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Transcrição:

ACR Nº 12596/CE (0000322-68.2012.4.05.8101) APTE : FRANCISCO LEANDRO DA SILVA ADV/PROC : JOSE NOGUEIRA GRANJA NETO e outro APDO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL ORIGEM : 15ª Vara Federal do Ceará (Competente p/ Execuções Penais) RELATOR : DES. FEDERAL CÉSAR ARTHUR CAVALCANTI DE CARVALHO (CONVOCADO) RELATÓRIO O Exmº. Sr. Desembargador Federal CÉSAR ARTHUR CAVALCANTI DE CARVALHO (Relator Convocado): Trata-se de apelação criminal intentada pela defesa de FRANCISCO LEANDRO DA SILVA em face de sentença proferida pelo juízo da 15ª Vara Federal do Ceará (fls. 221/230) que, convencido da materialidade e autoria delitivas, condenou o apelante pelo cometimento do crime previsto no art. 180, 1º, do CPB à pena privativa de liberdade de 03 (três) anos de reclusão, além de multa. Aduziu, o magistrado, que o denunciado, de modo consciente e voluntário, no exercício de atividade comercial, teria adquirido mercadoria de origem ilícita, nos exatos termos previstos pela acusação. Inconformado com o decreto condenatório, a defesa apresentou apelação (fls. 267/279) aduzindo, resumidamente, que: 1) inexistiriam nos autos provas da autoria e materialidade delitivas, sendo a confissão do apelante insuficiente para a condenação; 2) não haveria provas de que o apelante tinha conhecimento da ilicitude da mercadoria adquirida; 3) a pena aplicada merecia ser reduzida; por fim, 4) seria o caso de aplicar o princípio da insignificância. Com tais argumentos, pugnou pela reforma da sentença e absolvição do apelante. Contrarrazões ao apelo apresentadas pelo MPF às fls. 288/294, ocasião em que a sentença fora defendida como desmerecedora de qualquer reparo. Parecer da PRR da 5ª Região apresentado às fls. 300/303 opinando pelo conhecimento e não provimento do apelo. É o relatório. À Revisão. M9849

ACR Nº 12596/CE (0000322-68.2012.4.05.8101) APTE : FRANCISCO LEANDRO DA SILVA ADV/PROC : JOSE NOGUEIRA GRANJA NETO e outro APDO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL ORIGEM : 15ª Vara Federal do Ceará (Competente p/ Execuções Penais) RELATOR : DES. FEDERAL CÉSAR ARTHUR CAVALCANTI DE CARVALHO (CONVOCADO) VOTO O Exmº. Sr. Desembargador Federal CÉSAR ARTHUR CAVALCANTI DE CARVALHO (Relator Convocado): Consoante já exposto, FRANCISCO LEANDRO DA SILVA fora condenado pelo juízo da 15ª Vara Federal do Ceará (fls. 221/230) que, convencido da materialidade e autoria delitivas, considerou-o culpado pelo cometimento do crime previsto no art. 180, 1º, do CPB, aplicando-lhe a pena privativa de liberdade de 03 (três) anos de reclusão, além de multa. Aduziu, o magistrado, que o denunciado, de modo consciente e voluntário, no exercício de atividade comercial, teria adquirido mercadoria de origem ilícita, nos exatos termos previstos pela acusação. Inconformado com o decreto condenatório, a defesa apresentou apelação (fls. 267/279) aduzindo, resumidamente, que: 1) inexistiriam nos autos provas da autoria e materialidade delitivas, sendo a confissão do apelante insuficiente para a condenação; 2) não haveria provas de que o apelante tinha conhecimento da ilicitude da mercadoria adquirida; 3) a pena aplicada merecia ser reduzida; por fim, 4) seria o caso de aplicar o princípio da insignificância. Rememorado o panorama da contenda, passemos à análise pormenorizada das teses erguidas no apelo. Sustentou-se, inicialmente, que inexistiriam nos autos provas da autoria e materialidade delitivas, sendo a confissão do apelante insuficiente para a condenação. ACR 12596/CE -M9849 PáG. 2

