: MIN. GILMAR MENDES SÃO PAULO

Transcrição

1 RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO SÃO PAULO RELATOR RECTE.(S) ADV.(A/S) RECDO.(A/S) PROC.(A/S)(ES) ASSIST.(S) ASSIST.(S) ADV.(A/S) : MIN. GILMAR MENDES :LINO INÁCIO DE SOUZA : LUIZ GONZAGA DE CARVALHO E OUTRO(A/S) :MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO :PROCURADOR-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO :PAULO CÉSAR DIAS :LIBERTAD MARIA NALI DIAS : CLAUDEMIR COLUCCI E OUTRO(A/S) DECISÃO: Trata-se de agravo interposto contra decisão de inadmissibilidade de recurso extraordinário que impugna acórdão do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, o qual manteve a sentença que condenou o ora recorrente às sanções do art. 168, 1º, III c/c o art. 71, ambos do Código Penal Brasileiro, ao fundamento de que o quadro probatório descrito no processo constitui indícios claros de que sua conduta se ajusta integralmente ao conteúdo do dispositivo aplicado, bem como afirma que o magistrado singular obedeceu a todos os requisitos legais na fixação da pena (fls ). Contra o referido acórdão, foram opostos embargos declaratórios, alegando a ausência de publicação da pauta de julgamento no nome do acusado, que advoga em causa própria, assim como omissão quanto às alegações da defesa de nulidade da sentença e inobservância do sistema trifásico na aplicação da pena. Porém, conhecidos os embargos, estes não foram providos, nos termos do voto do relator (fls ). No recurso extraordinário, interposto com base na alínea a do permissivo constitucional, o ora recorrente alega que o acórdão impugnado viola o art. 5º, LVI e LV, da Constituição Federal, na medida em que mantém a sentença de 1ª instância, que, no seu entender, está eivada de nulidades (fls ). Preliminarmente, aduz o recorrente não ter sido intimado da pauta do julgamento da apelação, tendo em vista requerimento datado em , caracterizando, segundo seu entendimento, cerceamento de defesa.

2 Alega, também, nulidade do acórdão, por manter decisão de 1º grau que não fixou a pena-base no mínimo legal; deixar de aplicar o princípio trifásico na fixação da pena; e não fundamentar adequadamente o dispositivo da sentença. Suscita, ainda, que a decisão recorrida manteve, erroneamente, a classificação do crime de apropriação indébita, pois se trataria, na verdade, de um ilícito civil. O Tribunal a quo inadmitiu o recurso extraordinário, sustentando que não foi atendido o pressuposto objetivo da adequação; que a fundamentação é deficiente e não permite exata compreensão da controvérsia; que não houve prequestionamento da matéria; que a apontada afronta à Constituição é indireta ou reflexa; e, finalmente, que o exame das questões suscitadas demanda revolvimento de fatos e provas (fls ). Nas razões do presente recurso, o agravante repisa os argumentos expostos no recurso extraordinário (fls ). É o relatório. Decido. Não assiste razão ao agravante. Preliminarmente, vislumbro não haver plausibilidade na alegação de nulidade absoluta do acórdão impugnado por falta de publicação da pauta de julgamento no nome do acusado. Nesse sentido, destaco que, em , foi publicado despacho do desembargador relator do processo no Tribunal a quo, com o seguinte teor: J, aguarde-se a próxima sessão. Constando, inclusive, especificação dos nomes das partes (fl. 405). Ressalto, ainda, que a petição mencionada pelo recorrente, por meio da qual anexa ao processo nova procuração para advogar em causa própria, foi protocolizada na Secretaria da Câmara em , ou seja, antes da publicação do despacho citado (fls ). Com efeito, verifico que o recorrente foi devidamente comunicado do julgamento por meio de publicação, ainda que seu nome constasse apenas como parte. 2

3 Isso porque a jurisprudência desta Corte é no sentido de que, se a parte a ser intimada é assistida por mais de um advogado, que no presente caso trata-se do próprio acusado que advoga em causa própria, e a publicação mencionou o nome de um deles, o ato intimatório é eficaz. Nesse sentido, à guisa de exemplo, colho os seguintes precedentes: RE-AgR , Rel. Min. Maurício Corrêa, Segunda Turma, DJe ; HC 69191, Rel. Min. Moreira Alves, Primeira Turma, DJe ; AI AgR, Rel. Min. Rosa Weber, Primeira Turma, Dje ; conforme dispõem respectivamente as ementas abaixo: "HABEAS CORPUS. - ATUANDO O ORA PACIENTE NA AÇÃO PENAL COMO ADVOGADO EM CAUSA PROPRIA, AO LADO DOS DIVERSOS ADVOGADOS POR ELE CONSTITUIDOS, E TENDO SIDO ELE INTIMADO DO JULGAMENTO DA APELAÇÃO, ESSA INTIMAÇÃO - E O OBJETIVO DELA E DAR CONHECIMENTO DO ATO PROCESSUAL A SER PRATICADO - TEM O EFEITO TAMBÉM DE INTIMA-LO COMO ADVOGADO EM CAUSA PROPRIA. - ASSIM, DEVIDAMENTE INTIMADO PARA O JULGAMENTO, E SENDO TAMBÉM ADVOGADO EM CAUSA PROPRIA, PODERIA ELE, ANTES DO JULGAMENTO, LEVANTAR O PROBLEMA DA REVOGAÇÃO TACITA E DA FALTA DE INTIMAÇÃO DO NOVO ADVOGADO CONSTITUIDO, E, NÃO O FAZENDO, CONCORREU PARA A ALEGADA NULIDADE, QUE, POR ISSO, NÃO PODE SER POR ELE ARGUIDA (ART. 565 DO C.P.P.). HABEAS CORPUS INDEFERIDO. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPRESENTAÇÃO PROCESSUAL. PARTE ASSISTIDA POR MAIS DE UM ADVOGADO NA MESMA PROCURAÇÃO. PUBLICAÇÃO EM NOME DE UM DELES. EFICÁCIA DO ATO INTIMATÓRIO. NULIDADE INEXISTENTE. 1 - Se a parte a ser intimada tem mais de um advogado constituído nos autos e a publicação mencionou o nome de um deles, é de todo eficaz o ato intimatório A 3

