JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 9ª REGIÃO 6A. TURMA CERTIDÃO DE JULGAMENTO TRT-PR 00610-2011-657-9-00-5 (RO)



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Transcrição:

CERTIDÃO DE JULGAMENTO TRT-PR 00610-2011-657-9-00-5 (RO) Referente ao RO oriundo da 01ª VARA DO TRABALHO DE COLOMBO. Relator: Exmo. Desembargador ARNOR LIMA NETO. Recorrente(s): JOSÉ OLIRO LIMA SANTOS. Recorrido(s): MAIA E PASCOINI CONSTRUÇÃO CIVIL LTDA., JOSÉ BARBOSA ALMIRANTE TAMANDARE. Advogado(s): Americo de Moraes Saldanha - Carla Eliza dos Santos. CERTIFICO e dou fé que, em sessão ordinária realizada nesta data, sob a presidência do Exmo. Desembargador Sérgio Murilo Rodrigues Lemos, presente o excelentíssimo Procurador Luiz Renato Camargo Bigarelli, representante do Ministério Público do Trabalho, computados os votos dos excelentíssimos Desembargadores Arnor Lima Neto (relator), Sueli Gil El-Rafihi e Sérgio Murilo Rodrigues Lemos, RESOLVEU a 6a. Turma do Egrégio Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região, em se tratando de Procedimento Sumaríssimo, dispensado o relatório nos termos do artigo 852-I, caput, da CLT e tendo o i. Procurador declarado a desnecessidade de manifestação, por unanimidade de votos, CONHECER DO RECURSO ORDINÁRIO - PROCEDIMENTO SUMARÍSSIMO, assim como das respectivas contrarrazões. No mérito, sem divergência de votos, NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO ORDINÁRIO - PROCEDIMENTO SUMARÍSSIMO DA PARTE AUTORA, nos termos da fundamentação. "DOENÇA OCUPACIONAL - ESTABILIDADE ACIDENTÁRIA - DANOS MORAIS E MATERIAIS. A r. sentença levou em conta o laudo pericial e concluiu pela ausência de nexo causal entre a doença e as atividades desenvolvidas pelo autor na reclamada, tanto no que diz respeito ao surgimento da doença (hérnia inguinal esquerda), quanto ao agravamento na vigência do pacto laboral. O MM. Juiz a quo entendeu que o empregador não tinha o dever de emitir a Comunicação de Acidente do Trabalho. E por não se configurar doença do trabalho, o Juízo concluiu que o autor não faz jus à estabilidade provisória, e tampouco às pretendidas indenizações por danos morais e materiais (fls. 169/171). Inconformado, o reclamante alega, em resumo, que o Sr. Perito reconheceu a concausa. Defende que apesar de o laudo consignar a possibilidade de outras concausas, o trabalho na reclamada contribuiu para o agravamento da doença. Aponta que a perícia constatou que o reclamante ainda se encontra doente, ressalvando a possibilidade de submissão a cirurgia de emergência, caso haja o estrangulamento da hérnia. Fatos que, no entender do recorrente, configuram que a ré dispensou o trabalhador doente, pois o exame pericial confirma que o autor continua doente dois anos após a sua dispensa. O recorrente também aduz que, regra geral, as