Em primeiro passo, a confissão não é a única prova da autoria e materialidade delitiva declinadas pelo juízo, ao contrário do que aduz a defesa. Aliás, a prova é vasta e precisa, sendo de natureza documental, testemunhal e oriunda das próprias afirmações do acusado. Nesse sentido, válida a transcrição da sentença, máxime por ter analisado, de maneira bastante atenta e completa, cada uma das provas - e teses defensivas - consideradas para a condenação: (...) No caso, pela denúncia se imputa ao acusado a conduta de adquirir produto de origem ilícita, pois proveniente de roubo de carga dos Correios, para vender em estabelecimento comercial conjugado a sua residência do acusado. autos. A materialidade delitiva restou inconteste nos O flagrante perpetrado pela autoridade policial, além de dar certeza visual da realização da conduta praticada pelo réu, foi corroborado com a prova colhida na fase do inquérito e ratificada neste processo judicial. No auto de prisão em flagrante (fls. 04/06 do Apenso I do IPL n.º 0961/2011) consta que os policiais rodoviários federais Marcos Aurélio Mesquita Ximenes e Edmar Pereira de Queiroz Neto, em verificação de denúncia de crime de tráfico de entorpecentes, ao empreender diligência no estabelecimento comercial do acusado, no dia 14/12/2010, apreenderam diversas mercadorias, conforme Boletim de Ocorrências Policiais ACR 12596/CE -M9849 PáG. 3

de nº 124377 (fls. 32/40 do Apenso I do IPL n.º 0961/2011), dentre elas as encomendas que foram roubadas de veículo dos Correios (02 - SACOS - ROUPAS DO CORREIO (PHARMA JEANS) LACRADOS, à fl. 34; e 01-01 - MALOTE COM O NOME "CORREIOS", à fl. 35). As aludidas mercadorias foram identificadas pelo servidor dos Correios Francisco das Chagas Ribeiro Neto como sendo duas encomendas na modalidade PAC, registradas para rastreio sob os códigos EC895764263BR e EC895764277BR, dentre outras que estavam com as etiquetas danificadas (fls. 41/42 do Apenso I do IPL n.º 0961/2011). Os Correios, através do Ofício N.º 016/2010 - GASOP/CTCE/ECT/CE, datado de 23/12/2010 (fls. 124/125 de fls. 04/06 do Apenso I do IPL n.º 0961/2011), informam que, após análise do material apreendido pela Polícia Rodoviária Federal, no dia 14/12/2010, as mencionadas mercadorias não estavam relacionadas na carga dos transportes que foram assaltados e, sim, de reclamações formais dos clientes, possivelmente extraviadas do trâmite postal normal. A empresa pública forneceu à Polícia Federal cópias dos autos do procedimento administrativo relativo ao extravio das encomendas apreendidas, no qual se concluiu não ter sido possível a aferição da causa do extravio, bem como a identificação das demais mercadorias que estavam com as etiquetas de registros danificadas (fls. 04/72 e 96/169 do IPL n.º 0961/2011). ACR 12596/CE -M9849 PáG. 4

O servidor Francisco das Chagas Ribeiro Neto, inicialmente responsável pela identificação das encomendas apreendidas nos autos, foi então ouvido pela autoridade policial e ratificou in totum a conclusão da sindicância (fls. 177/178 do IPL n.º 0961/2011), consoante trecho a seguir transcrito: "(...) QUE após esse serviço constatou-se que as encomendas PAC EC895764263BR e EC89564277BR efetivamente foram desviadas do fluxo normal; QUE inclusive não consta registro de entrada de tais encomendas no Centro de Tratamento dos CORREIOS nesta capital; QUE acredita serem 03 (três) as possibilidades de desvio: a) encomenda chegou no Centro e foi encaminhada ao destino sem o devido registro no sistema de rastreamento (de forma intencional ou não); b) encomenda pode ter tido seu encaminhamento registrado na origem (Vitória/ES) e efetivamente não ter sido remetida e sim desviada (possibilidade menos provável face distância do local onde foram encontradas); c) encomenda ter sido desviada pelo motorista do caminhão (possibilidade remota face o fato de o baú possuir lacre; QUE os demais artigos não foram associados a qualquer ocorrência de assalto ou desvio, haja vista que não possuíam qualquer identificação (etiqueta ou carimbo) que a vinculassem aos CORREIOS; (...) QUE, conforme consta dos itens 2.1.3, do relatório de fls. 71/76, o trabalho constatou ainda que os objetos podem ser confiados aos CORREIOS para transportes e de alguma forma foram subtraídos; QUE no entanto, nesse caso, como não se tinha efetivamente os objetos não há como se concluir de forma peremptória tratar-se do mesmo produto; (...)" Em sede judicial, como se infere do termo de fls. 85/87, reiterou o depoimento já prestado na fase inquisitorial. Nesse passo, reafirmou que foram identificadas dente os objetos apreendidos dois objetos ACR 12596/CE -M9849 PáG. 5