4 publicação no órgão oficial deve trazer os nomes das partes e de seu advogado, não os nomes de todos os advogados por ela constituídos Substabelecimento outorgado, com reserva de poderes, em que é facultado aos procuradores agirem em conjunto ou separadamente, independentemente da ordem de nomeação. Intimação efetuada em nome de um deles. Nulidade inexistente. 2. Substabelecimento outorgado, sem reserva de poderes. Somente nessa hipótese é indispensável constar da publicação da intimação o nome do advogado substabelecido. Agravo regimental não provido. DIREITO PROCESSUAL CIVIL. PUBLICAÇÃO NO NOME DE APENAS UM DOS PROCURADORES DA PARTE. SUBSTABELECIMENTO PARA ADVOGADO COM RESERVA DE PODERES. AUSÊNCIA DE NULIDADE DA INTIMAÇÃO. CERCEAMENTO DE DEFESA NÃO CONFIGURADO. PRECEDENTES. Inocorrência de nulidade pela intimação de apenas um dos procuradores constituídos, presente substabelecimento com reservas de poderes, sem pedido de exclusividade nas intimações. Agravo regimental conhecido e não provido. Ademais, ressalto que não consta dos autos, antes do julgamento da apelação, pedido da defesa de intimação prévia da sessão de julgamento ou manifestação de interesse em proferir sustentação oral. Enfatizo, inclusive, que o único pedido formulado nos autos nesse sentido foi protocolizado no dia , ou seja, um mês após o julgamento da apelação (fls ). A propósito, destaco que esta Corte Suprema assentou entendimento de que a sustentação oral não constitui, per se, ato essencial à ampla defesa, salvo quando houver prévia manifestação de interesse da parte em sustentar. Nesse sentido, colho os seguintes precedentes: HC /PR, Rel. Min. Ellen Gracie, Segunda Turma, DJe ; HC /RJ, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Segunda Turma, DJe ; e RHC 4

5 89.135/SP, Rel. Min. Cezar Peluso, Segunda Turma, DJe No tocante às alegações de nulidade do acórdão impugnado por manter sentença eivada de erros, também não assiste razão ao agravante. Constato que o Tribunal a quo, com base no acervo probatório produzido nos autos, concluiu a contento pela existência da materialidade delitiva e pela autoria do ora recorrente. A propósito, confiram-se os seguintes trechos do acórdão recorrido: O silêncio do réu, a demora no ajuizamento da ação consignatória e a ausência do depósito da quantia que entendia devida constituem-se em indícios claros, múltiplos e concatenados que indicavam que o réu se apropriou dos valores recebidos, o que autorizava a procedência dos pedidos da ação que fica mantida. (...) A pena foi bem dosada, acima do mínimo, por conta das circunstâncias e consequências do crime. O acréscimo pela prática do crime no exercício de profissão também era pertinente. A opção pelo reconhecimento do crime continuado foi adequada porque, mediante mais de uma ação, o réu praticou três crimes da mesma espécie que, pelas condições de tempo, lugar e maneira de execução, deviam os subsequentes serem havidos como continuação do primeiro. (fls. 420/422) Verifico, ademais, que, para se entender diversamente do acórdão impugnado, seria necessário o reexame da instrução probatória. Entretanto, o recurso extraordinário não se presta à revisão dos fatos e provas já analisados pelas instâncias ordinárias. Nessa mesma linha de entendimento, entre inúmeros precedentes, cito os seguintes: AI-AgR , Rel Min. Cármen Lúcia, Primeira Turma, DJe 1º ; AI-AgR , Rel. Min. Ayres Britto, Primeira Turma, DJe ; e AI-AgR , Rel. Min. Ellen Gracie, Segunda Turma, DJe , restando esse último assim ementado: AGRAVO REGIMENTAL. ALEGAÇÃO DE OFENSA AO 5

6 ART. 5º, III E LV, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. NECESSIDADE DE APRECIAÇÃO DOS FATOS E DAS PROVAS DA CAUSA. 1. Incabível o Recurso Extraordinário nos casos em que se impõe o reexame do quadro fático-probatório para apreciar a apontada ofensa à Constituição Federal. Incidência da Súmula STF Agravo regimental improvido. Portanto, incide o Enunciado 279 da Súmula desta Corte, segundo a qual não cabe recurso extraordinário para simples reexame de prova. Ante o exposto, conheço do presente agravo para negar seguimento ao recurso extraordinário (art. 544, 4º, II, b, do CPC). Publique-se. Brasília, 7 de fevereiro de Ministro GILMAR MENDES Relator Documento assinado digitalmente 6