dos Apelados efetuar o repasse das quantias referentes ao prêmio do seguro habitacional para a CAIXA. 9. Apelação improvida, para manter a absolvição dos Réus, nos termos do disposto no art. 386, inciso III, do Código de Processo Penal. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, em que são partes as acima identificadas. Decide a Terceira Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, por unanimidade, negar provimento à Apelação, nos termos do relatório, voto do Desembargador Relator e notas taquigráficas constantes nos autos, que passam a integrar o presente julgado. Recife (PE), 26 de março de Desembargador Federal Geraldo Apoliano Relator