postais desviadas com procedência do centro de triagem dos Correios de Vitória/ES. As demais testemunhas de acusação, os policiais rodoviários federais Edmar Pereira de Queiroz e José Humberto Mendes Nunes, que participaram da busca e apreensão dos objetos no estabelecimento do réu, por seu turno, confirmam o teor do flagrante delito, como segue a suma dos depoimentos infra (mídias de fls. 197/198): EDMAR PEREIRA DE QUEIROZ: Disse que se recorda dos fatos, pois estava numa ronda de rotina e já tinha informações anteriores repassadas de que havia comércio de anfetamina, exatamente nesta localidade, que era um estabelecimento em frente ao antigo Posto Mãe Maria. Ao passar pelo local um dos colegas ficou observando com o binóculo se flagrava algum ato de venda de anfetamina e observou que a comerciante estava vendendo uma caixa de anfetamina ao caminhoneiro. A pessoa abordada confirmou que vendeu uma caixa de anfetamina, que, se não falhava a memória, era desobesi. O comércio era praticamente a casa do acusado. Nesse momento chegou uma senhora se identificando como a esposa de Leandro e proprietária da casa e do comércio. Então foi-lhe indagado se tinha anfetamina, tendo ela respondido que não, tendo autorizado a entrada na casa para fazer a verificação. Ao entrar no interior da casa, do comércio, foi encontrada uma arma de fogo com calibre 12, mais caixas de anfetaminas, muitos eletrônicos. Alguns produtos vinham dentro de sacos com o brasão dos Correios. Foi perguntada pelo Sr. Leandro e a mesma respondeu que não se encontrava no momento. Não se recorda se chegou a abrir os pacotes dos Correios porque eram muitos os produtos apreendidos. Não houve resistência. Quanto à informação dos valores da mercadoria dos Correios não foi informado. O ACR 12596/CE -M9849 PáG. 6

comércio aparentemente seria de lanche, não desse tipo de venda. Havia razoável volume com a marca dos Correios, como sacos, sacolas grandes e caixas. Os volumes de que se recorda estavam lacrados Havia roupas, eletrônicos. O local era formado por uma parte de roupas com embalagens e outra tipicamente caseira. O valor de dois mil reais era um valor baixo para o que foi visto no local. JOSÉ HUMBERTO MENDES NUNES: Disse que se recorda dos fatos. Conhece o réu somente do ocorrido. No momento em que foi flagrada a venda do desobesi o réu não estava no local. Inicialmente, a motivação da diligência foi a apreensão de desobesi, conhecido por arrebite. Depois foi encontrado na casa material com a logomarca dos Correios, uma arma e dinheiro. Dentre os objetos estavam peças de carro, medicamentos, roupas, produtos diversos. Eram muitas coisas, bastante diversificadas, peças de carro antigo, produtos de compra de outro estado e do exterior, e esses objetos eram de valor considerável. Não houve resistência. Não teve contato com o réu. A casa era um ponto comercial. Ao entrar na casa se recorda de ter encontrado caixas com logomarca dos Correios, não recorda exatamente a quantidade. Se não estava enganado, havia um volume já aberto e mais ou menos outros dois fechados. O aberto tinha roupas e até manopla de arma. Havia uma arma de fogo com calibre 12 no interior da casa. Dentre dos volumes identificados com logomarca dos Correios tinha medicamentos, peças de carro, eletroeletrônicos, roupas. Desses objetos vistos dentro desses volumes, a quantia de dois mil reais seria visivelmente insuficiente para adquiri-los. O réu, por seu turno, ao ser interrogado pela autoridade policial (fls. 180/182 do IPL n.º 0961/2011), confessou a conduta ao declarar que exerce atividade comercial e adquiriu de um caminhoneiro as mercadorias ACR 12596/CE -M9849 PáG. 7