doenças são multifatoriais e que, tomadas duas pessoas submetidas às mesmas condições de trabalho, uma pode adoecer e a outra não. Defende que, pelo laudo pericial, a doença que o acomete pode não ter se originado somente do trabalho, mas entende que se agravou pelos fatores laborais. O recorrente também considera "absurda" a conclusão da sentença de que o autor não comprovou a concausa e o agravamento da patologia pelas atividades laborais na reclamada. Entende que não cabe ao trabalhador alertar seu empregador sobre as Normas Regulamentadoras do Ministério do Trabalho, e que se a ré observasse as regras, o autor teria sido encaminhado ao INSS para o devido tratamento. E o recorrente renova argumento que a reclamada lhe obrigou a assinar termo de desistência de seu atestado médico, o que implica a sua nulidade, nos termos do art. 9º da CLT. Requer sejam acolhidos os seus pedidos de pagamento de estabilidade provisória acidentária, com reflexos, bem assim de pagamento de danos materiais e morais (fls. 175-v/180). Analisa-se. Dispõe o artigo 186 do Código Civil Brasileiro: "Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência, ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito". Já o art. 927 do mesmo Código, assim dispõe: "Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo." Assegura, também, o artigo 950 do CCB a possibilidade de se atribuir indenização por ato ilícito, se da ofensa resultar defeito pelo qual o ofendido se veja impossibilitado de voltar a exercer sua atividade profissional ou tenha diminuído o valor de seu trabalho. Assim, para a caracterização da responsabilidade de reparar o dano, faz-se necessária a presença de alguns elementos, quais sejam: a) o ato ilícito do agente; b) o dano sofrido pela vítima; e c) o nexo causal ocorrido entre a ação do agente e o prejuízo alegado pela parte. Sendo assim, o primeiro elemento a se analisar na perquirição da existência ou não de doença ocupacional é o nexo de causalidade entre as atividades laborativas e a patologia do trabalhador. Leciona Sebastião Geraldo de Oliveira (Indenizações por Acidente do Trabalho ou Doença Ocupacional - LTr 1ª Ed - p. 137) que " Numa sequência lógica, o exame da causalidade deve ser feito antes da verificação da culpa do empregador ou do risco da atividade, porquanto poderá até haver nexo sem culpa, mas não haverá culpa se não for constatado o liame causal." Sérgio Cavalieri Filho (Programa de responsabilidade civil, 2003, pág. 67) define que "o conceito de nexo causal não é jurídico; decorre das leis naturais. É o vínculo, a ligação ou relação de causa e efeito entre a conduta e o resultado. É através dele que poderemos concluir quem foi o causador do dano." A r. sentença reconheceu que o autor trabalhou em período anterior ao registrado em CTPS, e assim determinou a retificação da data de admissão para constar como sendo em 26/11/2009. Destaque-se que a condenação imposta pela sentença deu-se exclusivamente em face da primeira reclamada e que a ruptura contratual se deu sem justa causa em 15/12/2010, com cumprimento do período de aviso prévio em serviço. O autor alegou na petição inicial que, no exercício das funções de servente, transportou e manuseou materiais normais de uma obra. Afirmou que em maio de 2010 passou a sentir

fortes dores na região dos testículos e virilha. No dizer do autor, no início da jornada as dores eram moderadas e se agravavam no decorrer do dia (fl. 6). Por ocasião da audiência de instrução, o Juízo a quo deferiu a realização de perícia médica para aferir sobre a alegada doença ocupacional (fls. 93/94). Constata-se no laudo médico a seguinte conclusão já transcrita pela sentença, e que julgo necessário transcrevê-la também neste acórdão: "O AUTOR AINDA APRESENTA HÉRNIA INGUINAL NO LADO ESQUERDO. PODE-SE DIZER QUE HÁ CONCAUSA ENTRE A PATOLOGIA E O EXERCÍCIO DA ATIVIDADE LABORATIVA DO AUTOR NA RECLAMADA. TAMBÉM EXISTE CONCAUSA RELATIVA AOS FATORES EXTRA-LABORAIS, PORÉM, NÃO PODE SER MENSURÁVEL. A HÉRNIA INGUINAL É DE ORIGEM MULTIFATORIAL, SENDO ASSIM PODE SER DESENCADEADA POR OUTROS FATORES NÃO EXCLUSIVOS DA ATIVIDADE LABORAL, É DE ORIGEM MULTIFATORIAL E ENVOLVE FATORES GENÉTICOS E ADQUIRIDOS, INCLUSIVE DETERMINADOS PELA REALIZAÇÃO DE ESFORÇO FÍSICO. HÁ INCAPACIDADE TOTAL TEMPORÁRIA PARA O EXERCÍCIO DA FUNÇÃO DO AUTOR NA RECLAMADA. A DOENÇA ACARRETOU INCAPACIDADE LABORATIVA TEMPORÁRIA PARA A FUNÇÃO QUE O RECLAMANTE EXERCE NA RECLAMADA. HÁ A POSSIBILIDADE DE ESTRANGULAMENTO DA HÉRNIA, O QUE É CONSIDERADO UMA EMERGÊNCIA MÉDICA E PODE HAVER ATÉ MESMO A NECESSIDADE DE TRATAMENTO CIRÚRGICO IMEDIATO. APÓS O TRATAMENTO CIRÚRGICO CORRETO E NA AUSÊNCIA DE COMPLICAÇÕES ELE ESTARÁ TOTALMENTE RECUPERADO PARA O TRABALHO." (fl. 156-v). A perícia médica foi realizada em 18/11/2011, aproximadamente um ano após a dispensa sem justa causa pela reclamada em 15/12/2010. A conclusão pericial aponta que o autor apresenta hérnia inguinal no lado esquerdo. Todavia, há que se observar toda a conclusão pericial, pois, na sequência, o Sr. Perito usou as seguintes expressões: "Pode-se dizer que há concausa entre a patologia e o exercício da atividade laborativa do autor na reclamada." Ou seja, o Perito considerou possível, mas não confirmou categoricamente e especificamente que as atividades desenvolvidas pelo autor durante o contrato de trabalho com a ré influenciaram ou foram determinantes para a doença hérnia inguinal constatada. O Perito ressaltou também que existe concausa em relação a outros fatores extralaborais, porque a hérnia inguinal tem origem multifatorial e envolve fatores genéticos e adquiridos, inclusive determinados pela realização de esforço físico. Entendo que a prova produzida nos autos não é suficiente para caracterizar o nexo causal entre a doença e as atividades laborais do autor no período de vínculo empregatício com a reclamada. O autor não se desincumbiu de comprovar o nexo causal entre a patologia que lhe acomete e as atividades que prestou na ré. No máximo, a perícia admitiu que as atividades laborais desenvolvidas pelo autor na reclamada podem ter atuado como concausa no agravamento da patologia. Veja-se que o laudo pericial descreve que o autor exerceu a função de servente de pedreiro (fl. 150). Por outro lado, a prova oral limitou-se a uma única referência sobre as atividades laborais. A