no dia anterior ao da apreensão pelas autoridades policiais. Afirmou que teria pago pelos objetos postais o valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais). Seguem os trechos respectivos extraídos do depoimento prestado em sede inquisitorial: "QUE especificamente em relação às encomendas PAC EC89576263BR e EC895764277BR esclarece que as havia comprado no dia anterior ao da busca, QUE adquiriu as encomendas de um caminhoneiro; QUE pagou pelas encomendas algo em torno de R$ 2.000,00 (dois mil reais); QUE comprou as encomendas sem sequer olhar o que efetivamente havia em seu interior; QUE o caminhoneiro dizia tratar-se de roupas, inclusive mostrou algumas que dizia ter retirado de outra caixa; QUE essas peças soltas também foram apreendidas; QUE não sabe quem era esse caminhoneiro, não pode fornecer qualquer dado que leve a sua identificação, pois é comum que caminhoneiros dos mais diversos recantos parem em seu comercio; (...) QUE a encomenda estava lacrada e com identificação dos CORREIOS; QUE assim, guardou as encomendas em sua residência, sendo que foram encontradas quando da busca realizada pelos PRF; QUE não perguntou a origem das mercadorias; QUE também não estranhou o fato de estarem lacradas. (...)" Em juízo, o réu manteve a versão dos fatos já confessados perante a autoridade policial. Segue a suma da transcrição do interrogatório judicial (mídia de fl. 151): Os policiais rodoviários federais chegaram por volta de meio dia em três viaturas e fizeram a abordagem. Na hora tinha saído. A residência e o comércio são emendados. Foram apreendidas duas caixas de roupas que o motorista tinha ACR 12596/CE -M9849 PáG. 8

oferecido. Na época achou que o negócio poderia ser bom e aceitou compra-las. Não olhou o que tinha dentro, mas comprou como sendo roupas. As duas caixas estavam cheias de confecções, Não sabe o valor. Comprou na época por oitocentos ou mil reais, não sabia quanto valia. Não exigiu nota fiscal porque era muito comum, pois como vivia de comercio o motorista oferecia direto. Não afirmou não ter consciência que é crime comprar produto de origem ilícita. Comprou acreditando que poderia ser bom o negócio. Comprou do motorista, que lhe teria dito tratar-se de retorno de mercadoria, de que a pessoa não quis. Não sabia que era de roubo. Não sabe quem é o motorista. Recebeu do motorista, aproximadamente à meia-noite, umas roupas que dizia ser retorno. Comprou três caixas e só uma estava aberta. As outras o motorista disse que continham roupas também. Pagou mil e oitocentos reais pelas três caixas. Passou mais ou menos 24 horas com a mercadoria. Ficava muito acordado, pois trabalha à noite e fazia compra durante o dia. Na caixa não tinha o símbolo dos Correios. Pagou mil e oitocentos reais pelas caixas sem saber o que era que estava dentro. As testemunhas de defesa, por seu turno, em nada contribuíram para a busca da verdade real, principalmente por não terem presenciado os fatos. Relataram tão-somente informações sobre a conduta pessoal e atividade profissional do acusado (mídia de fl. 151). A prova oral produzida nos autos, como se observa, confirmou com precisão o flagrante delito e os elementos informativos colhidos no inquérito policial, coadunando-se harmonicamente com a confissão do acusado. ACR 12596/CE -M9849 PáG. 9

Resta comprovada, portanto, a materialidade e a autoria do delito previsto no artigo 180, 1º, do CP. A tese de atipicidade da conduta, por ausência do elemento subjetivo, apresentada pelo acusado em sede de alegações finais, por sua vez, não se sustenta. O próprio acusado confessa a conduta, inclusive, demonstrando perante o juízo que não tinha certeza quanto à origem lícita das mercadorias onerosamente adquiridas. O dolo do réu mostra-se evidente. Tal constatação se verifica exatamente na forma como ocorreu a negociação, analisando-se as circunstâncias fáticas, os sujeitos envolvidos e o produto negociado. No caso, como reconhece o próprio acusado em juízo, havia incerteza quanto à licitude dos objetos comprados. Primeiramente porque foram adquiridos de pessoas que não exerciam a atividade de comércio, vez que eram motoristas. Em segundo porque, como pessoa experiente nesse ramo, o acusado tinha consciência de que estava adquirindo produtos de procedência duvidosa ante o não fornecimento de documento fiscal no ato da venda. Em terceiro, o próprio réu afirma que era habituado a comprar mercadorias dos motoristas para comercializar sem qualquer formalidade ou cautela, assumindo o risco de adquirir produtos provenientes de crime. Ademais, como relataram as testemunhas, as duas caixas ainda possuíam a etiqueta dos Correios e ACR 12596/CE -M9849 PáG. 10

estavam lacradas, portanto, contendo a identificação do destinatário. De tal modo, facilmente identificável a origem e o destino, possibilitando, com esses dados, demonstrar quem era o real proprietário. Por decorrência lógica, a origem era de fácil constatação. Da mesma forma, era claramente visível aferir se o portador era o proprietário dos objetos oferecidos à venda naquela oportunidade da negociação. Com efeito, sobre a conduta do réu recai juízo de reprovabilidade. Agiu no exercício da atividade comercial motivado pela perspectiva de auferir lucro fácil mediante a aquisição de mercadorias a custo evidentemente abaixo ao de mercado e em situação que escapa completamente à seriedade da praxis comercial. Estava ciente, portanto, de que poderia adquirir produto de crime. condenatório. Ficam, assim, refutadas as teses defensivas, impondo-se o decreto Em síntese, não desconheço o entendimento de que a confissão não pode, desacompanhada de qualquer outro indício probatório, sustentar decreto condenatório, na forma do art. 197 do CPP. Contudo, na hipótese dos autos, percebe-se que a fundamentação do juízo a quo, ao entender configurada a autoria e materialidade do crime de receptação, não foi norteada tão somente pela confissão do réu. É que a confissão somente confirmou com precisão a veracidade dos fatos imputados na denúncia, uma vez que a prisão em flagrante delito, os elementos informativos colhidos no inquérito policial e a prova testemunhal produzida pela acusação já seriam suficientes para a caracterização da autoria e materialidade da prática do crime de receptação qualificada, conforme bem entendeu o juízo a quo. ACR 12596/CE -M9849 PáG. 11

Por outro lado, o crime em apreço é o de receptação que, nos termos do art. 180 do CP, exige que a coisa adquirida (ou qualquer outro verbo núcleo daquele tipo penal) seja produto de crime, sob pena de ser atípica a conduta. Ocorre que não é necessário o trânsito em julgado do crime antecedente para fins de consideração do produto como de origem criminosa, sendo tão somente indispensável haver provas de que este crime pressuposto tenha ocorrido. In casu, verifico que os produtos são de origem criminosa, uma vez que foram extraviados da empresa pública federal ECT Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (cf. fls. 72/76 do inquérito policial e fls. 85/87 destes autos). No mais, saliente-se que o réu tinha consciência de que os produtos adquiridos eram de origem criminosa, o que configura o elemento subjetivo do tipo (dolo). No seu interrogatório que consta na mídia digital às fls. 151, em que pese ter respondido que não sabia da origem do produto, afirma que o adquiriu de um motorista, estando ciente de que este não tinha a prática habitual de vendas de produtos. Além disso, o réu reconheceu que tinha a prática habitual de comprar produtos sem as devidas formalidades ou cuidado que a prática comercial exige, assumindo, assim, o risco de adquirir produtos de toda e qualquer origem. Ademais, conforme bem asseverado pelas testemunhas da acusação (mídia digital às fls. 151), duas das três caixas adquiridas estavam com a etiqueta de identificação da ECT Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, o que facilmente identificaria o proprietário dos produtos, possibilitando ao réu suspeitar que estes eram de origem criminosa, uma vez que o vendedor (motorista) não lhe disse a origem dos produtos. Enfim, como bem analisou o magistrado, todas as provas - documentais, testemunhais, etc. - apontaram para a prática delitiva e autoria, sendo a confissão apenas mais uma dentro do bojo probatório. Sobre o conhecimento da ilicitude da mercadoria, como bem tratou o juízo - inclusive nos trechos da sentença acima negritados -, mostrou-se evidente. ACR 12596/CE -M9849 PáG. 12