testemunha arrolada pelo reclamante declarou que todos os empregados, inclusive o depoente e o reclamante, utilizavam uma máquina chamada "martelete". Mas, não detalhou em que consistia essa atividade, ou mesmo especificou a frequência em que era desenvolvida pelo autor. Logo, em relação a este aspecto também nada se provou sobre eventuais efeitos na saúde do autor quando operou o equipamento denominado de "martelete". De modo que, considerada a prova produzida, nem o laudo é categórico em afirmar que a função de servente de pedreiro causou a patologia ao autor, nem existe nos autos qualquer outro elemento de prova que autorize concluir que as atividades prestadas pelo autor ou o manuseio da máquina denominada martelete provocaram a doença constatada (hérnia inguinal). Há que se ressaltar outro aspecto do laudo pericial, segundo o qual, aos cinco anos de idade o autor já havia sido submetido a cirurgia de hérnia inguinal no lado direito. O que sugere uma predisposição do organismo do autor à patologia constatada pela Perícia. E a esse respeito, observe-se que o laudo revela que o autor exerceu, anteriormente ao contrato de trabalho com a reclamada, atividades de vigilante por quatro anos, e também exerceu a profissão de cabeleireiro por três anos, além servente de pedreiro por seis meses; e de motoboy por 18 meses (fl. 150). Portanto, especialmente as funções de vigilante e de cabeleireiro exercidas anteriormente ao contrato de trabalho com a reclamada, somadas, alcançam o tempo de sete anos, puderam também contribuir para o surgimento da patologia. Note-se que o perito destacou em seu laudo, como fatores predisponentes à patologia, a posição erecta do trabalhador, além de insuficiências congênitas da região inguinal. Ou seja, as funções de vigilante e de cabeleireiro notadamente são exercidas em pé (posição erecta). Sendo assim, ao exercer tais funções por sete anos na sua vida profissional, é possível concluir que tais atividades contribuíram em maior grau de comprometimento no surgimento da hérnia inguinal, se comparado com o tempo de um ano do contrato de trabalho com a reclamada. Desse modo, é de se acompanhar a decisão recorrida, pois o laudo não estabeleceu com convicção o nexo causal. E como visto, nem poderia, porque tantos outros fatores, especialmente atividades anteriores às prestadas em favor da ré, inclusive fatores extralaborais, podem ter contribuído para o surgimento da patologia da qual o autor está acometido. Convém ponderar ainda, que segundo o art. 20, inciso II, da Lei nº 8.213/1991, é "doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente, constante da relação mencionada no inciso I". Pelos fundamentos acima, não há elementos de prova que possam autorizar considerar que a doença pela qual o autor está acometido é de fato uma doença ocupacional. Ainda, o autor não era detentor de estabilidade provisória, não incidindo a hipótese prevista no item II da Súmula nº 378 do C. TST. (II - São pressupostos para a concessão da estabilidade o afastamento superior a 15 dias e a conseqüente percepção do auxílio-doença acidentário, salvo se constatada, após a despedida, doença profissional que guarde relação de causalidade com a execução do