Aliás, a tese da inocência é absolutamente inverossímil. Basta refletir minimamente: como imaginar que um comerciante experiente - era o caso - tenha adquirido uma "caixa" fechada e, sem sequer saber o conteúdo, pago o valor de R$ 2.000,00? O absurdo é inconteste, assim como o fato de que, na realidade, o apelante tinha pleno conhecimento do que se tratava, ou seja, de mercadoria de origem ilícita. No mais, as ponderações do juízo de primeiro grau servem para afastar, mais uma vez, a tese, sem qualquer retoque. Com o mesmo acerto, o juízo cuidou de ponderar, uma a uma, as circunstâncias judiciais previstas no art. 59 do CPB em sede de primeira fase da dosimetria; a presença ou ausência de agravantes e atenuantes na segunda fase; a presença e a ausência de causas de aumento e de diminuição de pena na terceira, sempre com atenção, razoabilidade e proporcionalidade, chegando a uma reprimenda igualmente proporcional, razoável e justa, desmerecendo reparos. Senão, vejamos: 3. Dispositivo Ante o exposto, julgo PROCEDENTE o pedido formulado pelo Ministério Público Federal, para CONDENAR o réu Francisco Leandro da Silva pela prática do crime previsto no art. 180, 1º, do Código Penal. ACR 12596/CE -M9849 PáG. 13

Em razão disso, passo a dosar a respectiva pena a ser aplicada, em estrita observância ao disposto pelo art. 68, caput, do Código Penal. 4. Dosimetria da pena 4.1. Aplicação da pena privativa de liberdade A) Fixação da pena base Passo a analisar as oito circunstâncias judiciais do artigo 59, do Código Penal Brasileiro. A culpabilidade é normal à espécie, nada se tendo a valorar, pois o acusado não agiu com dolo que ultrapassasse os limites da norma penal, o que torna a conduta inserida no próprio tipo. O réu não registra antecedentes criminais (fl. 215/220). Poucos elementos foram coletados acerca da conduta social e personalidade do réu, razão pela qual deixo de valorá-las. O motivo foi comum à espécie. As circunstâncias se encontram relatadas nos autos, nada tendo a se valorar. As consequências do crime são próprias do tipo, nada se tendo a valorar. Assim, analisadas as circunstâncias subjetivas e objetivas do artigo 59 do Código Penal, que se mostraram favoráveis ao acusado, fixo a pena base no mínimo legal, ou seja, em 03 (três) anos de reclusão. ACR 12596/CE -M9849 PáG. 14

B) Circunstâncias atenuantes e agravantes Não há circunstâncias agravantes. O acusado confessou espontaneamente perante este juízo que cometeu o crime. Assim, reconheço a atenuante prevista no art. 65, inciso III, alínea "d", do Código Penal. Todavia, tendo em vista que a pena-base foi fixada no mínimo legal, deixo de aplicá-la/valorá-la, em observância ao disposto no enunciado da Súmula nº 231 do Superior Tribunal de Justiça, razão pela qual mantenho a pena anteriormente dosada. C) Causas de diminuição e de aumento de pena Na terceira fase da dosimetria, inexistem causas de diminuição ou de aumento de pena. 4.2. Regime de cumprimento da pena privativa de liberdade Assim, tenho como DEFINITIVA a pena privativa de liberdade de 03 (três) anos de reclusão, a ser cumprida inicialmente em regime aberto, nos termos do art. 33, 2º, "c", do Código Penal. ACR 12596/CE -M9849 PáG. 15

4.3. Pena de multa Com base nos fundamentos já mencionados acerca da fixação da pena privativa de liberdade, além da condição socioeconômica do réu, fixo a pena de multa no mínimo legal, em 10 (dez) dias-multa, correspondendo cada dia-multa a 1/30 (um trinta avos) do salário mínimo vigente à época dos fatos, dadas as suas condições financeiras, devendo a pena pecuniária ser devidamente atualizada, consoante previsão legal. Para o pagamento da pena de multa, deverão ser observados os critérios expostos no do art. 49, 2, bem como o prazo previsto no art. 50, ambos do Código Penal. Por fim, no tocante à aplicação do principio da insignificância, o Supremo Tribunal Federal entende que este só excluirá a tipicidade da conduta quando presentes, cumulativamente, as seguintes condições objetivas: (a) mínima ofensividade da conduta do agente, (b) nenhuma periculosidade social da ação, (c) grau reduzido de reprovabilidade do comportamento e (d) inexpressividade da lesão jurídica provocada. In casu, verifico não estar presente o grau reduzido de reprovabilidade do comportamento, uma vez que o réu praticava habitualmente a conduta de adquirir produtos de origem duvidosa, estando respondendo a crime da mesma natureza na Justiça Estadual do Ceará (cf. volume 02 do apenso). Além disso, a compra destes produtos foi motivada pela perspectiva de adquirir lucro fácil mediante a aquisição de mercadorias a custo abaixo do mercado e em situação totalmente diversa da prática que a atividade comercial exige. ACR 12596/CE -M9849 PáG. 16

Enfim, quanto ao pleito de que seja aplicado o princípio da insignificância, não é o caso: seja em razão do valor - que não é ínfimo; seja em razão do fato de o apelante ter cometido o crime no exercício de atividade comercial; seja em face de ter receptado mais de uma mercadoria. Em suma, as circunstâncias em que o delito fora cometido não demonstram que fora, de modo geral, incapaz de gerar mácula ao bem jurídico tutelado. Nesse sentido, tem seguido a jurisprudência: EMENTA HABEAS CORPUS. LIMINAR. INDEFERIMENTO. NÃO CABIMENTO. SÚMULA 691/STF. JULGAMENTO DO REMÉDIO CONSTITUCIONAL ORIGINÁRIO. SUPERVENIÊNCIA. SUPERAÇÃO DO ÓBICE. CONHECIMENTO DO WRIT EM HOMENAGEM AO PRINCÍPIO DA CELERIDADE PROCESSUAL. FURTO SIMPLES. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. IMPOSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE REDUZIDO GRAU DE REPROVABILIDADE OU DE MÍNIMA OFENSIVIDADE DA CONDUTA PRATICADA. RELEVÂNCIA DA CONDUTA NA ESFERA PENAL. RECEPTAÇÃO. AUSÊNCIA DE TIPICIDADE MATERIAL. TRANCAMENTO DA AÇÃO PENAL. POSSIBILIDADE. CONSTRANGIMENTO ILEGAL EM PARTE EVIDENCIADO. 1. Consoante a Súmula 691/STF, não é cabível o ajuizamento de habeas corpus contra o indeferimento de pedido liminar em prévio writ, salvo quando evidenciada flagrante ilegalidade ou teratologia da decisão singular, sob pena de incidir na indevida supressão de instância. 2. Este Superior Tribunal tem se orientado pela possibilidade de mitigação desse entendimento para, em homenagem ao princípio da celeridade processual, possibilitar o conhecimento do remédio constitucional quando comprovada ACR 12596/CE -M9849 PáG. 17

a superveniência do julgamento de mérito do habeas corpus originário. 3. Não há como concluir pela ausência de interesse estatal na repressão do delito perpetrado pelo paciente Leonardo, por não se reconhecer o reduzido grau de reprovabilidade ou a mínima ofensividade da conduta de quem, aproveitando-se do conhecimento quanto ao funcionamento de uma empresa em que trabalhou anteriormente, invade o local para subtrair determinado bem. 4. Para a incidência do princípio da insignificância, devem ser relevados o valor do objeto do crime e os aspectos objetivos do fato, tais como a mínima ofensividade da conduta do agente, a ausência de periculosidade social da ação, o reduzido grau de reprovabilidade do comportamento e a inexpressividade da lesão jurídica causada. Impossibilidade de se reconhecer presentes todos esses requisitos quando do crime de receptação, uma vez que este estimula outros crimes até mais graves, como o latrocínio e o roubo. Documento: 18709522 - EMENTA / ACORDÃO - Site certificado - DJe: 19/03/2012 Página 1 de 2 Superior Tribunal de Justiça 5. Bem receptado (bateria de veículo automotor) desnecessário para a sobrevivência do paciente Ederson, proprietário de um bar. 6. Habeas corpus denegado. (STJ, HC 180169-MG, Ministro Sebastião Reis Júnior, Sexta Turma, DJ 19/03/2012.) Com essas considerações, mantenho a sentença por seus próprios fundamentos, negando provimento à apelação. É como voto. ACR 12596/CE -M9849 PáG. 18