contrato de emprego.). E sob este aspecto, é importante ressaltar que ao tempo do aviso prévio a reclamada não estava obrigada a emitir a Comunicação de Acidente do Trabalho. O autor trouxe com a petição inicial, entre outros documentos, cópia de atestado médico que teria apresentado à reclamada para justificar o afastamento por três dias a partir do dia 09/11/2010 (fl. 64). E a cópia do atestado de fl. 66 define que o autor necessitou de mais um dia de afastamento do serviço, no dia 12//11/2010. Portanto, ao tempo da concessão do aviso prévio pelo empregador, dia 16/11/2010 (fl. 34) Destacam-se também que os documentos apresentados pelo autor à fl. 68 e 70/73 constituem-se procedimentos internos de instituição hospitalar relacionados ao encaminhamento médico do autor para avaliação e necessidade cirúrgica. Mas, como o laudo pericial confirmou, o autor não foi submetido à cirurgia e tampouco deu entrada em requerimento previdenciário naquela oportunidade. E sendo assim, ineficaz a cópia do atestado de fl. 75, datada de 30/11/2010, pelo qual o autor deveria ficar afastado por 30 dias, pois o documento não comprova que tenha havido concessão de auxílio-doença no curso do aviso prévio. Logo, não se vislumbra qualquer situação que autorizasse postergar os efeitos da dispensa sem justa causa efetuada pela reclamada. Por conseguinte, inaplicável a parte final da Súmula nº 371 do C. TST. (Súmula nº 371 - AVISO PRÉVIO INDENIZADO. EFEITOS. SUPERVENIÊNCIA DE AUXÍLIO-DOENÇA NO CURSO DESTE (conversão das Orientações Jurisprudenciais nºs 40 e 135 da SBDI-1) - Res. 129/2005, DJ 20, 22 e 25.04.2005. A projeção do contrato de trabalho para o futuro, pela concessão do aviso prévio indenizado, tem efeitos limitados às vantagens econômicas obtidas no período de pré-aviso, ou seja, salários, reflexos e verbas rescisórias. No caso de concessão de auxílio-doença no curso do aviso prévio, todavia, só se concretizam os efeitos da dispensa depois de expirado o benefício previdenciário.) Razões por que se concluiu que a dispensa sem justa causa não apresenta vícios de nulidade. E diante da conclusão de que também não se tratou de doença ocupacional (ausente nexo causal), o autor não era detentor da estabilidade provisória ao tempo da ruptura contratual, ou seja, não ficou configurada a hipótese prevista no art. 118 da Lei nº 8.213/1991. Conclusões estas que conduzem à rejeição dos pedidos formulados pelo autor de reintegração, ou mesmo o pedido sucessivo de pagamento dos salários e reflexos do alegado período de estabilidade provisória. Por corolário, qualquer pleito de responsabilização civil da empresa (indenização por dano moral e material) também não merece provimento, uma vez que ausente nexo causal entre a doença e as atividades desenvolvidas pelo autor na reclamada. MANTENHO. " Determina-se a retificação da autuação em relação à segunda reclamada a fim de constar a correta denominação ABBA INOX LTDA, conforme instrumentos constitutivos da empresa de fls. 96/97 e procuração de fl. 95. Custas na forma da lei.intimem-se. OBS: Esta certidão equivale ao acórdão, conforme art. 895, parágrafo 1º, inciso IV, da CLT, com redação da Lei nº 9957, de 12/01/2000.

Curitiba, 17 de abril de 2013. Sarita Giovanini Calado Secretária da Sexta Turma TRT-PR-00610-2011-657-9-00-5 (RO)