ACR Nº 12596/CE (0000322-68.2012.4.05.8101) APTE : FRANCISCO LEANDRO DA SILVA ADV/PROC : JOSE NOGUEIRA GRANJA NETO e outro APDO : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL ORIGEM : 15ª Vara Federal do Ceará (Competente p/ Execuções Penais) RELATOR : DES. FEDERAL CÉSAR ARTHUR CAVALCANTI DE CARVALHO (CONVOCADO): EMENTA PENAL. PROCESSUAL PENAL. RECEPTAÇÃO QUALIFICADA. MATERIALIDADE E AUTORIA DELITIVAS. COMPROVAÇÃO. DOSIMETRIA. ADEQUAÇÃO. PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. INAPLICABILIDADE. APELAÇÃO IMPROVIDA. 1) Entendeu, o juízo, que o apelante, de modo consciente e voluntário, no exercício de atividade comercial, teria adquirido mercadoria de origem ilícita, nos exatos termos previstos pela acusação. 2) Inconformado com o decreto condenatório, a defesa apresentou apelação aduzindo, resumidamente, que: 1) inexistiriam nos autos provas da autoria e materialidade delitivas, sendo a confissão do apelante insuficiente para a condenação; 2) não haveria provas de que o apelante tinha conhecimento da ilicitude da mercadoria adquirida; 3) a pena aplicada merecia ser reduzida; 4) seria o caso de aplicar o princípio da insignificância. 3) Como bem analisou o magistrado, todas as provas - documentais, testemunhais, etc. - apontaram para a prática delitiva e autoria, sendo a confissão apenas mais uma dentro do bojo probatório. 4) Sobre o conhecimento da ilicitude da mercadoria, mostrou-se evidente. No contexto, a tese da inocência foi absolutamente inverossímil. Como imaginar que um comerciante experiente tenha adquirido uma "caixa" fechada e, sem sequer saber o conteúdo, pago o valor de R$ 2.000,00? O absurdo é inconteste, assim como o fato de que, na realidade, o apelante tinha pleno conhecimento do que se tratava, ou seja, de mercadoria de origem ilícita. 5) Com o mesmo acerto, o juízo cuidou de ponderar, uma a uma, as circunstâncias judiciais previstas no art. 59 do CPB em sede de primeira fase da dosimetria; a M9849

presença ou ausência de agravantes e atenuantes na segunda fase; a presença e a ausência de causas de aumento e de diminuição de pena na terceira, sempre com atenção, razoabilidade e proporcionalidade, chegando a uma reprimenda igualmente proporcional, razoável e justa, desmerecendo reparos. 6) Quanto ao pleito de que seja aplicado o princípio da insignificância, não é o caso: seja em razão do valor - que não é ínfimo; seja em razão do fato de o apelante ter cometido o crime no exercício de atividade comercial; seja em face de ter receptado mais de uma mercadoria. Em suma, as circunstâncias em que o delito fora cometido não demonstram que fora, de modo geral, incapaz de gerar mácula ao bem jurídico tutelado. 7) Apelação improvida. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos do processo tombado sob o número em epígrafe, em que são partes as acima identificadas, acordam os Desembargadores Federais da Quarta Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, em sessão realizada nesta data, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas que integram o presente, por unanimidade, NEGAR PROVIMENTO ao apelo, nos termos do voto do Relator. Recife (PE), 04 de agosto de 2015. Desembargador Federal CÉSAR ARTHUR CAVALCANTI DE CARVALHO Relator Convocado ACR 12596/CE -M9849 PáG. 20